por Francis A. Schaeffer
Por vários anos a faculdade teológica na qual me formei cantou nas formaturas “Dá línguas de fogo”. A primeira estrofe diz o seguinte:
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Extraído de:
SCHAEFFER, Francis A. Não há gente sem importância. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.57-60.
Por vários anos a faculdade teológica na qual me formei cantou nas formaturas “Dá línguas de fogo”. A primeira estrofe diz o seguinte:
De paredes cobertas de hera, acima da cidade
A escola de profetas olha para baixo
E escuta o barulho humano
Do comércio e ruas e lares dos homens;
Como Jesus olhou com profundo anseio
Para Jerusalém, do Monte das Oliveiras,
Ó, Senhor crucificado e ressurreto,
Dá línguas de fogo para pregar tua Palavra
A escola de profetas olha para baixo
E escuta o barulho humano
Do comércio e ruas e lares dos homens;
Como Jesus olhou com profundo anseio
Para Jerusalém, do Monte das Oliveiras,
Ó, Senhor crucificado e ressurreto,
Dá línguas de fogo para pregar tua Palavra
Esta estrofe retrata Jesus em pé no Monte das Oliveiras, dali olhando sobre Jerusalém, clamando por causa de sua perdição. Assim, ao terminarem os alunos os seus estudos na Casa Farel aqui na Suíça, nosso desejo é que olhem para o mundo, fiquem cheios de compaixão, e com línguas de fogo dirijam-se às necessidades do mundo.
Por ser difícil o mundo, enfrentá-lo sem o poder de Deus é uma perspectiva esmagadora. Mas as línguas de fogo não se obtêm simplesmente com um pedido. O Novo Testamento ensina que certas condições precisam existir. Em suma, resumem-se nisso: precisamos fazer o trabalho do Senhor do jeito do Senhor.
O poder de Jesus
Falando com seus discípulos e com a igreja em geral, depois de sua ressurreição e antes de sua ascensão, Jesus disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28:18-20).
Não há fonte de poder para o povo de Deus — para a pregação ou o ensino ou qualquer outra coisa — a não ser o próprio Cristo. Fora de Cristo, qualquer coisa que pareça ser poder espiritual é na realidade poder carnal.
O registro de Lucas das declarações de Jesus anteriores à ascensão tem exatamente a mesma ênfase: “... recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8). A força do grego é “recebereis poder, então sereis minhas testemunhas”. Uma tarefa específica é compreendida: depois do Espírito Santo ter vindo sobre eles, os discípulos deveriam testemunhar.
Embora sejamos habitados imediatamente pelo Espírito Santo quando aceitamos Cristo como Salvador, ser habitado pelo Espírito Santo não é o mesmo que ter a plenitude do seu poder. Os discípulos tiveram de esperar para receber o Espírito no dia de Pentecostes. Os cristãos hoje devem seguir a mesma sequência: serem habitados pelo Espírito Santo quando salvos e conhecerem algo da realidade do poder de Cristo pelo agenciamento do Espírito Santo — e depois trabalharem e testemunharem. A ordem não pode ser invertida. É preciso que haja muitos “enchimentos”.
Fazer o trabalho do Senhor do jeito do Senhor não é uma questão de ser salvo e depois simplesmente trabalhar duramente. Depois que Jesus subiu ao Céu, os discípulos esperaram quietamente em oração pela vinda do Espírito. Seu primeiro movimento não foi em direção ao ativismo — Cristo ressuscitou, agora vamos ficar ocupados. Embora olhassem para o mundo com a compaixão de Cristo, eles obedeceram à ordem bem clara dele, de que aguardassem antes de testemunhar. Se, como cristãos e, portanto, habitados pelo Espírito, devemos pregar à nossa geração com línguas de fogo, nós também precisamos ter algo mais do que um ativismo que o ser humano pode facilmente exibir. Precisamos conhecer algo do poder do Espírito Santo.
Reconhecendo a nossa necessidade
Como recebemos algo do poder do Espírito Santo? Embora haja grandes diferenças entre a justificação e a santificação, quase sempre a podemos aprender facetas importantes da santificação quando consideramos a justificação. Por exemplo, a história do fariseu e do publicano que estava a ponto de ser convertido é instrutiva. Antes de um homem estar pronto para ter Cristo como seu Salvador (com ao menos alguma compreensão daquilo que está dizendo): “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador!” (NVI). Uma pessoa não pode ser um cristão sem primeiro reconhecer sua necessidade de Cristo. E, como cristãos, nós também devemos compreender algo da nossa necessidade de poder espiritual. Se pensarmos que podemos operar por conta própria, se não entendemos a necessidade de um poder além do nosso, nunca vamos começar. Se achamos que o poder de nossa própria habilidade é o suficiente, ficaremos parados.
O ensino sobre o Espírito Santo e sua habitação em nós nunca pode ser unicamente um conceito teológico. Tendo já o conceito apropriado — que somos habitados pelo Espírito Santo ao sermos salvos — precisamos seguir em frente para que a habitação do Espírito possa produzir resultados em nossa vida. Se quisermos línguas de fogo, nosso primeiro passo não é só nos postarmos à beira do caminho, pensando as cogitações teológicas certas. Precisamos ter um genuíno sentimento da necessidade.
Além disso, esse sentimento de necessidade não acontecerá de uma vez por todas. Um cristão nunca pode dizer: “Eu conheci o poder do Espírito Santo ontem, então hoje posso descansar”. Umas das realidades existenciais da vida cristã é estar diante de Deus conscientemente reconhecendo a nossa necessidades.
O publicano ilustra que a justificação requer humilhar-se. Os cristãos precisam se humilhar para conhecer o poder santificador do Espírito Santo. Enquanto não nos humilharmos não haverá o poder do Espírito Santo em nossa vida. O trabalho do Senhor do jeito do Senhor é o trabalho do Senhor no poder do Espírito Santo e não no poder da carne.
O problema central
O problema central de nossa era não é o liberalismo ou o modernismo, não é o velho catolicismo romano nem o novo catolicismo romano, nem mesmo a ameaça de comunismo, nem a ameaça do racionalismo e o consenso monolítico que nos rodeia. Todos esses são perigosos, mas não são a ameaça primária. O problema verdadeiro é este: a igreja do Senhor Jesus Cristo, individualmente ou corporativamente, tendendo a fazer a obra do Senhor no poder da carne em vez de no poder do Espírito. O problema central está sempre no meio do povo de Deus, não nas circunstâncias em volta.
Podemos sentir o que isso significa na prática se examinamos a estátua de Napoleão no Hotel des Invalides em Paris. De pé ali com sua mão dentro do paletó à altura do peito, Napoleão é a personificação do fui eu que fiz. O escultor captou a atitude, atitude do grande homem do mundo, aquele que diz em todos os três tempos: “Eu fiz isso; Eu faço isso; Eu farei isso”. Essa atitude como demonstrada tão bem na estátua personifica a carne.
Em contrate, podemos pensar no próprio Senhor Jesus na quietude do Getsêmani. Ao vermos ali o eterno Filho de Deus, que na Encarnação é agora também verdadeiro homem, e à medida que ouvimos as suas palavras, não percebemos nenhum sinal do egoísmo maciço de Napoleão. Pelo contrário, o Senhor Jesus disse ao Pai: “Não se faça a minha vontade, e sim a tua”. Infelizmente, nós cristãos podemos e muitas vezes tomamos a posição de Napoleão. Mas que grande contraste com o próprio Senhor Jesus!
Dirigidos pelo Espírito
Em Mateus 3 há uma passagem que muitas vezes é usada como texto-prova para a doutrina da Trindade: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus, dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt. 3:16,17).
Esse é um texto clássico sobre a Trindade, mas não deve ser tomado como pura prova da Trindade. A passagem ensina muito mais, especialmente quando a colocamos no contexto maior de alguns versos que a segue: “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt. 4:1). Logo que foi batizado pelo Espírito, Jesus foi guiado por ele. Se Jesus foi assim conduzido pelo Espírito, quanto mais nós precisamos ser! Não devemos reduzir essas passagens apenas a um declaração teológica, ainda que sejam mesmo uma afirmação teológica verdadeira; precisamos agir a partir delas. Depois Jesus, após poucos e curtos anos, vai ao jardim, e depois vai morrer na cruz.
João Batista fez duas predições com respeito a Cristo. Não só disse ele: “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1:29), como afirmou também: “Esse é o que batiza com Espírito Santo” (Jo. 1:33). Essa segunda predição indica que não só Jesus mesmo foi batizado e dirigido pelo Espírito, como também ele nos batiza com o Espírito. Será que nós, quando aceitamos a Cristo como Salvador, somos habitados pelo Espírito Santo? Então a intenção é que conheçamos algo tanto da sua direção como de seu poder.
Por ser difícil o mundo, enfrentá-lo sem o poder de Deus é uma perspectiva esmagadora. Mas as línguas de fogo não se obtêm simplesmente com um pedido. O Novo Testamento ensina que certas condições precisam existir. Em suma, resumem-se nisso: precisamos fazer o trabalho do Senhor do jeito do Senhor.
O poder de Jesus
Falando com seus discípulos e com a igreja em geral, depois de sua ressurreição e antes de sua ascensão, Jesus disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28:18-20).
Não há fonte de poder para o povo de Deus — para a pregação ou o ensino ou qualquer outra coisa — a não ser o próprio Cristo. Fora de Cristo, qualquer coisa que pareça ser poder espiritual é na realidade poder carnal.
O registro de Lucas das declarações de Jesus anteriores à ascensão tem exatamente a mesma ênfase: “... recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8). A força do grego é “recebereis poder, então sereis minhas testemunhas”. Uma tarefa específica é compreendida: depois do Espírito Santo ter vindo sobre eles, os discípulos deveriam testemunhar.
Embora sejamos habitados imediatamente pelo Espírito Santo quando aceitamos Cristo como Salvador, ser habitado pelo Espírito Santo não é o mesmo que ter a plenitude do seu poder. Os discípulos tiveram de esperar para receber o Espírito no dia de Pentecostes. Os cristãos hoje devem seguir a mesma sequência: serem habitados pelo Espírito Santo quando salvos e conhecerem algo da realidade do poder de Cristo pelo agenciamento do Espírito Santo — e depois trabalharem e testemunharem. A ordem não pode ser invertida. É preciso que haja muitos “enchimentos”.
Fazer o trabalho do Senhor do jeito do Senhor não é uma questão de ser salvo e depois simplesmente trabalhar duramente. Depois que Jesus subiu ao Céu, os discípulos esperaram quietamente em oração pela vinda do Espírito. Seu primeiro movimento não foi em direção ao ativismo — Cristo ressuscitou, agora vamos ficar ocupados. Embora olhassem para o mundo com a compaixão de Cristo, eles obedeceram à ordem bem clara dele, de que aguardassem antes de testemunhar. Se, como cristãos e, portanto, habitados pelo Espírito, devemos pregar à nossa geração com línguas de fogo, nós também precisamos ter algo mais do que um ativismo que o ser humano pode facilmente exibir. Precisamos conhecer algo do poder do Espírito Santo.
Reconhecendo a nossa necessidade
Como recebemos algo do poder do Espírito Santo? Embora haja grandes diferenças entre a justificação e a santificação, quase sempre a podemos aprender facetas importantes da santificação quando consideramos a justificação. Por exemplo, a história do fariseu e do publicano que estava a ponto de ser convertido é instrutiva. Antes de um homem estar pronto para ter Cristo como seu Salvador (com ao menos alguma compreensão daquilo que está dizendo): “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador!” (NVI). Uma pessoa não pode ser um cristão sem primeiro reconhecer sua necessidade de Cristo. E, como cristãos, nós também devemos compreender algo da nossa necessidade de poder espiritual. Se pensarmos que podemos operar por conta própria, se não entendemos a necessidade de um poder além do nosso, nunca vamos começar. Se achamos que o poder de nossa própria habilidade é o suficiente, ficaremos parados.
O ensino sobre o Espírito Santo e sua habitação em nós nunca pode ser unicamente um conceito teológico. Tendo já o conceito apropriado — que somos habitados pelo Espírito Santo ao sermos salvos — precisamos seguir em frente para que a habitação do Espírito possa produzir resultados em nossa vida. Se quisermos línguas de fogo, nosso primeiro passo não é só nos postarmos à beira do caminho, pensando as cogitações teológicas certas. Precisamos ter um genuíno sentimento da necessidade.
Além disso, esse sentimento de necessidade não acontecerá de uma vez por todas. Um cristão nunca pode dizer: “Eu conheci o poder do Espírito Santo ontem, então hoje posso descansar”. Umas das realidades existenciais da vida cristã é estar diante de Deus conscientemente reconhecendo a nossa necessidades.
O publicano ilustra que a justificação requer humilhar-se. Os cristãos precisam se humilhar para conhecer o poder santificador do Espírito Santo. Enquanto não nos humilharmos não haverá o poder do Espírito Santo em nossa vida. O trabalho do Senhor do jeito do Senhor é o trabalho do Senhor no poder do Espírito Santo e não no poder da carne.
O problema central
O problema central de nossa era não é o liberalismo ou o modernismo, não é o velho catolicismo romano nem o novo catolicismo romano, nem mesmo a ameaça de comunismo, nem a ameaça do racionalismo e o consenso monolítico que nos rodeia. Todos esses são perigosos, mas não são a ameaça primária. O problema verdadeiro é este: a igreja do Senhor Jesus Cristo, individualmente ou corporativamente, tendendo a fazer a obra do Senhor no poder da carne em vez de no poder do Espírito. O problema central está sempre no meio do povo de Deus, não nas circunstâncias em volta.
Podemos sentir o que isso significa na prática se examinamos a estátua de Napoleão no Hotel des Invalides em Paris. De pé ali com sua mão dentro do paletó à altura do peito, Napoleão é a personificação do fui eu que fiz. O escultor captou a atitude, atitude do grande homem do mundo, aquele que diz em todos os três tempos: “Eu fiz isso; Eu faço isso; Eu farei isso”. Essa atitude como demonstrada tão bem na estátua personifica a carne.
Em contrate, podemos pensar no próprio Senhor Jesus na quietude do Getsêmani. Ao vermos ali o eterno Filho de Deus, que na Encarnação é agora também verdadeiro homem, e à medida que ouvimos as suas palavras, não percebemos nenhum sinal do egoísmo maciço de Napoleão. Pelo contrário, o Senhor Jesus disse ao Pai: “Não se faça a minha vontade, e sim a tua”. Infelizmente, nós cristãos podemos e muitas vezes tomamos a posição de Napoleão. Mas que grande contraste com o próprio Senhor Jesus!
Dirigidos pelo Espírito
Em Mateus 3 há uma passagem que muitas vezes é usada como texto-prova para a doutrina da Trindade: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus, dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt. 3:16,17).
Esse é um texto clássico sobre a Trindade, mas não deve ser tomado como pura prova da Trindade. A passagem ensina muito mais, especialmente quando a colocamos no contexto maior de alguns versos que a segue: “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt. 4:1). Logo que foi batizado pelo Espírito, Jesus foi guiado por ele. Se Jesus foi assim conduzido pelo Espírito, quanto mais nós precisamos ser! Não devemos reduzir essas passagens apenas a um declaração teológica, ainda que sejam mesmo uma afirmação teológica verdadeira; precisamos agir a partir delas. Depois Jesus, após poucos e curtos anos, vai ao jardim, e depois vai morrer na cruz.
João Batista fez duas predições com respeito a Cristo. Não só disse ele: “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1:29), como afirmou também: “Esse é o que batiza com Espírito Santo” (Jo. 1:33). Essa segunda predição indica que não só Jesus mesmo foi batizado e dirigido pelo Espírito, como também ele nos batiza com o Espírito. Será que nós, quando aceitamos a Cristo como Salvador, somos habitados pelo Espírito Santo? Então a intenção é que conheçamos algo tanto da sua direção como de seu poder.
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Extraído de:
SCHAEFFER, Francis A. Não há gente sem importância. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.57-60.
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