quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Nº 42



O LIMITE DA GLÓRIA
por Vincent Cheung

Visto que nos foi deixada a promessa de entrarmos no descanso de Deus, temamos que algum de vocês pense que tenha falhado. Pois as boas novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; mas a mensagem que eles ouviram de nada lhes valeu, pois não foi acompanhada de fé por aqueles que a ouviram  Hebreus 4:1-2.

Abraão

Deus chamou Moisés para liderar seu povo tirando-o do Egito com mão forte” (Êxodo 3:19-20). O Senhor desejava exibir seu poder com milagres, e ele iria lutar contra os egípcios por meio de sinais e maravilhas. Mas, para falar a respeito de Moisés, devemos primeiro aprender sobre Abraão. Como mencionei em vários outros lugares, a base primária para milagres é a revelação já existente, ou mesmo a antiga revelação, e não uma nova revelação. Uma nova revelação poderia ser uma razão adicional para realizar milagres, mas seria uma razão secundária e temporária. A revelação antiga é a  base principal e permanente para os milagres.

Deus iniciou sua missão de resgate e realizou milagres baseado na sua aliança com Abraão (Êxodo 2:24). Uma vez que ele fez isso com base em uma revelação já existente, ele teria realizado milagres mesmo que ele não tivesse nenhuma nova revelação para adicionar ao que já existia. Ele teria realizado milagres para manter a sua palavra a Abraão, e não para autenticar novas informações. Ele enviou Jesus para realizar expiação e operar milagres baseando-se também em sua aliança com Abraão (Lucas 1:73). Jesus disse que ele curou uma mulher baseado no fato de ela era uma herdeira de Abraão (Lucas 13:16). Na verdade, ele colocou todo o seu ministério de milagres nesta base (Mateus 15:24,26).

Havia alguns indivíduos que estavam fora da aliança, mas eles de qualquer maneira receberam milagres através da fé (Mateus 15:27-28), pois a fé  sempre tem acesso direto a Deus. Pela fé, você pode ignorar o seu lugar na história da redenção e receber de Deus o que quiser. Pois a fé, é sempre o momento certo, porque Deus aceita a fé em qualquer ponto do desenrolar do seu plano. Se temos que falar em termos de aliança, então a Bíblia também mostra que os filhos da fé são, de fato, os verdadeiros filhos de Abraão. Eles são os verdadeiros herdeiros da aliança (Gálatas 3:7,14). Por esse motivo, Jesus disse que aqueles que pareciam estar de fora poderiam ser aceitos, enquanto aqueles que pareciam estar dentro poderiam acabar sendo expulsos (Mateus 8:11-12).

Os termos da aliança nunca mudaram. Aqueles que possuem fé são os verdadeiros herdeiros de Abraão, e Deus ainda irá operar milagres para manter a sua Palavra. Assim, mesmo nesse contexto, a Bíblia ainda diz que o Espírito de Deus realiza milagres e opera entre aqueles que têm fé (Gálatas 3:2,5). Isso está diretamente relacionado com a antiga revelação feita à Abraão (Gálatas 3:7,14), e não a uma nova revelação de Jesus ou dos apóstolos. Os milagres não aconteceram apenas porque houve uma nova revelação, assim, os milagres não iriam parar só porque uma nova revelação foi concluída. A única maneira dos milagres cessarem seria com Deus parando de manter sua Palavra a Abraão, ou seja, com Deus rompendo o seu pacto. Essa é a blasfêmia do cessacionismo.

Além disso, o cumprimento desse pacto não se aplica apenas em um sentido geral ou corporativo aos filhos de Abraão, mas deve ser cumprido à indivíduos específicos, de modo que cada pessoa que possua fé possa esperar receber as bênçãos prometidas. Jesus curou uma mulher, afirmando que ela tinha direito porque era uma filha de Abraão (Lucas 13:16). Paulo fez questão de aplicar o pacto aos indivíduos, a fim de abordar o que parecia ser uma falta de satisfação no nível corporativo (Romanos 9). Os cristãos não poderiam pensar que Deus está mantendo sua Palavra se as pessoas que possuem fé estão geralmente sendo salvos; se apenas alguns deles serão salvos, mas que nem todos os que possuem fé serão salva. Se insistimos que cada indivíduo que tem fé será salvo sob os termos da aliança, então, se um indivíduo não foi salvo, ele não teve fé. Cura e vários tipos de milagres também estão incluídos na aliança sob os mesmos termos, por isso, é inaceitável se contentar apenas com um cumprimento geral. Deve haver uma ênfase sobre os indivíduos igualmente.

Embora os efeitos e os benefícios de Deus parecem estejam intimamente relacionados com Abraão, isso não se deu porque Abraão foi alguém grande em si mesmo. Deus soberanamente escolheu Abraão para que as promessas divinas pudessem ser instaladas na terra. Durante a cerimônia do pacto, Deus pôs Abraão para dormir e caminhou sozinho entre os pedaços dos animais (Gênesis 15:12,17). Imagine uma cerimônia de casamento em que você anda pelo corredor sozinho, e você jura amor, companheirismo, fidelidade e proteção ao seu parceiro, para sempre. Não há troca de votos, mas apenas uma promessa de você à outra pessoa. Claro, se é uma união verdadeira, será um pacto onde seu parceiro terá que mantê-lo. Mas na ratificação do pacto, você assume toda a responsabilidade do casamento sobre seus próprios ombros.

Deus fez uma aliança com Abraão, mas realizou a cerimônia sozinho. Abraão não andou entre os animais que foram cortados em pedaços para simbolizar a maldição que cairia sobre aquele que viesse a quebrar o pacto. Deus faz as promessas. Deus assume a maldição. Abraão estava dormindo. Havia ao menos uma maldição para caso houvesse finalização do pacto por parte de Abraão? E pela fé em Jesus Cristo, estamos unidos a esta aliança. É claro que Deus espera que Abraão mantenha a aliança (Gênesis 17:9), e aqueles que se recusam a participar serão removidos (Gênesis 17:14). Mesmo assim, a realização da aliança em si era unilateral. Era como se Deus estivesse dando um pacto a Abraão mais do que fazendo um pacto com ele. A maldição da Lei viria somente 430 anos mais tarde, sob Moisés (Gálatas 3:17). Era um complemento, não um substituto. Depois disso, Jesus iria absorver toda a força dessa maldição. Não há maldição em Cristo (Gálatas 3:13, Romanos 8: 1-2).

Deus mesmo preparou o seu próprio sacrifício. Abraão não foi obrigado a sacrificar seu filho à Deus para que Deus sacrificasse seu filho para a humanidade. Abraão esteve disposto a fazê-lo e isso foi o suficiente, pois ele não considerou qualquer coisa como mais importante do que o seu amigo da aliança. Deus foi quem deu Isaque a ele, em primeiro lugar. Tudo o que ele tinha veio de Deus, incluindo a sua posição espiritual. Deus queria que Abraão andasse com ele, mas eles não dividiam a conta. Deus pagava por tudo. Por isso, a coisa nunca foi realmente sobre Abraão, mas sobre Deus e sobre o que ele faria por meio de Jesus Cristo. Assim, João Batista disse que Deus poderia dar filhos à Abraão das próprias pedras se ele quisesse (Mateus 3:9). Ninguém nunca fez um sacrifício que pudesse apaziguar Deus. Ele fez um sacrifício por meio de Jesus Cristo para apaziguar a si mesmo e para o nosso benefício.

Moisés

Deus apareceu a Moisés e o enviou para enfrentar o Faraó. Embora o Faraó resistisse, Deus estava no controle. Era a hora de Deus surpreender todas as nações ao destruir a superpotência do mundo  sem espadas ou soldados, mas com palavras e maravilhas unicamente. Ele queria lembrar os homens que ele não era como todos aqueles ídolos que eles adoravam. Ele era o único Deus, glorificado em santidade, admirável em louvores, operando maravilhas (Êxodo 15:11). Isso também preparou o caminho para o seu povo quando eles se moviam em direção a Canaã. Os cristãos pensam que Deus quer algo diferente hoje (Atos 5:5, 19:17)?

Faraó teria se rendido muito facilmente. Mas ele resistiu, porque uma vez ou outra, Deus endureceu o seu coração, mesmo quando ele estava prestes a desistir (Êxodo 8:15, 8:32, 9:12, 9:34, 10:1, 10:20, 10:27, 11:10, 14:8; Romanos 9:17). Ele explicou a Moisés: Vá ao faraó, pois tornei obstinado o coração dele e o de seus conselheiros, a fim de realizar estes meus prodígios entre eles, para que você possa contar a seus filhos e netos como zombei dos egípcios e como realizei meus milagres entre eles. Assim vocês saberão que eu sou o Senhor(Êxodo 10:1-2). Deus imobilizou Faraó, ficou batendo na cara dele, e não permitiu que ele se rendesse. Ele tinha uma lista de pragas a percorrer, e se recusou a ser interrompido.

Deus fez tudo sozinho. O povo de Israel não lutou contra o Egito. Eles foram passivos. Nem mesmo Moisés teve que usar da espada. Ele só iria transmitir as mensagens de Deus, e quando Deus ordenasse, ele iria apontar o pessoal para aqui, ou ali, ou acolá no rio, e assim por diante. Moisés não lutou. Israel não lutou. O significado disso se tornaria mais claro depois (Êxodo 14:13-14).

As pragas culminaram na Páscoa. A formulação padrão da doutrina da eleição seria que Deus passa por cima dos réprobos a fim de salvar os escolhidos. Isso é o oposto do que aconteceu no Egito. Deus não passou sobre os egípcios para salvar os israelitas, mas ele passou sobre os israelitas para matar os egípcios. Paulo escreveu que Deus fez os salvos e os condenados “da mesma massa (Romanos 9:21). Deus decide de qual grupo cada pessoa pertencerá. A eleição e a reprovação, ambas são ativas.

Em seguida, Israel deixou o Egito. Eles foram libertados da escravidão. Eram homens e mulheres livres. Eles seguiram Moisés, que, eventualmente, teve setenta anciãos para ajudá-lo (Números 11:16-17). Nesse ponto, eles entraram no modo de sobrevivência. Deus cuidou das suas necessidades básicas. Deu-lhes mais do que o suficiente, mas não uma abundância transbordante. Ele estava esperando por eles do outro lado do Jordão.

Israel

Do deserto de Parã, Moisés enviou homens para que explorassem a terra de Canaã (Nm. 13). Era uma missão de reconhecimento da terra, a qual eles deveriam conquistar dos habitantes que ali residiam. De cada tribo, um de seus líderes foi enviado. Eles voltariam depois de quarenta dias para oferecer um relatório.

Eles anunciaram: “Dela manam leite e mel! Era um excelente imobiliário. No entanto, eles acrescentaram que as pessoas de lá eram muito fortes, e as cidades eram fortificadas. Calebe viu o que estava acontecendo, e por isso ele fez calar o povo. Mas os outros líderes responderam: Não podemos atacar essas pessoas”. Enquanto Calebe dizia: Devemos ir para cima e tomar posse da terra, porque nós certamente podemos fazer isso”, os líderes murmuravam: “Eles são mais fortes do que nós. Nós parecíamos como gafanhotos aos nossos próprios olhos, e nós parecíamos o mesmo para eles. Eles julgaram a situação de acordo com a forma como as coisas pareciam à eles e como eles olharam para os outros. Eles caminharam pela vista. A Bíblia diz que eles espalharam um relatório ruim entre os israelitas. Eles estavam com medo e não queriam invadir a terra.

As pessoas foram convencidas pelo mau relatório, e se rebelaram contra Moisés (Números 14). Elas disseram que Deus as trouxera ali apenas para deixá-las morrer pela espada, e que teria sido melhor se tivessem ficado no Egito. Josué e Calebe fizeram outro apelo ao povo: “Somente não sejais rebeldes contra o Senhor. E não tenham medo do povo da terra, porque vamos engoli-los. Sua proteção se foi, mas o Senhor está conosco. Não tenham medo deles” (v.9). O povo endureceu o coração na incredulidade, e falavam sobre apedrejamento.

Ali estavam os dois lados. Eles tinham as mesmas promessas divinas, e enfrentavam as mesmas circunstâncias. Um lado caminhava pela vista e entregou um mau relatório. Apesar de Deus haver prometido a terra para eles, só porque viram os guerreiros fortes e as cidades fortificadas, disseram: Não, não podemos tomá-la”. O outro lado andava pela fé e deu um bom relatório. Uma vez que Deus prometeu a terra para eles, mesmo após verem os mesmos guerreiros fortes e as cidades fortificadas, disseram: Sim, nós podemos tomá-la”. A fé sempre tem um bom relatório, porque a fé não anda pela vista. A fé sempre fala e se comporta de acordo com as promessas de Deus, e do ponto de vista do poder e da vitória. A fé tem sempre um grito de triunfo.

Então, Deus apareceu e anunciou o seu veredicto: Cairão neste deserto os cadáveres de todos vocês, de vinte anos para cima, que foram contados no recenseamento e que se queixaram contra mim. Nenhum de vocês entrará na terra que, com mão levantada, jurei dar-lhes para sua habitação, exceto Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num” (Nm. 14:29-30). Deus os deixou apodrecer no deserto. Ele os fez caminhar por quarenta anos, até que toda aquela geração morresse  exceto Calebe e Josué. É por isso que devemos salientar a espiritualidade individual. A fé de um em um milhão não só irá permitir que um homem desfrute das bênçãos de Deus em um mundo de incredulidade, mas mesmo se a atual geração estiver perdida, essa fé se traduzirá em orientação para a próxima geração. Quanto aos outros dez líderes, eles tiveram somente uma espiritualidade corporativa, e isso arruinou toda aquela nação por quarenta anos. A espiritualidade corporativa é pior do que algo inútil quando as pessoas ficam espalhando mau relatório em todo lugar. O que há de bom nisso, quando pessoas se reúnem apenas para que Deus venha deixá-las morrer em sua incredulidade? A espiritualidade corporativa serve à sua finalidade apenas se ela combina indivíduos que são movidos por uma fé indomável.

As pessoas entraram em pânico e disseram que iriam tomar posse da terra. Foi uma tristeza mundana que acabou levando-os à morte (2 Coríntios 7:10). Moisés advertiu que Deus já não iria ajudá-los, mas eles foram assim mesmo. Depois de rejeitar as promessas de Deus, eles tentaram tomar os mesmos benefícios por sua própria força, e foram derrotados (Números 14:39-45). Esse é um retrato da igreja atual. Os cristãos têm repudiado as promessas de Deus e o poder do Espírito que poderia lhes dar a vitória. Quando a sua incredulidade corrói suas vidas e suas sociedades, eles tentam obter os mesmos benefícios por meio de sua própria força. Eles recorrem aos seus políticos, sua economia, e todos os tipos de esforços e esquemas. E eles são abatidos. Chamam isso de mandato cultural, mas é o seu substituto para A Grande Comissão, o programa sobrenatural que eles rejeitaram (Mateus 28:18-20; Marcos 16:15-18; Lucas 24:46; João 14:12-14; Atos 1:8).

Josué

Nós não devemos nos queixar por tanto tempo gasto para se chegar ao Jordão. Josué teve que esperar quarenta anos. Então agora, Josué havia se tornado o líder de Israel, e Calebe era um dos generais.

A natureza do mandato Josué era diferente da que Moisés recebeu. Foi uma segunda fase da experiência de Israel, distinta e após a sua libertação da escravidão. A terra prometida havia sido destinada a ser entregue logo após o êxodo, mas foi adiada por causa da incredulidade deles. No momento da libertação do Egito, Deus travou toda a luta sozinho. As pessoas eram passivas. Nesse momento da posse da terra, eles lutariam para conquistar o que Deus havia prometido. Agora, haveria plena participação do povo. Eles seriam colaboradores de Deus (1 Coríntios 3:9). Sua vitória era garantida, mas eles teriam que lutar. O terreno já pertencia a eles, mas eles teriam que tomá-lo.

A primeira etapa foi a libertação dos seus senhores do Egito. A segunda etapa foi o despejo de seus inimigos de Canaã. Eles não iriam escapar, mas eles estavam atacando. Sob a liderança de Josué, o povo teve que lutar. Eles não foram para libertar seus amigos, mas para exterminar seus inimigos. Eles não estavam lutando pela sobrevivência, mas pela prosperidade. Na verdade, em primeiro lugar, essa foi a razão pela qual eles foram levados para fora do Egito (Êxodo 3:8). A liberdade nunca foi o objetivo final. Eles iriam tomar posse das promessas de Deus, do leite e mel.

A experiência cristã espelha-se na história de Israel. Se a travessia do Mar Vermelho era como batismo em Cristo para a liberdade (1 Coríntios 10:2), então, a experiência distinta e subsequente de atravessar o Jordão poderia ser visto como o Batismo no Espírito Santo para receber poder (Atos 8:14-16; 19:1-2). Séculos mais tarde, João Batista anunciou no Jordão, Ele vos batizará com o Espírito Santo (Mateus 3:11, Atos 1:8). Isso não era mais sobre a salvação em termos de perdão dos pecados. O sangue do Cordeiro foi aplicado no Egito. Já não se tratava da manutenção de uma vida auto-suficiente, ou da santificação do indivíduo. Eles viveram sob essa condição auto-suficiente por quarenta anos no deserto. A salvação, nesse sentido, nunca foi destinada a ser um fim em si mesmo.

Assim, no primeiro sermão registrado de Pedro, ou no primeiro manifesto apostólico, devia-se crer em Cristo apenas como uma etapa necessária para receber o dom do Espírito Santo (Atos 2:38). Para ele, o Espírito Santo se referia aos poderes miraculosos e proféticos e à plena participação do povo de Deus: Eu derramarei do meu Espírito sobre toda carne (Atos 2:16-18; Lucas 24:49; Atos 1:8). Todo o povo de Deus têm o Espírito (Números 11:29). Todo o povo de Deus têm o poder para falar e o poder para agir. Isso não é um poder ético, mas um poder missionário.

Jesus

O evangelho que foi pregado por Jesus e pelos apóstolos era o mesmo evangelho que havia sido pregado a Abraão, a Moisés, a Josué e a Israel (Gálatas 3:8; Hebreus 4:2; Lucas 24:27; 1 Pedro 1:10-12). Temos recebido do mesmo evangelho.

Em primeiro lugar, Jesus anunciou sua mensagem com sinais e maravilhas (Atos 2:22), assim como Moisés confrontou poderosamente o Faraó. Depois, ele derramou seu sangue como nossa verdadeira Páscoa, e sacrificou-se para salvar seu povo (1 Coríntios 5:7). Ele disse que aqueles que não acreditassem já estavam condenados (João 3:18). Assim, Deus passou apenas sobre aqueles nos quais havia sido aplicado o sangue, como no tempo de Moisés. E como no Êxodo, Deus foi o único que trabalhou. Seu povo esteve passivo, e não contribuiu em nada para se salvar. Jesus lutou por eles, e eles não tiveram que lutar. Diante disso, a fase de libertação estava completa. Seu povo não seria escravo por mais tempo, mas sim homens e mulheres livres.

No entanto, antes de voltar para o Pai, Jesus disse que haveria mais uma etapa na experiência cristã. Quando Moisés partiu, Josué se tornou o líder. Da mesma forma, quando Jesus subiu, ele enviou outro Consolador para conduzir o seu povo (João 14:16; 14:26; 15:26; 16:7). Ele disse que, quando o Espírito de Deus viesse, eles iriam receber poder, e seriam suas testemunhas por todas as nações (Atos 1:8). Ele disse que seu povo seria cheio do Espírito de Deus para receber discernimento e poder (João 14:16-17, 16:13-15; Lucas 24:49; Atos 1: 8). Ele disse que qualquer um que tivesse fé nele poderia executar as mesmas obras que ele havia feito, e obras ainda maiores (João 14:12). Assim, essa próxima fase seria o palco da missão, o estágio da posse das promessas de Deus, a fase da expulsão dos nossos inimigos (Mateus 28:18-20). Como no tempo de Josué, seria um momento de conquista. Haveria plena participação do povo de Deus (Atos 2: 17-18, 1 Coríntios 12: 14-25, 14:26).

Paulo descreveu a vida cristã como um tempo de guerra (2 Coríntios 10:4). Nós não estamos lutando para alcançar a salvação. Cristo nos libertou do Egito. Somos homens e mulheres livres. Não somos mais escravos do pecado. E a ira de Deus passou sobre nós há muito tempo. Glória a Deus! Hoje nós lutamos, mas nós lutamos como homens e mulheres livres. Não é uma luta de libertação. Cristo lutou e conseguiu isso para nós sozinho. Essa é uma luta de despejo, uma luta para expulsar o inimigo, para conquistar a terra, e para possuir o que Deus nos prometeu. E estas são as promessas que se aplicam a nós depois que fomos libertados do pecado.

Paulo escreveu que não fazemos uma guerra como o mundo faz, mas que nós empregamos as armas do poder divino para destruir fortalezas. Certamente, nunca iremos usar da violência para espalhar o Evangelho. Queremos capturar os corações dos homens para Cristo, e a violência só pode coagir a carne, mas não poderá mudar o coração. Nós não faremos uma guerra como o mundo faz. Nós iremos usar as armas espirituais da oração e da persuasão, das palavras e das maravilhas. Isso irá destruir as fortalezas de Satanás e estabelecer o reino de Deus nos corações dos homens (Atos 4:29-31, 8:5-8, 19:17-20).

Hoje

A Carta aos Hebreus foi escrito para os cristãos, ou para aqueles que se diziam cristãos. O escritor não convida as pessoas para saírem do Egito. Supostamente, eles teriam feito isso já algum tempo (Hebreus 5:12). Ele lhes está convidando para avançarem na fé.

Ele quer aplicar o cenário de Josué aos cristãos. Para fazer isso, ele se refere ao Salmo 95, onde o Espírito Santo diz: Hoje... não endureçais os vossos corações, como fizestes na rebelião. O Salmo faz alusão à vários incidentes, mas eles culminam com a revolta em Parã, porque o escritor diz que ele têm em mente aqueles que Deus jurou que nunca entrariam no seu descanso (Hebreus 3:18), que ocorreu quando as pessoas acreditaram no mau relatório de seus líderes (Números 14:28-30). Depois, ele indica qual é o período em que ele nos exorta a encorajar um ao outro diariamente”, e o período é chamado de “Hoje (Hebreus 3:13). Portanto, o incidente de Parã se aplica aos cristãos nessa vida. Aqui isso não foi usado para convidar as pessoas a crerem em Jesus, ou para se referir ao Céu, mas para falar sobre uma vida de promessas que os cristãos entram nessa vida, após a conversão e antes do Céu.

Que lições podemos derivar de Parã?

Em primeiro lugar, Parã nos lembra que há dois tipos de sofrimento. Há um tipo de sofrimento que ocorre quando se tem fé. Jesus disse que o mundo odeia os cristãos, porque odiou a ele primeiro. Deus nos escolheu e nos tirou do mundo, e aqueles que odeiam a Deus também irão odiar aqueles que pertencem a ele. Então, eles irão querer dar aos crentes momentos difíceis (João 15:18-19).

A Bíblia tem algumas coisas boas a dizer sobre aqueles que enfrentam esse tipo de sofrimento com fé e alegria. Jesus disse: Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mateus 5:11-12). Da mesma forma, Pedro escreveu: Se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês (1 Pedro 4:14). Que coisa maravilhosa é ter o Espírito da glória repousando sobre você! Não há nada igual à isso. Assim, quando lembramos os cristãos sobre as preciosas promessas que possuímos em Jesus Cristo, não negamos que há um tipo legítimo de sofrimento que eles podem enfrentar. Este tipo de sofrimento não acontece porque eles fizeram algo de errado, mas porque eles têm feito algo certo.

O que condenamos é a teologia desonesta que atribui demasiadamente casos de sofrimento à esta categoria. Esse é o tipo de sofrimento que a maioria das pessoas gostaria de pensar que eles estão enfrentando. Faria eles se sentirem melhores acerca de si mesmos e desculparia sua inação e derrota. No entanto, para muitas pessoas em muitas partes do mundo esse tipo de sofrimento é bastante raro, e muitas vezes é até mesmo suave quando ocorre. Mesmo quando isso acontece, não devemos pensar que somos impotentes: Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. Neste mundo tereis aflições. Mas tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33). Quando alguém enfrenta esse tipo de sofrimento, ele deve responder com fé e poder, e não com auto-piedade.

Então, existe o tipo de sofrimento que vem da falta de fé. Embora alguns cristãos desejem frequentemente pensar que eles sofrem por causa da sua fé, muitos deles sofrem apenas porque não têm fé. Aqueles que pregam um evangelho do sofrimento quase sempre glorificam o tipo de sofrimento que vem quando não se têm fé e ação. Eles têm em mente as circunstâncias comuns da vida que Deus nos ensina a superar pela fé. O povo de Israel não sofreu no deserto porque eles tinham fé. Eles experimentaram do sofrimento e prolongaram seu sofrimento porque eles não tiveram fé na promessa de Deus, e não lutaram pela bênção que lhes pertencia. Apenas Josué e Calebe tiveram fé, e eles foram os únicos daquela geração que entraram na terra que Deus lhes prometeu.

Os israelitas não sofreram por causa de perseguição, pois eles nem sequer enfrentaram os seus inimigos. Eles nunca entraram na terra para conquistar. Os problemas que eles encontraram vieram do seu ambiente e de seus próprios corações, assim como os problemas que a maioria dos cristãos enfrenta hoje. Por mais que todo mundo odeie culpar a vítima, Deus sempre culpa a vítima se o homem é vítima de sua própria incredulidade. A pessoa não sofre porque não há qualquer promessa para a sua libertação, ou porque a promessa não é para essa vida. Existem tantas promessas que parece que ninguém conhece todas elas, e essas promessas são para hoje, e hoje significa Hoje - nessa vida, agora mesmo (Hebreus 3:13).

Quando cristãos atribuem valor espiritual ao sofrimento que é desnecessário e inútil, eles insultam os cristãos que sofrem por perseguição genuína. Sua teologia é uma reformulação farisaica da narrativa de suas vidas, tornando-os em heróis que sofrem em vez de perdedores incrédulos. Devemos ter compaixão das pessoas que tem todos os tipos de sofrimento, mas ter compaixão para com a maioria dos tipos de sofrimento muitas vezes significa repreender duramente as pessoas por suas dúvidas e desculpas, e lhes dar o ensino apropriado a fim deles superarem a situação. Entregar-se a tristeza hipócrita de outras pessoas é improdutivo, e nos torna cúmplices de sua rebelião.

A exploração do auto-serviço na doutrina da soberania divina tornou-se a ruína da teologia cristã. Isto é, quando os cristãos passeiam pelo deserto atribuindo todos os problemas que enfrentam à soberania de Deus. Aqueles que fazem isso não são qualificados para lidar com a doutrina, e a maioria dos cristãos que são obcecados com o abuso da doutrina fazem isso constantemente. Teólogos costumam causar mais danos do que edificação quando ensinam isso. A soberania de Deus não implica em capricho de Deus. Capricho é infantil, desonesto, imprevisível. Deus não faz essas coisas. Sua soberania é consistente com sua fidelidade, compaixão e outros atributos. Ele mantém suas promessas, não porque ele é forçado a isso, mas porque ele decidiu sempre fazer isso. Quando ele mantém a sua Palavra, ele está sendo fiel a si mesmo. Ele está fazendo conforme a sua própria natureza. Esta é a soberania divina.

Em matéria de fé: “A boca fala do que o coração está cheio (Mateus 12:34). Se uma pessoa continua a falar sobre suas lutas, suas doenças, seus sofrimentos, se ela insiste que sofre por causa da vontade de Deus, que está sendo afligida com isso ou aquilo, e se ela continua recusando-se a receber a libertação pela fé na promessa divina, ou mesmo negando que essas promessas pertencem à sã doutrina, então ela irá ter o que ela diz. Juro pelo meu nome, declara o Senhor, que farei a vocês tudo o que pediram... vocês sofrerão a conseqüência dos seus pecados e experimentarão a minha rejeição” (Números 14:28,34).

Por esta razão, as doutrinas da incredulidade, como a falsa aplicação da soberania divina e da cessação de milagres e poderes correspondem à experiência que eles afirmam. Assim como eles rejeitaram a Deus, Deus os rejeitou. Deus irá faze-los passear pelo deserto da vida até que todos eles apodreçam e morram na incredulidade. Eles dizem que isso é o que a vida é? Eles dizem que não há milagres, cura, prosperidade, libertação e vitória? Deus vai se certificar de que eles nunca obtenham nada além disso. A sua punição será que a sua doutrina se tornará verdade – para eles. Isso é o mínimo que eles merecem pelo fato de pisarem no sangue de Cristo outra vez.

Em segundo lugar, Parã desmascara as pessoas que se encontram como titulares nas costas da igreja. Eles são os líderes que espalharam a descrença, e as pessoas acreditam neles. Eles são pessoas que pregam um relatório ruim, uma teologia da incredulidade, da tradição e da cerimônia, e da cessação dos milagres, da cura, da profecia, e do poder da fé. Como Estêvão disse: Homens de dura cerviz, com corações e ouvidos incircuncisos! Vocês são exatamente como os seus pais: vocês sempre resistem ao Espírito Santo” (Atos 7:51).

A maioria dos teólogos cristãos, pregadores e crentes são como as pessoas no deserto de Parã. Elas não experimentam milagres e bênçãos não porque Deus não dá mais milagres e bênçãos, mas porque elas dizem que Deus não irá dar isso à eles, e então Deus lhes dá do que elas estão dizendo. Puro despeito? Exatamente. Ele disse: Uma vez que você diz que eu não estou fazendo todas essas coisas por você, agora você vai ver realmente o que é me ter contra você (Números 14:34). Elas estão atravessando movimentos de adoradores, ostentando sua piedade e humildade, e até mesmo ensinam aos outros como viverem igual a elas, enquanto em todo esse tempo Deus está deixando-as apodrecer e morrer por causa da sua maldade nas coisas disseram sobre ele. Que vida miserável.

É por isso que eu digo que não há futuro em uma tradição ou herança que abraça incredulidade. Pode continuar existindo, mas tudo nela se tornou vaidade. A geração de Parã viveu por mais de quarenta anos, mas eles estavam caminhando como cadáveres. Por essa razão, os cristãos devem se isolar de uma tradição ou herança como essa. Mesmo assim, eles podem não ser totalmente afetados. Deus disse ao povo que eles iriam vaguear por quarenta anos, e que seus filhos iriam ter que adiar a própria entrada na terra por causa deles. Ele disse: Eles vão sofrer por sua infidelidade (Números 14:33). Josué e Calebe foram os únicos da geração mais velha autorizados a entrar na terra, e até mesmo eles foram atrasados ​​por causa disso. As pessoas foram retidas como um grupo por causa da incredulidade dos líderes e daqueles que os seguiram.

A fé ainda pode ganhar em uma situação como essa. Lembre-se do comentário anterior sobre a espiritualidade individual. As promessas de Deus tem duas dimensões  individual e corporativa. E as promessas de Deus tem duas aplicações – pessoal e missionária.

Coloquemos a cura como um exemplo. Por que eu enfrento o ceticismo até mesmo entre os cristãos quando eu prego que Deus concede a cura para aqueles que têm fé? É porque outras pessoas estiveram espalhando incredulidade. Isso coloca uma resistência ao ministério que nunca deveria ter existido. Sem isso, eu poderia transmitir a mesma mensagem com menos esforço e ainda obter uma melhor recepção. O público também sofre. Se eles não fossem doutrinados com a descrença, eles receberiam do básico imediatamente, e nós poderíamos passar para discutir o assunto num nível mais profundo ou para cobrir tópicos adicionais. Eu posso superar a descrença das pessoas, mas é preciso mais trabalho, um esforço extra que não deveria ser necessário. Agora imagine esta situação não só com a cura, mas com tudo o que a Bíblia ensina  tudo. Assim, a descrença entre o povo pode impedir o progresso corporativo e missionário.

Por outro lado, pode-se permanecer imune aos efeitos da incredulidade corporativa em seu próprio progresso individual e bem-estar pessoal. Usando o mesmo exemplo, mesmo se os cristãos em geral estão cheios de incredulidade quando se trata da cura, quem tem fé ainda pode recebê-la diretamente de Deus. Vemos isso em Josué e Calebe. Apesar de terem sido retidos por quarenta anos no sentido corporativo e missionário por causa da incredulidade de outras pessoas, eles ainda se beneficiaram da sua fé no nível individual e pessoal. Eles sobreviveram à todos os outros em sua geração. Mais do que isso, eles permaneceram tão fortes que foram capazes de levar, em ambos os aspectos, o planejamento e o combate das campanhas militares. É um testemunho da cura e do poder renovador de Deus na mente e no corpo (Josué 1:6, 14:10-11). Mesmo que outras pessoas não tenham fé, eu ainda posso receber de Deus pela minha fé. Continue lutando por aquilo que pertence a você. Não permita que a desobediência corporativa venha impedi-lo em seu desenvolvimento individual. Recuse-se a ficar sob o tipo de sofrimento que vem de uma falta de fé. Recuse-se a carrega-lo. Glorifique a Deus através da celebração de suas promessas.

Quem são aqueles que ficam segurando a Igreja? Os liberais? Os fanáticos? Os anti-intelectuais? Eles podem sim ter feito algum dano, mas os críticos cristãos da fé são muito piores. Eles são aqueles que querem “apedrejar” as pessoas que gostam de Josué e Calebe (Números 14:10). Eles não têm fé para tomar posse do que Deus prometeu, e eles atacam aqueles que falam sobre fé e espalham um bom relatório. Os piores culpados são os teólogos, pregadores e apologistas da incredulidade, e as pessoas que os seguem. O veredicto de Deus é que ele irá fazer com que vivam de acordo com o que dizem. Ele vai deixá-los apodrecer e morrer.

Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações. Renegue os mensageiros da incredulidade. Extermine-os! Extermine-os de sua vida perante de Deus, saia do meio deles, e deixe-os apodrecerem e morrerem em sua própria fossa de incredulidade, falsa piedade, e hipocrisia religiosa. Portanto, esforcemo-nos por entrar nesse descanso, para que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência” (Hebreus 4:11). Eles ofereceram um relatório negativo, e Deus viu eles experimentarem do que disseram. Josué e Calebe ofereceram um relatório positivo, um relatório de fé, e Deus viu eles também experimentaram do que disseram. Assim, podemos ter sucesso na vida e no ministério, mesmo quando ninguém mais tem, se apenas temos fé em Deus.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2016/06/19/the-edge-of-glory/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

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