terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Nº 57



UMA PESSOA, DUAS NATUREZAS
por Vincent Cheung

Quando nós elaboramos uma formulação para uma doutrina bíblica, não estamos tentando fazer o trabalho da Escritura. A doutrina funciona, não importa o que façamos. Ela funciona porque vem de Deus e porque ela descreve Deus. Ela funciona porque é a verdade. Ela é o que é, e é verdadeira, independentemente de sabermos se podemos chegar a uma formulação adequada para ela. O objetivo da formulação teológica é encontrar uma forma de comunicar a doutrina. Em nenhum momento é a própria Escritura que está em risco, pois a sua verdade não depende da nossa formulação. Claro, uma elaboração herética coloca em risco os seus adeptos, mas a própria Escritura nunca irá sofrer danos.

Pessoa

Cristo é uma pessoa. Ele nunca disse, ou implicou dizer, ser algum tipo de eles, e ele nunca foi retratado como uma pessoa que se comunicava com outra pessoa. Não existe nenhum exemplo no qual Cristo, homem, orou ao Deus Filho, ou qualquer coisa do tipo. Baseado na forma que ele foi conhecido, na maneira que ele se referiu a si mesmo e na maneira que ele se comportou, não há nenhuma razão para pensar que ele não fosse uma pessoa apenas.

Nós adicionamos à premissa uma pessoa a ideia de que Cristo deve ter duas naturezas, uma humana e uma divina, e, depois, a ideia de que cada natureza deve incluir uma mente que está de acordo com sua natureza; uma mente humana e uma mente divina. Mas acima de tudo isso, se somarmos isso a ideia de que uma mente, ou um centro de consciência, é necessariamente uma pessoa em si, então devemos concluir que existem duas pessoas. No entanto, existe uma formulação que mantém o ponto de vista que Cristo é uma pessoa, com dois centros de consciência. Como veremos, a necessidade de chegar a essa formulação não é arbitrária, mas necessária em virtude dos dados bíblicos.

Esta formulação começa com a definição de que uma pessoa é um sistema de consciência, não um centro de consciência. Cada sistema poderia conter somente um ou vários centros de consciência. Na encarnação, o Filho de Deus assumiu uma mente humana, de tal maneira que a mente humana está contida pela mente divina, embora não estivesse misturada ou confundida com esta. A mente divina teria acesso e controle completo sobre a mente humana, mas não vice-versa. Desde que não haja nada intrinsecamente impossível em relação a isso, e que acomode os dados bíblicos, esta seria uma boa formulação.

Analogia

Consideremos uma analogia. Advertimos que uma analogia é limitada, adequada apenas para um fim específico, e grosseiramente enganosa quando tomada fora do seu contexto, porque isso envolverá uma doença que é uma disfunção mental de seres humanos, embora não houve uma disfunção mental em Cristo. Dito isto, considere o caso do distúrbio de personalidade múltipla numa pessoa humana. De fato, há vários centros de consciência, mas, ainda assim, ela é uma pessoa. A analogia é particularmente apropriada caso haja de fato uma abrangente ou nobre personalidade.

Minha mente “contém” lembranças de minha infância, entre outras coisas, mas é apenas um centro de consciência. Minha mente pode “conter” outro centro de consciência, com as suas próprias memórias, e num homem isso seria uma disfunção mental. O centro original da consciência é a figura principal. O que é “contido” é dependente do que a contém, e não vice-versa.

Cristo tem uma mente humana que é contida pela mente divina: o Logos. Não há nenhuma disfunção mental, porque a analogia quebra neste momento, de tal forma que os dois casos se tornam categoricamente divergentes. A personalidade privilegiada em Cristo é a mente divina e, ao contrário da personalidade privilegiada no homem, essa personalidade principal é Deus - perfeito em poder e inteligência. Deus Filho, a mente divina, no controle total e com plena consciência - não há uma disfunção mental - assumiu um centro de consciência humana, sem se misturar ou confundir com ele, mas contendo ele de uma forma que Cristo em sua forma encarnada pode dizer “Eu” e estar totalmente se referindo a uma ou ambas mentes.


Esta formulação permite afirmar que Cristo tenha uma mente humana e uma mente divina, dois centros de consciência, duas mentes que não estão nem misturadas, nem confundidas, e que ele continua sendo uma pessoa.

Sistema

Podemos voltar para o caso do homem com distúrbio de personalidade múltipla para ilustrar porque faz sentido definir uma pessoa como um sistema mental. Ele tem mais do que um centro de consciência, mas ele ainda é uma pessoa, porque os vários centros de consciência estão sob um abrangente único (estamos falando relativamente, porque a única razão que conta é a de Deus, em respeita-lo como uma pessoa, e salvá-lo ou condená-lo como uma pessoa). As personalidades não existem independentemente, e elas poderiam ser destruídas sem matar o homem e sem apagar a personalidade privilegiada, e assim as suas personalidades devem ser tomadas como um todo - como um “sistema”.

Com a Trindade não é dessa forma, uma vez que os membros da Trindade podem, e devem, ser distinguidos de uma forma diferente dessa personalidade múltipla dentro de uma pessoa humana. Os três não são presumivelmente dependentes um do outro, de modo que a personalidade secundária de uma pessoa com personalidade múltipla dependeria da personalidade original.

Existem três sistemas em funcionamento uníssono, cada um possuindo a plenitude da divindade. Cada um destes sistemas possui, presumivelmente, apenas uma personalidade. Deus Filho assumiu um centro de consciência humana, mas sem que este se confundisse ou se misturasse com a sua consciência divina. Então, na Trindade, como tal, continua havendo apenas três centros de consciência, uma vez que a natureza humana de Cristo nunca foi deificada.


Deste modo, a definição de uma pessoa como um sistema de consciência ao mesmo tempo acomoda tanto a natureza da Trindade quanto a natureza de Cristo - um em essência, três em pessoas - mesmo que a pessoa do Filho possua tanto uma natureza divina quanto uma natureza humana.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2015/09/09/one-person-two-natures/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Nº 56



JORNADA PARA A FÉ
por Vincent Cheung

Isso é uma grande notícia: que você está aberto para deixar o cessacionismo. As pessoas estão se despertando para o fato de que foram enganadas pela falsa doutrina e tradição, que foram roubadas das bênçãos e poderes divinos que foram comprados para nós pelo precioso sangue de Jesus. Tenho várias sugestões que podem ajudá-lo, e facilitar a sua jornada para a fé.

Não apresse a mudança. Na verdade, penso que esta é uma questão urgente. É importante que você tome essa direção imediatamente. Gostaria que você pudesse mudar inteiramente hoje. No entanto, eu prefiro que você dê um passo de cada vez, ao invés de se comprometer com alguma coisa, e depois balançar pra frente e pra trás, de um lado para o outro, entre uma opinião e outra. É urgente, e muito importante, mas, desde que você declare que já está aberto para mudar sobre o assunto, este é um bom começo.

Não olhe para as pessoas. Não olhe para o que as pessoas chamam de carismáticos, pensando que, se você deixar o cessacionismo, então você irá se tornar um desses carismáticos. Não, você não precisa ser como qualquer um. Você só precisa seguir a Palavra de Deus. Se você olhar para os carismáticos na sua investigação, talvez você ficará aborrecido, e isso poderá até mesmo afetar em como você verá a doutrina. Em primeiro lugar, você pode estar aborrecido porque foi ensinado a desprezar os carismáticos. Em segundo lugar, os carismáticos são realmente errados em algumas coisas, e porque você tem sido instruído a desprezá-los sua reação pode ser exagerado, e pode acabar sendo injusto com o que a própria Bíblia diz sobre o assunto. Os carismáticos não representam a Bíblia, e eles não me representam. Considere o que eu digo em meus próprios termos, mas especialmente seja justo com o que a Bíblia diz. Às vezes, emprego termos que os carismáticos mais odiados usam, para colocar uma pedra de tropeço diante dos que endurecem seus corações, para que, vendo, não percebam, e ouvindo, não entendam. Isso é realmente o que acontece. Por outro lado, aqueles que estão abertos à verdade prestam atenção ao contexto e ao significado, e são capazes de entender o que eu digo, e ver o que procede da Palavra de Deus.

Não discuta com as pessoas. Se você vai olhar para a doutrina dos milagres e das bênçãos de Deus, você deve dar a ela uma chance justa. Você já ouviu falar de cessacionistas. Você sabe o que eles dizem. Você pode discutir com eles depois. Eles gostam de discutir mais do que amar Jesus Cristo, então eles vão esperar por você. Muito debate neste momento provavelmente produzirá frustração, especialmente porque a maioria dos cessacionistas representam sua posição incoerentemente, e representam os carismáticos desonestamente. Não desafie os cessacionistas neste momento. Não pense que é sempre melhor discutir algo pra frente e pra trás, pra frente e pra trás, sem qualquer finalidade. Isso não é bom. Você deve gastar mais tempo pensando sobre esse outro lado primeiro. Ninguém está forçando você a aceitar qualquer coisa. Gaste seu tempo para ficar informado.

Não balance pra frente e pra trás. Se você está dando um passo em direção a fé no poder de Deus, então faça com que cada passo seja permanente. Se você não está confiante, então leve um pouco mais de tempo, mas uma vez que você deu um passo, não escorregue para trás. No entanto, não deixe que isso seja uma desculpa para delongar muito tempo. Deixe-me te lembrar que, se o cessacionismo é errado, você está em um estado de rebelião contra a palavra de Deus. Não é um lugar seguro para estar, mas não é bom querer ficar balançando pra a frente e pra trás.

Não trate isso como um fardo. Você é realmente responsável por acreditar e praticar a verdade. Se o cessacionismo está errado, e estou certo de que está, então você está com algum problema, visto que você está em oposição à palavra de Deus enquanto afirma cessacionismo. Mas a doutrina da fé e do poder de Deus não é para ser uma ameaça ou um fardo. Ela deve ser uma boa notícia. Deus está com você. Deus lhe dará poder. Deus o tornará seu colega de trabalho e o capacitará pelo seu Espírito. Deus quer ser bom para você, e você pode receber coisas boas dele pela fé. Isso é o que você deve pensar sobre isso. Eu sempre repasso isso como faço com evangelho, para aqueles que acreditam  isto é, como uma boa notícia. E para aqueles que endurecem seus corações na incredulidade e na tradição, eu faço desta doutrina um cajado de juízo. Ela expõe sua rebelião, e Deus vai mantê-los responsáveis por isso.


Não se baseie em experiências. A maioria das pessoas ao seu redor provavelmente não acredita nisso. Eles são provavelmente cessacionistas. Mesmo que você acredite nisso, talvez não tenha muita fé nesse momento, mas a operação do poder de Deus é baseada na fé. Assim, no início você pode não receber muitas experiências ou demonstrações. Você deve primeiro descobrir o que a Palavra de Deus ensina, e basear sua doutrina sobre isso apenas. Eu tive algumas experiências, mas mesmo assim baseei toda a minha fé na Palavra de Deus. Posso me deleitar em experiências que estão de acordo com a Palavra de Deus. Eu certamente dou graças quando as recebo de Deus pela fé, ou quando alguém se beneficia do seu poder, mas a palavra de Deus é o que mantém isso acontecendo, é o que nos mantém no caminho certo.

Não enfatize o termo dom. Não se limite a certas passagens populares sobre o assunto. A Bíblia quase nunca usa o termo dom para se referir à este tópico. Às vezes, é bom usar o termo por conveniência, mas tenha sempre em mente que a Bíblia não o usa muito. A Bíblia se refere a milagres em termos de Deus fazendo algo, o Espírito vindo sobre nós, a oração que recebe, quando tem fé em Deus, e assim por diante. O foco em dons distorce toda a discussão. Deus continua? A oração continua? A fé continua? Ou cessaram? O Espírito ainda vem sobre as pessoas, ou morreu juntamente com os apóstolos? Faça estas perguntas a você mesmo.

Eu não gosto de oferecer tantas sugestões negativas, mas eu vim com estas para lhe ajudar no que você me disse sobre a sua formação tradicional. Consideremos uma sugestão positiva. Imagine-se do outro lado da situação. Você pode não estar pronto para se comprometer com a fé no poder de Deus, mas você pode se imaginar com segurança, mesmo que apenas por um momento ou dois, toda vez. Imagine que o cessacionismo é falso. Então o que significaria este ou aquele versículo bíblico? Pode parecer estranho que agora a Bíblia diga o que ela realmente diz, mas tente se acostumar com isso.

E se sempre foi possível ao povo de Deus experimentar e ministrar milagres através da fé? O que explicaria a impotência de algumas pessoas na história? Cessacionistas interpretam a história como se cessacionistas estivessem corretos, mas e se eles não estão? Então há uma outra maneira de olhar a história. Ah, então eles seriam pecadores e fracassados. Os cessacionistas assumem sua doutrina, e interpretam a história por meio dela, e então assumem esta versão da história, e interpretam nossa doutrina por meio dela. Existe outra maneira de contar a história. Nós invertemos o processo. Derivamos nossa doutrina da Palavra de Deus e interpretamos a história por meio dela, e então assumimos esta versão da história e interpretamos sua doutrina por meio dela. Quando fazemos isso, expomos a devastação que o cessacionismo causou à igreja, ao mundo e à humanidade ao longo da história. Essa é a assustadora verdade que eles querem esconder de vocês e de si mesmos – e se possível, do próprio Deus.


Imagine. Se a fé e o poder nunca cessaram, então o que Deus está me dizendo agora? O que ele quer de mim agora? Como eu vou viver agora? Você verá que alguns textos bíblicos imediatamente terão mais sentido. Você não terá mais que distorcê-los ou sufocá-los. Você ouviu os argumentos do cessacionismo. Agora imagine-se do outro lado, e imagine-se atacando o cessacionismo. O que você diria? Que argumento bíblico você usaria? Como seus oponentes responderiam? Suas respostas são honestas, ou apenas mais uma rodada de trapaça e diversão?


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2017/01/27/journey-to-faith/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Nº 55



O INTERRUPTOR PARA DESLIGAR WESTMINSTER
por Vincent Cheung

Quando os israelitas foram mordidos por cobras venenosas, Deus instruiu Moisés para que fizesse uma serpente de bronze e a colocasse numa haste. Quando aqueles que foram mordidos pelas cobras olhavam para isso ficaram curados (Números 21:4-9). Esse objeto não tinha poder para curar o povo, mas simbolizava a expiação futura de Cristo, que se tornaria uma maldição na cruz para que pudesse salvar seu povo.

No entanto, os israelitas fizeram disso um ídolo e queimaram incenso até o tempo de Ezequias. Era um mero símbolo, e o rei foi elogiado quando o destruiu (2 Reis 18:1-4). Se um símbolo se torna mais do que um símbolo na mente das pessoas e começa a ocupar o lugar de Deus ou tomar o lugar da sua palavra, então seria melhor destruir o símbolo para que as pessoas pudessem olhar para a realidade novamente.

Se devemos destruir algo que o próprio Deus ordenou por revelação sobrenatural para preservar a adoração bíblica, quanto mais devemos destruir algo que Deus nunca ordenou, ou, na melhor das hipóteses, algo que ele providenciou através de providência ordinária, a fim de preservar a doutrina bíblica?

A Confissão de Fé de Westminster contém uma declaração que praticamente funciona como um interruptor para desligar o credo: Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares, podem errar - e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa” (CFW. XXXI.III). Estamos nos concentrando na CFW porque as pessoas frequentemente a usam contra nós, como se tivéssemos que nos curvar como elas se curvaram, mas várias outras confissões históricas contêm uma linguagem semelhante (por exemplo, Trinta e Nove Artigos de Religião, XXI).

A declaração se refere a todos os sínodos, e por isso deve incluir a própria CFW. Isso se aplica desde os tempos dos apóstolos, deste modo a questão se estende desde o início, sem exceção. Diz que é possível que todos os consílios errem, e acrescenta: E muitos erraram. Muitos. Isso significa que o erro não é meramente possível, mas é provável. Novamente, isso inclui a CFW em si, e todos os outros credos. Portanto, a CFW continua e estes consílios não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisas (veja também, CFW I.X e XX.II).

A menos que fossem mentirosos, os autores nunca pretenderam que a CFW fosse uma regra de fé, mas apenas um auxílio. É uma mera ferramenta. Nunca foi concebida para ser um padrão autoritário. Se eles sugerissem o contrário em outro lugar, então eles estariam se contradizendo e cometendo exatamente aquilo que a CFW XXXI.III mencionou para não se fazer. De fato, dentro da CFW encontramos o que poderia ser uma declaração auto-destrutiva para o nosso tópico atual. É irônico que aqueles que praticamente colocam a CFW no mesmo nível da Bíblia não sigam à risca a CFW XXXI.III. Eles tomam tudo o que ela diz como se fosse a própria Escritura, mas eles não aplicam a CFW XXXI.III a própria CFW. Desse modo, eles são duplamente hipócritas. Assim como eles são seletivos sobre o que eles aceitam da Bíblia, eles também são seletivos sobre o que eles aceitam da CFW. Eles acreditaram em tudo o que quiseram durante todo esse tempo, e usaram a Bíblia e a CFW apenas para se justificar.

Quando estamos em desacordo com a CFW  tal como com a heresia cessacionista, a reprovação passiva, a aliança das obras, a liberdade e a contingência de segundas causas, o misticismo no batismo e na comunhão, e assim por diante – eles deveriam admitir que é possível que o credo esteja errado, e nesse caso a discussão deveria retornar ao que a Bíblia realmente diz  pois seria possível que algumas partes da CFW estissem completamente deturpadas; ou então eles deveriam insistir que é impossível ao credo errar, e nesse caso a CFW XXXI.III em si estaria errada, o que realmente mostraria que a CFW XXXI.III está correta, de modo que a CFW e seus seguidores se destruiriam mutuamente.

Se os redatores foram sinceros  se não foram fraudulentos  então eu acho que eles chorariam se vissem como as pessoas tomaram seu esforço em fornecer um “auxílio e usaram isso como uma regra de fé para suplantar a própria Escritura. Agora, se a sua religião não progrediu além de 2 Reis, como você se atreve a me desafiar sobre Mateus, Marcos, Lucas e João? Eu conheço seu próprio credo melhor do que você, e de certa forma, eu o respeito mais do que você.

Os criadores estavam preparados para idólatras como você. E mesmo que esta declaração não fosse o principal interruptor para desligar a CFW, ela poderia funcionar como um, quando as pessoas fizessem do credo uma regra de fé em vez de uma mera ferramenta, visto que se declara que o Concílio de Westminster poderia errar. Claro, mesmo se nunca houvesse qualquer interruptor para desligar a CFW, a Bíblia já nos concedeu autoridade para desligar tudo. Arrependei-vos e voltai à Deus. Retorne ao evangelho de Jesus Cristo. Se o credo se tornou um ídolo, desligue o interruptor. Se você não puder, eu sempre posso desligar para você.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2017/01/27/the-westminster-kill-switch/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

Nº 54



UM ESPINHO NA CARNE
por Vincent Cheung

Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar”  1 Coríntios 12:7.

Uma reivindicação popular seria de que o espinho na carne de Paulo estaria se referindo a uma doença que Deus se recusou a curar. E sua aplicação seria de que as nossas orações para a cura podem permanecer sem resposta, e que Deus irá nos conceder “graça para podermos suportar o sofrimento. No entanto, essa interpretação parece impossível.

A Bíblia usa expressões semelhantes em vários lugares com referência a pessoas, não a objetos ou condições, como doenças:

Se, contudo, vocês não expulsarem os habitantes da terra, aqueles que vocês permitirem ficar se tornarão farpas em seus olhos e espinhos em suas costas. Eles lhes causarão problemas na terra em que vocês irão morar”  Números 33:55.

Assim também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão como espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço”  Juízes 2:3.

Porque, se de algum modo vos desviardes, e vos apegardes ao restante destas nações que ainda ficou entre vós, e com elas vos aparentardes, e vós a elas entrardes, e elas a vós, sabei certamente que o Senhor vosso Deus não continuará a expulsar estas nações de diante de vós, mas elas vos serão por laço e rede, e açoite às vossas ilhargas, e espinhos aos vossos olhos; até que pereçais desta boa terra que vos deu o Senhor vosso Deus”  Josué 23:12-13.

Em alguns versículos a expressão está incompleta, mas ainda se usa espinhos para representar pessoas, não objetos ou condições, nem doenças:

Porém os filhos de Belial todos serão como os espinhos que se lançam fora, porque não podem ser tocados com a mão”  2 Samuel 23:6.

E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites entre escorpiões, não temas as suas palavras, nem te assustes com os seus semblantes, porque são casa rebelde”  Ezequiel 2:6.

E a casa de Israel nunca mais terá espinho que a fira, nem espinho que cause dor, entre os que se acham ao redor deles e que os desprezam; e saberão que eu sou o Senhor DEUS”  Ezequiel 28:24.

Nosso versículo mostra que Paulo segue esse uso da expressão. Ele chama o espinho de um mensageiro de Satanás (v.7), não um objeto, condição ou doença.

Ele também chama isso de fraqueza (v.9). Ou seja, quando ele orou para que isso fosse removido, o Senhor o respondeu: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza (v.9a). Depois Paulo disse que, portanto, se vangloriaria em suas fraquezas (v.9b). Para entender o que ele quis dizer com isso, precisamos olhar para um contexto maior.


Paulo estava defendendo o seu ministério contra a influência de falsos apóstolos (2 Coríntios 10-12). Embora esses personagens se apresentassem como super-apóstolos (11:5), Paulo os chamou de obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo” (11:13). Ainda assim, eles foram aceitos pelos Coríntios: Pois, se alguém lhes vem pregando um Jesus que não é aquele que pregamos, ou se vocês acolhem um espírito diferente do que acolheram ou um evangelho diferente do que aceitaram, vocês o suportam facilmente” (11:4).

Para confirmarem a sua autoridade, esses falsos apóstolos fizeram grandes reivindicações sobre suas credenciais e experiências. Paulo se queixou de que isso era insensatez (11:1, também vv.16-21), mas ele disse que, mesmo se tais padrões fossem usados, ele ainda não seria inferior aos falsos apóstolos (12:11). Essas pessoas são descendentes de Abraão? Eu também sou (11:22). São servos de Cristo? Eu sou mais (11:23). Ele lista algumas das coisas que ele sofreu, e que mostram que ele é mais servo de Cristo do que esses impostores:

São eles servos de Cristo? — estou fora de mim para falar desta forma — eu ainda mais: trabalhei muito mais, fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente e exposto à morte repetidas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites. Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar. Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos. Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez. Além disso, enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha preocupação com todas as igrejas” (11:23-28).

Os falsos apóstolos faziam afirmações jactanciosas para se apresentarem como fortes, mas não exibiam traços que marcavam um verdadeiro apóstolo. Paulo afirma que os coríntios: “suportam até quem os escraviza ou os explora, ou quem se exalta ou lhes fere a face (11:20). E ele admite sarcasticamente: Para minha vergonha, admito que fomos fracos demais para isso! (11:21). Em contraste, ele pregou aos coríntios gratuitamente o evangelho (11:7), às suas próprias custas e às custas de outras igrejas (11:8). Portanto, é estranho que os coríntios abandonassem aquele que foi um pai para eles, e seguissem aqueles que exploravam e abusavam deles.


Quanto às experiências, não importa o que os falsos apóstolos afirmam ter tido, Paulo também as teve, e mais ainda. Ele escreveu: É necessário que eu continue a gloriar-me com isso. Ainda que eu não ganhe nada com isso, passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado ao terceiro céu. Se foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem — se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe — foi arrebatado ao paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar” (12:1-4).

Embora Paulo se coloque a parte desta experiência, ele está obviamente falando de si mesmo, porque prossegue dizendo: “Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne” (12:7). De fato, o espinho na carne foi enviado a ele por causa dessas revelações extraordinariamente grandes. Então, quer estejamos falando de credenciais humanas ou experiências divinas, a resposta de Paulo é que somente um tolo confirmaria seu apostolado por meio dessas coisas, mas que, mesmo fazendo isso, Paulo em nada seria inferior aos super-apóstolos (12:11). Ele se distancia disso então, porque prefere se gabar de suas fraquezas (12:5), para que ninguém pense mais nele do que convém (12:6).

Em primeiro lugar, milagres não são coisas que marcam um verdadeiro apóstolo; doutra forma, o foco de Paulo estaria na refutação das alegações feitas por outros, ao invés de combiná-las e superá-las, para depois dizer que isso é tolice (11:1) e que não se ganha nada em toda esta jactância (12:1). É um erro pensar que 2 Coríntios 12:12 está ensinando que o poder para operar milagres seja um distintivo apostólico ou mesmo que o poder para operar milagres pertencesse exclusivamente a um apóstolo. Algumas traduções praticamente prescrevem essa interpretação por sua renderização. A KJV e ESV são melhores: Verdadeiramente os sinais de um apóstolo foram operados entre vós com toda a paciência, em sinais, e maravilhas, e ações poderosasOs sinais de um verdadeiro apóstolo foram realizados entre vós com a maior paciência, com sinais e maravilhas e obras poderosas. No dia de Pentecostes, os apóstolos eram apenas dez por cento dos que receberam poder para operar milagres (Atos 1:8, 15), e o próprio Paulo declara: A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum” (1 Coríntios 12:7).

A alegação de que os milagres são sinais de um apóstolo ou até mesmo os sinais exclusivos de um apóstolo seria um contrassenso para Paulo. Sabemos que muitos crentes além dos apóstolos fizeram milagres. Algumas das visões e milagres mais espetaculares registrados na Bíblia aconteceram com outros discípulos, como Estêvão (Atos 6:15, 7:55-56) e Filipe (Atos 8:39-40). Então há quem alegue que, mesmo que esses milagres foram realizados por outros, eles foram feitos por aqueles que eram associados aos apóstolos e aprovados pelos apóstolos. A Bíblia contradiz isso (Marcos 9:38-39); além do mais, uma vez que isso é adicionado à reivindicação original, 2 Coríntios 12:12 se tornaria irrelevante como uma afirmação do apostolado de Paulo, porque significaria que ele poderia ser nada mais do que um associado de um apóstolo. Na verdade, parece que ele, às vezes, tinha que refutar precisamente essa acusação, e quando o fazia, ele não se concentrava em seus milagres como se fossem sinais de um apóstolo, mas ele relatava a história do seu chamado, apelando para Deus (Gálatas 1:11-2:10). É como ele faz nesta carta aos Coríntios, referindo-se à maneira e ao fruto do seu ministério (Mateus 7:15-23; Gálatas 2:7-8; 2 Coríntios 1:12-14, 3:1-3, 4:1-2, 5:11-20, 6:3-13, 7:2-7, 10:1-12:10).

Ao invés de listar as coisas que fariam uma pessoa parecer forte e crível, mas que não pudesse mostrar um verdadeiro servo ou apóstolo, Paulo escreveu: Se devo me orgulhar, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza” (11:30). Novamente, o que ele entendia por fraqueza? Ele nos diz imediatamente: O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não estou mentindo. Em Damasco, o governador nomeado pelo rei Aretas mandou que se vigiasse a cidade para me prender. Mas de uma janela na muralha fui baixado numa cesta e escapei das mãos dele” (11:31-33). Este é um exemplo das coisas que ele lista em 11:23-28.

Portanto, por fraqueza, Paulo se refere às situações difíceis e embaraçosas que ele frequentemente enfrentava. Esses eventos muitas vezes o faziam parecer derrotado, e tiravam-lhe todos os vestígios de dignidade  um forte contraste com o espetáculo impressionante dos falsos apóstolos e falsos mestres. Enquanto os falsos apóstolos jantavam nos melhores restaurantes com empresários ricos, Paulo estava preso numa pilha imunda perto de ladrões e assassinos, e sendo tratado como se fosse um deles. Enquanto os falsos mestres estavam trabalhando em conjunto com outros líderes para fundarem igrejas, Paulo naufragava, flutuando ao mar aberto. Então, quando teve a oportunidade de visitar alguns de seus filhos espirituais, eles se voltaram contra ele. Eles o desprezaram porque ele não era refinado o suficiente, não era eloquente o suficiente, não divertido o suficiente.


É decepcionante que nosso texto tenha sido tão frequentemente usado com o propósito de assegurar às pessoas que Deus regularmente se recusa a curar os doentes. Doente? Você está brincando? Paulo recebeu trinta e nove chicotadas cinco vezes (11:24). Eles não utilizavam toalhas de algodão para chicotear pessoas. É incrível que ele ainda tinha uma costa para ser chicoteada nas outras quatro vezes. Ele foi espancado com varas três vezes (11:25). Em vez de ficar na cama pelo resto de sua vida com uma espinha quebrada e pernas esmagadas para a glória de Deus, ele ainda estava andando  mais do que aqueles que nunca foram chicoteados ou espancados  e pregando o evangelho.

Doente? Com uma doença ocular“, você diz? Isso é hilário. Isso é realmente engraçado. Ele foi apedrejado (11:25). Os judeus não se enganaram. Quando apedrejavam alguém, apedrejavam para matar. Eles sabiam como fazer isso. Eles eram bons nisso. Estevão foi morto dessa maneira (Atos 7:54-60). Eles não estavam atirando bolinhos para ele. Eles estavam jogando pedras, tão duras quanto podiam, fervendo de raiva e com a intenção de matar — na cabeça, no rosto e em todo o corpo. Eles fizeram isso se darem por satisfeitos de que ele estaria morto (Atos 14:19). Então ele se levantou e voltou para a cidade (v.20). Os discípulos não o levantaram, nem o levaram de volta. Ele levantou. Voltou para a cidade. Perdoe-o se ele ficou capenga por alguns dias! E agora que você está com uma gripe, você acha que você é como ele! Doente? Isso é como dizer que um homem espiritual estava se sentindo baqueado, cambaleando por todos os lados, por isso é bom que estejamos doentes também, o que na verdade significa que este homem estava se recuperando por ter recebido um corte na cabeça alguns dias antes.

Um apelo à nossa passagem é um erro estratégico para aqueles que desejam minar o poder sobrenatural de Deus, especialmente quando eles estão tão ansiosos para aplicar a resposta do Senhor para Paulo sobre todos os cristãos. É uma mina terrestre para milagres de cura e experiências carismáticas. Paulo mesmo sozinho pode servir para aumentar drasticamente nossa fé no poder de cura de Deus e nossa expectativa nos milagres e experiências que são possíveis para aqueles que confiam nele.

Isto é o que Paulo quer dizer com fraqueza. Se tivesse algo a ver com doenças físicas, então teria sido uma referência a algo que fosse incapacitante, ou mesmo fatal. Assim, ele escreveu: É por isso que, por amor de Cristo, me deleito nas fraquezas, nos insultos, nos sofrimentos, nas perseguições, nas dificuldades (12:10). Todos os itens pertencem a categorias amplamente semelhantes, e nenhuma delas significa doença. Esta é outra indicação de que a fraqueza não se refere à doença.

Paulo diz: Se devo me orgulhar, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza (11:30). Vemos o que isso significa agora. E por que ele se gabava de sua fraqueza? Ele continua: Por isso me gloriarei cada vez mais nas minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim... pois quando estou fraco, então sou forte (12: 9-10). Quando um cristão confia em Jesus Cristo e não em credenciais humanas, eloquência ou demonstração, o poder do Senhor é aperfeiçoado nele. Quanto mais as pessoas se opõem a ele, e mais o envergonham, e mais o despojam de sua dignidade, mais o poder de Cristo se manifesta.

Nesse contexto, este poder não pode apenas se referir a um poder ético, como sendo uma integridade forte, ou uma resistência emocional. Se estivesse se referindo à uma resistência, deveria incluir uma resistência sobrenatural que permitiria sobreviver a lapidação, chicotadas, espancamentos e naufrágios. É também um poder que permite receber visões e revelações (12:1), uma vez que o espinho na carne veio por causa destes em primeiro lugar (12:7), e a declaração do Senhor: o meu poder é aperfeiçoado na fraqueza” (12: 9), refere-se a isso mesmo. Este poder é mantido num sentido completamente carismático. Mesmo que signifique mais do que isso, não pode significar menos. Se a passagem tem alguma aplicação para o cristão, é isso. Esta aplicação não pode ser negada, e é seguramente traiçoeiro afirmar uma aplicação oposta, como a maioria dos estudiosos parecem fazer.

Enquanto estamos nesse assunto, devemos dar uma olhada em Gálatas 4:13: Como vocês sabem, foi por causa de uma doença que eu primeiro lhes preguei o evangelho. Se alguns cristãos estão tão obcecados em limitar o poder da cura de Deus na vida de Paulo, para que eles possam desculpar sua própria incredulidade ou encontrar um consolo para sua derrota, este versículo poderia ser mais plausivelmente torcido para este propósito do que 2 Coríntios 12:7.

Primeiro, há alguns que não pensam que o versículo está se referindo a uma doença. Muitas traduções assumem que o versículo faz assim e o declaram como tal, mas algumas colocam fraqueza da carne ou enfermidade da carne. Adam Clarke acha que Paulo estava apenas sobrecarregado, mas isso parece ser especulação, como as teorias que atribuem doenças específicas no versículo. De qualquer forma, ele aparentemente discorda dessas outras teorias.

John Gill sugere uma série de possibilidades, das quais uma doença física é apenas uma dentre várias opções, ou seja, a enfermidade da qual o apóstolo se referiu em sua pregação do evangelho para eles [...] poderia ser sua própria enfermidade, sendo alguma enfermidade ou desordem corporal particular, como dor de cabeça, da qual poderia se dizer estar bastante perturbado; ou uma fraqueza na sua presença corporal, na aparência externa que ele tinha, na sua desprezível voz e na grande humildade com que se comportava; ou mesmo, nas muitas censuras, aflições e perseguições que o acompanhavam.

Embora pareça possível que Gálatas 4:13 esteja se referindo a uma doença, não podemos ter certeza de que Paulo esteja fazendo isso. Ninguém pode provar que ele esteja fazendo isso, não importa o quão dura seja a tentativa. E se a fraqueza da carne não é uma doença, então nada mais precisa ser dito sobre ela em relação ao nosso assunto. No entanto, para que a discussão continue, e para que possamos considerar suas implicações sobre a doutrina da cura no que segue, vamos fingir que o versículo realmente esteja referindo a uma doença. Vamos fingir que Paulo estava realmente doente quando ele pregou aos gálatas.

Se esta fraqueza da carne era uma doença, então, contrário ao que muitos comentaristas dizem, é certo que Gálatas 4:13 não se refere à mesma coisa que 2 Coríntios 12:7. Visto que já estabelecemos que o espinho na carne de 2 Coríntios 12:7 não pode se referir a uma doença. Uma vez que Gálatas 4:13 se refere a outra coisa, e não ao espinho na carne, isso significa que a resposta do Senhor em 2 Coríntios 12:9 não se aplica à situação de Gálatas 4:13. Não se pode dizer que o Senhor se recusou a curar Paulo em Gálatas 4:13 com base no que ele diz a Paulo em 2 Coríntios 12:9.

Então, mesmo se identificarmos ambos à força, embora haja indicação que se coloque contra isso, ainda seria apenas um caso de uma doença que não foi curada. A aplicação geral seria impossível, pois é óbvio que há muitos casos de cura na Bíblia, e também de promessas amplas de cura (Tiago 5:15). Assim, mesmo se abusássemos das passagens, como se faz aqui, seria possível fazer apenas um ligeiro progresso na direção da doença. Mas, novamente, isso seria um abuso da Escritura, e assim não poderia de fato ser feito.


Continuaremos com a suposição de que Gálatas 4:13 esteja referindo à uma doença. Existe alguma indicação de que tipo de doença pudesse ser? Os comentaristas muitas vezes gostam de sugerir malária por causa da situação local, ou oftalmia por causa de várias expressões que Paulo usou.

Muitos estudiosos bíblicos gostam de agir como detetives, contudo, na maioria das vezes acabam mais como a Pantera Cor-de-rosa do que como Sherlock Holmes. O investigador desajeitado entra na cena do crime. Ele inspeciona o chão com uma lupa, e encontra impressões de pé formadas por uma substância marrom. Ele pega um pouco e coloca em sua boca... Humm! Oficial, registre essas pegadas! O criminoso usava botas deste tamanho e, a julgar pelo gosto do estrume, ele veio de uma fazenda próxima! O oficial responde: Senhor, só você que entrou aqui, depois de pisar em algum cocô de cachorro lá fora. São suas impressões.

A Bíblia não inclui nenhuma indicação real da situação local, e mesmo se o fizesse, não conteria nenhuma indicação de que Paulo contraiu uma doença que era comum nessa área. É especulação total. Então, outros estudiosos leem: Que aconteceu com a alegria de vocês? Tenho certeza que, se fosse possível, vocês teriam arrancado os próprios olhos para dá-los a mim” (Gálatas 4:15). Aha, doença ocular! No entanto, como o espinho na carne, que não tem nada a ver com um espinho real, isso poderia ser apenas uma expressão para a forte preocupação do povo e disposição sacrificial para com o apóstolo.

Você poderia dizer, eu pegaria uma bala por ele, quando ninguém está realmente atirando no seu amigo. Ou, “ele é tão gentil cavalheiro, que até lhe daria sua própria camisa com seu chapéu, quando ninguém precisa de uma camisa e ninguém deixou cair qualquer um chapéu. Se Paulo tivesse uma doença ocular, o versículo 15 seria consistente com ela, mas o versículo em si não pode indicar que ele tinha essa doença. Então, 6:11 é apenas sua assinatura. Eu conheço alguém que tem uma assinatura tão grande que sua esposa tem que deixar um espaço extra para ele em cada cartão que emitem. Se ele deseja ser enfático, ele pode fazer sua assinatura ainda maior do que o habitual. Não tem nada a ver com a condição de seus olhos.


Outra possibilidade é que Gálatas 4:13 se esteja referindo aos efeitos da sua lapidação. Isso poderia implicar que um número significativo de seus leitores o ouviu pela primeira vez após Atos 14:19, ou a ordem dos eventos não seria condizente.

Existem várias vantagens para essa teoria. É a única opção que pode ser conectada a algo realmente registrado na Bíblia, e que ocorreu em torno do tempo e do local onde Paulo primeiramente pregou aos seus leitores. O apedrejamento o teria deixado severamente desfigurado, com ferimentos em todo o seu corpo. Sua aparência teria sido muito pior do que se tivesse oftalmia. Isso torna ainda mais impressionante o fato de que os gálatas não trataram Paulo com desprezo por causa de sua aparência (4:14). O sofrimento foi intenso e memorável para ele: Tu, porém, sabes tudo... que tipo de coisas me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, e as perseguições que eu sofri (2 Timóteo 3:10-11). Os cristãos gostam de se identificar com essas coisas, mas Paulo acrescenta: Todavia, o Senhor me livrou de todos elas (v. 11), por isso vamos nos identificar com isso também.

No entanto, se isso é o que Gálatas 4:13 refere, então o que parece ser um registro da doença torna-se um testemunho do poder de cura de Deus. Nós temos tal testemunho em Atos 14:19-20 de qualquer maneira, entretanto, a questão é  se este versículo em Gálatas se refere às consequências do mesmo evento. Em Atos 14, os judeus apedrejaram Paulo até pensarem que ele havia morrido (v.19). Mesmo que não estivesse morto, aparentemente estava tão ferido que os judeus imaginaram que ele estivesse. Se houve algum sinal de movimento, fala, respiração ou qualquer outro sinal de vida, eles não conseguiram detectar. Se ele morreu, Deus o ressuscitou dos mortos. A partir de tal situação, Paulo levantou-se e voltou para a cidade. No dia seguinte, ele estava suficientemente bem para viajar (v.20). Então, imediatamente ou logo depois, ele ficou bem o suficiente para pregar, para nomear anciãos, para orar e jejuar, e para viajar um pouco mais (v.21-25).

Esta é uma medida assustadora do poder de cura. O homem se recusou a morrer, e se morreu, recuperou-se da própria morte. Isso aconteceu independentemente do que Gálatas 4:13 está falando. No entanto, como não há nada definitivo que ligue Atos 14:19 a Gálatas 4:13 desta maneira, permanece apenas uma possibilidade de que a fraqueza da carne esteja se referindo às feridas restantes da lapidação.

Preste atenção ao que está no versículo, e o que não está lá. Podemos dizer com certeza que Paulo tinha uma condição que ele chama de fraqueza na carne. Isso poderia ter sido uma doença ou um ferimento. Sua natureza exata é desconhecida. A condição existia quando ele pregou pela primeira vez a esses leitores. Embora os Gálatas pudessem tê-lo considerado como desprezado por causa disso, não o fizeram.

Não podemos dizer que esta era uma doença crônica, porque o texto não diz isso. Não podemos dizer que ele nunca se recuperou, porque o texto não diz isso. Não podemos dizer quanto tempo essa condição permaneceu, se dez horas ou dez anos, porque o texto não diz. Ele diz que ele tinha essa condição quando pregou no começo aos gálatas. Ele poderia ter se recuperado durante o tempo que esteve com eles ou no momento em que ele os deixou, ou talvez ele nunca se recuperou. Com base no texto, ninguém pode saber, porque não nos diz.

Portanto, o texto por si só não fortalece ou prejudica uma expectativa de cura, porque não nos diz se ele recebeu a cura, e não nos diz se ele nunca recebeu a cura. Mostra que um cristão pode ser atacado pela doença, mas essa informação não é nova. A Bíblia nos diz o que fazer a respeito: Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. E a oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados, ele será perdoado (Tiago 5:14-15). Muitas outras passagens encorajam uma expectativa de cura.


A Bíblia também ensina que a cura pode ser instantânea, mas também pode demorar um pouco. O próprio Jesus ministrou duas vezes a um cego antes deste ficar completamente curado (Marcos 8:22-25). Tiago se refere à oração de Elias no contexto da oração pela cura, e Elias orou sete vezes antes que a resposta viesse (Tiago 5:17-18; 1 Reis 18:41-46). Eliseu teve que orar e se estender sobre uma criança mais de uma vez antes que a criança fosse ressuscitada dos mortos e totalmente restaurada (2 Reis 4:32-35). Muitos testemunharam que, embora às vezes levassem horas, dias ou semanas de oração, mesmo em casos incuráveis ​​e terminais foram curados. Assim, mesmo se Paulo não tivesse se recuperado antes de pregar aos gálatas, isso não significa que ele nunca se recuperou. Em vez disso, seu ponto não é que ele estava doente, mas que seus leitores não o desprezaram.

Algumas pessoas fazem grandes esforços para mostrar que Paulo estava doente e não recebeu a cura, ou que ele orou por alguém e essa pessoa não recebeu a cura, mas isso não pode fazer nada além de expor a sua idolatria. Seus argumentos estão errados, mas colocando isso de lado por momento, a questão é por que devemos nos importar com isso, em primeiro lugar. Paulo foi crucificado por você? Você foi batizado em nome de Paulo?... Afinal, quem é Apolo? Quem é Paulo? Somente servos, pelos quais vocês vieram a crer” (1 Coríntios 1:13, 3:5). Nós olhamos para Cristo quando pedimos a cura, não para Paulo, e o próprio apóstolo teve que olhar para Cristo.

Quando oro para que alguém receba a cura, eu não oro a Paulo ou em nome de Paulo, mas a Deus e em nome de Jesus Cristo. Então, eu olho para as promessas de Deus com respeito a fé, cura e oração. Se Deus diz que a cura nos pertence, então eu posso recebê-la mesmo se Paulo a recebeu ou não. Se Deus disse que podemos orar pelos enfermos e que eles se recuperarão, então eu posso esperar que Deus os cure, mesmo se Paulo foi ou não bem sucedido nisso. Quando as pessoas olham para Paulo quanto a cura, ou quando baseiam sua crença em teorias sobre a experiência de Paulo, elas já estão derrotadas. Essas pessoas olham para os homens, e é por isso que elas são fracassadas. Elas estão doentes de espírito, que é o pior tipo de doença. Satanás tem oprimido seus corações, mas Jesus pode livrá-las mesmo assim.

A verdade é que aqueles que minam a cura na vida de Paulo não querem aprender com ele. Eles querem usá-lo. Eles querem torcer suas palavras, pisarem nas suas costas, e usá-lo para se exaltarem. Eles querem que suas vidas inúteis e patéticas pareçam faróis de glória.

espinho na carne foi enviado para aquele que teve as mais extremas experiências carismáticas, que viveu os mais dramáticos milagres, visões, sinais e maravilhas. E isso não pode ser usado para amortecer as expectativas carismáticas, porque foi aplicado sobre alguém que já realizou expectativas carismáticas muito além dos carismáticos medianos, e mesmo além das histórias que os falsos apóstolos inventavam.

Se você afirma que tem um espinho na carne, então eu quero ouvir você contar sobre todas as visões e revelações que recebeu, até mesmo as surpreendentemente grandes experiências sobrenaturais. Se você afirma que tem uma enfermidade que Deus se recusa a remover, então eu quero ser testemunha da extrema medida do poder sobrenatural que repousa sobre você  seu poder está sendo aperfeiçoado na fraqueza. Quantos milagres de cura, milagres da natureza e milagres do julgamento de Deus devem ter sido realizados através de você!

Eu não quero sobre ouvir como você permaneceu prostrado durante muitas horas por causa de uma terrível diarreia que você sofreu depois de alguma comida tailandesa ruim. Não, eu quero ouvir sobre como você estava pregando em algum canto desconhecido do mundo, e um xamã nativo decapitou sua cabeça. Você subiu ao céu, jogou Queimada com os anjos, e Jesus era o árbitro. Então você retornou dos mortos, reposicionou sua própria cabeça, e ainda conseguiu continuar caminhando e pregando o evangelho enquanto guerreiros nativos te perseguiram com bazookas apontadas para suas costas, porque o poder da cura de Deus que se desencadeou através de você funcionava como uma ameaça ainda maior, feita de arma biológica. Eu aceitaria isso como uma versão moderna do que Paulo experimentou. Daí, se você afirmasse que era possuidor de um espinho na carne, eu não diria uma palavra.


Se você não tem nada, então você não tem um espinho na carne. Você tem muitas desculpas, incredulidade, falsa doutrina e orgulho religioso. Você não tem um espinho na carne. Você é um espinho na carne daqueles que confiam em Deus para receberem libertação. Você não tem enfermidades. Você tem pequenos aborrecimentos em sua vida que você exagera, a fim de fazer perecer que você é alguém grande, quando na verdade você é um hipócrita religioso.

Os falsos mestres do cessacionismo e da tradição vêm a nós pregando um Jesus diferente (aquele que não batiza com o Espírito Santo, Mateus 3:11; Marcos 1:8; Lucas 3:16; João 1:33), um espírito diferente do Espírito Santo, que não concede poder miraculoso (Atos 1:4-8, 2:1-4, 17-18; 1 Coríntios 12:7), e um evangelho diferente (um evangelho que não inclui a cura e os milagres, Mateus 8:17; Gálatas 3: 5; Tiago 5:14-18). Vamos permitir isso? Em vez de se aventurar no mundo com fé e poder, e correr o risco de enfrentar os perigos que Paulo encontrou, a doutrina da doença permite que alguém sofra no conforto da sua própria casa e se sinta como um herói ao mesmo tempo. Ele é elogiado apenas por estar doente. Ele é um cambalacho religioso. A Bíblia ensina uma doutrina de cura, poder e milagres. Quando isso resulta em alívio e conforto, damos graças a Deus e testemunhamos a sua bondade, e usamos nossa força renovada para cumprir a comissão do Senhor.

Eles se queixam de que um evangelho de cura e poder promete aos homens que a fé em Deus os isentará de todos os problemas. Se algumas pessoas ensinam isso, não se tratando de alguma deturpação ou declaração tirada do seu contexto, deve ser tão raro que eu nunca ouvi em mais de vinte anos, nem mesmo daqueles que são considerados os mais zelosos mestres da saúde e riqueza. De fato, mesmo nos mais heréticos, ninguém precisa ouvi-los muito para então perceberem o mal-entendido de que a fé em Deus implicaria numa vida sem problemas, nem mesmo os pequeninos problemas. A crítica é apenas um espantalho e uma calúnia.

Em vez disso, geralmente quando se referem ao versículo: O justo pode ter muitos problemas, mas o Senhor o livra de todos eles (Salmo 34:19). Essas pessoas insistem que os cristãos enfrentarão problemas, mas elas também pregam a libertação, porque a Bíblia promete isso. Os cristãos podem ser atacados, mas podem vencer, pela fé em Deus. Por outro lado, e é claro que eu não estudei todos os sermões do mundo inteiro, eu não ouço seus críticos usarem este versículo. A primeira parte lhes ofereceria conforto, mas a segunda parte seria um espinho na carne. Eles evitam passagens da Bíblia que prometem cura, provisões e respostas à oração. Quando as mencionam, então sufocam-nas sob mil restrições, e denunciam aqueles que acreditam nelas.


Eles retratam a fé como um engano que faz coceira nos ouvidos, mas a incredulidade como uma defesa do evangelho. Deus quer que tenhamos uma fé que possa mover montanhas, e que possa receber respostas à oração (Marcos 11:22-24). Se existe o perigo de uma fé equivocada ou presunçosa, a heresia da incredulidade é muito pior. É a ilusão satânica de que a dor é igual à piedade. Mas não nos enganemos de que nunca iremos encontrar problemas, porque sabemos que quando saímos para realizar as obras de Cristo, mesmo que os pagãos se regozijem com o evangelho, os cessacionistas estarão lá para nos impedir. Deus pode removê-los, mas ele muitas vezes acaba aumentando o poder (Atos 4:29-31; 2 Coríntios 12:9-10).


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2015/03/12/a-thorn-in-the-flesh/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.