sexta-feira, 16 de junho de 2017

Nº 75



O CESSACIONISMO E A POSSIBILIDADE PROFÉTICA
por Dione Cândido Jr.

Pense como uma profecia poderia te ajudar algum dia em qualquer situação. Apenas pense. Consegue pensar nisso? Seria possível que Deus te ajudasse por meio de alguma manifestação profética a fim de dissolver algum dilema privado e pessoal seu? Seria possível que alguma profecia genuína da parte de Deus pudesse servir de ajuda para você algum dia, ou até mesmo hoje? Apenas é possível? E se Deus realizasse isso, seria benéfico para você? Se sim, então: você acaba de mentalmente comprovar que a tradicional doutrina do cessacionismo é falsa.

Só o fato de um cristão conceber mentalmente alguma situação hipotética onde uma manifestação profética, para qualquer finalidade que seja, possa ser útil para ajudá-lo numa determinada situação, já anula a possibilidade de qualquer cessacionismo contemporâneo ser verdadeiro, tanto agora como durante toda história da igreja cristã. O cessacionismo simplesmente não pode resistir diante da possibilidade hipotética de qualquer atual auxílio proféticoIsso se dá por causa dos pressupostos pelos quais Paulo logicamente opera em 1 Coríntios 13:8-12. A conclusão que chegamos ao final deles é de que, quando a profecia cessar, não haverá mais espaço, utilidade ou funcionalidade para a sua operação na vida dos cristãos, nem mesmo hipoteticamente. Senão, vejamos.

Em primeiro lugar, Paulo propõe que a profecia é um meio pelo qual Deus fornece aos cristãos um conhecimento verdadeiro, porém, parcial (v.9). A profecia nos informa acerca de algo verdadeiro, contudo, não elimina a possibilidade de um eventual dilema mental ocorrer até mesmo no momento seguinte, ou no próximo pensamento que possamos ter. Segundo, Paulo propõe que tal parcialidade que a profecia não elimina deverá ser superada e, de fato, irá desaparecer quando a cessação do que é profético realmente se instalar na história humana (v.10), visto que este vem com a posse efetiva de um conhecimento pleno para os cristãos, eliminando finalmente a possibilidade de um eventual dilema mental ocorrer até mesmo no momento seguinte, ou no próximo pensamento. Paulo está lidando exatamente com o que é mental cognoscível para os indivíduos cristãos, não há como escapar disso ou jogar a matéria para outra categoria. Então, em terceiro lugar, Paulo assume, para ele mesmo e, consequentemente, para todos os cristãos a que ele se dirige nesse texto, que a chegada da cessação do profético não implicará na posse de um conhecimento progressivo, potencial, gradual, imperfeito ou incompleto para eles, mas sim na posse de um conhecimento pleno, estável e totalmente efetivo (v.12), instaurado mentalmente sobre cada um, assimilando-se todas as informações verdadeiras, exaustivas e incorrigíveis acerca de Deus e do mundo que ele criou (dentro dos limites da própria estrutura cognitiva dos cristãos, é claro, visto que eles jamais obterão para si mesmos uma mente onisciente). Por isso, não haverá mais lugar para a parcialidade quando isso ocorrer, mas sim lugar para plenitude. Não haverá mais graduação, mas sim efetivação. É isso que Paulo nos deixa disponível quando afirma para si mesmo aquilo que também pode ser afirmado para todos os cristãos: “conhecerei como também sou conhecido” (v.12). Será algo imbatível e sem precedentes. Será o ápice do entendimento cristão. Será o advento do Perfeito!

Então, a questão fatal para aqueles que defendem um cessacionismo vigente fica bastante clara: o fato de uma hipótese da manifestação profética, com utilidade e serventia para os cristãos ainda hoje, não faz o menor sentido, e é totalmente absurda, dada as implicações do que foi exposto acima. Deduz-se que o estágio cognitivo e situacional em que os cristãos deveriam se encontrar após a instauração da cessação do profético, segundo Paulo, não permitiria isto. Não poderia logicamente permitir isto. A chegada do Perfeito, e do conhecimento pleno que supera aquilo que agora sabemos em parte, faria os cristãos conhecerem como de fato são conhecidos e não deixaria em aberto a possibilidade de uma hipotética profecia os servir de alguma coisa. De outro modo: Como pode ser possível que uma profecia nos faça conhecer novamente em parte, e de alguma forma nos seja útil, se nós supostamente já possuímos um conhecimento pleno como implicação logicamente necessária da cessação assumida em 1 Coríntios 13:8-12? Não é possível. É uma antítese.

Após a instauração da cessação proposta por Paulo, não deverá haver nem mesmo a mera possibilidade de uma utilidade profética, porque nós teremos posse de um conhecimento pleno e maior do que qualquer profecia parcial poderia nos conceder. Não haverá mais espaço ou lugar para algo parcial funcionar, e nem mesmo ser hipoteticamente concebível em nossa situação decorrente. A simples hipótese do auxílio da manifestação profética nos dias de hoje impede bíblica e logicamente o cessacionismo. Isto revela que nenhum cristão chegou à situação cognitiva que Paulo estabeleceu como marca suprema da cessação dos dons espirituais, e especialmente da profecia no nosso texto. O cessacionismo ainda não chegou para os cristãos porque uma profecia ainda pode ajudar os cristãos. A tradicional doutrina do cessacionismo simplesmente não tem defesa, nenhuma defesa, e qualquer pessoa pode negar a realidade da doutrina caso ela apenas considere ser possível o fato de se beneficiar com uma profecia da parte de Deus.

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