UMA AVALANCHE CASCATEANDO ESTRUME DE CAVALO
por Vincent Cheung
“Foi dito que devemos crer que
os dons do Espírito continuam a não ser que a Bíblia declare que eles cessaram.
Um cessacionista respondeu: ‘Então, onde na Escritura se faz cessar o dom de
apostolado? Onde na Escritura se faz cessar o dom de escrever a Escritura?
Onde na Escritura se faz cessar o método de decidir a vontade do
Senhor no lançamento de sortes? A não ser que desejem fazer essas
coisas literalmente, os carismáticos devem parar de pensar que eles são
como a igreja do primeiro século. Os carismáticos acreditam que certas coisas
cessaram também, e é hipocrisia deles fingir que estão apenas lendo as
Escrituras”
“Dom”
de Apostolado
Um
argumento comum para o cessacionismo reivindica que o “dom” de apostolado
cessou e que a cessação de outros dons resulta disso. Isso tem sido chamado de
argumento “em cascata”, ou como eu lhe chamo, Loser’s Slippery Slope of Unbelief (LOSSOU) [1].
Uma
das principais razões para que os pobres apóstolos sejam arrastados para essa
discussão o tempo todo é por causa da suposição de que eles eram únicos,
possuíam autoridade suprema, infalibilidade constante, e que seus escritos
estavam inseparavelmente ligados com a escrita da Bíblia. Portanto, se os
cessacionistas assumem que a Escritura está completa eles devem finalizar os
apóstolos.
No
entanto, eles não entenderam os apóstolos, e fizeram com eles pequenos
deuses. Estes nunca possuíram autoridade suprema, de modo que até mesmo os
crentes e os anciãos poderiam responsabilizá-los e obrigá-los a oferecer uma
defesa por seus atos, como quando pregavam aos gentios. Eles não eram
constantemente infalíveis - Pedro comprometeu o evangelho de tal modo que mesmo
alguns novos convertidos se recusariam fazer hoje, e Paulo teve de repreendê-lo
na frente de todos (Gálatas 2:11-14).
Isso
não é problema para a inspiração da Escritura a menos que assumamos que os
apóstolos - não Deus - foram os autores da Escritura, ou que tiveram um papel
tão decisivo que o próprio Deus não poderia ter produzido uma Escritura
infalível através deles a menos que esses homens fossem também infalíveis. A
idolatria cessacionista realmente dói à inspiração da Escritura. A principal
tarefa dos apóstolos não era escrever a Escritura, e a maioria deles não
escreveu Escritura. Ademais, assim como grande parte do Antigo Testamento não
foi escrito por profetas, grande parte do Novo Testamento não foi escrito por
apóstolos.
Apesar
de, geralmente, fazermos generalizações inofensivas de que os apóstolos e
profetas escreveram a Bíblia, porções significativas não foram escritas por
eles, ou não foram reconhecidas como escrita deles. Para resolver isso, algumas
pessoas inventam o princípio de que esses documentos foram, no entanto,
escritos por aqueles que estavam intimamente associados com os apóstolos e
profetas. No entanto, eles arbitrariamente determinam esse princípio, sem
justificativa, e eles também decidem arbitrariamente como esses outros autores
precisam ser estreitamente associados com os apóstolos e profetas. Além disso,
as relações desses autores com apóstolos, escribas, e profetas, são muitas
vezes incertas e oferecem uma base frágil para dar peso a algo como sendo
inspiração divina. Toda a dificuldade é auto infligida devido à falsa suposição
de que cada palavra na Bíblia deve ser escrita ou aprovada por apóstolos e
profetas.
Uma
vez que ressaltamos ser Deus o autor, exatamente o único autor real, então
torna-se evidente que a questão de autoria humana é incapaz de prejudicar a
inspiração da Escritura, porque não tem nenhuma relevância decisiva em primeiro
lugar. Deus pode escrever em tábuas de pedras, falar por meio de uma voz do
céu, fazer um burro falar, fazer pedras clamar, ou mover um homem a escrever
suas palavras. Deus é aquele que fala e escreve. Embora muitas vezes ele usou
os apóstolos e profetas, ele poderia causar alguma coisa para acontecer através
de qualquer pessoa que ele escolhesse. Pelo seu Espírito, ele tomou conta de vários
homens e os levou a escrever as suas palavras. Então, por sua providência, ele
protegeu esses documentos e os compilou em um volume final.
A
teoria tradicional de inspiração evangélica é falha, e tem como base uma visão
idólatra de apóstolos. Quando nós descartarmos tudo isso e colocamos a Bíblia
com Deus, e somente Deus, todos os problemas desaparecem. Assim a inspiração se
aplica a toda Bíblia não porque tudo isso foi escrito ou aprovado por apóstolos
e profetas, mas porque tudo isso foi escrito por Deus.
Toda
a Escritura foi escrita por Deus, até soprada diretamente por ele (2 Timóteo
3:16). Não faz diferença se ele usou apóstolos ou esquilos para escrevê-la.
Portanto, cessar o apostolado não encerra a possibilidade de inscrição à
Escritura. Se os cessacionistas desejam realizar o que eles precisam, em sua
linha de raciocínio, não seria suficiente matar os apóstolos, mas eles deveriam
matar Deus também, porque ele é o autor real, exatamente o único autor, e ele
pode fazer apóstolos e esquilos além de qualquer coisa, e a qualquer momento na
história.
Se
é suficiente dizer que Deus completou a Bíblia de acordo com a sua providência,
então não faz diferença dizer que ainda há apóstolos hoje. Mas se não for
suficiente dizer que Deus completou a Bíblia, então também não será suficiente
dizer que não há mais apóstolos. Eles devem destruir o próprio Deus para
garantir a conclusão da Bíblia, e eu não ficaria surpreso se muitos deles
estivessem disposto a fazê-lo.
Da
mesma forma, todos os milagres na Bíblia procediam de Deus, não dos apóstolos,
e todos os dons do Espírito vieram de Deus, não dos apóstolos. Para os milagres
morrerem Deus deve morrer. Assim, o LOSSOU deve começar com Deus, e não com
os apóstolos. Enquanto Deus está vivo, apóstolo ou nenhum apóstolo, dom ou
nenhum dom, “tudo é possível ao que crê” (Marcos 9:23).
Mesmo
se o apostolado cessou, mesmo se todos os dons do Espírito cessaram, e de fato,
mesmo que ninguém na história jamais houvesse operado um milagre pelo poder de
Deus, ainda sim, seria possível para mim experimentar todas as coisas
representadas pelos dons do Espírito - mesmo que eu deva ser o primeiro e único
- porque a minha fé em Deus não cessou. A doutrina da cessação de milagres não
é nada mais do que uma desculpa para a cessação da fé. O debate sobre os “dons”
do Espírito é um red herring [2] e
uma farsa.
"Dom”
da escrita da Escritura
Ao
exigir uma resposta para “o dom de escrever a Escritura”, a ideia seria que, se
escrever a Escritura é um dom espiritual, e se está de acordo que a Escritura
tenha sido concluída, então tal dom cessou, e isso seria uma base para o LOSSOU.
Mas
quem disse que isso é um dom? Será que ele pensa que somos estúpidos, de tal
modo que ele possa tornar esse fato num dom e, então, nos enganar afirmando que
esse dom cessou? Ou ele é um idiota, de modo que classifica algo como dom
quando não existe base para isso? Seu desafio é funesto. Não temos que cair
nele.
Se
mesmo escrever as Escrituras é um dom, seria mais correto dizer que se trata no
âmbito de profecia, ou que é uma das muitas manifestações da profecia. Há certa
base para dizer isso (2 Pedro 1:20-21), mas, mesmo assim, não podemos saber
como isso cobre toda a escrita da Bíblia.
Se
escrever a Escritura vem como profecia, seria um argumento circular dizer que
um dom espiritual cessou na base de que a escrita da Bíblia cessou, uma vez que
a continuação da profecia é uma das coisas discutidas. Não funcionaria dizer:
“A profecia cessou, porque a profecia cessou”. Então, mesmo escrevendo que
a Escritura vem sob profecia, e mesmo se escrever a Escritura cessou, não se
segue que a profecia cessou, porque mesmo enquanto essa estava em operação a
escrita da Bíblia teria sido apenas uma rara manifestação desse dom, que não
abrange tudo o que o dom implica. Em qualquer caso, é incerto dizer que
escrever a Escritura é um dom espiritual, ou que venha no âmbito de qualquer
dom espiritual.
Novamente,
se o fim da escrita da Escritura deve significar o fim dos dons, ou pelo menos
deste dom, então ele não vai longe o suficiente, porque não era o dom que
escrevia a Escritura, ou até mesmo os homens que exerceram o dom, mas foi Deus
quem escreveu a Escritura. A conclusão da Escritura não será obtida matando os
dons. Dado o pressuposto cessacionista, o fim da escrita da Escritura deve
significar o fim de Deus - ele deve morrer - mas isto significa que não há
salvação para o cessacionista.
Lançamento
de sortes
Quantas
vezes os lançamentos de sortes aparecem na Bíblia em relação à orientação da
Escritura, sábios conselhos, visões, sonhos, circunstâncias, percepções
espirituais, e vários outros meios? Mesmo que a prática continue, ainda assim,
não se poderia fazer dela uma parte regular de nossas vidas.
Quando
os apóstolos lançaram sortes para escolher um substituto para Judas, eles
começaram com a Escritura (Atos 1:15-20), em seguida, apontaram um princípio
(1:21-22), então se estreitaram os candidatos baixando para duas pessoas (1:23)
e em seguida eles oraram (1:24-25). Só depois de tudo isso, lançaram sortes
para escolher entre os dois homens, que eram ambos qualificados de qualquer
maneira (1:26). Eles não dependiam inteiramente do sorteio.
Ainda
assim, alguns teólogos se perguntam se eles fizeram a coisa certa, e se Deus
tinha escolhido Paulo para esse lugar. Se a escolha de Deus foi Paulo, então
eles não deveriam ter lançado sortes para escolher um substituto, e nós nos
perguntamos se em muitos outros casos os lançamentos de sortes foram errados.
Quanto mais vezes os lançamentos de sortes forem errados menos somos culpados
se nós não adotarmos essa prática, e menos relevância possuirá este desafio
cessacionista nesse debate.
No
entanto, ainda estaríamos habilitados a responder de cabeça erguida mesmo se
todas instâncias de sorteios na Bíblia foram adequadas.
O
lançamento de sortes, mesmo não sendo a melhor maneira de receber orientação,
era uma forma de observar a providência, porque a Bíblia diz que Deus é o único
que determina o resultado de sortes: “Nós podemos jogar os dados, mas o Senhor
determina como eles caem” (Provérbios 16:33, NVI).
Os cessacionistas continuam a observar a providência como uma forma de
orientação. Na verdade, eles aceitam muito mais facilmente as circunstâncias
como sendo a “vontade de Deus”, em seguida, depois os carismáticos.
Algumas
pessoas, tanto cessacionistas quanto carismáticas, têm mencionado casos em que
abriram a Bíblia ao acaso e acharam uma definitiva orientação em
tempos de necessidade. Mais uma vez, se é aconselhável esperar orientação desta
forma é uma coisa, mas é verdade que alguns têm testemunhado obter ajuda dessa
maneira.
Então,
eu me pergunto se este cessacionista sabe o que significa lançamento de sortes.
É como jogar uma moeda, e isso ainda é feito quando as opções são igualmente
aceitáveis. Por exemplo, podemos jogar uma moeda para decidir quem faz o
primeiro movimento em uma competição de atletismo, e podemos escolher os nomes
de dentro duma cartola para decidir quais se tornarão parceiros em um projeto
de classe. Deus é o único que decide o resultado nesses casos.
Em
qualquer caso, não sabemos se os cristãos usaram este método depois de Atos 2,
ou seja, depois de Deus cumpriu sua promessa de conceder visões a seu povo,
sonhos e profecias (2:17-18). No passado, o Espírito foi dado a certas pessoas
para serviço, como reis e profetas, mas Moisés disse: “Eu gostaria que todo o
povo do SENHOR fosse profeta e que o SENHOR pusesse o seu espírito sobre eles”
(Números 11:29). Isso aconteceu no dia de Pentecostes, e Pedro disse: “E vocês
receberão o dom do Espírito Santo. A promessa é para vós, para vossos filhos, e
para todos os que estão longe - para todos aqueles que o Senhor nosso Deus
chamar” (Atos 2:38-39). A partir de então, lemos: “Estêvão, cheio do Espírito
Santo, olhou para o céu e viu a glória de Deus” (Atos 7:55), “o Espírito disse
a Filipe” (8:29), “o Senhor chamou a ele em uma visão, ‘Ananias! ’’ (9:10),
“Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (15,28), “ele tinha quatro filhas
solteiras que profetizavam” (21:9), e inúmeros casos como estes.
Portanto,
este desafio do cessacionista, na verdade, serve para reforçar a nossa posição.
Ponto
de concordância
Ele
reclama que não devemos pensar que somos como a igreja do primeiro século. De
fato, é verdade que os cessacionistas não são nada como os crentes do primeiro
século. Há quase nenhuma semelhança. Às vezes é difícil dizer se eles são mesmo
cristãos. Eles dão a impressão de terem uma religião diferente, um evangelho
diferente, um Deus diferente. Isso é, aparentemente, o que eles pretendem
atingir, e eles são bastante felizes nisso. Por outro lado, os carismáticos não
estão convencidos de que isso se trata de uma melhora.
Notas do tradutor:
[1]
Pista Escorregadia dos Perdedores da Incredulidade
[2]
Na argumentação, uma manobra que serve para desviar a atenção do assunto
verdadeiro.
----------
Extraído
de:
http://www.vincentcheung.com/2015/03/05/a-cascading-avalanche-of-horse-manure/
Traduzido
por: Dione Cândido Jr.
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