quarta-feira, 27 de abril de 2016

Nº 18




A DIFERENÇA ENTRE PROFECIA E ENSINO 
por Wayne Grudem

O ensino é sempre citado como um dom separado da profecia.  Outra observação também indica que devemos esperar que o ensino seja diferente da profecia. Os dois dons são citado separadamente todas as vezes que o NT alista diferentes tipos de dons espirituais (Ef. 4:11; Rm. 12:6; 1Co. 12:28). Isso nos leva a suspeitar de qualquer definição que os veja como a mesma atividade, pois não está de acordo com o sentido apresentado pelo NT.

O ensino nas epístolas do NT consistia na repetição e explicação das palavras das Escrituras (ou de ensinos igualmente autorizados de Jesus proclamados pelos apóstolos) e de sua aplicação aos ouvintes. Nas epístolas do NT, o “ensino” é muito semelhante ao que é descrito pela expressão “ensinamento bíblico”, muita usada hoje em dia.

Em contraste, nenhuma profecia nas igrejas do NT é tratada como interpretação ou aplicação de textos das Escrituras do AT. Embora poucas pessoas afirmem que os profetas nas igrejas no NT davam “interpretações carismáticas inspiradas” de textos do AT [1], essa afirmação dificilmente pode ser convincente, em especial porque é difícil encontrar no NT qualquer exemplo convincente de que o grupo de palavras relacionadas ao termo “profeta” é usado para referir-se à alguém que exercesse esse tipo de atividade.

Em vez disso, a profecia deve ser o relato de alguma revelação espontânea vinda do Espírito Santo. Desse modo, a distinção é bastante clara: se a mensagem é o resultado da reflexão consciente sobre o texto das Escrituras, contendo interpretação do texto e aplicação para a vida, então (no NT) é um ensino. Porém, se a mensagem é o relato de alguma coisa que Deus traz repentinamente à mente da pessoa, então é profecia. Naturalmente, até mesmo ensinamentos bem preparados podem ser interrompidos por material adicional não planejado que o instrutor bíblico repentinamente sente que Deus traz à sua mente; nesse caso, seria um “ensino” mesclado com profecia.

A diferença entre profecia e pregação

Na linguagem moderna, a palavra “pregação” é usada para significa a mesma coisa que o NT chama “ensino”. Portanto, isso não precisa ser um assunto separado, ou seja, tudo o que foi dito sobre “ensino” na sessão anterior aplica-se igualmente à “pregação”.

Contudo, pode ser interessante agora mencionar dois líderes renovados que vêem que a diferença entre profecia e ensino (ou “pregação”) hoje em dia é bastante similar ao que é encontrado no NT.

Michael Harper, anglicano renovado inglês, diz:

O pregador normalmente prepara, fala e expõe a partir da Palavra de Deus. O profeta, porém, fala diretamente sob a unção do Espírito Santo. Ambos tem um papel a desempenhar na edificação da igreja, mas não devem ser confundidos [2].

Dennis e Rita Bennett, episcopais renovados americanos, dizem:

A profecia não é uma “pregação inspirada” [...] na pregação, o intelecto, o treinamento, a habilidade, a formação e a educação são envolvidas e inspiradas pelo Espírito Santo. O sermão pode ser escrito com antecedência ou proferido de improviso, mas vem do intelecto inspirado. A profecia, por outro lado, significa que a pessoas está trazendo as palavras que o Senhor dá diretamente; é do Espírito, e não do intelecto [3].


Notas:
[1] Com relação a uma defesa da função de “interpretação das Escrituras” exercida pelos profetas, v. E. Earle Ellis, Prophecy and hermeneutics in Early Christianity: New Testament essas (Grands Rapids: Eerdemans, 1978). Duas respostas bastante convincente a Ellis podem ser encontradas em David Rui, New Testamente prophecy (Atlanta: John Knox, 1979) p.103-6, e David E. Aune, Prophecy in Early Christianity and the ancient mediterranean world (Grands Rapids: Eerdemans, 1983) p.339-46. Com relação à “exegese carismática” das Escrituras, Aune conclui corretamente: “Não existe praticamente nenhuma evidência [...] de que essa atividade fosse exercida por quem era chamado ‘profeta’ no cristianismo primitivo” (p.345).
[2] Prophecy: a gift for the body of Christ, Plainfield: Logos, 1964, p.8.
[3] The Holy Spirit and you, EastBourne: Kingsway, Plainfield: Logos, 1971, p.108-9.

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Extraído de:
GRUDEM, Wayne. O dom de profecia. Do Novo Testamento aos dias atuais. São Paulo: Editora Vida, 2004, p.151-53.

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