por Vincent Cheung
“Pedro respondeu: ‘Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar’” – Atos 2:38,39.
A Bíblia frequentemente fala sobre fé e batismo juntos, e algumas vezes refere-se a eles intercambiavelmente; no entanto, sua doutrina é que a fé é necessária para salvação, mas o batismo não é. Nós sabemos disso porque o homem que foi crucificado ao lado de Cristo foi aceito por uma simples confissão de fé sem batismo. Depois, Cornélio e aqueles com ele estavam, receberam o Espírito Santo antes do batismo com água. Pedro percebeu que eles receberam o Espírito porque eles falavam em línguas, e visto que o Espírito era dado somente àqueles que eram regenerados, ele deduziu que esses gentios receberam fé e salvação enquanto ele ainda estava falando. Foi depois disso que eles foram batizados com água.
Assim, nesse sentido, o batismo com água não é necessário para salvação, mas eles são frequentemente mencionados juntos ou mesmo mencionados intercambiavelmente, porque frequentemente não há razão para separar os dois nitidamente. Os apóstolos não cogitavam longas demoras entre a fé e o batismo. Se uma pessoa entendeu e confessou sua fé no evangelho, então, ela deveria ser batizada com água o quanto antes, até dentro da mesma hora ou do mesmo dia. Apesar de não haver razão para insistir que uma pessoa poderia ser espiritualmente danificada caso houvesse uma demora, os primeiros discípulos não viam nenhum ponto para tal demora, e por isso, a confissão de fé e o batismo com água eram frequentemente mencionados juntos, porque cronologicamente falando, eles eram aproximadamente posicionados.
Pedro instruiu o povo a crer em Jesus Cristo, se arrepender e ser batizado para o perdão dos pecados. A salvação foi associada com a fé e o batismo, depois disso, eles receberiam o dom do Espírito Santo, cujo o derramamento foi a razão ou a plataforma para esse sermão a eles. O contexto define o que Pedro quis dizer por dom do Espírito, e o que ele pensou foi nas manifestações desse dom. Conforme ele citou no profeta Joel: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão” (Atos 2:17-18)[1].
No pensamento de Pedro, quando as pessoas recebessem o Espírito Santo, elas profetizariam, elas teriam sonhos, e elas teriam visões. A tese de Lucas é que o derramamento do Espírito Santo torna a igreja não somente um reino de sacerdotes, mas também uma companhia de profetas. É impossível forçar esse dom em algo que seja sinônimo de salvação. A fé é para o perdão dos pecados. O Espírito é para a doação de poder. Assim como a fé e o batismo são duas coisas diferentes que são frequentemente mencionadas juntas, o dom do Espírito é diferente do dom de Cristo para perdão, mas eles são frequentemente mencionados juntos porque não há uma razão para separá-los nitidamente. Alguém que recebeu Cristo pela fé deve também receber o batismo nas águas e, então, receber o Espírito Santo.
Nesse questão, uma controvérsia cerca 1 Coríntios 12:13, que diz: “Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito”. Um dos lados desse debate argumenta que esse versículo se refere ao mesmo batismo no Espírito Santo que é mencionado nos evangelhos e em Atos dos Apóstolos, e uma vez que afirma que todos os crentes foram batizados no Espírito Santo, sua conclusão é que o batismo no Espírito Santo não pode ser um evento diferente e subsequente à conversão ou regeneração. O outro lado mantém que o batismo no Espírito Santo, como Lucas consistentemente retrata, é um evento diferente e subsequente à conversão ou regeneração, e que esse versículo não contradiz tal posição.
Há argumentos teológicos detalhados e gramaticais para ambos os lados do debate. Todavia, a controvérsia é uma completa perda de tempo. Quando se trata a questão desse ponto específico, todos os argumentos são fúteis e desnecessários, porque a questão não é articulada nesse versículo, e não pode ser estabelecida por ele. Isso acontece porque, para a nossa questão, é totalmente irrelevante se Paulo menciona a regeneração em Cristo e o batismo no Espírito juntos, ou intercambiavelmente, ou se declara ou se assume que todos os crentes receberam ambos.
Como foi afirmado antes, a Bíblia frequentemente menciona a regeneração em Cristo e o batismo nas águas juntos, ou intercambiavelmente, ou declara ou assume que todos os crentes têm ambos. Por exemplo, Paulo escreve em um lugar: “Fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova” (Romanos 6:4). E em outro lugar, ele diz: “Nele também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar do corpo da carne. Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2:11-12; também, Gálatas 3:26-27).
Os apóstolos tomaram como certo que os crentes foram batizados com água, embora nós saibamos que eles não consideravam batismo como necessário para salvação, ou que eles eram a mesma coisa, ou que alguém que foi convertido a Cristo era automaticamente e simultaneamente encharcado com água ou lançado nas águas. Talvez ele foi convertido apenas alguns poucos minutos antes da carta ser lida à congregação. Portanto, só porque uma carta soa como se todos os crentes fossem batizados com água não quer dizer necessariamente que todos os crentes são realmente batizados com água. É uma suposição em operação.
Muitos versículos nas cartas apostólicas assumem que todos na audiência eram crentes – porque eles estavam abordando crentes! –, mas é concebível que houvesse pelo menos uma pessoa que não era convertida e que ouvia um desses versículos conforme eles eram lidos. Para o propósito dessas cartas, a suposição em operação era inteiramente apropriada. Eu suponho que mesmo um incrédulo não pensaria que ele se tornou um cristão somente porque ele foi exposto a uma carta que assume estar falando à um grupo de crentes. Não obstante, idiotas treinados em seminários são capazes de cometerem essa façanha extraordinária quando eles são motivados o suficiente para transformarem o seu preconceito em ortodoxia.
Assim, não significa nada se há um versículo bíblico que menciona a regeneração em Cristo e o batismo no Espírito juntos, ou se refere-se a eles intercambiavelmente. Antes, assim como outras partes da Escritura retratam o batismo com água como não necessário para a salvação, e retratam a conversão e o batismo com água como eventos distinguíveis, nós devemos derivar nossa doutrina do batismo do Espírito da forma como ela é retratada em outras partes da Escritura.
De fato, se outras partes da Escritura retratam o batismo do Espírito como algo distinto da conversação, mas se 1 Coríntios 12:13 assume que todos os crentes o receberam, então o versículo se torna num comentário condenatório acerca daqueles que estão sem o batismo e se opõem a ele. Significaria que existe algo deficiente na sua fé e caráter. Significaria que essas pessoas não têm o que todos os crentes deveriam ter, e que elas até lutam contra isso e tentam impedir outros de receberem. Esse é o espírito assassino e hipócrita dos fariseus. Eles matariam o próprio Jesus ao invés de admitirem que estão errados, ou que há algo faltando neles.
Após isso, há a objeção de que é impossível àqueles que são verdadeiramente convertidos estarem sem o Espírito Santo. Em resposta a isso, o batismo do Espírito e a plenitude do Espírito são termos usados para apenas designar uma promessa ou evento específico, e não para excluir a presença do Espírito de outros cenários ou de outros aspectos na aplicação na redenção. Embora a conversão e o batismo sejam eventos distintos, nós não dizemos que alguém que se converteu nunca tocou nas águas e nunca tomou uma ducha ou um banho até depois de ter sido batizado nas águas. Assim, é claro que todos os cristãos têm o Espírito em algum sentido, e é claro que o Espírito chama e converte qualquer um que vai pela fé até Cristo, mas isso não tem nada a ver com a questão de o batismo do Espírito Santo ser um evento distinto e subsequente.
Depois, há a objeção de que a doutrina de Lucas – de que o batismo do Espírito é um evento distinto e subsequente à conversão – resulta num sistema de duas classes na comunidade cristã; ela torna aqueles que estão sem o batismo do Espírito em membros de uma segunda classe da igreja. Primeiro, para alguns isso soa mais como uma admissão do que uma objeção. Segundo, mesmo se não uma admissão, isso poderia ser uma descrição, ao invés de uma objeção. Se é feita a objeção além de que a igreja não é dividida em duas classes, a resposta é que essa doutrina poderia ser a evidência de que a igreja está, de fato, realmente dividida. Terceiro, a linguagem é pesada, e o assunto não precisa ser apresentado dessa maneira. Quarto, alguém poderia fazer uma objeção similar sobre batismo com água, mas nós sabemos que o novo nascimento e o batismo com água são eventos distintos. Alguém que foi convertido pode não ser batizado com água por um período de tempo. Ele estaria numa segunda classe de crentes? E ele precisa permanecer desse jeito? Quinto, mesmo os mais zelosos proponentes da doutrina de que o batismo do Espírito é um evento distinto iriam fortemente insistir que ele está disponível a todos aqueles que creem em Cristo. Então, se essa doutrina divide a igreja num sistema de duas classes, de quem é a culpa, senão daqueles que se recusam a crer e receber? Porém, hipócritas religiosos tentam culpar outros pela sua própria incredulidade e deficiência.
Pedro foi explícito quando definiu quem poderia receber a promessa – a promessa que resultaria nas manifestações mencionadas por Joel. Ele disse que a promessa era para aquela geração e para as gerações subsequentes, e que era para o tipo de pessoas ali presentes como também para aquelas distantes. Então, ele adicionou que era “para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” – não para todos aqueles que Deus chamasse para se tornarem apóstolos, pois visto que a promessa do Espírito está associada aqui com a promessa do perdão dos pecados, ele quis dizer que a promessa do Espírito era para todos aqueles a quem Deus chamasse ao arrependimento e salvação. É para todos os cristãos. Assim, Pedro destruiu qualquer possibilidade dessa promessa do Espírito e suas manifestações serem restringidas à tempos e títulos.
Igualmente significante é o fato de que Pedro declarou essa promessa do Espírito Santo como parte do evangelho, e não como algo adicionado ao topo desse. Essa promessa – e a Bíblia não conhece nenhuma outra promessa do Espírito diferente daquela descrita por Joel – é básica e integral à mensagem de Cristo, e para aquilo que significa ser um cristão. Portanto, negar ou alterar ela, ou explicar ela mandando-a para longe, não é somente atacar uma doutrina secundária, se é que existe tal coisa, mas é um ataque direto contra parte central do evangelho. Assim, o ofensor está sob o risco de vir a ficar sob a maldição de Gálatas 1: “Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!” (Gálatas 1:9).
A fim de corroer a sã doutrina e excluir a si mesmos, os homens, com frequência, tentam redefinir a natureza, a extensão e as possibilidades da fé cristã, não de acordo com as promessas de Deus, mas de acordo com as suas próprias intenções más e deficientes. Eles reduzem a fé cristã a algo que eles podem viver, a algo que eles podem alcançar, e então, eles impõem isso sobre você, de forma que você não possa ultrapassa-los e fazer com que pareçam hipócritas e perdedores espirituais. Homens com verdadeira fé e amor instigarão você a atingir alturas maiores de acordo com as promessas de Deus, mesmo que isso signifique que você possa ultrapassá-los. Não seja defraudado da herança que Jesus Cristo ganhou para você com seu próprio sangue. Persista em tudo o que ele tem para você, e considere desprezível todas as doutrinas contrárias.
Deus se lembra da sua promessa, e ele destruiria nações inteiras para cumprir a sua palavra. Não é nada para ele derrubar umas poucas mil denominações e uns poucos milhões de pregadores e teólogos para poder entregá-la. Mas nós esquecemos da sua promessa? Nós chafurdamos na incredulidade? Nós nos rendemos as tradições humanas e opiniões populares? Nós excomungamos Deus de nossas igrejas e seminários, de modo que ele não nos perturbe quanto ao modo como nós o servimos, como hipócritas? Apesar de outros poderem seguir esse caminho, nós somos livres do poder deles, pois a promessa de Deus está além da regulamentação política humana e é imune à supressão da instituição humana. É “para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar”. Se Deus chamou você para si, então você não precisa da aprovação de nenhum homem, pois você está livre para receber dele com fé e ação de graças.
Notas:
[1] Quer os sinais dos versículos 19 e 20 sejam tomados no sentido literal ou simbólico, nós igualmente as aceitaríamos como relevantes. Se forem tomados no sentido literal, poderiam se referir à sinais visíveis no céu, terremotos, tsunamis, e outros eventos. Se forem tomados no sentido simbólico, poderiam se referir à guerras, levantes políticos, e assim por diante. Claro, os versículos poderiam estar falando dos dois tipos de sinais.
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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2012/06/07/the-promise-of-the-spirit/
Veja também: CHEUNG, Vincent. Sermonettes. Vol.7, p.38-41.
Traduzido por: Marcelo Flávio Radunz
“Pedro respondeu: ‘Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar’” – Atos 2:38,39.
A Bíblia frequentemente fala sobre fé e batismo juntos, e algumas vezes refere-se a eles intercambiavelmente; no entanto, sua doutrina é que a fé é necessária para salvação, mas o batismo não é. Nós sabemos disso porque o homem que foi crucificado ao lado de Cristo foi aceito por uma simples confissão de fé sem batismo. Depois, Cornélio e aqueles com ele estavam, receberam o Espírito Santo antes do batismo com água. Pedro percebeu que eles receberam o Espírito porque eles falavam em línguas, e visto que o Espírito era dado somente àqueles que eram regenerados, ele deduziu que esses gentios receberam fé e salvação enquanto ele ainda estava falando. Foi depois disso que eles foram batizados com água.
Assim, nesse sentido, o batismo com água não é necessário para salvação, mas eles são frequentemente mencionados juntos ou mesmo mencionados intercambiavelmente, porque frequentemente não há razão para separar os dois nitidamente. Os apóstolos não cogitavam longas demoras entre a fé e o batismo. Se uma pessoa entendeu e confessou sua fé no evangelho, então, ela deveria ser batizada com água o quanto antes, até dentro da mesma hora ou do mesmo dia. Apesar de não haver razão para insistir que uma pessoa poderia ser espiritualmente danificada caso houvesse uma demora, os primeiros discípulos não viam nenhum ponto para tal demora, e por isso, a confissão de fé e o batismo com água eram frequentemente mencionados juntos, porque cronologicamente falando, eles eram aproximadamente posicionados.
Pedro instruiu o povo a crer em Jesus Cristo, se arrepender e ser batizado para o perdão dos pecados. A salvação foi associada com a fé e o batismo, depois disso, eles receberiam o dom do Espírito Santo, cujo o derramamento foi a razão ou a plataforma para esse sermão a eles. O contexto define o que Pedro quis dizer por dom do Espírito, e o que ele pensou foi nas manifestações desse dom. Conforme ele citou no profeta Joel: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão” (Atos 2:17-18)[1].
No pensamento de Pedro, quando as pessoas recebessem o Espírito Santo, elas profetizariam, elas teriam sonhos, e elas teriam visões. A tese de Lucas é que o derramamento do Espírito Santo torna a igreja não somente um reino de sacerdotes, mas também uma companhia de profetas. É impossível forçar esse dom em algo que seja sinônimo de salvação. A fé é para o perdão dos pecados. O Espírito é para a doação de poder. Assim como a fé e o batismo são duas coisas diferentes que são frequentemente mencionadas juntas, o dom do Espírito é diferente do dom de Cristo para perdão, mas eles são frequentemente mencionados juntos porque não há uma razão para separá-los nitidamente. Alguém que recebeu Cristo pela fé deve também receber o batismo nas águas e, então, receber o Espírito Santo.
Nesse questão, uma controvérsia cerca 1 Coríntios 12:13, que diz: “Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito”. Um dos lados desse debate argumenta que esse versículo se refere ao mesmo batismo no Espírito Santo que é mencionado nos evangelhos e em Atos dos Apóstolos, e uma vez que afirma que todos os crentes foram batizados no Espírito Santo, sua conclusão é que o batismo no Espírito Santo não pode ser um evento diferente e subsequente à conversão ou regeneração. O outro lado mantém que o batismo no Espírito Santo, como Lucas consistentemente retrata, é um evento diferente e subsequente à conversão ou regeneração, e que esse versículo não contradiz tal posição.
Há argumentos teológicos detalhados e gramaticais para ambos os lados do debate. Todavia, a controvérsia é uma completa perda de tempo. Quando se trata a questão desse ponto específico, todos os argumentos são fúteis e desnecessários, porque a questão não é articulada nesse versículo, e não pode ser estabelecida por ele. Isso acontece porque, para a nossa questão, é totalmente irrelevante se Paulo menciona a regeneração em Cristo e o batismo no Espírito juntos, ou intercambiavelmente, ou se declara ou se assume que todos os crentes receberam ambos.
Como foi afirmado antes, a Bíblia frequentemente menciona a regeneração em Cristo e o batismo nas águas juntos, ou intercambiavelmente, ou declara ou assume que todos os crentes têm ambos. Por exemplo, Paulo escreve em um lugar: “Fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova” (Romanos 6:4). E em outro lugar, ele diz: “Nele também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar do corpo da carne. Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2:11-12; também, Gálatas 3:26-27).
Os apóstolos tomaram como certo que os crentes foram batizados com água, embora nós saibamos que eles não consideravam batismo como necessário para salvação, ou que eles eram a mesma coisa, ou que alguém que foi convertido a Cristo era automaticamente e simultaneamente encharcado com água ou lançado nas águas. Talvez ele foi convertido apenas alguns poucos minutos antes da carta ser lida à congregação. Portanto, só porque uma carta soa como se todos os crentes fossem batizados com água não quer dizer necessariamente que todos os crentes são realmente batizados com água. É uma suposição em operação.
Muitos versículos nas cartas apostólicas assumem que todos na audiência eram crentes – porque eles estavam abordando crentes! –, mas é concebível que houvesse pelo menos uma pessoa que não era convertida e que ouvia um desses versículos conforme eles eram lidos. Para o propósito dessas cartas, a suposição em operação era inteiramente apropriada. Eu suponho que mesmo um incrédulo não pensaria que ele se tornou um cristão somente porque ele foi exposto a uma carta que assume estar falando à um grupo de crentes. Não obstante, idiotas treinados em seminários são capazes de cometerem essa façanha extraordinária quando eles são motivados o suficiente para transformarem o seu preconceito em ortodoxia.
Assim, não significa nada se há um versículo bíblico que menciona a regeneração em Cristo e o batismo no Espírito juntos, ou se refere-se a eles intercambiavelmente. Antes, assim como outras partes da Escritura retratam o batismo com água como não necessário para a salvação, e retratam a conversão e o batismo com água como eventos distinguíveis, nós devemos derivar nossa doutrina do batismo do Espírito da forma como ela é retratada em outras partes da Escritura.
De fato, se outras partes da Escritura retratam o batismo do Espírito como algo distinto da conversação, mas se 1 Coríntios 12:13 assume que todos os crentes o receberam, então o versículo se torna num comentário condenatório acerca daqueles que estão sem o batismo e se opõem a ele. Significaria que existe algo deficiente na sua fé e caráter. Significaria que essas pessoas não têm o que todos os crentes deveriam ter, e que elas até lutam contra isso e tentam impedir outros de receberem. Esse é o espírito assassino e hipócrita dos fariseus. Eles matariam o próprio Jesus ao invés de admitirem que estão errados, ou que há algo faltando neles.
Após isso, há a objeção de que é impossível àqueles que são verdadeiramente convertidos estarem sem o Espírito Santo. Em resposta a isso, o batismo do Espírito e a plenitude do Espírito são termos usados para apenas designar uma promessa ou evento específico, e não para excluir a presença do Espírito de outros cenários ou de outros aspectos na aplicação na redenção. Embora a conversão e o batismo sejam eventos distintos, nós não dizemos que alguém que se converteu nunca tocou nas águas e nunca tomou uma ducha ou um banho até depois de ter sido batizado nas águas. Assim, é claro que todos os cristãos têm o Espírito em algum sentido, e é claro que o Espírito chama e converte qualquer um que vai pela fé até Cristo, mas isso não tem nada a ver com a questão de o batismo do Espírito Santo ser um evento distinto e subsequente.
Depois, há a objeção de que a doutrina de Lucas – de que o batismo do Espírito é um evento distinto e subsequente à conversão – resulta num sistema de duas classes na comunidade cristã; ela torna aqueles que estão sem o batismo do Espírito em membros de uma segunda classe da igreja. Primeiro, para alguns isso soa mais como uma admissão do que uma objeção. Segundo, mesmo se não uma admissão, isso poderia ser uma descrição, ao invés de uma objeção. Se é feita a objeção além de que a igreja não é dividida em duas classes, a resposta é que essa doutrina poderia ser a evidência de que a igreja está, de fato, realmente dividida. Terceiro, a linguagem é pesada, e o assunto não precisa ser apresentado dessa maneira. Quarto, alguém poderia fazer uma objeção similar sobre batismo com água, mas nós sabemos que o novo nascimento e o batismo com água são eventos distintos. Alguém que foi convertido pode não ser batizado com água por um período de tempo. Ele estaria numa segunda classe de crentes? E ele precisa permanecer desse jeito? Quinto, mesmo os mais zelosos proponentes da doutrina de que o batismo do Espírito é um evento distinto iriam fortemente insistir que ele está disponível a todos aqueles que creem em Cristo. Então, se essa doutrina divide a igreja num sistema de duas classes, de quem é a culpa, senão daqueles que se recusam a crer e receber? Porém, hipócritas religiosos tentam culpar outros pela sua própria incredulidade e deficiência.
Pedro foi explícito quando definiu quem poderia receber a promessa – a promessa que resultaria nas manifestações mencionadas por Joel. Ele disse que a promessa era para aquela geração e para as gerações subsequentes, e que era para o tipo de pessoas ali presentes como também para aquelas distantes. Então, ele adicionou que era “para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” – não para todos aqueles que Deus chamasse para se tornarem apóstolos, pois visto que a promessa do Espírito está associada aqui com a promessa do perdão dos pecados, ele quis dizer que a promessa do Espírito era para todos aqueles a quem Deus chamasse ao arrependimento e salvação. É para todos os cristãos. Assim, Pedro destruiu qualquer possibilidade dessa promessa do Espírito e suas manifestações serem restringidas à tempos e títulos.
Igualmente significante é o fato de que Pedro declarou essa promessa do Espírito Santo como parte do evangelho, e não como algo adicionado ao topo desse. Essa promessa – e a Bíblia não conhece nenhuma outra promessa do Espírito diferente daquela descrita por Joel – é básica e integral à mensagem de Cristo, e para aquilo que significa ser um cristão. Portanto, negar ou alterar ela, ou explicar ela mandando-a para longe, não é somente atacar uma doutrina secundária, se é que existe tal coisa, mas é um ataque direto contra parte central do evangelho. Assim, o ofensor está sob o risco de vir a ficar sob a maldição de Gálatas 1: “Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!” (Gálatas 1:9).
A fim de corroer a sã doutrina e excluir a si mesmos, os homens, com frequência, tentam redefinir a natureza, a extensão e as possibilidades da fé cristã, não de acordo com as promessas de Deus, mas de acordo com as suas próprias intenções más e deficientes. Eles reduzem a fé cristã a algo que eles podem viver, a algo que eles podem alcançar, e então, eles impõem isso sobre você, de forma que você não possa ultrapassa-los e fazer com que pareçam hipócritas e perdedores espirituais. Homens com verdadeira fé e amor instigarão você a atingir alturas maiores de acordo com as promessas de Deus, mesmo que isso signifique que você possa ultrapassá-los. Não seja defraudado da herança que Jesus Cristo ganhou para você com seu próprio sangue. Persista em tudo o que ele tem para você, e considere desprezível todas as doutrinas contrárias.
Deus se lembra da sua promessa, e ele destruiria nações inteiras para cumprir a sua palavra. Não é nada para ele derrubar umas poucas mil denominações e uns poucos milhões de pregadores e teólogos para poder entregá-la. Mas nós esquecemos da sua promessa? Nós chafurdamos na incredulidade? Nós nos rendemos as tradições humanas e opiniões populares? Nós excomungamos Deus de nossas igrejas e seminários, de modo que ele não nos perturbe quanto ao modo como nós o servimos, como hipócritas? Apesar de outros poderem seguir esse caminho, nós somos livres do poder deles, pois a promessa de Deus está além da regulamentação política humana e é imune à supressão da instituição humana. É “para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar”. Se Deus chamou você para si, então você não precisa da aprovação de nenhum homem, pois você está livre para receber dele com fé e ação de graças.
Notas:
[1] Quer os sinais dos versículos 19 e 20 sejam tomados no sentido literal ou simbólico, nós igualmente as aceitaríamos como relevantes. Se forem tomados no sentido literal, poderiam se referir à sinais visíveis no céu, terremotos, tsunamis, e outros eventos. Se forem tomados no sentido simbólico, poderiam se referir à guerras, levantes políticos, e assim por diante. Claro, os versículos poderiam estar falando dos dois tipos de sinais.
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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2012/06/07/the-promise-of-the-spirit/
Veja também: CHEUNG, Vincent. Sermonettes. Vol.7, p.38-41.
Traduzido por: Marcelo Flávio Radunz
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