por Michael Harper
A Bíblia contém “preciosas e mui grandes promessas”, mas nesse livro focalizamos uma das mais importantes – a promessa do Espírito Santo. Essa promessa nos é claramente apresentada primeiramente nas palavras de Cristo (Lc. 24:49; At. 1:4), depois no sermão de Pedro, no Dia de Pentecostes (At. 2:33, 39), e nas cartas de Paulo (Gl. 3:14; Ef. 1:13). Vamos examiná-la, em primeiro lugar, nos escritos dos profetas.
Os Profetas
A mensagem central dos profetas era a vinda do Messias e o estabelecimento de uma nova aliança de Deus com seu povo. Jeremias escreveu: “Eis aí vem dias, diz o Senhor, que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá” (Jr. 31:31). Ezequiel declarou que esta nova aliança significaria não só a purificação dos pecados, mas também a dádiva de um novo coração e um novo espírito: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro em vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez. 36:25-27). Vemos, portanto, que o dom do Espírito Santo está unido à ideia de perdão e purificação.
Estes mesmos temas estão presentes em Isaías. Só há uma diferença: neste último, eles estão ligados à uma pessoa, o Messias. Ele é apresentado como o servo sofredor, que seria ferido por causa das transgressões do povo de Deus, e levarei sobre si o pecado de muitos, e aquele a quem Deus daria o seu Espírito. Além deste aspecto pessoal da promessa, Isaías vê a era messiânica como um período em que o Espírito seria derramado em profusão: “Porque derramarei água sobre o sedento, e torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu espírito sobre a tua posteridade, e a minha benção sobre os teus descendentes” (Is. 44:3, e também 32:15).
Contudo, a descrição mais vívida e clara dessa benção encontra-se em Joel: “E acontecerá que depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu espírito naqueles dias” (2:28). Vemos aqui a promessa de derramamento de poder espiritual e de manifestações externas.
Os profetas nos apresentam, então, a promessa da benção do Espírito Santo e da purificação dos pecados. No Velho Testamento, nós a enxergamos “como em espelho”, mas no Novo nós a vemos “face a face”.
João Batista
Devemos lembrar que João foi o último dos profetas. Ele recebeu o encargo de unir as duas bênçãos e expor claramente o fato de que ambas se cumpririam em Jesus, o Filho de Deus.
Jesus procurou a João para ser batizado por ele, no rio Jordão. Quando o Senhor se aproximava, João apontou para ele e disse: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo... esse é o que batiza com o Espírito Santo... ele é o Filho de Deus” (Jo. 1:29, 33, 34). Fazemos citação dessas frases que João usou para revelar a verdade acerca daquele cujo caminho ele estava preparando, propositalmente, para chamar a atenção dos leitores para elas. Jesus é apresentado como o Cordeiro de Deus, como o que batiza com o Espírito Santo, e Filho de Deus. A maioria dos crentes conhece a Cristo como o Salvador e Filho de Deus, mas em muitas igrejas ele nunca é apontado como o batizador. É importante notar que foi o próprio Deus que revelou a João que ele deveria indicar Cristo como o batizador, e que assim como ele batizara o povo no rio Jordão, assim, Jesus iria batizá-los no Espírito. E o próprio Senhor, como veremos depois, aceitou essa qualificação. Assim vemos que João pôs em foco o duplo ministério de Cristo, o qual já tinha sido anunciado pelos profetas.
Esta verdade está bem explicada na carta de Paulo aos Gálatas. Primeiro, ele fala, que “vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho... para resgatar os que estavam sob a lei”, e depois fala da vinda do Espírito Santo, dizendo: “E porque sois filhos enviou Deus aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl. 4:4-6).
Jesus Cristo
Quando Jesus foi a João Batista para ser batizado, a princípio este se recusou a fazê-lo. “Eu que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?”, indagou João. Jesus replicou: “Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt. 3:14, 15). Então João concordou.
Jesus não tinha pecados a confessar, mas sabia que devia se fazer “semelhante aos irmãos” (Hb. 2:17). A respeito disso, Levertoff diz o seguinte: “Ao passar pelas águas, Jesus estava aceitando a sua missão” [1]. E sua missão era dupla: ser feito pecado por nós, e derramar o seu Espírito sobre nós. Então, ele foi ao Jordão e desceu às águas para ser batizado; saindo do rio, recebeu o poder do Espírito Santo para realizar o seu ministério.
É importante notar que Jesus, que foi gerado pelo Espírito e viveu uma vida perfeitamente santificada no Espírito, ainda sim recebeu uma bênção a mais: a unção do mesmo Espírito para o seus três anos de ministério. Antes de ser ungido “com Espírito Santo e poder”, ele não fez nenhum milagre, nem disse uma só palavra de sabedoria, não fez nenhum sinal, nem foi notado pela sociedade. Imediatamente após o seu batismo, ocorreu então o grande impacto da sua vida e ministério. Vemos ali que “Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galileia, e sua fama correu por toda a circunvizinhança. E ensinava nas sinagogas, sendo ensinado por todos” (Lc. 4:14, 15). Na primeira visita que fez à sua cidade, foi à sinagoga onde cultuara a Deus por muito tempo. Ali não fez nada de extraordinário, apenas leu o rolo. Todavia, quando se assentou, “todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele” (Lc. 4:20).
F. B. Meyer, o grande pregador batista que viveu no começo deste século, e foi um dos maiores pregadores da convenção de Keswick, explicou isto muito bem:
Isto pode nos despertar para um cuidadoso exame da nossa vida. Já nascemos do Espírito? Se assim for, já somos batizados com o Espírito Santo? O Dr. A. B. Simpson nos desafia quase que com os mesmos argumentos:
Consideremos como esta promessa pode ser aplicada à nossa geração. O verdadeiro cristão é uma pessoa que nasceu do Espírito, ou nasceu de novo, como disse Jesus a Nicodemos (Jo. 3:3). Só podem ser chamados filhos de Deus aqueles que receberam Cristo e nasceram de novo (Jo. 1:12). Esta verdade é outra que, infelizmente, tem sido negligenciada pela Igreja em nossos dias. A promessa que estamos considerando, porém, não tem relação direta com o novo nascimento, que é operado pelo Espírito Santo, mas com o recebimento do poder do mesmo Espírito, para desempenharmos adequadamente nossa missão dentro do corpo de Cristo. Os crentes que formavam a Igreja, no Dia de Pentecostes, já eram nascidos do Espírito [4], mas naquele dia foram batizados com o Espírito. Do mesmo modo que o corpo do Salvador nasceu do Espírito, e foi batizado por ele aos 30 anos, assim também a igreja, que é o corpo de Cristo na terra, primeiro nasceu do Espírito, e depois foi revestida com o poder do alto. O ensino de Jesus acerca do novo nascimento não era propriamente novidade. Ele até repreendeu Nicodemos por não saber nada a respeito: “Tu és mestre em Israel e não compreende estas coisas?” (Jo.3:10), perguntou ele àquele príncipe de Israel. Entretanto, esta promessa que estamos estudando era algo de novo, distinto da regeneração. Ela nunca é apresentada em termos de “vida”, mas sempre de “poder”. Jesus afirmou aos discípulos que eles teriam “poder” quando viesse sobre eles o Espírito (Lc. 24:49; At. 1:8). A confusão que muitos fazem a respeito da operação do Espírito Santo na regeneração (cujo sinal externo é o batismo nas águas), e sua missão de conceder poder é um dos primeiros empecilhos a um bom entendimento da promessa e seu recebimento.
O Dr. Torrey deu uma boa explicação disso:
Tudo isto está claramente exemplificado na vida de Cristo, e maravilhosamente ilustrado em seu ensino. Jesus foi realmente um Mestre enviado por Deus. Como o mordomo fiel da parábola ele deu aos discípulos o alimento certo “a seu tempo” (Mt. 24:45). Ele os instruiu gradualmente. Alguns ensinamentos só poderiam ser dados após a vinda do Espírito Santo. “Vós não podeis suportar agora”, disse-lhes (Jo. 16:12). Foi já no fim do seu ministério, que ele lhes falou mais a respeito do consolador, e da obra que este realizaria quando chegasse.
Contudo, algumas referências ao Espírito Santo, feitas no início do seu ministério, são de grande interesse para nós. Em João 7:38, ele compara a bênção que nos adviria com a descida do Espírito a “rios de água viva”, que fluiriam do crente. Em Lucas 11:13, ele fala do Pai concedendo o Espírito aos que lhe pedissem. Esta referência é de importância vital, Cristo não poderia ter feito esta promessa a incrédulos, já que tais pessoas não poderiam recebê-la (Jo. 14:17), e não iriam pedi-la. Literalmente, o que Cristo disse foi que o Consolador seria dado aos que “ficassem pedindo”. Se o crente o recebesse automaticamente na conversão, por que ficaria pedindo? Nenhuma promessa das Escrituras é recebida automaticamente. É “pela fé e pela longanimidade” (Hb. 6:12) que herdamos as promessas de Deus. Foi, porém, no momento da ceia memorial que Jesus falou que o Espírito estava com eles e depois estaria neles, e que lhes ensinaria todas as coisas, e lhes relembraria suas palavras; que daria testemunho dele; que convenceria o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Acima de tudo, porém, ele o glorificará (Jo. 14:17, 26; 15:26; 16:8, 13).
Mas há uma frase que se salienta mais: “Quando ele vier”. Os discípulos devem ter-se perguntado quando aquilo se daria. Sabiam que seria após a ida de Jesus para o Pai. Após sua ressurreição, ele lhes falou claramente que a vinda do Espírito Santo estava iminente: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc. 24:49). Mais tarde, ele os exortou a que não saíssem de Jerusalém “mas esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois desses dias” (At. 1:4, 5).
Agora, então, o círculo se fechava. O mesmo Jesus que, nas praias do mar da Galileia, fora apresentado como o que batiza com o Espírito Santo, usa a mesma expressão pra descrever o que estava para operar em favor deles e das gerações que se sucederiam, os quais poderiam receber, pela fé, a promessa.
A bênção sintetizada então em uma locução bem simples: a promessa do Pai – pois é dele que ela procede, chegando até nós através do Filho. O Espírito Santo é a concretização da promessa.
Sua principal consequência é “poder”. “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”, disse Jesus aos seus discípulos. Outra maneira como ele se referiu a esta bênção foi “revestidos de poder do alto”. James Denney escreveu: “Qualquer um que deseje conhecer bem a operação do Espírito Santo no Novo Testamento, tem que estudar a palavra poder, que é sua tônica principal”.
Podemos acrescentar à promessa de poder os outros efeitos que o Espírito Santo terá sobre a vida do crente. Seu interior será como “rios de água viva”, segundo disse Cristo. Disse mais que o mundo seria convencido do pecado, da justiça e do juízo através deles, e que eles próprios seriam guiados a toda verdade.
Assim, pois, é esta grande promessa. Acredito que foi o Espírito Santo quem a ensinou a nós. Estamos começando a desejar ansiosamente esta “promessa do Pai”. R. W. Dale já disse:
HARPER, Michael. O Espírito Santo e o Corpo de Cristo. Belo Horizonte, MG: Editora Betânia, 1978, pp.18-25.
A Bíblia contém “preciosas e mui grandes promessas”, mas nesse livro focalizamos uma das mais importantes – a promessa do Espírito Santo. Essa promessa nos é claramente apresentada primeiramente nas palavras de Cristo (Lc. 24:49; At. 1:4), depois no sermão de Pedro, no Dia de Pentecostes (At. 2:33, 39), e nas cartas de Paulo (Gl. 3:14; Ef. 1:13). Vamos examiná-la, em primeiro lugar, nos escritos dos profetas.
Os Profetas
A mensagem central dos profetas era a vinda do Messias e o estabelecimento de uma nova aliança de Deus com seu povo. Jeremias escreveu: “Eis aí vem dias, diz o Senhor, que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá” (Jr. 31:31). Ezequiel declarou que esta nova aliança significaria não só a purificação dos pecados, mas também a dádiva de um novo coração e um novo espírito: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro em vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez. 36:25-27). Vemos, portanto, que o dom do Espírito Santo está unido à ideia de perdão e purificação.
Estes mesmos temas estão presentes em Isaías. Só há uma diferença: neste último, eles estão ligados à uma pessoa, o Messias. Ele é apresentado como o servo sofredor, que seria ferido por causa das transgressões do povo de Deus, e levarei sobre si o pecado de muitos, e aquele a quem Deus daria o seu Espírito. Além deste aspecto pessoal da promessa, Isaías vê a era messiânica como um período em que o Espírito seria derramado em profusão: “Porque derramarei água sobre o sedento, e torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu espírito sobre a tua posteridade, e a minha benção sobre os teus descendentes” (Is. 44:3, e também 32:15).
Contudo, a descrição mais vívida e clara dessa benção encontra-se em Joel: “E acontecerá que depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu espírito naqueles dias” (2:28). Vemos aqui a promessa de derramamento de poder espiritual e de manifestações externas.
Os profetas nos apresentam, então, a promessa da benção do Espírito Santo e da purificação dos pecados. No Velho Testamento, nós a enxergamos “como em espelho”, mas no Novo nós a vemos “face a face”.
João Batista
Devemos lembrar que João foi o último dos profetas. Ele recebeu o encargo de unir as duas bênçãos e expor claramente o fato de que ambas se cumpririam em Jesus, o Filho de Deus.
Jesus procurou a João para ser batizado por ele, no rio Jordão. Quando o Senhor se aproximava, João apontou para ele e disse: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo... esse é o que batiza com o Espírito Santo... ele é o Filho de Deus” (Jo. 1:29, 33, 34). Fazemos citação dessas frases que João usou para revelar a verdade acerca daquele cujo caminho ele estava preparando, propositalmente, para chamar a atenção dos leitores para elas. Jesus é apresentado como o Cordeiro de Deus, como o que batiza com o Espírito Santo, e Filho de Deus. A maioria dos crentes conhece a Cristo como o Salvador e Filho de Deus, mas em muitas igrejas ele nunca é apontado como o batizador. É importante notar que foi o próprio Deus que revelou a João que ele deveria indicar Cristo como o batizador, e que assim como ele batizara o povo no rio Jordão, assim, Jesus iria batizá-los no Espírito. E o próprio Senhor, como veremos depois, aceitou essa qualificação. Assim vemos que João pôs em foco o duplo ministério de Cristo, o qual já tinha sido anunciado pelos profetas.
Esta verdade está bem explicada na carta de Paulo aos Gálatas. Primeiro, ele fala, que “vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho... para resgatar os que estavam sob a lei”, e depois fala da vinda do Espírito Santo, dizendo: “E porque sois filhos enviou Deus aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl. 4:4-6).
Jesus Cristo
Quando Jesus foi a João Batista para ser batizado, a princípio este se recusou a fazê-lo. “Eu que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?”, indagou João. Jesus replicou: “Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt. 3:14, 15). Então João concordou.
Jesus não tinha pecados a confessar, mas sabia que devia se fazer “semelhante aos irmãos” (Hb. 2:17). A respeito disso, Levertoff diz o seguinte: “Ao passar pelas águas, Jesus estava aceitando a sua missão” [1]. E sua missão era dupla: ser feito pecado por nós, e derramar o seu Espírito sobre nós. Então, ele foi ao Jordão e desceu às águas para ser batizado; saindo do rio, recebeu o poder do Espírito Santo para realizar o seu ministério.
É importante notar que Jesus, que foi gerado pelo Espírito e viveu uma vida perfeitamente santificada no Espírito, ainda sim recebeu uma bênção a mais: a unção do mesmo Espírito para o seus três anos de ministério. Antes de ser ungido “com Espírito Santo e poder”, ele não fez nenhum milagre, nem disse uma só palavra de sabedoria, não fez nenhum sinal, nem foi notado pela sociedade. Imediatamente após o seu batismo, ocorreu então o grande impacto da sua vida e ministério. Vemos ali que “Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galileia, e sua fama correu por toda a circunvizinhança. E ensinava nas sinagogas, sendo ensinado por todos” (Lc. 4:14, 15). Na primeira visita que fez à sua cidade, foi à sinagoga onde cultuara a Deus por muito tempo. Ali não fez nada de extraordinário, apenas leu o rolo. Todavia, quando se assentou, “todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele” (Lc. 4:20).
F. B. Meyer, o grande pregador batista que viveu no começo deste século, e foi um dos maiores pregadores da convenção de Keswick, explicou isto muito bem:
Jesus foi gerado pelo Espírito Santo e por ele instruído e guiado durante 30 anos. Será que ele não era um com o Espírito? Certamente que era. Por que então precisava receber a unção? Porque a sua natureza humana necessitava ser revestida pelo poder do Espírito para que ele pudesse ter sucesso em sua obra nesse mundo. Jesus esperou trinta anos para ser ungido, e só depois disso foi que disse: “O Espírito do Senhor está sobre mim, e ele me ungiu para pregar”. Nunca devemos nos esquecer que o ministério do Senhor não foi exercido no poder da Segunda Pessoa da Trindade, mas no da Terceira [2].
Isto pode nos despertar para um cuidadoso exame da nossa vida. Já nascemos do Espírito? Se assim for, já somos batizados com o Espírito Santo? O Dr. A. B. Simpson nos desafia quase que com os mesmos argumentos:
Primeiramente, Cristo nasceu do Espírito Santo. Depois, foi batizado por ele, e, por fim, saiu para viver e exercer seu ministério no poder do Espírito. Contudo, “tanto o que santifica, como os que são santificados, todos vêm de um só”; por isso, nós também temos seguir suas pegadas e moldar a nossa vida pela dele. Tendo nascido do Espírito, como ele devemos ser batizados com o Espírito, e depois viver como ele, e realizar sua obra [3].
Consideremos como esta promessa pode ser aplicada à nossa geração. O verdadeiro cristão é uma pessoa que nasceu do Espírito, ou nasceu de novo, como disse Jesus a Nicodemos (Jo. 3:3). Só podem ser chamados filhos de Deus aqueles que receberam Cristo e nasceram de novo (Jo. 1:12). Esta verdade é outra que, infelizmente, tem sido negligenciada pela Igreja em nossos dias. A promessa que estamos considerando, porém, não tem relação direta com o novo nascimento, que é operado pelo Espírito Santo, mas com o recebimento do poder do mesmo Espírito, para desempenharmos adequadamente nossa missão dentro do corpo de Cristo. Os crentes que formavam a Igreja, no Dia de Pentecostes, já eram nascidos do Espírito [4], mas naquele dia foram batizados com o Espírito. Do mesmo modo que o corpo do Salvador nasceu do Espírito, e foi batizado por ele aos 30 anos, assim também a igreja, que é o corpo de Cristo na terra, primeiro nasceu do Espírito, e depois foi revestida com o poder do alto. O ensino de Jesus acerca do novo nascimento não era propriamente novidade. Ele até repreendeu Nicodemos por não saber nada a respeito: “Tu és mestre em Israel e não compreende estas coisas?” (Jo.3:10), perguntou ele àquele príncipe de Israel. Entretanto, esta promessa que estamos estudando era algo de novo, distinto da regeneração. Ela nunca é apresentada em termos de “vida”, mas sempre de “poder”. Jesus afirmou aos discípulos que eles teriam “poder” quando viesse sobre eles o Espírito (Lc. 24:49; At. 1:8). A confusão que muitos fazem a respeito da operação do Espírito Santo na regeneração (cujo sinal externo é o batismo nas águas), e sua missão de conceder poder é um dos primeiros empecilhos a um bom entendimento da promessa e seu recebimento.
O Dr. Torrey deu uma boa explicação disso:
Uma pessoa pode ser salva, regenerada pelo Espírito Santo, e ainda assim não ser batizada pelo Espírito. Na regeneração, há uma implantação de vida pelo poder divino, e o que recebe é salvo. No batismo, há uma comunicação de poder e o que a recebe é capacitado para o serviço [5].
Tudo isto está claramente exemplificado na vida de Cristo, e maravilhosamente ilustrado em seu ensino. Jesus foi realmente um Mestre enviado por Deus. Como o mordomo fiel da parábola ele deu aos discípulos o alimento certo “a seu tempo” (Mt. 24:45). Ele os instruiu gradualmente. Alguns ensinamentos só poderiam ser dados após a vinda do Espírito Santo. “Vós não podeis suportar agora”, disse-lhes (Jo. 16:12). Foi já no fim do seu ministério, que ele lhes falou mais a respeito do consolador, e da obra que este realizaria quando chegasse.
Contudo, algumas referências ao Espírito Santo, feitas no início do seu ministério, são de grande interesse para nós. Em João 7:38, ele compara a bênção que nos adviria com a descida do Espírito a “rios de água viva”, que fluiriam do crente. Em Lucas 11:13, ele fala do Pai concedendo o Espírito aos que lhe pedissem. Esta referência é de importância vital, Cristo não poderia ter feito esta promessa a incrédulos, já que tais pessoas não poderiam recebê-la (Jo. 14:17), e não iriam pedi-la. Literalmente, o que Cristo disse foi que o Consolador seria dado aos que “ficassem pedindo”. Se o crente o recebesse automaticamente na conversão, por que ficaria pedindo? Nenhuma promessa das Escrituras é recebida automaticamente. É “pela fé e pela longanimidade” (Hb. 6:12) que herdamos as promessas de Deus. Foi, porém, no momento da ceia memorial que Jesus falou que o Espírito estava com eles e depois estaria neles, e que lhes ensinaria todas as coisas, e lhes relembraria suas palavras; que daria testemunho dele; que convenceria o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Acima de tudo, porém, ele o glorificará (Jo. 14:17, 26; 15:26; 16:8, 13).
Mas há uma frase que se salienta mais: “Quando ele vier”. Os discípulos devem ter-se perguntado quando aquilo se daria. Sabiam que seria após a ida de Jesus para o Pai. Após sua ressurreição, ele lhes falou claramente que a vinda do Espírito Santo estava iminente: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc. 24:49). Mais tarde, ele os exortou a que não saíssem de Jerusalém “mas esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois desses dias” (At. 1:4, 5).
Agora, então, o círculo se fechava. O mesmo Jesus que, nas praias do mar da Galileia, fora apresentado como o que batiza com o Espírito Santo, usa a mesma expressão pra descrever o que estava para operar em favor deles e das gerações que se sucederiam, os quais poderiam receber, pela fé, a promessa.
A bênção sintetizada então em uma locução bem simples: a promessa do Pai – pois é dele que ela procede, chegando até nós através do Filho. O Espírito Santo é a concretização da promessa.
Sua principal consequência é “poder”. “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”, disse Jesus aos seus discípulos. Outra maneira como ele se referiu a esta bênção foi “revestidos de poder do alto”. James Denney escreveu: “Qualquer um que deseje conhecer bem a operação do Espírito Santo no Novo Testamento, tem que estudar a palavra poder, que é sua tônica principal”.
Podemos acrescentar à promessa de poder os outros efeitos que o Espírito Santo terá sobre a vida do crente. Seu interior será como “rios de água viva”, segundo disse Cristo. Disse mais que o mundo seria convencido do pecado, da justiça e do juízo através deles, e que eles próprios seriam guiados a toda verdade.
Assim, pois, é esta grande promessa. Acredito que foi o Espírito Santo quem a ensinou a nós. Estamos começando a desejar ansiosamente esta “promessa do Pai”. R. W. Dale já disse:
As promessas de Deus são irrevogáveis. Pedindo em oração sincera, todos nós podemos receber de Cristo o dom do Espírito, do mesmo modo que recebemos a remissão dos pecados [6].
Notas:
[1] St Matthew (São Mateus), 1940.
[2] De A Castaway (Um pária).
[3] The Holy Spirit or Power from on High (O Espírito Santo ou o Poder do Alto), Volume II.
[4] Isto pode ter-se dado no cenáculo, no domingo da Páscoa (Jo. 20:22), ou então, mais provavelmente, antes disso, na ocasião de sua aceitação de Cristo pela fé. Jesus lhes disse que seus nomes estavam escritos nos céus (Lc. 10:20) e que eles estavam purificados (Jo. 13:10,11).
[5] De The Person and Work of the Holy Spirit (A Pessoa e a Obra do Espírito Santo).
[6] Lectures on the Ephesians (Estudos sobre a Carta aos Efésios).
[2] De A Castaway (Um pária).
[3] The Holy Spirit or Power from on High (O Espírito Santo ou o Poder do Alto), Volume II.
[4] Isto pode ter-se dado no cenáculo, no domingo da Páscoa (Jo. 20:22), ou então, mais provavelmente, antes disso, na ocasião de sua aceitação de Cristo pela fé. Jesus lhes disse que seus nomes estavam escritos nos céus (Lc. 10:20) e que eles estavam purificados (Jo. 13:10,11).
[5] De The Person and Work of the Holy Spirit (A Pessoa e a Obra do Espírito Santo).
[6] Lectures on the Ephesians (Estudos sobre a Carta aos Efésios).
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