sexta-feira, 17 de junho de 2016

Nº 34



RESENHA DE E AS LÍNGUAS? 
por Gordon H. Clark

O autor introduz o assunto por meio de uma breve história do falar em línguas. O fenômeno ocorreu em várias épocas e lugares após o segundo século, mas a sua maior manifestação começou com o movimento pentecostal em 1901, desde então, ele tem se espalhado recentemente para algumas denominações de linhas mais antigas.

Os capítulos centrais do livro examinam a teologia das línguas dos pentecostais. O Dr. Hoekema não tem problema em demonstrar que 1 Coríntios contradiz a ideia pentecostal de que todos os cristãos deveriam falar em línguas (p.86-87). De que esta é uma segunda bênção posterior à conversão e que se encontra com o destino do perfeccionismo arminiano. As angustiantes reuniões de avivamento, e os métodos utilizados pelos pentecostais, não são a maneira pela qual as línguas foram dadas no Novo Testamento. De modo semelhante, a Pneumatologia deixa claro que as línguas não são a única nem mesmo a evidência mais proeminente de se ter recebido o Espírito.

Este maciço material teológico e as evidências nele apresentadas exemplificam como fenômeno tem sido, por vezes, intencionalmente fraudado e é frequentemente uma agitação emocional induzida, no entanto, não adiciona nenhuma demonstração estritamente lógica de que as línguas não possam ser uma obra do Espírito hoje. Há lugares onde o argumento vacila. Por exemplo, em um lugar o Dr. Hoekema diz: Não estou sugerindo que os discípulos realmente não usaram línguas para testificar aos estrangeiros, porque não temos evidências de que assim o fizeram (ainda no dia de Pentecostes Pedro pregou, segundo parece, em aramaico...) (p.68). Agora, fica a dúvida, Pedro pregou em aramaico, mas Atos 2:8 não foi uma evidência requerida para os demais discípulos? Se sim, esse versículo não ajuda muito os pentecostais, mas também parece enfraquecer o argumento do Dr. Hoekema.

Surge depois uma falha formal em mais um argumento. O autor admite a possibilidade da interpretação Pentecostal de Atos 19:2, com base na King James Version, através da gramática grega. Mas ele acrescenta: A questão é, no entanto, se o contexto o exige  (p.74). Sem dúvida, os pentecostais, para provarem seu caso, devem demonstrar que o contexto o exige. Mas para provar que os pentecostais estão errados nesse ponto, seria necessário mostrar que a King James Version fornece uma tradução impossível. A noção deste revisor é que ambas as partes não conseguem provar seus pontos.

Depois, há outra passagem intrigante. O pano de fundo geral é que a igreja apostólica precisava das línguas e milagres para atestar o Evangelho, porém a igreja de hoje não precisa de línguas. Agora, por um lado, esse é um julgamento subjetivo que pode ser posto em dúvida à luz da apostasia contemporânea. Também não é claro se os pentecostais afirmam tal necessidade e ignoram a finalidade das Escrituras. Em seguida, o autor continua dizendo, “as palavras de Abraão ao homem rico na parábola podem ser lembradas aqui: 'Se não ouvem [irmãos do homem rico] a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos' (Lucas 16:31) (p.110). Mas se as observações de Abraão provam que a igreja do século XX não precisa de línguas, elas não provariam, igualmente, que os milagres e as línguas não eram necessários nos dias de Cristo?

O julgamento deste revisor é que o Dr. Hoekema têm completo sucesso em refutar a teologia pentecostal. Ele também demonstrou a improbabilidade do falar em línguas nos dias de hoje como sendo uma obra do Espírito, por causa da diferente interpretação teológica. Improvável, sim, mas não logicamente impossível.


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Extraído de:
http://gordonhclark.reformed.info/review-of-what-about-speaking-in-tongues/

HOEKEMA, Anthony. E as Línguas? Traduzido por Anamim Lopes da Silva:
 http://www.monergismo.com/textos/livros/linguasHoekema.pdf

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Nº 33



VÃ REPETIÇÃO VS. REPETIÇÃO DA FÉ 
por Vincent Cheung

Saiba a diferença entre a vã repetição e a repetição da fé. Se alguém não ora ao Pai através de Jesus Cristo, ou se essa pessoa não ora com fé, então qualquer repetição é insignificante. Repetir uma oração como se fosse um mantra ou um encantamento não a fará mais propensa de ser atendida. Se você orar com fé, você pode orar novamente. Se você orar com incredulidade, até mesmo na primeira vez será inútil. A Bíblia diz que você não pode pensar que não irá receber algo Senhor.

Há dois tipos legítimos de repetição.

Primeiro, existe a oração de dedicação. Antes de Jesus ser preso, ele orou a mesma coisa por várias vezes. Ele não estava realmente pedindo por nada. Ele sabia o que tinha vindo fazer aqui e o que estava prestes a acontecer. Ele estava se preparando para um tempo difícil do seu ministério. Se quisermos, também podemos incluir louvor, adoração, e ações de graças nesse tipo de oração. Você deveria dizer, “Louvado seja o Senhor, porque a sua bondade e a sua misericórdia duram para sempre”. Você deveria dizer isso quantas vezes pensasse nisso. Não é vã repetição querer dizer isso. Nesse tipo de oração, você abraça a vontade de Deus enquanto ora a ele (Mateus 26:39,42).

Segundo, existe a oração de petição. Jesus contou uma história sobre uma viúva que persistiu com um juiz injusto até que ele concedesse a ela a justiça que pedia. A história não pretende dizer que Deus é como um juiz injusto, mas o ponto é que: se até uma pessoa injusta se renderia ante a persistência de uma viúva, Deus está muito mais pronto a responder nossas orações quando vamos a ele com uma fé persistente. Nesse tipo de oração, você descobre a vontade de Deus antes de você orar (I João 5:14-15).

Frequentemente muitos cristãos colocam toda oração sob a primeira categoria. Eles fazem petições usando princípios de dedicações. É por isso que eles são fracos e falhos. Pare de fingir humildade quando Deus já prometeu a vitória para você e lhe ordenou a avançar pela fé (Êxodo 14:15)!

A principal questão na oração é a fé, não técnicas ou mecanismos. Muitas orações resultam de incredulidade, e muitas orações repetidas resultam de incredulidade repetida. Se você tem fé, você pode orar uma vez e receber, ou pode pedir novamente. Se a oração é mais do que meramente alívio psicológico, e se você verdadeiramente espera receber o que pediu, então você pode persistir por algo até que você o receba, ou continuar insistindo para novos progressos até ficar satisfeito.

Qualquer cristão pode melhorar se ele parar de se desculpar e corrigir a sua teologia, e começar a orar e falar com fé. Isso geralmente implicará em repudiar professores e tradições, e até mesmo condena-los. Ele terá que decidir se Cristo vale mais para ele do que essas coisas.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2016/06/14/vain-repetition-vs-faith-repetition/

Traduzido por: Israel Teixeira de Andrade

domingo, 12 de junho de 2016

Nº 32



BOAS DÁDIVAS DO PAI 
por Vincent Cheung

Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?”  – Mateus 7:9-11.

Sombras de um deus pagão

A oração é um negócio traiçoeiro em algumas fábulas pagãs. Vamos criar uma versão moderna para ilustrar. Um homem ora ao seu deus por dinheiro, a fim de pagar os débitos de sua mãe. O deus satisfaz o pedido matando a mãe num terrível acidente, e então o homem recebe uma compensação mais que suficiente da companhia de seguros para pagar os honorários médicos, preparativos para o funeral e, claro, as dívidas.

A deidade concede o pedido ao homem, mas ao mesmo tempo tornou a transação inútil, porque ao ganhar o dinheiro para ajudar a mãe, ele também perdeu a sua mãe. O homem pediu por algo bom, algo inocente, e a deidade usou a ocasião para zombar de sua vida e piedade.

Ah, mas o nosso homem é um teólogo, um expert, então ele sabe com o quê está lidando. Ele ora para que esse deus dê a ele dinheiro para pagar os débitos de sua mãe, porém, assegurando o dinheiro, o deus não deve machucar sua mãe, ou ele, ou qualquer outra pessoa. Logo ele recebe dinheiro ganho na loteria e paga seus débitos. Ninguém se machucou. Sua mãe está trabalhando em vários empregos agora para recuperar o dinheiro, mas então ela pára de trabalhar e começa a beber. Numa noite ela dirige para casa embriagada, bate o carro e morre.

Essa é a razão pela qual os pagãos tem medo “da vontade de Deus”. Você está lidando com uma deidade caprichosa e egoísta. Você nunca sabe o que ele vai fazer. Não faz diferença nem mesmo se ele fez promessas, porque é difícil saber se você está interpretando-as corretamente, e ele provavelmente fará seja lá o que ele quiser. Mas se você ignorá-lo, ele pode ficar irado.

Eu deveria orar? Se eu não orar, que tragédia ele colocará no meu caminho? Se eu pedir aquilo que quero, como ele distorcerá o meu pedido? Será que ele vai deixar a minha vida pior? Oração é um jogo perigoso. Seria melhor se ele não soubesse que você existe. E se você realmente quiser alguma coisa, você deveria buscá-la por conta própria.

Os pagãos se afogam numa sensação de terror opressivo, embora os devotos prefiram chamar isso de reverência. Sua relação com os deuses é uma relação de suspeita. Não há como ganhar. Você pode apenas tentar apaziguá-los, provavelmente com votos e ofertas, sofrimentos e sacrifícios. Você nunca sabe quando eles o abençoarão além da medida e você nunca sabe quando eles levarão tudo embora.

Claro, os deuses pagãos são falsos. Ou eles existem apenas na mente das pessoas ou eles são demônios. Isso torna o nosso ponto ainda mais importante, isto é, a noção pagã de deidade é desconfortavelmente similar à ideia de Deus que os cristãos têm afirmado e defendido, por vezes violentamente, pelos séculos. Se eu trocar “pagão” por “cristão”, e se eu ajustar o tom para dar uma repaginada positiva, isso se tornaria a doutrina ortodoxa cristã. Enquanto eu a pregasse, murmúrios de “amém” ecoariam e os membros da igreja aplaudiriam minha perspicácia e humildade.

Esse deus pagão assombra a teologia cristã. Ele aparece em todo lugar – em nossos sermões, orações e conversas. Contudo, esse não é o Deus da Bíblia, nem o Deus dos Evangelhos que Jesus declarou ao seu povo. De fato, cristãos costumeiramente ensinam o oposto do que Jesus falou acerca de Deus. Agora Deus é aquele que está jogando cobras à seus filhos, talvez para ensinar-lhes alguma coisa, e Satanás é o que lhes dá pão e toda sorte de coisas maravilhosas. Agora Deus é aquele que deixa as pessoas doentes e pobres, e Satanás é o que os cura e os faz prosperar.

Aqui está uma versão menos entediante da ortodoxia tradicional, e mais honesta: Nós deveríamos pedir por cobras. Se você pedir por pão e peixe, você é materialista, e provavelmente acredita no Evangelho da Prosperidade. Então nós pedimos por cobras, e, mesmo assim, talvez não as consigamos, porque Deus ainda vai fazer seja lá o que ele quiser. Não obstante aquilo que ele prometeu e independentemente do que uma pessoa peça em oração, Deus vai decidir caso-a-caso. Se ele quiser dar-lhe um canguru radioativo, adivinha? O homem receberá um canguru radioativo. Então, enquanto ele se derrete por causa da radiação, ele canta, “Todas as coisas cooperam para o bem”.

Isso não é teologia cristã autêntica. É paganismo masoquista. Algumas religiões tribais obrigam seu povo a fazerem coisas estranhas para deformar seus corpos. Isso é parte de sua adoração e cultura. Cristãos fazem a mesma coisa, mas o fazem em seus corações. Sua teologia é grotesca e são tão deformados em seus espíritos quanto os pagãos em seus corpos. Eles se chamam de cristãos, mas são pagãos no coração, porque a deidade pagã é o único tipo de Deus que eles conhecem.

Então quando Deus manda alguém pregar sobre eles poderem ter pão, eles pedem pedra! Quando ele envia alguém para dizer que eles podem ter peixe, eles pedem cobra! E então eles sofrerão “para a glória de Deus”. Não é que eles vivam por fé nas promessas de Deus, e então suportem e superem sofrimentos por causa de perseguição. Esse é o tipo de sofrimento que a Bíblia endossa. Não, eles se gloriam no tipo de sofrimento que não tem nada a ver com viver para o evangelho, mas sim no mesmo tipo de sofrimento que o evangelho nos liberta. Isso é considerado santo. É considerado teocêntrico. Essa é uma religião muito estranha. Certamente não é a fé cristã.

O evangelho de Jesus Cristo

Jesus Cristo nos liberta da escravidão da falsa tradição, dos ensinamentos religiosos inventados por homens. O deus deles é um soberano mentiroso e um controlador de escravos. As pessoas já têm um vida difícil. Ao invés de ensiná-las que Deus quer ajuda-las, eles dizem que Deus talvez as faça sofrer até mais, mesmo quando não tem nada a ver com perseguição por causa do evangelho, e isso é será algo bom para eles. Religiosos masoquistas ficam mais e mais animados, mas pessoas sãs desconfiam.

Jesus se coloca contra esse tipo de pessoa e sua religião. Ele diz, “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30). Isso é o que o evangelho deve alcançar, mas muitos ministros cristãos voltaram à escola dos fariseus. Ainda assim, Jesus não mudou. O seu fardo ainda é leve. Ele ainda vai te dar descanso.

Jesus nos liberta para crer nas boas novas de Deus. Ele nos diz que Deus é nosso Pai. Ele é um Pai que nos dá boas coisas quando pedimos, e as “coisas boas” são aquelas que pedimos, e não coisas que supostamente são “melhores” para nós, mas que são na verdade bem piores. Deus leva nossa oração a sério. Ele não faz brincadeiras bobas conosco e depois zomba da nossa vida. Quando você ora com fé por dinheiro para pagar a mensalidade da faculdade do seu filho, ele não vai responder derrubando um guindaste nos seus pais, para que você pegue a herança.

A Bíblia diz, “A bênção do SENHOR enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto” (Provérbios 10:22). Não há motivos para duvidar de Deus ou ludibria-lo. Quando ele responde, ele não prega peças. Ele não piora as coisas para você e depois joga Romanos 8:28 na sua cara para fazê-lo calar a boca.

O texto é seguro contra os truques que cristãos usam para explicar ensinamentos que nos prometem coisas boas na vida. O significado de “boas” dádivas deve ser consistente com o contexto imediato, que é o Sermão do Monte. Portanto, deve incluir comida e roupas e até mesmo “todas estas coisas” que os pagãos correm atrás (Mateus 6:25-34). Deve também ser consistente com o que Jesus dá ao povo nos Evangelhos. Jesus é a revelação de Deus, a perfeita representação do Pai. Tanto é que ele diz que ele e o Pai são um, que o Pai executa as obras por meio dele e que ver a Cristo é ver o Pai. Não há base alguma para achar que o Pai se comportaria diferentemente do modo como Jesus o faz nos Evangelhos.

Os Evangelhos apresentam Jesus como um salvador completo. Ele salva o homem por completo, não apenas seu aspecto espiritual. Ele perdoa, ensina, cura e até mesmo alimenta as pessoas. Quando alguém pede por conhecimento, ele dá conhecimento. Quando alguém pede por cura, ele dá cura. O significado de “bom” é o que as pessoas ordinariamente considerariam bom – perdão, cura, alimento, roupa e coisas do tipo. Nós podemos pedir por essas coisas boas e esperar receber essas coisas boas.

Jesus dá aquilo que a pessoa pede. Quando alguém pede por cura, Jesus não dá câncer e depois afirma que isso é melhor. Ele dá cura ao homem. Portanto, Deus Pai se comporta da mesma maneira. Muitos cristãos tem a ideia de que tudo o que você pedir em oração, Deus vai lhe dar o que ele quer de qualquer forma, e você deve chamar isso de “bom”, não importa o que seja. Isso não se encaixa no texto quando é lido no contexto de como Jesus se comportou nos Evangelhos e no contexto das promessas que nos foram dadas na Bíblia. O ensino visa encorajar a fé em pedir boas coisas, não para nos constranger a chamar tudo de “bom” não importando o quanto realmente a coisa seja catastrófica.

O ensinamento tradicional acerca da oração se apresenta como algo que promove a soberania de Deus e a santificação do homem. Mas, na realidade, é um ataque velado sobre a paternidade de Deus. Ele torna Deus pior que os pais humanos, que são pecadores. É uma doutrina religiosa pretensiosa, antibíblica, e que coloca um fardo pesado no povo de Deus que clama a ele, em parte porque eles precisam se aliviar precisamente desse tipo de fardo religioso em primeiro lugar.

Essa é a doutrina equivale a descrever as promessas de Deus como significando o oposto daquilo que ele disse, que um homem nunca receberá aquilo que ele pede ou que receberá algo bem pior do que aquilo que foi pedido, com a diferença de que ele deve chamar isso de bom de qualquer forma. Cristãos que creem nisso tem uma relação disfuncional com o Pai, para dizer o mínimo.

A doutrina de Jesus é acessível e clara. Não enxergamos no seu ensino uma impostora linguagem piedosa como desculpa para Deus e para nós mesmos a partir dela. Ele diz que pais humanos sabem dar boas dádivas aos seus filhos, coisas como pão e peixe. Então ele acrescenta, “quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem”. O dar está conectado com o pedir. Cristãos estão acostumados a chamar tudo de bom com a falsa justificativa de que isso fomenta o caráter. Esse versículo não permite isso, porque o que Deus nos dá corresponde ao que nós pedimos.

Se você pedir por cura, Deus não vai te deixar mais doente para “ensiná-lo” alguma coisa. Ele o ensina pela sua palavra. Se ele o disciplina com experiência, é apenas para fazê-lo retornar à sua palavra. E a sua palavra promete cura. Alguém diz, “ah, mas eu não quero desperdiçar o meu câncer”. Esse idiota já está desperdiçando o tempo de todo mundo com o seu besteirol religioso estúpido. Se ele não deseja desperdiçar seu câncer, então por que ele não recebe uma cura milagrosa, a fim de que todos que ouçam falar sobre isso e se maravilhem com a bondade de Deus? Se o câncer o leva a Deus, então por que ele não acredita naquilo que Deus fala? Por que ele não aprende sobre curas milagrosas e começa a ensiná-las?  Por que ele não realiza reuniões de cura, para orar pelos doentes? Esta seria a reação mais correta ao que a Bíblia ensina. Qual “Deus” faz o câncer sair dele? Ele distorce a palavra de Deus para justificar sua abordagem sobre a situação. Ele desperdiçou o seu câncer. Não desperdice sua vida. Se a palavra de Deus te ensina uma coisa, então simplesmente creia e faça. Você não precisa de um câncer para fazê-lo agir.

Se você pedir por proteção, Deus não vai te colocar num acidente de carro, porque de alguma forma é “melhor” para você. Cristãos que acreditam em algo assim querem soar inteligente e teologicamente astutos, mas isso é extrema tolice. Num caso como esse, o cenário no qual a pessoa não vivenciou o acidente nunca aconteceu. Portanto, é especulação dizer que o que realmente aconteceu foi melhor do que o que nunca aconteceu. Só porque alguma coisa “boa” aconteceu depois do acidente, não significa nada. Para comparar, o homem teria que viver sua vida novamente sem o acidente de carro. Talvez depois do acidente de carro, o homem se tornar mais cuidadoso com o evangelismo, e levar dez pessoas a Cristo. Mas sem o acidente de carro, talvez o homem tivesse se tornado ainda mais zeloso com o evangelismo devido a alguma outra razão, e teria levado dez milhões de pessoas a Cristo.

Portanto, não podemos formular uma conclusão nem mesmo observando o que de fato ocorreu. É impossível comparar um cenário que aconteceu com um número infinito de alternativas que nunca aconteceram. Nós devemos consultar a palavra de Deus para determinar o que é melhor. Se Deus exige santidade, então santidade é melhor. Se Deus nos ensina que devemos ter fé para cura, então cura é melhor. Se Deus promete proteção, então ter proteção é melhor. Não diga que o pecado é melhor só porque você o cometeu. Não diga que doença é melhor só porque você é confrontado com ela. Isso não seria fé ou santidade. É doença espiritual. É desordem psicológica.

Jesus não condenou as pessoas por quererem corpos saudáveis e estômagos cheios. Ele assegurou os seus desejos: “vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mateus 6:32). Contudo, ele admoestou as pessoas a não colocarem essas coisas em primeiro lugar, nem permitir que essas coisas se tornem tão grandes em suas mentes ao ponto de não deixarem espaço para questões mais importantes. Ele não ensinou a negação, mas ele queria que as pessoas tivessem fé e soubessem priorizar. Ele não disse, “busque apenas o reino de Deus e se esqueça de comida e vestimenta”. Ele disse, “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.

Numa entrevista na TV, um pregador foi questionado sobre se ele acreditava que alguns tipos de descrentes iriam para o inferno. Ele estava acostumado a focar no positivo, mesmo quando a Bíblia exige julgamento, mas então ele respondeu: “Isso cabe a Deus”. Isso é inaceitável, porque embora Deus seja quem decida isso, ele já decidiu e revelou o seu julgamento na sua palavra. Ele realmente enviará descrentes para o inferno. O pregador respondeu como se Deus nunca houvesse dito alguma coisa sobre esse assunto. Os cristãos ficaram justamente ultrajados com isso, e consideraram o homem um traidor. Eles não o felicitaram por defender a soberania de Deus ou algo do tipo. Eles o puniram por comprometer o evangelho em rede nacional.

Contudo, esses cristãos fazem a mesma coisa em quase todas as outras áreas de doutrina e vida. Deus vai curar essa pessoa? “Cabe a Deus”, falam eles encolhendo os ombros. Deus proverá cura para essa pessoa ou dará o que ela pede? “Cabe a Deus”. Deus fez promessas relacionadas à cura física, a provisões materiais e muitas outras coisas. Eles falam como se não houvesse uma aliança, como se não houvessem promessas. Eles oram como se fossem órfãos espirituais.


Eles condenaram tal pregador, contudo agem da mesma forma. A diferença foi que o pregador é conhecido por encorajar as pessoas a crerem nas coisas boas que a Bíblia promete àqueles que possuem fé. Claro, ele de fato se comprometeu quando falhou em aplicar aquilo que essa mesma Bíblia fala acerca dos julgamentos sobre os incrédulos. Por outro lado, esses cristãos que o condenaram estão prontos para afirmar o julgamento sobre os incrédulos, mas se recusam a crer nas coisas boas que essa mesma Bíblia promete. Eles também são falsos mestres, apenas com preferências diferentes.

O dom do Espírito Santo

A passagem paralela no Evangelho de Lucas aplica o ensinamento ao pedir pelo Espírito Santo. Jesus disse: “Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir] um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (Lucas 11:11-13).

É concebível que Jesus tenha usado a mesma figura numerosas vezes no seu ministério itinerante, e que tenha feito várias aplicações. Diferenças entre essa passagem e a de Mateus sugerem que Jesus possa ter dito o que foi acima citado em outra ocasião. Por exemplo, o contraste do ovo e do escorpião usado aqui está ausente em Mateus. Na nossa própria reflexão teológica, é adequado empregar a mesma linha de raciocínio a qualquer coisa que a Bíblia nos diz que podemos pedir ao Pai. Se o seu filho pede por conhecimento, você lhe dará engano? Se o seu filho pede por cura, você lhe dará doença? Como você pode pensar menos do seu Pai no céu?

Jesus aplica isso ao pedido pelo Espírito Santo. Pedir pelo Espírito Santo é pedir pelo Espírito Santo. Ele não está falando sobre pedir por conversão ou santidade. Cristãos que rejeitam aspectos essenciais do evangelho podem forçar o texto para signifique essas coisas. Contudo, se eu alego tornar-me um fiel sem mencionar Cristo, mas apenas pedindo pelo Espírito Santo, as mesmas pessoas provavelmente me corrigiriam (Romanos 10:9). E se eu fosse evangelizar dizendo às pessoas para pedirem pelo Espírito Santo, ao invés de confessar Cristo, elas poderiam dizer que isso não é evangelismo cristão de forma alguma. Jesus está falando sobre pedir pelo Espírito Santo, não alguma outra coisa.

Lucas consistentemente associa o Espírito Santo com poder espiritual – poder para pregar, para curar doentes, para expulsar os demônios, para declarar profecias, para falar em línguas, para ter visões e sonhos e para todos os tidos de milagres, sinais e maravilhas (veja Lucas 4:18, 24:49; Atos 1:8, 2:4,17,18, 10:38, entre vários outros). O Espírito Santo é uma pessoa. Ele é Deus. Quando ele vem, há uma infusão de poder e manifestação de milagres.

Pedir pelo Espírito Santo não é o mesmo que pedir por pregação inspirada. Não é o mesmo que pedir por perspicácia teológica. Não é o mesmo que pedir pela coragem do super-homem. Não é o mesmo que pedir por cura. Não é o mesmo que pedir por profecia ou línguas ou visões ou sonhos. Não é o mesmo que pedir por milagres ou sinais ou maravilhas. Pedir pelo Espírito Santo é pedir por todas essas coisas – é tomar tudo isso num gole só. Isso é o que pedir pelo Espírito Santo significa na Bíblia, e especialmente nos escritos de Lucas.

Cristãos que rejeitam esses aspectos do evangelho alertam sobre o engano espiritual. Tenha cuidado com falsos sinais e maravilhas! Há uma expressão chinesa: “corte fora os seus pés para evitar os vermes da areia”. É mais ou menos como cortar fora a cabeça para curar os soluços. É a solução do perdedor. É incrivelmente estúpido. A solução bíblica contra os milagres falsos não é apenas expô-los com a verdade, mas também derrotá-los com uma força avassaladora.

Moisés pregava a palavra de Deus às pessoas no Egito, mas ele também derrotava os principais mágicos da nação com confrontações miraculosas diretas. Elias pregou a palavra de Deus a Israel, mas ele também pediu por fogo do céu e envergonhou os falsos profetas. Paulo declarava o evangelho de Cristo ao procônsul, mas ele também proferiu julgamentos contra o feiticeiro e o feriu com cegueira. O quê? Isso não está no currículo de apologética do seu seminário? Na Bíblia, isso é discipulado básico.

Eu aprendi a deter bruxos por meio de força espiritual pura no nome de Jesus muito antes de aprender que eu poderia primeiro tortura-los com argumentos irritantes. Eles não funcionam na minha presença. Se há engano espiritual e se há sinais e maravilhas falsas, por que os caçadores de heresia não param os poderes malignos no nome de Jesus? Um vidente tinha um espírito maligno e seguiu Paulo por um tempo. Ele disse ao espírito, “Em nome de Jesus Cristo, eu te ordeno: retira-te dela!” (Atos 16:18), e esse foi o fim dele. Por que os observadores de culto não fazem isso? É porque eles são como os filhos de Ceva – muito falatório, nenhum poder (Atos 19:13-16). O ministério deles é um eco de fé. Eles nada sabem sobre atividades espirituais.

A paternidade de Deus é a proteção espiritual máxima. Se o seu filho pede por peixe, você lhe dará uma pedra? Se ele pedir por ovo, você lhe dará um escorpião? Por que você pensaria menos do seu Pai no céu? Jesus nos ensina três coisas. Primeiro, é bom pedir pelo Espírito Santo. Na Bíblia, especialmente em Lucas, isso representa todo o espectro de poderes espirituais. Você tem tudo. Deus quer que você peça. Acontece, quando você pede. Segundo, o Pai quer lhe dar o Espírito Santo. Ele está muito mais disposto a dar-lhe o Espírito Santo do que você está disposto a dar ao seu filho coisas boas. Terceiro, quando você pede pelo Espírito Santo, você recebe o Espírito Santo. Se você pedir pelo Espírito Santo, você não vai receber um espírito maligno ou algo do tipo. Você pode estar certo disso, porque Deus é um bom Pai.


O meio de se proteger do engano espiritual e de falsos milagres é perseguindo agressivamente o Espírito Santo, junto com todos os poderes espirituais que ele traz, e todas as suas operações e manifestações. Claro, a palavra de Deus nos protege do engano e, nesse caso, a palavra de Deus nos manda pedir pelo Espírito Santo. Como a verdade nos protegerá, se nos recusarmos a fazer aquilo que ela diz? Cessacionistas e outros céticos acham que evitam falsas doutrinas e milagres, mas porque eles se recusam a aceitar o que Deus lhes manda fazer acerca dessas coisas, eles são os mais vulneráveis. Na verdade, eles tem sido peões do inferno, posicionados na vanguarda do exército de Lúcifer, espalhando sua própria marca do engano.

Ortodoxia num Cavalo de Troia

Os teólogos vêm a nós com credenciais impressionantes que eles conferiram a si mesmos. Eles tentam passar às escondidas por nossas defesas com uma linguagem profunda e piedosa. Eles citam seus pedigrees ortodoxos, e até mesmo séculos de desenvolvimento teológico e eclesiástico. Mas dentro desse sistema altamente refinado de religião, há um veneno mortal tirado diretamente da serpente do Éden. Foi esse enganador que primeiro sussurrou: “Deus realmente falou?”.

A teologia deles carrega suposições que comprometem a confiança em Deus, além de interpretações que destroem a intimidade com o Pai. Destroça a fé das pessoas até que esta se torne algo grotesco, deformado e repugnante. Deixa as pessoas com medo da “vontade de Deus”, porque elas nunca sabem que coisa assustadora ele as enviará, e eles são ordenados a chamar isso de “bom”, não importa o que seja.

Se elas pedirem por coisas boas, coisas que até crianças podem esperar de seus pais, então elas ou são pessoas terríveis ou elas receberão algo terrível. E novamente, elas necessitam chamar seja lá o que isso for, de algo melhor do que aquilo que eles pediram anteriormente. Se eles pedirem por cura, provavelmente eles não receberão ou virá algo pior do que receber o milagre da cura.

Esse tipo de teologia é difundido no mundo cristão, mas Jesus disse que se pensarmos assim, então nós pensamos que Deus é menos pai do que os pais pecadores e humanos. As pessoas podem chamar esse tipo de teologia do que quiserem, associá-la com a mais respeitada herança teológica, e ainda assim será paganismo.

Às vezes as pessoas reclamam de declarações falsas. “Espantalho!” elas gritam. Escute, se eu quisesse passar um espantalho sorrateiramente à elas provavelmente nem perceberiam. Se eu fosse usar um espantalho, eu seria fantástico nisso. A verdade é que eu entendo suas próprias doutrinas melhor do que elas mesmas, e eu chamo atenção delas para as implicações necessárias que elas têm vergonha de verem sendo descobertas.

Elas estão chateadas comigo, porque eu mostro que as coisas que elas defendem são ridículas e heréticas. Elas reclamam sobre o espantalho, porque eu estou correto sobre elas e elas não podem aceitar o quanto têm sido abomináveis todo esse tempo e o quanto são facilmente expostas e refutadas. É um mecanismo de defesa. É um esforço derradeiro para se convencerem, mesmo que já não possam mais enganar os outros.

Um calvinista disse que eu deturpava o compatibilismo quando o refutava, até que eu apontei que me referia ao seu próprio professor de seminário ao definir a doutrina. Era inconcebível para ele que tudo isso poderia ser destruído em alguns parágrafos. A verdade é que eu posso quase sempre refutar alguma coisa que eu considere falsa em algumas palavras ou frases, mas minhas explicações são frequentemente acolchoadas – eu as torno maiores – para reduzir o choque e para mostrar um pouco de esforço.

Ainda assim, sou acusado de deturpar meus oponentes. É o meio deles de contornar as críticas e de retardar indefinidamente a correção. Se eu responder que eles me deturparam ao reclamarem que eu os deturpei, então eu jamais precisarei me corrigir, mesmo que eu os tenha deturpado. Mas aí, então, eu não seria um servo de Cristo. Eu estaria apenas jogando jogos religiosos com eles.

Algumas vezes as pessoas veem que eu estou correto, e a questão é tão simples e óbvia que elas não podem acreditar que sua teologia ensina algo diferente, e então elas concluem que devem ter sido mal compreendidas, embora a doutrina que afirmam adotar está exatamente da forma como descrevi. Na verdade, elas querem ajustar seu testemunho, mas retendo a designação ou o nome da sua posição. Imagine um cessacionista que percebeu que eu estou correto e que está compelido a concordar comigo em pelo menos algumas questões essenciais, mas deseja continuar se intitulando cessacionista. É absurdo, mas tenho passado por isso diversas vezes. Isso é o que um espírito religioso faz às pessoas. Elas se preocupam mais a respeito de sua religião como cultura e filosofia pessoal do que com a sua adoração e seu conhecimento de Deus.

Eu forneci um relatório preciso do que Jesus disse e uma crítica acurada sobre aqueles que acreditam em algo diferente. Por outro lado, o que eles ensinam acerca de Deus é a maior deturpação de todas. Que piada cruel os cristãos colocam sobre eles mesmos. Mas eles gostam mais disso do que do evangelho que Jesus pregou. Pessoas odeiam a Deus em parte porque “cristãos” como estes tornaram isso possível. E então eles tentam corrigir com apologética e política. Entenda o evangelho corretamente primeiro! E então veja quem ainda o odeia. Agora faça a sua apologética. E por que você fala tanto sobre política, quando você não tem curado o doente e expulsado demônios? Você quer um Jesus diferente? Você ainda está esperando um Messias político (Mateus 11:2-6).

Meu interesse não é que você acredite em algo mau em relação às pessoas, mas que creia em algo bom acerca de Deus. Esqueça as pessoas. Olhe para Jesus e veja o Pai. Claro que não devemos buscar o nosso próprio bem mais do que a glória de Deus e o progresso do evangelho. Contudo, essa não é a questão aqui, e trazê-la nesse contexto sugere que alguém perdeu de vista o ponto do debate. O problema é que uma doutrina falsa pressiona as pessoas a honrarem o sofrimento como algo espiritual e identificarem a dor com a piedade, mesmo quando não tem nada a ver com perseguição por crer e pregar o evangelho.


Jesus Cristo nos liberta desse fardo pesado. Ele nos ensina que, se crermos nele, então poderemos conhecer a Deus como nosso Pai. Ele nos ensina que ir até Deus e falar com ele sobre o que queremos é um exercício santo por meio da fé. Não tenha medo dele te punir por pedir algo, ou dele te dar algo terrível e então força-lo a chamar isso de bom. Ele é o seu Pai. Ele é o libertador, o médico, o fornecedor, o seu tudo. Jesus disse, “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mateus 7:7). Tenha fé em Deus.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2016/06/05/good-gifts-from-the-father/

Traduzido por: Sara Mendonça

Nº 31




SATANÁS CAIU COMO UM RELÂMPAGO
por Vincent Cheung

Os setenta e dois voltaram alegres e disseram: Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nomeEle respondeu: Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago. Eu lhes dei autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada lhes fará dano. Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céusNaquela hora Jesus, exultando no Espírito Santo, disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado – Lucas 10:17-21.

Nunca foi verdade que os apóstolos exerceram uma espécie ou nível de poder sobrenatural fora do alcance dos demais crentes. Isso é um mito inventado por pregadores e teólogos para explicar porque eles não possuem nenhum poder qualquer, e o povo de Deus está bastante satisfeito com isso porque também tranquiliza sua própria consciência.

A maioria destes discípulos não eram apóstolos, mas Jesus os enviou para que pregassem a sua mensagem e curassem os doentes. Eles voltaram e relataram que até os demônios lhes tinham sido submetidos em seu nome. Um homem nem mesmo estava com Jesus, mesmo assim, usou seu nome para expulsar demônios, e o Senhor lhe permitiu continuar (Lucas 9:50). Que direito um líder de igreja possui para criticar os cristãos que fazem isso hoje, os cristãos que seguem Jesus e receberam este legado completo subscrito por profetas e apóstolos? O cessacionismo é um grande dedo no meio da cara de Jesus Cristo.

Sob Jesus Cristo, a despeito daquilo que o mundo e até mesmo a igreja diga, pessoas comuns podem exercer poderes proféticos. Esta foi a razão de Jesus ordenar aos seus discípulos para fazerem milagres, e para ele a derramar seu Espírito sobre eles. Mas os filósofos mundanos e os escribas treinados são incapazes de exercer esse poder. O teólogo se gaba: Tenho ensinado a descrença no seminário por quarenta e cinco anos; e o pregador se regozija: Centenas de membros tiveram seu entusiasmo frustrado debaixo de mim. Eles não deveriam se alegrar por estas realizações.

Quando os discípulos se espalharam para pregar a mensagem e executar as obras de Jesus, Satanás caiu do céu como um relâmpago. Eles desferiram um golpe decisivo sobre seu domínio nos homens e seus negócios influentes. No entanto, Jesus disse que mesmo isso não foi nada para se alegrar, não que isso fosse algo ruim, mas porque, relativamente falando, o ministério de milagres não deve ser um grande assunto, mas sim um aspecto normal do ministério evangélico. A única coisa maravilhosa é que nossos nomes estão inscritos nos céus, mediante a fé em Jesus Cristo.

Todas essas coisas, da autoridade em seu nome à salvação pela fé nele, estavam escondidas daqueles aos quais se era esperado saber mais sobre isso. Pai, assim como Jesus te louvou por isso, nós também te louvamos por isso, porque escondestes essas coisas dos pregadores e dos teólogos que desprezas, os quais decidem ir pela sua própria maneira. Mas as revelastes aos pequeninos, aos ignorantes e aos sem autorização, porque você se delicia em esfregar isso na cara da incredulidade e auto-justiça arrogante dos homens, e daqueles que se consideram a elite da igreja, mas que não possuem um pingo de poder. Isso parece bom para você, e, portanto, parece bom para nós também.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2012/06/07/satan-falls-like-lightning/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Nº 30



DEUS TESTEMUNHOU POR MEIO DE MILAGRES 
por Vincent Cheung

Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? Esta salvação, primeiramente anunciada pelo Senhor, foi-nos confirmada pelos que a ouviram. Deus também deu testemunho dela por meio de sinais, maravilhas, diversos milagres e dons do Espírito Santo distribuídos de acordo com a sua vontade  – Hebreus 2:3,4.

O texto não é principalmente sobre milagres, mas sobre salvação. O escritor exorta-nos a respeitar a mensagem, e a prestar atenção nela. Para enfatizar sua importância, ele enumera três tipos de testemunhos. Em primeiro lugar, essa salvação foi anunciada por Jesus. Em segundo lugar, aqueles que a ouviram também a confirmaram, testemunhando as palavras e as obras do Senhor, incluindo a sua crucificação, ressurreição e ascensão. Em terceiro lugar, o próprio Deus endossou a mensagem por meio de sinais, prodígios e milagres.

Daí surge o estranho argumento cessacionista que, porque Deus autenticou o evangelho por meio de milagres, então, uma vez que tenha sido autenticado, segue-se que os milagres deveriam cessar. Isso é ridículo, até mesmo superficialmente, uma vez que seria como dizer que uma vez que os seguidores de Jesus tenham pregado ou testemunhado a respeito do Senhor, segue-se que eles deveriam parar com a pregação – mais do que isso, segue-se que eles deveriam parar de falar completamente pelo resto de suas vidas. Mas o texto não elimina a possibilidade de existirem outras razões para se falar, ou a possibilidade de que os seguidores de Cristo poderiam continuar falando sobre a verdade do evangelho, ainda hoje. Assim, nós ainda podemos falar ao telefone e pedir o jantar de restaurantes.

Da mesma forma, o fato de que Deus testemunhou sobre o evangelho por meio de milagres não elimina a possibilidade de que existam outras razões para ele trabalhar por meio de milagres, ou a possibilidade de que ele continue apoiando o evangelho por meio de milagres. O argumento cessacionista sustenta que Deus desejou fazer milagres para confirmar novas revelações, assim, se não houver novas revelações não haverá novos milagres. Mas o texto não ensina isso, e não há nada na Bíblia que sugira que Deus não possa ou não faça milagres para continuar confirmando e avançando a revelação que ele entregou há muito tempo. Se ele escolheu fazê-lo é uma questão separada, mas insistir que isso não poderia acontecer é inventar uma doutrina por puro preconceito.

O argumento cessacionista é baseado numa suposição invocada por homens maus para limitar um Santo Deus, devido suas dúvidas e tradições. Isso expõe tanto sua inteligência inferior como seu caráter depravado. Devemos ajustar a nossa estimativa do seu valor como teólogos, crentes e seres humanos, diante do fato que eles distorcem a Bíblia para promover sua falsa doutrina e disfarçar sua incredulidade. Quanto a você: “cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo (Hebreus 3:12).


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2012/05/11/god-testified-by-miracles/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

Nº 29



A QUEIMA DE LIVROS 
por Vincent Cheung

Quando isso se tornou conhecido de todos os judeus e os gregos que viviam em Éfeso, todos eles foram tomados de temor; e o nome do Senhor Jesus era engrandecido. Muitos dos que creram vinham, e confessavam e declaravam abertamente suas más obras. Grande número dos que tinham praticado ocultismo reuniram seus livros e os queimaram publicamente. Calculado o valor total, este chegou a cinquenta mil dracmas. Dessa maneira a palavra do Senhor muito se difundia e se fortalecia”  – Atos 19:17-20.

Não importa o quanto torcemos as Escrituras através de uma abordagem histórico-redentiva, e não importa o quanto tentemos pregar Cristo por toda a Escritura, sempre existirá uma passagem em um contexto definido que nós não conseguiremos escapar. Se as condições em torno do texto estão ausentes em nossos dias, então uma aplicação direta é dificilmente razoável, podendo promover apenas conversações vazias e expectativas frustradas.

Quando se trata da igreja moderna, as coisas não parecem boas. Com exceção de algumas seitas que apresentaram uma teologia problemática e foram vilipendiadas por outras tradições, quase todas as cláusulas que aparecem na nossa passagem foram ignoradas. Os cristãos geralmente não colocam as mãos sobre as pessoas (v.6a), e embora Atos dos Apóstolos registre uma série de exemplos em que o Espírito Santo é recebido como uma segunda experiência após a conversão (v.6b), eles nos dizem que todos esses casos foram exceções, e como exceção de todas as exceções, o Espírito Santo é recebido na conversão. Essa forma de raciocínio é o alicerce de várias das principais doutrinas tradicionais, e é uma maneira muito conveniente de se fazer teologia. Exceto para todos os casos em que, se eu estou errado estou sempre certo. Exceto para todos os casos em que, se a Bíblia diz algo diferente a Bíblia sempre concorda comigo. Maravilhoso.

Aqui, eu não tenho qualquer intenção de discutir esse tópico sobre o Espírito Santo. Neste momento, pouco me importaria se você pudesse até mesmo acreditar que a conversão é uma segunda experiência após o revestimento do Espírito. No entanto, e sempre que os cristãos recebiam isso, eles deveriam ter o poder do Espírito Santo. Não é? Conte-me! Não é? Os cristãos modernos quase não apresentam os sinais de poder, fé, sabedoria e graça que os primeiros discípulos possuíam. Eles não possuem línguas, nem profecia (v.6c). Eles não falam corajosamente (v.8a). Eles não discutem persuasivamente (v.8b). Eles não operam qualquer milagre, muito menos os mais extraordinários (v.11). Eles dependem quase exclusivamente da ciência médica para curar suas doenças (v.12), e alguns deles pensam que todos os espíritos maus desapareceram (v.12). Antes as pessoas estavam possuídas, agora elas estão apenas loucas.

Por isso, é difícil de ensinar essa passagem a fim de que o mesmo efeito possa ser produzido nessa geração, fazendo com que os incrédulos sejam tomados de temor (v.17b), para que o nome do Senhor Jesus seja engrandecido” (v.17c), e obrigue aqueles que nele acreditam a confessar abertamente suas más obras (v.17d). Na verdade, é fácil de ensinar essa passagem se dissermos o que ela diz. Até mesmo uma criança poderia entender. Mas é difícil fazer alguns cristãos acreditarem nela. Em vez disso, temos visto um efeito oposto sobre o mundo: os não-cristãos são tomados de desdém para conosco, e mesmo os cristãos não estão mantendo o nome de Cristo em alta estima.

O resultado é a dificuldade de fazer qualquer aplicação disso tudo, exceto se for para demonstrar como os cristãos modernos são fracos, sem fé, e impotentes. Estou certo de que pregadores desonestos e imaginativos poderiam extrair algum princípio histórico-redentivo nisso, não que a abordagem seja sempre um problema, mas sim que o texto em si é simples  poder miraculoso, numa medida assustadora, acompanhado do testemunho dos primeiros cristãos, foi tanto que as pessoas ficaram apavoradas e o nome de Cristo foi mantido em alta estima. É isso o que texto diz.

No entanto, uma vez que esse poder é agora negado, eu vou fazer o melhor que posso. Deixe-me pensar sobre isso. Aha! Pelo menos ainda sabemos como fazer fogo para queimar alguns livros (v.19). Nós ainda acreditamos no fogo, não é mesmo? O fogo não morreu com os apóstolos. Infelizmente, agora temos poderosos trituradores e um avançado sistema para eliminação de lixo. Ainda assim, consideremos as vantagens da queima de livros não-cristãos:

Primeiro, isso reflete uma desaprovação das religiões não-cristãs, com seus ensinamentos, suas práticas ocultas e todos seus tipos de magia, adivinhação e doutrinas esotéricas. Esses males antigos têm persistido até hoje, e é decepcionante ver o número de cristãos professos que se interessam, ou que se deixam conduzir, pela astrologia, bruxaria, necromancia, e todos os tipos de artes proibidas, ainda que elas sejam derivadas de modo mais ameno. Se você é um pastor, pergunte à sua congregação quantos ali estão consultando paranormais após a profissão de fé. Não peça para que ergam as mãos  a menos que você tenha o poder de Atos 19:4-16, não espere pela honestidade de Atos 19:18. Mas se você prestar atenção, talvez, irá ver alguns deles se contorcerem em seus assentos.

Em segundo lugar, isso retrata o castigo de Deus àqueles que estudam e praticam esses materiais proibidos. Apocalipse 21:8 diz que, juntamente com os incrédulos, idólatras e assassinos, serão lançados no lago de fogo todos aqueles que praticam artes mágicas. Esta cerimônia, onde os materiais não-cristãos são queimados com fogo, fornece uma imagem do que Deus fará com aqueles que não relegam estes às chamas. Ou eles desistem de seus livros para que esses sejam queimados pelo fogo terrestre, ou eles desistem de suas almas para que essas sejam queimadas pelo interminável fogo do inferno.

Em terceiro lugar, isso testemunha nossa concordância com Deus sobre a questão de que não há qualquer bondade ou salvação, mas apenas maldade, engano e blasfêmia, nos ensinamentos não-cristãos, especialmente em seus materiais espirituais e ocultistas, e que aqueles que acreditam e praticam os mesmos merecem ser punidos pelo fogo do inferno, que nunca se enfraquece e nunca se abranda.

Embora muitos de nós rejeitem o antigo poder dos apóstolos e, portanto, não participem dele, todos os pecados e manifestações antigas permanecem conosco. Negamos que poderes ocultos sejam reais, e se as coisas ficarem fora de controle, pedimos aos não-cristãos que nos salvem, prendendo essas pessoas em instituições para doentes mentais. Quando se tratar de coisas realmente assustadoras, vamos deixar os pentecostais lidarem com elas. Vamos deixar que os nossos loucos lidem com seus loucos. Os apóstolos demonstraram uma maneira melhor.

Devido às fortes demonstrações do poder divino, a palavra do Senhor muito se difundia e se fortalecia (v.20). Para aqueles que se dizem cristãos, e contudo rejeitam esse poder, ou pelo menos uma  extensão desse poder, o meu conselho é que você se atreva a pedir mais dele, e depois estenda seus pensamentos para receber um pouco mais. Se você não pode jogar fora a tradição religiosa que o proíbe de obedecer a Cristo, o qual através de Paulo lhe ordenou que desejasse dons e poderes espirituais, então, pela causa da igreja, deseje se afastar o quanto antes para que eles não o chamem de herege. E se você pedir ao Senhor por mais poder e eficácia no ministério do evangelho, pode ser que ele também lhe conceda humildade para dizer, talvez na privacidade de sua casa, quando ninguém estiver escutando: Senhor, eu creio, ajuda-me na minha incredulidade!


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2010/08/02/the-burning-of-books/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

Nº 28



O TRABALHO DO SENHOR DO JEITO DO SENHOR (Part1)
por Francis A. Schaeffer

Por vários anos a faculdade teológica na qual me formei cantou nas formaturas Dá línguas de fogo”. A primeira estrofe diz o seguinte:

De paredes cobertas de hera, acima da cidade
A escola de profetas olha para baixo
E escuta o barulho humano
Do comércio e ruas e lares dos homens;
Como Jesus olhou com profundo anseio
Para Jerusalém, do Monte das Oliveiras,
Ó, Senhor crucificado e ressurreto,
Dá línguas de fogo para pregar tua Palavra

Esta estrofe retrata Jesus em pé no Monte das Oliveiras, dali olhando sobre Jerusalém, clamando por causa de sua perdição. Assim, ao terminarem os alunos os seus estudos na Casa Farel aqui na Suíça, nosso desejo é que olhem para o mundo, fiquem cheios de compaixão, e com línguas de fogo dirijam-se às necessidades do mundo.

Por ser difícil o mundo, enfrentá-lo sem o poder de Deus é uma perspectiva esmagadora. Mas as línguas de fogo não se obtêm simplesmente com um pedido. O Novo Testamento ensina que certas condições precisam existir. Em suma, resumem-se nisso: precisamos fazer o trabalho do Senhor do jeito do Senhor.

O poder de Jesus

Falando com seus discípulos e com a igreja em geral, depois de sua ressurreição e antes de sua ascensão, Jesus disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28:18-20).

Não há fonte de poder para o povo de Deus — para a pregação ou o ensino ou qualquer outra coisa — a não ser o próprio Cristo. Fora de Cristo, qualquer coisa que pareça ser poder espiritual é na realidade poder carnal.

O registro de Lucas das declarações de Jesus anteriores à ascensão tem exatamente a mesma ênfase: “... recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8). A força do grego é “recebereis poder, então sereis minhas testemunhas”. Uma tarefa específica é compreendida: depois do Espírito Santo ter vindo sobre eles, os discípulos deveriam testemunhar.

Embora sejamos habitados imediatamente pelo Espírito Santo quando aceitamos Cristo como Salvador, ser habitado pelo Espírito Santo não é o mesmo que ter a plenitude do seu poder. Os discípulos tiveram de esperar para receber o Espírito no dia de Pentecostes. Os cristãos hoje devem seguir a mesma sequência: serem habitados pelo Espírito Santo quando salvos e conhecerem algo da realidade do poder de Cristo pelo agenciamento do Espírito Santo  e depois trabalharem e testemunharem. A ordem não pode ser invertida. É preciso que haja muitos “enchimentos”.

Fazer o trabalho do Senhor do jeito do Senhor não é uma questão de ser salvo e depois simplesmente trabalhar duramente. Depois que Jesus subiu ao Céu, os discípulos esperaram quietamente em oração pela vinda do Espírito. Seu primeiro movimento não foi em direção ao ativismo — Cristo ressuscitou, agora vamos ficar ocupados. Embora olhassem para o mundo com a compaixão de Cristo, eles obedeceram à ordem bem clara dele, de que aguardassem antes de testemunhar. Se, como cristãos e, portanto, habitados pelo Espírito, devemos pregar à nossa geração com línguas de fogo, nós também precisamos ter algo mais do que um ativismo que o ser humano pode facilmente exibir. Precisamos conhecer algo do poder do Espírito Santo.

Reconhecendo a nossa necessidade

Como recebemos algo do poder do Espírito Santo? Embora haja grandes diferenças entre a justificação e a santificação, quase sempre a podemos aprender facetas importantes da santificação quando consideramos a justificação. Por exemplo, a história do fariseu e do publicano que estava a ponto de ser convertido é instrutiva. Antes de um homem estar pronto para ter Cristo como seu Salvador (com ao menos alguma compreensão daquilo que está dizendo): “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador!” (NVI). Uma pessoa não pode ser um cristão sem primeiro reconhecer sua necessidade de Cristo. E, como cristãos, nós também devemos compreender algo da nossa necessidade de poder espiritual. Se pensarmos que podemos operar por conta própria, se não entendemos a necessidade de um poder além do nosso, nunca vamos começar. Se achamos que o poder de nossa própria habilidade é o suficiente, ficaremos parados.

O ensino sobre o Espírito Santo e sua habitação em nós nunca pode ser unicamente um conceito teológico. Tendo já o conceito apropriado — que somos habitados pelo Espírito Santo ao sermos salvos — precisamos seguir em frente para que a habitação do Espírito possa produzir resultados em nossa vida. Se quisermos línguas de fogo, nosso primeiro passo não é só nos postarmos à beira do caminho, pensando as cogitações teológicas certas. Precisamos ter um genuíno sentimento da necessidade.

Além disso, esse sentimento de necessidade não acontecerá de uma vez por todas. Um cristão nunca pode dizer: “Eu conheci o poder do Espírito Santo ontem, então hoje posso descansar”. Umas das realidades existenciais da vida cristã é estar diante de Deus conscientemente reconhecendo a nossa necessidades.

O publicano ilustra que a justificação requer humilhar-se. Os cristãos precisam se humilhar para conhecer o poder santificador do Espírito Santo. Enquanto não nos humilharmos não haverá o poder do Espírito Santo em nossa vida. O trabalho do Senhor do jeito do Senhor é o trabalho do Senhor no poder do Espírito Santo e não no poder da carne.

O problema central

O problema central de nossa era não é o liberalismo ou o modernismo, não é o velho catolicismo romano nem o novo catolicismo romano, nem mesmo a ameaça de comunismo, nem a ameaça do racionalismo e o consenso monolítico que nos rodeia. Todos esses são perigosos, mas não são a ameaça primária. O problema verdadeiro é este: a igreja do Senhor Jesus Cristo, individualmente ou corporativamente, tendendo a fazer a obra do Senhor no poder da carne em vez de no poder do Espírito. O problema central está sempre no meio do povo de Deus, não nas circunstâncias em volta.

Podemos sentir o que isso significa na prática se examinamos a estátua de Napoleão no Hotel des Invalides em Paris. De pé ali com sua mão dentro do paletó à altura do peito, Napoleão é a personificação do fui eu que fiz. O escultor captou a atitude, atitude do grande homem do mundo, aquele que diz em todos os três tempos: “Eu fiz isso; Eu faço isso; Eu farei isso”. Essa atitude como demonstrada tão bem na estátua personifica a carne.

Em contrate, podemos pensar no próprio Senhor Jesus na quietude do Getsêmani. Ao vermos ali o eterno Filho de Deus, que na Encarnação é agora também verdadeiro homem, e à medida que ouvimos as suas palavras, não percebemos nenhum sinal do egoísmo maciço de Napoleão. Pelo contrário, o Senhor Jesus disse ao Pai: “Não se faça a minha vontade, e sim a tua”. Infelizmente, nós cristãos podemos e muitas vezes tomamos a posição de Napoleão. Mas que grande contraste com o próprio Senhor Jesus!

Dirigidos pelo Espírito

Em Mateus 3 há uma passagem que muitas vezes é usada como texto-prova para a doutrina da Trindade: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus, dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt. 3:16,17).

Esse é um texto clássico sobre a Trindade, mas não deve ser tomado como pura prova da Trindade. A passagem ensina muito mais, especialmente quando a colocamos no contexto maior de alguns versos que a segue: “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt. 4:1). Logo que foi batizado pelo Espírito, Jesus foi guiado por ele. Se Jesus foi assim conduzido pelo Espírito, quanto mais nós precisamos ser! Não devemos reduzir essas passagens apenas a um declaração teológica, ainda que sejam mesmo uma afirmação teológica verdadeira; precisamos agir a partir delas. Depois Jesus, após poucos e curtos anos, vai ao jardim, e depois vai morrer na cruz.

João Batista fez duas predições com respeito a Cristo. Não só disse ele: “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1:29), como afirmou também: “Esse é o que batiza com Espírito Santo” (Jo. 1:33). Essa segunda predição indica que não só Jesus mesmo foi batizado e dirigido pelo Espírito, como também ele nos batiza com o Espírito. Será que nós, quando aceitamos a Cristo como Salvador, somos habitados pelo Espírito Santo? Então a intenção é que conheçamos algo tanto da sua direção como de seu poder.


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Extraído de:
SCHAEFFER, Francis A. Não há gente sem importância. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.57-60.