CESSACIONISMO E O FALAR EM LÍNGUAS
~ 1 ~
Algumas pessoas me chamam de um Neo-Pentecostal Reformado [1]. Lembro de uma pessoa
que me criticou sobre a base que o termo é inapropriado e um oxímoro. Ele
pensava que um Reformado não poderia ser ao mesmo tempo um Neo-Pentecostal, e
um Neo-pentecostal possivelmente não merecia ser chamado de Reformado.
Embora eu concorde que grande parte da minha teologia esteja de
acordo com aqueles que são Reformados, eu não me chamo de Reformado. E embora
eu afirme a continuidade dos dons sobrenaturais do Espírito, eu não me chamo de
Neo-Pentecostal. Essa pessoa tem certo conceito de Reformado, e certo conceito
de Neo-Pentecostal, e esses dois são incompatíveis. Mas por que eu devo ser uma
dessas coisas, ou as duas? A forma como ele pensa sobre esses dois grupos
torna-os incompatíveis, ou pode ser que eles sejam de fato incompatíveis; mas o
que isso tem a ver comigo?
Uma pessoa poderia pensar que um cristão deveria ser Batista ou
Presbiteriano, e se uma pessoa afirma os sacramentos batistas, mas o governo
presbiteriano – ou qualquer coisa que seja supostamente batista, ou outra que
seja supostamente presbiteriana – então ele deve estar errado, simplesmente
sobre a base que, de acordo com ele, essas duas categorias são incompatíveis.
Mas esse é um argumento pobre, e não faz nada para abordar se a doutrina dessa
pessoa é correta ou errada. Contudo, isso nos diz que o entendimento do crítico
sobre o mundo cristão é limitado a um conceito limitado de Batistas e
Presbiterianos. Ele é como um sapo preso no fundo de um poço, cuja ideia dos
céus é tão pequena quanto a abertura por meio da qual ele vê o firmamento.
O mundo cristão é muito amplo. Simplesmente porque uma pessoa crê
na doutrina bíblica da predestinação não significa que ela tenha aprendido isso
de Calvino. Pode ser que tenha aprendido de Agostinho. Ou talvez aprendeu a
mesma de Hodge, Shedd ou Berkhof. Pode ser que tenha aprendido-a de Vincent
Cheung, ou de você, ou do seu pastor. E quanto a isso que direi agora? Pode ser
que ele leu a Bíblia por si mesmo e aprendeu dali! Mas… isso é possível? É
possível que uma pessoa possa ler passagens bíblicas e aprender realmente
doutrinas bíblicas? Quem já ouviu tal coisa? Mesmo que seja possível, ele
é ou não um calvinista? Pode ser que ele tenha aprendido a doutrina de alguém
que você nunca ouviu falar. Ora, seria muito tolo você aplicar suas críticas
sobre Calvino a essa pessoa, como se ele fosse algum discípulo devoto dele,
embora nunca tenha ouvido falar de Calvino.
Assim, embora rótulos e categorias possam tornar a conversa mais
conveniente, eles podem também tornar a pessoa que os usa preguiçosa e
descuidada. Você não pode usar um argumento com rótulos e categorias que o seu
alvo não tenha obrigação de satisfazer. Quando faz isso, você está apenas
mostrando que a sua maneira de entender os termos de alguma forma gera certo
conflito e confusão. Você não está dizendo muito mais que isso. Sem dúvida,
você não pode defender nenhuma coisa ou refutar alguém sobre essa base somente.
Dessa forma, eu advertiria você contra categorizações simplistas
que resultam em representações incorretas. Há aqueles que pensam que se uma
pessoa crê na continuação das manifestações sobrenaturais do Espírito, então
ela deva ser como os Pentecostais – isto é, aqueles pentecostais malucos que
eles conhecem. Não lhe ocorre que essa pessoa poderia ser totalmente diferente
dos Pentecostais, que mesmo sua doutrina sobre os dons espirituais
poderia ser vastamente diferente. E parece não lhe ocorrer que podem existir
Pentecostais em algum lugar que não são malucos. É injusto para um
cessacionista usar os Pentecostais como o padrão, como se uma pessoa devesse
ser como os Pentecostais que ele já viu, ou um cessacionista como ele.
~ 2 ~
Quando diz respeito à continuação dos milagres, quer ocorram a uma
pessoa ou por meio de uma pessoa, a doutrina da soberania de Deus resolve o
assunto. Deus pode fazer tudo o que deseja, e se desejar, ele pode operar um
milagre hoje. Este pode ser um milagre feito a uma pessoa, ou um milagre que
parece ser realizado por meio de um instrumento humano. Deus pode fazer tudo o
que deseja, incluindo milagres. Se uma pessoa questiona isso, ele tem um
problema bem maior do que afirmar o cessacionismo ou não. Sua crença sobre os
aspectos mais básicos sobre Deus é falha. Os cessacionistas não objetam ao
acima. Eles prontamente concordam que Deus pode fazer tudo o que deseja. Se
isso é verdade, então é concebível que eu possa orar por um paciente com
câncer, e se Deus quiser, ele cure a pessoa, e esta fique livre do câncer. Aqui
não estou dizendo que isso acontece todas as vezes, mas somente que é
concebível, dada a doutrina da soberania de Deus.
Todos os que creem em Deus concordam com isso. Contudo, na prática
pouquíssimos creem. Eles dizem que creem na soberania de Deus, mas negam-na por
suas obras, tendo uma forma de doutrina sã e piedade, mas negando o poder dela.
Quão frequentemente os cessacionistas oram a Deus para curar o doente? Não, não
estou me referindo a orações que pedem que Deus guie os médicos. Estou me
referindo a petições que pedem a Deus para curar a pessoa doente. Quão frequentemente
os cessacionistas sequer tentam isso? Se a doutrina deles permite a
possibilidade que Deus poderia curar se desejar, então por que não pedir a ele
para curar? Deus é salvador da alma, mas não do corpo? O braço do Senhor está
muito encolhido, e os seus ouvidos surdos para ouvir?
Você diz: é verdade que Deus pode curar se quiser, mas talvez ele
nunca mais queira curar. Como você sabe isso? Uma coisa é dizer que ele poderia
não desejar curar em algumas ocasiões, mas outra é alegar que ele não mais
deseja curar. Ninguém sabe se ele não quer curar, e não há nenhum
tipo de evidência bíblica, ou de qualquer outro tipo, para mostrar que Deus não
mais deseja realizar milagres.
Os cessacionistas alegam que querem proteger as doutrinas da
suficiência e completude da Escritura. Creio que essa poderia ser uma das
razões deles considerarem necessário afirmar o cessacionismo. Contudo, creio
que essa não é a única razão. Há motivos ocultos por detrás dessa doutrina, tal
como a incredulidade, e o medo que a incredulidade seja exposta caso eles se
aventurem e afundem como Pedro, quando o Senhor o chamou para andar sobre a
água. Teólogos versados não gostam de ser embaraçados. Alguns deles
crucificariam antes a Cristo com suas próprias canetas, apenas para calá-lo, do
que admitir que lutam com a incredulidade. Em todo caso, tem sido mostrado que
a continuação das manifestações sobrenaturais do Espírito não compromete a
suficiência e completude da Escritura [2].
A afirmação da soberania de Deus significa isto: se Deus quiser
fazer uma pessoa falar num idioma que ela nunca aprendeu, ele pode e fará. É
simples assim. Se ele faz isso ou não é uma coisa, mas não deveria haver dúvida
que é possível, mesmo hoje.
Todavia, devemos reconhecer que a questão não é resolvida
afirmando-se a mera doutrina da soberania de Deus, visto que ela tem a ver com
como ele usa essa soberania com relação aos dons espirituais, e o que ele
revelou na Escritura sobre isso. Também, quando diz respeito aos dons
espirituais, estamos nos referindo a um modo particular da manifestação do
poder de Deus, a saber, por meio de instrumentos humanos como dons espirituais.
Assim, é reconhecido que o assunto é complexo, embora permaneça que o
fundamento para a discussão deve ser a soberania de Deus, que ele pode e fará
tudo o que deseja. E em conexão com os dons espirituais, eu direi novamente
que, embora haja muitos versículos na Escritura nos ordenando a usar os dons
espirituais, não existe nenhuma evidência bíblica, ou qualquer outro tipo, que
sequer venha a sugerir que esses tenham cessado.
~ 3 ~
Deixe-me aplicar primeiro meu argumento simples contra o
cessacionismo ao caso do falar em línguas. Paulo escreve: “Não proíbam o falar
em línguas” (1 Coríntios 14.39, NVI). Mas se todos os dons espirituais
cessaram, então as línguas cessaram. E se as línguas cessaram, então todas as
alegações de falar em línguas hoje são falsas. Se todas as alegações de falar
em línguas hoje são falsas, estão devemos proibir o falar em línguas.
Em outras palavras, se o cessacionismo é correto, então estamos obrigados a
fazer exatamente o oposto do que Paulo ordena nesse versículo sobre a base que
a situação mudou, de forma que a mesma preocupação apostólica requereria que
proibíssemos todo o falar em línguas.
Contudo, transformar “Não proíbam o falar em línguas” em
“Sempre proíbam o falar em línguas” requereria um argumento bíblico que
fosse igualmente explícito, ou se este deve vir por dedução ou inferência, que
seja um raciocínio perfeito, infalível, sem qualquer possibilidade de erro ou
lugar para crítica. De outra forma, ninguém tem autoridade para dizer que o
falar em línguas cessou, e ainda menos para proibir o falar em línguas.
Jesus diz: “Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos,
ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado
menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes
mandamentos será chamado grande no Reino dos céus” (Mateus 5.19). Deus me
ordena: “Não matarás”. Se você deseja promover uma doutrina que requeira de mim
mudar isso para, “sempre matarás”, então antes de eu ir para a matança, irei
demandar que você produza um mandamento bíblico direto que substitua o
primeiro, ou um argumento bíblico apoiando o novo mandamento ou obrigação que
seja claro e perfeito, sem qualquer possibilidade de erro ou lugar para
crítica. Se eu percebo sequer a mínima falha ou fraqueza, irei permanecer com o
que é claro e direto, isto é, “não matarás”.
Da mesma forma, se ensino “não proíbam o falar em línguas” e você
ensina “sempre proíbam o falar em línguas” (ou uma doutrina que leve a isso),
então um de nós deve estar errado. Para me mostrar que sou eu quem está em
erro, eu demandaria que você produza um argumento bíblico que seja tão claro,
forte, perfeito e infalível como aquele que diz, “não proíbam o falar em
línguas”.
Francamente, contra essa consideração, eu teria muito receio de
ensinar o cessacionismo. E eu me pergunto como podemos justificar a decisão de
permitir alguém permanecer no ministério, quando esta pessoa continua ensinando
o cessacionismo após ouvir este simples argumento. Se ele não pode respondê-lo
– se não pode produzir um argumento infalível para o cessacionismo – mas
continua a ensinar a doutrina, isso pode significar apenas que ele
conscientemente promove rebelião contra o Senhor. Que direito temos,
então, de nos refrear de removê-lo do ministério? Eu tenho autoridade para proteger
tal pessoa da disciplina da igreja? Mas eu não sou mais forte que o Senhor.
Nessas circunstâncias, o cessacionismo não é uma doutrina sobre a qual
argumentar, mas um pecado do qual se arrepender. Os cristãos deveriam não
somente evitar o cessacionismo, mas deveriam temer afirmá-lo, pois equivale a
um desafio direto e deliberado aos mandamentos de Deus.
Você pode dizer: “Tudo bem dizer que não devemos proibir falar em
línguas, mas devemos proibir a falsificação”. Como isso é relevante neste
ponto? Se na tentativa de se opor à falsificação, você se opõe a todas as
alegações de falar em línguas como uma questão de princípio, então você volta a
desafiar o mandamento de Paulo novamente. Se você admite que não devemos
proibir falar em línguas, mas devemos julgar cada caso por seu próprio mérito,
eu concordaria contigo, mas então você não mais seria um cessacionista.
Agora que mencionamos a possibilidade da falsificação, a discussão
finalmente chega à natureza das línguas. Atos 2 nos diz que o Espírito Santo
capacitou os discípulos a falar em idiomas que eles nunca aprenderam. Esses
eram idiomas humanos conhecidos e reconhecidos pelos estrangeiros que estavam
presentes. Algumas vezes é suposto que foi um milagre de audição, mas os
estrangeiros ouviram os discípulos falar em seus próprios idiomas porque os
discípulos estavam falando no idiomas deles. A Escritura declara que
eles falaram o que o Espírito lhes deu. Ela não diz que o Espírito alterou a
audição da audiência. O falar em línguas em 1 Coríntios 12-14 é o mesmo tipo de
manifestação que aquela em Atos 2. Não há razão para pensar de outra forma.
Visto que as expressões consistiam de idiomas humanos, como
demonstrado em Atos 2 e também indicado em 1 Coríntios 13.1, há certas
características que deveríamos esperar. Um idioma humano inclui um vocabulário
substancial, ou palavras, que formam sentenças. Em linguagem ordinária,
sentenças são marcadas por pausas e inflexões, que frequentemente determinam o
significado preciso dessas sentenças. Por exemplo, uma inflexão poderia mudar o
que seria entendido como uma declaração de fato numa pergunta. Dessa forma,
“você irá à igreja hoje”, muda para “você irá à igreja hoje?”. Uma inflexão
poderia também tornar uma declaração ordinária numa exclamação, ou mesmo numa
acusação. Há muitas outras coisas que podemos mencionar sobre as
características dos idiomas humanos, mas o ponto é que elas exibem traços e
padrões complexos que são discerníveis.
Menciono isso para dizer o seguinte: Julgando a partir da minha
experiência admitidamente limitada, a maioria das pessoas que falam em línguas
provavelmente não falam em idiomas reais. Sem dúvida, minha experiência não
reflete o número total daqueles que alegam falar em línguas. A alegação é que a
maioria daqueles que tenho ouvido provavelmente não falam em idiomas humanos, e
há provavelmente muitos outros como eles. Quando eles supostamente falam em
línguas, seus sons não exibem a variedade e complexidade esperada em idiomas
humanos reais. Eles com muita frequencia repetem somente uma, algumas vezes
duas ou três sílabas em rápida sucessão, como “da-da-da-da-da-da-da”, or “wa-ka-la-ka-wa-ka-la-ka-wa-ka-la-ka-wa-ka-la-ka”,
ou “moshimoshimoshimoshimoshi”.
Há três possíveis explicações para isso:
Primeiro, eles podem estar falando em código Morse, ou algo parecido.
Contudo, mesmo o código Morse deve diferenciar seus sinais por padrões e
pausas. Mas quando uma pessoa repete a mesma sílaba sessenta vezes sem nenhuma
pausa, e após tomar fôlego, repete a mesma sílaba outras quarenta vezes, é
difícil crer que ele esteja comunicando alguma mensagem que tenha significado.
Alguém pode também objetar que supõem-se que o falar em línguas refira-se a um
idioma humano ordinário, mas isso não pode resolver a questão, visto que o
código Morse ou algo parecido pode se qualificar de modo concebível.
Segundo, é suposto que alguns deles poderiam estar falando no
idioma dos anjos, que não poderia exibir as mesmas características que os
idiomas dos homens. Contudo, mesmo que 1 Coríntios 13.1 de fato conceda a
possibilidade que alguém poderia falar no idioma dos anjos, as mesmas
preocupações com respeito ao código Morse se aplicam. Deve haver padrões
discerníveis para diferenciar entre os sinais para que haja um idioma, pelo
menos quando este é falado por meio de homens. E se o idioma dos anjos não pode
ser falado por meio de homens de uma forma que haja padrões
discerníveis, então eles não estão na realidade falando no idioma dos anjos,
visto que aparentemente este idioma não pode ser falado por meios dos homens de
forma alguma.
Terceiro, e parece ser o mais provável, aqueles que falam sem
qualquer padrão discernível não estão falando em idiomas humanos, e não estão
falando em línguas de forma alguma. Não estou dizendo que não existe nenhum
falar em línguas genuíno hoje. Tenho afirmado com muita força que a
manifestação continua de acordo com a vontade de Deus. Mas se aqueles que falam
em línguas desejam exercer o dom genuíno, e se desejam ser levados à sério,
eles devem satisfazer o padrão. Qualquer coisa menor que um código Morse é
inaceitável, pois não seria idioma de forma alguma. E devemos acreditar que
todas ou a maioria das pessoas que falam em línguas o fazem em código? Não,
pois as línguas genuínas serão idiomas humanos, e soarão como idiomas humanos.
Deveríamos suspeitar de qualquer pretensa manifestação de falar em línguas que
careça de qualquer padrão ou complexidade discernível.
Um fator que tem contribuído para as ocorrências predominantes de
línguas falsas é a negligência do fato que o falar em línguas é uma manifestação
do Espírito – é algo que o Espírito impele a sair. Portanto, não é algo que um
homem pode ensinar a outro. Os Pentecostais algumas vezes ensinam os novatos:
“Apenas comece a falar. Diga, ‘da-da-da-da-ka-ka-sha-la-la… aí esta´! Você
recebeu!” Não, nenhum deles tem coisa alguma. O dom é uma manifestação do
Espírito, e quando aparece, há uma qualidade celestial, uma inteligência
evidente por detrás dele. Não é algo que possa ser ensinado, praticado ou
reforçado pela carne.
~ 4 ~
Recentemente, ouvi um sermão sobre a abordagem bíblica ao
crescimento da igreja por John MacArthur. Ele insistiu que os métodos de
crescimento de igreja que são baseados em teorias de negócio e marketing são
perversos e destrutivos. Antes, ele propôs que os cristãos deveriam retornar a
Atos dos Apóstolos, visto que ali o método modelado pelos primeiros discípulos
é apresentado. Ele não se referia a algum modelo do Novo Testamento num sentido
geral, mas foi inflexível que devemos seguir o Livro de Atos.
Então, no curso do sermão, ele ofereceu cinco princípios que tinha
derivado: A igreja primitiva tinha 1) Uma mensagem transcendente, 2) Uma
congregação regenerada, 3) Uma perseverança resoluta, 4) Uma pureza evidente, e
5) Uma liderança qualificada. Contudo, qualquer expositor honesto deveria ter
adicionado, 6) Um ministério de falar em línguas, curar coxos, ressuscitar
mortos, expelir demônios, destruir mentirosos, romper prisões, sacudir casas,
amaldiçoar feiticeiros, ter visões, predizer o futuro e realizar milagres. Todas
essas coisas são registradas no Livro de Atos, não são?
Sem dúvida, eu não esperava que MacArthur se embaraçasse com a
verdade. Sabendo que ele é um cessacionista extremo, esperava uma menção desse
item antes de rejeitá-lo, mas nada foi dito. Ele nem mesmo o mencionou. Mas eu
pensei que deveríamos retornar ao padrão no Livro de Atos. Qual Livro de Atos
ele estava lendo? Esse é o campeão da pregação expositiva que tantos cristãos
adoram? Mas eu pensei que a pregação expositiva compeliria o pregador a abordar
tópicos com os quais ele não se sente confortável, e apresentar o que ele
poderia achar difícil de aceitar. O que aconteceu com isso?
Eu vou lhe dizer qual é o padrão no Livro de Atos – é o padrão de
não permitir que a desonestidade e o preconceito obscureçam os ensinos claros
da palavra de Deus. Se nos forçássemos a ser caridosos sem justificação,
poderíamos dizer que MacArthur evitou a questão para economizar tempo de
mencionar algo no qual ele não crê. Mas ele violou, no mínimo superficialmente,
seu próprio padrão de pregar a Palavra de Deus como ela está escrita. É muito
difícil, se não impossível, excusar alguém de mencionar os milagres quando ele
mesmo, com tanto zelo e indignação, repreende a igreja por falhar em seguir o
padrão no Livro de Atos.
Jesus disse que receberíamos poder quando o Espírito Santo viesse
sobre nós. Assim, onde está o poder? Você que não acredita na continuação dos
dons sobrenaturais: Você diz que tem o Espírito, que todos os crentes têm o
Espírito, mas onde está o poder? Seu hipócrita – você finge ter isso
redefinindo o conceito. E você que crê na continuação dos dons sobrenaturais:
Você alega ter o Espírito, mas onde está o poder? Seu hipócrita – você insulta
o Espírito implementando um padrão baixo, de forma que as falsidades e os
excessos são numerados juntamente com o que é genuíno, se é que há
manifestações de fato genuínas entre vocês. Quando Elias desafiou os falsos
profetas, ele não tornou isso fácil para si mesmo ou para o Senhor. Ele não
derramou gasolina nos sacrifícios, mas derramou muita água. Ele era da opinião
que se Deus não fizesse isso, então que não fosse feito, mas se Deus fizesse,
então que não houvesse dúvida que foi um milagre do Senhor, e não dos esquemas
e artimanhas dos homens.
Vocês dois dizem que têm o Espírito, mas quando os discípulos
foram cheios com o Espírito no Livro de Atos, houveram tamanhas manifestações
de poder que fizeram os incrédulos tremer. Onde está o poder? É verdade que uma
demonstração de poder divino nem sempre equivale a milagres, mas existe alguma
manifestação de poder entre vocês? Qualquer uma que seja? Onde está a
autoridade divina em sua pregação? Onde está a sabedoria divina em seu
conselho? Onde está a ousadia divina em suas ações? Você tem seus métodos
expositivos, seus diplomas de seminário, suas ensaios de ordenação, e os livros
deste ou daquele teólogo em sua biblioteca. Mas você não tem o poder.
Existem aqueles que pensam que o meu ministério não tem valor. Eu
não me dirigirei a eles agora. Mas se você vê qualquer fé, sabedoria, poder,
vida, zelo, ousadia, qualquer autoridade de outro mundo em mim, então que seja
conhecido que isto vem do Espírito de Deus. Ele me salvou e me deu um santo
chamado, até mesmo a obra do ministério. E ele me deu o seu Espírito Santo, para
que eu pudesse ser capacitado a viver esta nova vida, em verdade e santidade, e
para realizar as obras que ele preordenou para que eu fizesse. Não estou
dizendo tudo isso simplesmente porque penso que deveria, mas estou bem
consciente do poder do Espírito pelo qual eu penso e trabalho, e a diferença
que ele faz. Eu posso lhe dizer o que ele faz por mim, e o que sou incapaz de
fazer sem ele.
Esta é a herança de todo cristão, e o equipamento necessário de
todo ministro do evangelho. Deus não nos deu um espírito de fraqueza, mas um
espírito de poder – poder para perceber, crer, declarar, suportar e poder para
confrontar e destruir o cinismo e a incredulidade.
Notas do tradutor:
[1] Coloquei em maiúsculo a palavra
“Neo-Pentecostal” porque ela é usada num sentido que se refere a um tipo ou
grupo de pessoas comumente associados com a crença na continuação dos dons
sobrenaturais do Espírito. Ele é mais que um termo muito amplo, referindo-se a
qualquer um que creia na continuação dos dons sem outras suposições atribuídas
a tal pessoa. Embora eu reconheça as diferenças entre Pentecostais e
Neo-Pentecostais, visto que este artigo não aborda essas diferenças, usarei os
dois termos como se fossem intercambiáveis, focando-me apenas em sua
similaridade em afirmar a continuidade dos dons sobrenaturais do Espírito.
[2] Veja Don Codling, Sola Scriptura and the
Revelatory Gifts.
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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2009/03/22/cessationism-and-speaking-in-tongues/
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto