segunda-feira, 28 de março de 2016

Nº 10



O DOADOR E SEUS DONS
por Vincent Cheung

Você já ouviu isso ser dito: “Deseje o doador, e não seus dons”. Eu nunca fui capaz de dizer isso, e gostaria de saber onde estão todos esses semideuses que se podem dar ao luxo de dispensar os dons de Deus, e que pensam ter a opção de fazer essa declaração. Este slogan popular pretende implicar no legítimo ponto de que devemos desejar Deus para seu próprio benefício, e não apenas ou principalmente por causa daquilo que ele pode fazer por nós. Esta é uma lição valiosa, uma vez que Deus é realmente um fim em si mesmo. Ele não é uma ferramenta para nós usarmos, ou um trampolim para nós chegarmos a algo maior, pois não há nada maior. No entanto, esse slogan falha em afirmar esse ponto diretamente, e após isso, ele percorre além disso para afirmar algo que é perigoso e sacrílego.

Se não levarmos a sério as palavras, então, qualquer afirmação poderá ser considerada aceitável ou inaceitável, uma vez que não haverá sentido. Mas se levarmos a sério as palavras, então, o “não” no slogan deverá significar algo, e não deverá significar outras coisas. Ele não diz, “Deseje o doador e os dons”, ou “Deseje o doador mais do que os dons”, ou algo mais elaborado como “Deseje o Doador, estabeleça uma comunhão com ele e, dentro desse contexto, deseje os seus dons para o seu próprio benefício e para o bem do seu Reino” (esse último seria a minha posição). Em vez disso, o slogan diz: “Deseje o Doador, e não os dons”. Às vezes as pessoas percebem que isso não está certo e usam uma das outras formas, mas nosso interesse agora é sobre essa forma onde um “não” é aplicado aos dons.

Há duas considerações que revelam os problemas. Em primeiro lugar, dadas as alternativas, para se usar um “não” na demonstração seria necessário ou sugerir uma rejeição dos dons de Deus ou uma indiferença em relação a eles. Se houver algum desejo deles, então o termo correto seria “mais do que” em vez de “não”. Segundo, embora a palavra “dons” possa ter diferentes significados para cristãos de diferentes tradições, a realidade é que esses dons não são apenas coisas que precisamos para nos destacarmos na vida e no ministério, mas também são coisas que precisamos para sobreviver - até mesmo o ar e a chuva são dons de Deus. Isto é especialmente verdade para os cristãos, que supostamente deveriam possuir a percepção de que todas as coisas boas vêm de Deus, e que deveriam ser encorajados na fé até mesmo por coisas naturalmente benevolentes como comida e água, enquanto os réprobos são endurecidos por elas.

Dito isso, há pelo menos quatro problemas com o slogan.

Primeiro, ele é completamente detestável. Imagine que você esteja segurando um presente para seu filho, e ele lhe diga: "Eu quero que você, e não o seu presente!” Você pensaria: “Sim, e eu estou aqui, dando-lhe o presente. Pegue isso, seu pirralho!”

Em segundo lugar, ela reflete uma atitude orgulhosa e alto-suficiente. Às vezes, quando você sai para comer com um amigo, e você vai pagar sua própria refeição, ele acaba pagando pela sua. Você deseja uma comunhão com ele, não uma refeição grátis. Mas você acha que pode pagar sua própria conta com Deus? A declaração fala como se podemos ter comunhão com ele em pé de igualdade. Novamente, eu admito que isso provavelmente não é a intenção da declaração, mas a palavra “não” torna essa implicação algo difícil de evitar.

Em terceiro lugar, denuncia uma falta de amor por Deus ou tragicamente uma falsa percepção em relação a seus dons.

Quando minha esposa e eu nos conhecemos e decidimos nos casar, estávamos frequentando o ensino médio em diferentes países. (Não nos casamos até que nos formarmos na faculdade, que também era em diferentes locais). Nesse tempos o e-mail não era tão popular e telefonemas eram muito caros. Por isso, escrevíamos muitas cartas um para o outro. Demorava até dez dias para uma carta viajar de um local para o outro. Era pura agonia. Eu esperaria por cada carta com um coração ardente e a abria com as mãos trêmulas. Então, eu cuidadosamente dobrava-a a distância e escrevia uma resposta. Ah, como eu desejava a próxima carta! Até hoje ainda temos as cartas que enviamos um para o outro, juntamente com os envelopes originais. Começamos a usar o e-mail quando estávamos na faculdade, e eu sempre, desde esse dia, salvei todos que ela me enviou, não importando quão trivial fosse.

Porque você acha que eu fiz isso? Você acha que eu fiz isso porque eu sou apaixonado por cartas e e-mails? Se assim for, isso me diz que você não sabe nada sobre amor. Não, eu me comportei dessa maneira porque eu sou apaixonado por ela! Eu sou apaixonado por ela. E eu valorizo as coisas que ela me dá porque elas vêm dela. Eu certamente não penso mais nas cartas do que nela. E num incêndio, eu certamente não iria resgatar as cartas e deixá-la perecer. Isso seria absurdo. Sem dúvida, gostaria de resgatá-la e deixaria as cartas queimarem. Não é uma prioridade, mas não há nenhuma dicotomia.

Se o amor entre um homem e uma mulher é um reflexo do amor entre Cristo e a Igreja, se Deus é meu Pai e Cristo é o meu primeiro amor, e o Espírito Santo é a fonte e a causa até mesmo do amor que tenho para com a minha esposa, então quanto mais eu deveria agonizar receber dele! Assim como seria antinatural impor uma dicotomia entre a minha esposa e os seus presentes, seria antinatural impor algo entre Deus e todas as coisas da vida, quer estejamos nos referindo a alimentos e água, aos amigos, a saúde ou ao poder do Espírito para o ministério. A razão de você achar que “não” precisa desejar comida e água é porque você não vê Deus como seu acesso a comida e água. A razão pela qual você acha que “não” precisa desejar os dons espirituais, ainda que você sinta o fardo do ministério, é porque você acha que eles são opcionais. Você acha que você é forte e rico. Você não está desesperado.

Eu era um mendigo, e Deus me fez um príncipe em Cristo. Mas o meu status depende da minha contínua associação com ele; isto é, dentro de mim eu sempre permanecerei um mendigo. Como ele disse: “Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (João 15:4-7). Ele não disse: “Permanecei em mim e não peçam mais nada”, mas sim “Permanecei em mim e peçam o que quiser”.

Em quarto lugar, e isso resulta do texto acima, esse slogan popular introduz culpa antibíblica, limitações desnecessárias e autoexame desordenado na vida espiritual do cristão, minando sua fé na oração e seu poder no ministério. Ele o convence a ficar desconfiado de seus próprios motivos por causa de um princípio que é contrário à Escritura. Ele liga sua consciência à uma mentira.

Louvado seja Deus, a Sua Palavra nos liberta para desejarmos dele os seus dons, e sermos gratos por eles. Eu desejo Deus e todos os seus dons. Eu quero tudo, e mais do que tudo. E quanto mais eu o amo e conheço, quanto mais eu testemunho da sua majestade e grandeza, quanto mais me torno consciente da minha necessidade dos seus dons, mais eu cresço em meu desejo por eles. Mas quando isso acontece dessa forma, tal desejo é desenvolvido dentro de um contexto de comunhão com ele. Não existe um “não”, sem dicotomia.

Assim, eu me recuso a deixar que as pessoas me enganem, para que rejeite o que Deus está tão ansioso para me dar e que estou tão desesperado para receber. Jesus disse: “Buscai primeiro o Reino, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Ele não falou contra a preocupação, o que seria contrário a Deus e contrário a fé, apenas foi estabelecida a prioridade certa. Mas quando ele ensinou seus discípulos a orarem – ou seja, no contexto da fé e da comunhão com Deus – ele disse para pedirem o seu pão de cada dia.

Precisamos dos dons de Deus para viver neste mundo e, especialmente, para termos sucesso no trabalho do evangelho. Se nos preocupamos apenas com os dons, então nós somos como os não-cristãos, e seria estranho até mesmo entendê-los como “dons”. Mas se temos comunhão com Deus, então também devemos ter a percepção correta sobre seus dons, e desejá-los com toda a fé e entusiasmo, sem falsa piedade, e sem culpa e vergonha. O Senhor nos disse para pedir e receber, para que a nossa alegria seja completa.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2010/09/29/the-giver-and-his-gifts/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

sábado, 26 de março de 2016

Nº 09



O CAMINHO DO AMOR 
por Vincent Cheung

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” – 1 Coríntios 13:1-12

Da mesma forma que 1 Coríntios 12:12-26 não está falando principalmente sobre biologia mas de dons espirituais, embora seja verdade o que a passagem diz sobre biologia, 1 Coríntios 13 não é principalmente sobre amor, uma vez que Paulo ainda está falando sobre dons espirituais, embora o que ele diga sobre o amor seja verdadeiro e possa ser aplicado além do presente contexto. No entanto, se o amor se torna o principal ou mesmo o foco exclusivo, então vamos perder o que o apóstolo nos diz sobre o amor e os dons espirituais. Ele não se refere a um amor que é sem os dons, uma vez que ele está falando sobre o amor no contexto do uso correto dos dons.

Assim, poderia até ser enganoso chamar isso de “o capítulo do amor”, uma vez que seria mais apropriado “sobre os dons espirituais, seção 3". O costume de se dar ao amor o principal ou o foco exclusivo ao ler essa passagem tem incentivado a falsa noção de que o amor é uma alternativa para os dons espirituais, ou uma alternativa superior para aqueles. Isso perde o ponto de Paulo. Ele precede esta passagem dizendo: “Mas procurai com zelo os maiores dons. E agora vou lhes mostrar um caminho mais excelente”. Ele não quer dizer que o amor é mais excelente do que os dons, ou que o amor em si é um dom maior, pois nesse contexto o amor não é sobretudo um dom espiritual. Ele segue imediatamente a seção com: “Sigam o caminho do amor e procurai com zelo os dons espirituais, principalmente o dom de profecia”. Mesmo depois que ele introduziu este “caminho mais excelente”, ele não diz para seguir o amor em vez de desejar os dons espirituais, mas seguir o amor e desejar os dons.

O contexto é o desejar dos dons espirituais, ou o motivo adequado para a sua operação. Assim, o “caminho mais excelente” não se refere a um dom superior ou algo que é superior aos dons, mas sim a uma motivação superior do que mero desejo dos dons. O amor é o caminho mais excelente para orientar o pensamento de uma pessoa sobre os dons, sobre quais ela deve desejar, e sobre como ela deve usá-los. Em vez de pensar sobre quais dons que melhor exaltam seu orgulho ou promovem seu status, agora ela está pensando sobre quais dons serão mais benéficos à igreja, quais dons irão ajudar mais os outros cristãos em sua fé, e quais dons serão melhores para expressar a grandeza de Deus aos incrédulos. Em muitas situações, a profecia é um dom que parece beneficiar a maioria das pessoas ao mesmo tempo na forma mais importante, já que “todo aquele que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e conforto”. Desse modo, “procurai com zelo os dons espirituais, especialmente o dom de profecia”.

Os versículos 1-3 não desvalorizam os dons espirituais, mas desvalorizam a pessoa que os usa sem amor. Os versículos são frequentemente apresentados como se Paulo pensasse que, a parte do amor, os dons seriam ineficazes. Novamente, isso perde o ponto. Se Paulo falasse em línguas sem amor, ele seria apenas um sino que tine, mas ele ainda falaria nas línguas dos homens e dos anjos. Ele nunca disse que não poderia fazer isso sem amor. Se ele profetizasse sem amor, então, ele disse que “nada seria” – a pessoa não é nada; mas, ainda assim, ele poderia ter “todos os mistérios e toda a ciência” – o dom nunca é nada. Se ele tivesse o dom da fé sem amor, então, novamente, “nada seria”, mas a montanha ainda seria movida. Se ele oferecesse tudo o que tem aos pobres sem amor, então, ele diz: “nada disso me aproveitaria”, mas os pobres ainda receberiam.

Os versículos 4-7 devem ser aplicados, em primeiro lugar, ao uso de dons. Paulo escreve: O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não é orgulhoso. Não é rude, não é egoísta, e assim por diante. Isso tem como alvo a maneira egoísta e divisionista em que poderiam ser utilizados os dons. Se uma pessoa está cheia de orgulho por causa do seu dom e menospreza outras pessoas, então ela não seria nada. Em vez de nós o admirarmos como ele deseja, ele deveria ser considerado um ninguém. E se uma pessoa aspira um lugar mais proeminente na igreja não para que ele possa fortalecer a congregação e ajudar mais pessoas, mas porque ele deseja receber atenção e aplauso, então ele não é nada, embora ele não é necessariamente ineficaz no que ele faz.

Embora o amor seja apresentado como a mais excelente base para os dons espirituais ele não uma alternativa para eles, na verdade, irá durar mais que todos eles. Profecia, línguas, milagres, cura, e assim por diante, irão cessar. A profecia é mencionada como imperfeita, não porque o dom em si seja defeituoso, mas porque oferece um conhecimento incompleto. Assim, “quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá”. Paulo não deixa o tempo da “perfeição” em dúvida. Ele escreve: “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido”. Quando a perfeição vier, haverá um conhecimento “face a face”. Quando a perfeição vier, vamos conhecer plenamente, assim como nós somos totalmente conhecidos. Isso não será um conhecimento potencial, como o conhecimento que é revelado mas não completamente assimilado, mas sim um conhecimento real, pelo qual podemos saber assim como somos totalmente conhecidos. Quando isso acontecer, os dons cessarão, e não vamos sentir a falta deles, pois nada nos faltará.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2011/01/14/the-way-of-love/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Nº 08



CESSACIONISMO E O FALAR EM LÍNGUAS 
por Vincent Cheung

~ 1 ~

Algumas pessoas me chamam de um Neo-Pentecostal Reformado [1]. Lembro de uma pessoa que me criticou sobre a base que o termo é inapropriado e um oxímoro. Ele pensava que um Reformado não poderia ser ao mesmo tempo um Neo-Pentecostal, e um Neo-pentecostal possivelmente não merecia ser chamado de Reformado.

Embora eu concorde que grande parte da minha teologia esteja de acordo com aqueles que são Reformados, eu não me chamo de Reformado. E embora eu afirme a continuidade dos dons sobrenaturais do Espírito, eu não me chamo de Neo-Pentecostal. Essa pessoa tem certo conceito de Reformado, e certo conceito de Neo-Pentecostal, e esses dois são incompatíveis. Mas por que eu devo ser uma dessas coisas, ou as duas? A forma como ele pensa sobre esses dois grupos torna-os incompatíveis, ou pode ser que eles sejam de fato incompatíveis; mas o que isso tem a ver comigo?

Uma pessoa poderia pensar que um cristão deveria ser Batista ou Presbiteriano, e se uma pessoa afirma os sacramentos batistas, mas o governo presbiteriano – ou qualquer coisa que seja supostamente batista, ou outra que seja supostamente presbiteriana – então ele deve estar errado, simplesmente sobre a base que, de acordo com ele, essas duas categorias são incompatíveis. Mas esse é um argumento pobre, e não faz nada para abordar se a doutrina dessa pessoa é correta ou errada. Contudo, isso nos diz que o entendimento do crítico sobre o mundo cristão é limitado a um conceito limitado de Batistas e Presbiterianos. Ele é como um sapo preso no fundo de um poço, cuja ideia dos céus é tão pequena quanto a abertura por meio da qual ele vê o firmamento.

O mundo cristão é muito amplo. Simplesmente porque uma pessoa crê na doutrina bíblica da predestinação não significa que ela tenha aprendido isso de Calvino. Pode ser que tenha aprendido de Agostinho. Ou talvez aprendeu a mesma de Hodge, Shedd ou Berkhof. Pode ser que tenha aprendido-a de Vincent Cheung, ou de você, ou do seu pastor. E quanto a isso que direi agora? Pode ser que ele leu a Bíblia por si mesmo e aprendeu dali! Mas… isso é possível? É possível que uma pessoa possa ler passagens bíblicas e aprender realmente doutrinas bíblicas? Quem já ouviu tal coisa?  Mesmo que seja possível, ele é ou não um calvinista? Pode ser que ele tenha aprendido a doutrina de alguém que você nunca ouviu falar. Ora, seria muito tolo você aplicar suas críticas sobre Calvino a essa pessoa, como se ele fosse algum discípulo devoto dele, embora nunca tenha ouvido falar de Calvino.

Assim, embora rótulos e categorias possam tornar a conversa mais conveniente, eles podem também tornar a pessoa que os usa preguiçosa e descuidada. Você não pode usar um argumento com rótulos e categorias que o seu alvo não tenha obrigação de satisfazer. Quando faz isso, você está apenas mostrando que a sua maneira de entender os termos de alguma forma gera certo conflito e confusão. Você não está dizendo muito mais que isso. Sem dúvida, você não pode defender nenhuma coisa ou refutar alguém sobre essa base somente.

Dessa forma, eu advertiria você contra categorizações simplistas que resultam em representações incorretas. Há aqueles que pensam que se uma pessoa crê na continuação das manifestações sobrenaturais do Espírito, então ela deva ser como os Pentecostais – isto é, aqueles pentecostais malucos que eles conhecem. Não lhe ocorre que essa pessoa poderia ser totalmente diferente dos  Pentecostais, que mesmo sua doutrina sobre os dons espirituais poderia ser vastamente diferente. E parece não lhe ocorrer que podem existir Pentecostais em algum lugar que não são malucos. É injusto para um cessacionista usar os Pentecostais como o padrão, como se uma pessoa devesse ser como os Pentecostais que ele já viu, ou um cessacionista como ele.


~ 2 ~

Quando diz respeito à continuação dos milagres, quer ocorram a uma pessoa ou por meio de uma pessoa, a doutrina da soberania de Deus resolve o assunto. Deus pode fazer tudo o que deseja, e se desejar, ele pode operar um milagre hoje. Este pode ser um milagre feito a uma pessoa, ou um milagre que parece ser realizado por meio de um instrumento humano. Deus pode fazer tudo o que deseja, incluindo milagres. Se uma pessoa questiona isso, ele tem um problema bem maior do que afirmar o cessacionismo ou não. Sua crença sobre os aspectos mais básicos sobre Deus é falha. Os cessacionistas não objetam ao acima. Eles prontamente concordam que Deus pode fazer tudo o que deseja. Se isso é verdade, então é concebível que eu possa orar por um paciente com câncer, e se Deus quiser, ele cure a pessoa, e esta fique livre do câncer. Aqui não estou dizendo que isso acontece todas as vezes, mas somente que é concebível, dada a doutrina da soberania de Deus.

Todos os que creem em Deus concordam com isso. Contudo, na prática pouquíssimos creem. Eles dizem que creem na soberania de Deus, mas negam-na por suas obras, tendo uma forma de doutrina sã e piedade, mas negando o poder dela. Quão frequentemente os cessacionistas oram a Deus para curar o doente? Não, não estou me referindo a orações que pedem que Deus guie os médicos. Estou me referindo a petições que pedem a Deus para curar a pessoa doente. Quão frequentemente os cessacionistas sequer tentam isso? Se a doutrina deles permite a possibilidade que Deus poderia curar se desejar, então por que não pedir a ele para curar? Deus é salvador da alma, mas não do corpo? O braço do Senhor está muito encolhido, e os seus ouvidos surdos para ouvir?

Você diz: é verdade que Deus pode curar se quiser, mas talvez ele nunca mais queira curar. Como você sabe isso? Uma coisa é dizer que ele poderia não desejar curar em algumas ocasiões, mas outra é alegar que ele não mais deseja curar. Ninguém sabe se ele não quer curar, e não há nenhum tipo de evidência bíblica, ou de qualquer outro tipo, para mostrar que Deus não mais deseja realizar milagres.

Os cessacionistas alegam que querem proteger as doutrinas da suficiência e completude da Escritura. Creio que essa poderia ser uma das razões deles considerarem necessário afirmar o cessacionismo. Contudo, creio que essa não é a única razão. Há motivos ocultos por detrás dessa doutrina, tal como a incredulidade, e o medo que a incredulidade seja exposta caso eles se aventurem e afundem como Pedro, quando o Senhor o chamou para andar sobre a água. Teólogos versados não gostam de ser embaraçados. Alguns deles crucificariam antes a Cristo com suas próprias canetas, apenas para calá-lo, do que admitir que lutam com a incredulidade. Em todo caso, tem sido mostrado que a continuação das manifestações sobrenaturais do Espírito não compromete a suficiência e completude da Escritura [2].

A afirmação da soberania de Deus significa isto: se Deus quiser fazer uma pessoa falar num idioma que ela nunca aprendeu, ele pode e fará. É simples assim. Se ele faz isso ou não é uma coisa, mas não deveria haver dúvida que é possível, mesmo hoje.

Todavia, devemos reconhecer que a questão não é resolvida afirmando-se a mera doutrina da soberania de Deus, visto que ela tem a ver com como ele usa essa soberania com relação aos dons espirituais, e o que ele revelou na Escritura sobre isso. Também, quando diz respeito aos dons espirituais, estamos nos referindo a um modo particular da manifestação do poder de Deus, a saber, por meio de instrumentos humanos como dons espirituais. Assim, é reconhecido que o assunto é complexo, embora permaneça que o fundamento para a discussão deve ser a soberania de Deus, que ele pode e fará tudo o que deseja. E em conexão com os dons espirituais, eu direi novamente que, embora haja muitos versículos na Escritura nos ordenando a usar os dons espirituais, não existe nenhuma evidência bíblica, ou qualquer outro tipo, que sequer venha a sugerir que esses tenham cessado.


~ 3 ~

Deixe-me aplicar primeiro meu argumento simples contra o cessacionismo ao caso do falar em línguas. Paulo escreve: “Não proíbam o falar em línguas” (1 Coríntios 14.39, NVI). Mas se todos os dons espirituais cessaram, então as línguas cessaram. E se as línguas cessaram, então todas as alegações de falar em línguas hoje são falsas. Se todas as alegações de falar em línguas hoje são falsas, estão devemos proibir o falar em línguas. Em outras palavras, se o cessacionismo é correto, então estamos obrigados a fazer exatamente o oposto do que Paulo ordena nesse versículo sobre a base que a situação mudou, de forma que a mesma preocupação apostólica requereria que proibíssemos todo o falar em línguas.

Contudo, transformar “Não proíbam o falar em línguas” em “Sempre proíbam o falar em línguas” requereria um argumento bíblico que fosse igualmente explícito, ou se este deve vir por dedução ou inferência, que seja um raciocínio perfeito, infalível, sem qualquer possibilidade de erro ou lugar para crítica. De outra forma, ninguém tem autoridade para dizer que o falar em línguas cessou, e ainda menos para proibir o falar em línguas.

Jesus diz: “Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus” (Mateus 5.19). Deus me ordena: “Não matarás”. Se você deseja promover uma doutrina que requeira de mim mudar isso para, “sempre matarás”, então antes de eu ir para a matança, irei demandar que você produza um mandamento bíblico direto que substitua o primeiro, ou um argumento bíblico apoiando o novo mandamento ou obrigação que seja claro e perfeito, sem qualquer possibilidade de erro ou lugar para crítica. Se eu percebo sequer a mínima falha ou fraqueza, irei permanecer com o que é claro e direto, isto é, “não matarás”.

Da mesma forma, se ensino “não proíbam o falar em línguas” e você ensina “sempre proíbam o falar em línguas” (ou uma doutrina que leve a isso), então um de nós deve estar errado. Para me mostrar que sou eu quem está em erro, eu demandaria que você produza um argumento bíblico que seja tão claro, forte, perfeito e infalível como aquele que diz, “não proíbam o falar em línguas”.

Francamente, contra essa consideração, eu teria muito receio de ensinar o cessacionismo. E eu me pergunto como podemos justificar a decisão de permitir alguém permanecer no ministério, quando esta pessoa continua ensinando o cessacionismo após ouvir este simples argumento. Se ele não pode respondê-lo – se não pode produzir um argumento infalível para o cessacionismo – mas continua a ensinar a doutrina, isso pode significar apenas que ele conscientemente promove rebelião contra o Senhor.  Que direito temos, então, de nos refrear de removê-lo do ministério? Eu tenho autoridade para proteger tal pessoa da disciplina da igreja? Mas eu não sou mais forte que o Senhor. Nessas circunstâncias, o cessacionismo não é uma doutrina sobre a qual argumentar, mas um pecado do qual se arrepender. Os cristãos deveriam não somente evitar o cessacionismo, mas deveriam temer afirmá-lo, pois equivale a um desafio direto e deliberado aos mandamentos de Deus.

Você pode dizer: “Tudo bem dizer que não devemos proibir falar em línguas, mas devemos proibir a falsificação”. Como isso é relevante neste ponto? Se na tentativa de se opor à falsificação, você se opõe a todas as alegações de falar em línguas como uma questão de princípio, então você volta a desafiar o mandamento de Paulo novamente. Se você admite que não devemos proibir falar em línguas, mas devemos julgar cada caso por seu próprio mérito, eu concordaria contigo, mas então você não mais seria um cessacionista.

Agora que mencionamos a possibilidade da falsificação, a discussão finalmente chega à natureza das línguas. Atos 2 nos diz que o Espírito Santo capacitou os discípulos a falar em idiomas que eles nunca aprenderam. Esses eram idiomas humanos conhecidos e reconhecidos pelos estrangeiros que estavam presentes. Algumas vezes é suposto que foi um milagre de audição, mas os estrangeiros ouviram os discípulos falar em seus próprios idiomas porque os discípulos estavam falando no idiomas deles. A Escritura declara que eles falaram o que o Espírito lhes deu. Ela não diz que o Espírito alterou a audição da audiência. O falar em línguas em 1 Coríntios 12-14 é o mesmo tipo de manifestação que aquela em Atos 2. Não há razão para pensar de outra forma.

Visto que as expressões consistiam de idiomas humanos, como demonstrado em Atos 2 e também indicado em 1 Coríntios 13.1, há certas características que deveríamos esperar. Um idioma humano inclui um vocabulário substancial, ou palavras, que formam sentenças. Em linguagem ordinária, sentenças são marcadas por pausas e inflexões, que frequentemente determinam o significado preciso dessas sentenças. Por exemplo, uma inflexão poderia mudar o que seria entendido como uma declaração de fato numa pergunta. Dessa forma, “você irá à igreja hoje”, muda para “você irá à igreja hoje?”. Uma inflexão poderia também tornar uma declaração ordinária numa exclamação, ou mesmo numa acusação. Há muitas outras coisas que podemos mencionar sobre as características dos idiomas humanos, mas o ponto é que elas exibem traços e padrões complexos que são discerníveis.

Menciono isso para dizer o seguinte: Julgando a partir da minha experiência admitidamente limitada, a maioria das pessoas que falam em línguas provavelmente não falam em idiomas reais. Sem dúvida, minha experiência não reflete o número total daqueles que alegam falar em línguas. A alegação é que a maioria daqueles que tenho ouvido provavelmente não falam em idiomas humanos, e há provavelmente muitos outros como eles. Quando eles supostamente falam em línguas, seus sons não exibem a variedade e complexidade esperada em idiomas humanos reais. Eles com muita frequencia repetem somente uma, algumas vezes duas ou três sílabas em rápida sucessão, como “da-da-da-da-da-da-da”, or “wa-ka-la-ka-wa-ka-la-ka-wa-ka-la-ka-wa-ka-la-ka”, ou “moshimoshimoshimoshimoshi”.

Há três possíveis explicações para isso:

Primeiro, eles podem estar falando em código Morse, ou algo parecido. Contudo, mesmo o código Morse deve diferenciar seus sinais por padrões e pausas. Mas quando uma pessoa repete a mesma sílaba sessenta vezes sem nenhuma pausa, e após tomar fôlego, repete a mesma sílaba outras quarenta vezes, é difícil crer que ele esteja comunicando alguma mensagem que tenha significado. Alguém pode também objetar que supõem-se que o falar em línguas refira-se a um idioma humano ordinário, mas isso não pode resolver a questão, visto que o código Morse ou algo parecido pode se qualificar de modo concebível.

Segundo, é suposto que alguns deles poderiam estar falando no idioma dos anjos, que não poderia exibir as mesmas características que os idiomas dos homens. Contudo, mesmo que 1 Coríntios 13.1 de fato conceda a possibilidade que alguém poderia falar no idioma dos anjos, as mesmas preocupações com respeito ao código Morse se aplicam. Deve haver padrões discerníveis para diferenciar entre os sinais para que haja um idioma, pelo menos quando este é falado por meio de homens. E se o idioma dos anjos não pode ser falado por meio de homens de uma forma que haja padrões discerníveis, então eles não estão na realidade falando no idioma dos anjos, visto que aparentemente este idioma não pode ser falado por meios dos homens de forma alguma.

Terceiro, e parece ser o mais provável, aqueles que falam sem qualquer padrão discernível não estão falando em idiomas humanos, e não estão falando em línguas de forma alguma. Não estou dizendo que não existe nenhum falar em línguas genuíno hoje. Tenho afirmado com muita força que a manifestação continua de acordo com a vontade de Deus. Mas se aqueles que falam em línguas desejam exercer o dom genuíno, e se desejam ser levados à sério, eles devem satisfazer o padrão. Qualquer coisa menor que um código Morse é inaceitável, pois não seria idioma de forma alguma. E devemos acreditar que todas ou a maioria das pessoas que falam em línguas o fazem em código? Não, pois as línguas genuínas serão idiomas humanos, e soarão como idiomas humanos. Deveríamos suspeitar de qualquer pretensa manifestação de falar em línguas que careça de qualquer padrão ou complexidade discernível.

Um fator que tem contribuído para as ocorrências predominantes de línguas falsas é a negligência do fato que o falar em línguas é uma manifestação do Espírito – é algo que o Espírito impele a sair. Portanto, não é algo que um homem pode ensinar a outro. Os Pentecostais algumas vezes ensinam os novatos: “Apenas comece a falar. Diga, ‘da-da-da-da-ka-ka-sha-la-la… aí esta´! Você recebeu!” Não, nenhum deles tem coisa alguma. O dom é uma manifestação do Espírito, e quando aparece, há uma qualidade celestial, uma inteligência evidente por detrás dele. Não é algo que possa ser ensinado, praticado ou reforçado pela carne.


~ 4 ~

Recentemente, ouvi um sermão sobre a abordagem bíblica ao crescimento da igreja por John MacArthur. Ele insistiu que os métodos de crescimento de igreja que são baseados em teorias de negócio e marketing são perversos e destrutivos. Antes, ele propôs que os cristãos deveriam retornar a Atos dos Apóstolos, visto que ali o método modelado pelos primeiros discípulos é apresentado. Ele não se referia a algum modelo do Novo Testamento num sentido geral, mas foi inflexível que devemos seguir o Livro de Atos.

Então, no curso do sermão, ele ofereceu cinco princípios que tinha derivado: A igreja primitiva tinha 1) Uma mensagem transcendente, 2) Uma congregação regenerada, 3) Uma perseverança resoluta, 4) Uma pureza evidente, e 5) Uma liderança qualificada. Contudo, qualquer expositor honesto deveria ter adicionado, 6) Um ministério de falar em línguas, curar coxos, ressuscitar mortos, expelir demônios, destruir mentirosos, romper prisões, sacudir casas, amaldiçoar feiticeiros, ter visões, predizer o futuro e realizar milagres. Todas essas coisas são registradas no Livro de Atos, não são?

Sem dúvida, eu não esperava que MacArthur se embaraçasse com a verdade. Sabendo que ele é um cessacionista extremo, esperava uma menção desse item antes de rejeitá-lo, mas nada foi dito. Ele nem mesmo o mencionou. Mas eu pensei que deveríamos retornar ao padrão no Livro de Atos. Qual Livro de Atos ele estava lendo? Esse é o campeão da pregação expositiva que tantos cristãos adoram? Mas eu pensei que a pregação expositiva compeliria o pregador a abordar tópicos com os quais ele não se sente confortável, e apresentar o que ele poderia achar difícil de aceitar. O que aconteceu com isso?

Eu vou lhe dizer qual é o padrão no Livro de Atos – é o padrão de não permitir que a desonestidade e o preconceito obscureçam os ensinos claros da palavra de Deus. Se nos forçássemos a ser caridosos sem justificação, poderíamos dizer que MacArthur evitou a questão para economizar tempo de mencionar algo no qual ele não crê. Mas ele violou, no mínimo superficialmente, seu próprio padrão de pregar a Palavra de Deus como ela está escrita. É muito difícil, se não impossível, excusar alguém de mencionar os milagres quando ele mesmo, com tanto zelo e indignação, repreende a igreja por falhar em seguir o padrão no Livro de Atos.

Jesus disse que receberíamos poder quando o Espírito Santo viesse sobre nós. Assim, onde está o poder? Você que não acredita na continuação dos dons sobrenaturais: Você diz que tem o Espírito, que todos os crentes têm o Espírito, mas onde está o poder? Seu hipócrita – você finge ter isso redefinindo o conceito. E você que crê na continuação dos dons sobrenaturais: Você alega ter o Espírito, mas onde está o poder? Seu hipócrita – você insulta o Espírito implementando um padrão baixo, de forma que as falsidades e os excessos são numerados juntamente com o que é genuíno, se é que há manifestações de fato genuínas entre vocês. Quando Elias desafiou os falsos profetas, ele não tornou isso fácil para si mesmo ou para o Senhor. Ele não derramou gasolina nos sacrifícios, mas derramou muita água. Ele era da opinião que se Deus não fizesse isso, então que não fosse feito, mas se Deus fizesse, então que não houvesse dúvida que foi um milagre do Senhor, e não dos esquemas e artimanhas dos homens.

Vocês dois dizem que têm o Espírito, mas quando os discípulos foram cheios com o Espírito no Livro de Atos, houveram tamanhas manifestações de poder que fizeram os incrédulos tremer. Onde está o poder? É verdade que uma demonstração de poder divino nem sempre equivale a milagres, mas existe alguma manifestação de poder entre vocês? Qualquer uma que seja? Onde está a autoridade divina em sua pregação? Onde está a sabedoria divina em seu conselho? Onde está a ousadia divina em suas ações? Você tem seus métodos expositivos, seus diplomas de seminário, suas ensaios de ordenação, e os livros deste ou daquele teólogo em sua biblioteca. Mas você não tem o poder.

Existem aqueles que pensam que o meu ministério não tem valor. Eu não me dirigirei a eles agora. Mas se você vê qualquer fé, sabedoria, poder, vida, zelo, ousadia, qualquer autoridade de outro mundo em mim, então que seja conhecido que isto vem do Espírito de Deus. Ele me salvou e me deu um santo chamado, até mesmo a obra do ministério. E ele me deu o seu Espírito Santo, para que eu pudesse ser capacitado a viver esta nova vida, em verdade e santidade, e para realizar as obras que ele preordenou para que eu fizesse. Não estou dizendo tudo isso simplesmente porque penso que deveria, mas estou bem consciente do poder do Espírito pelo qual eu penso e trabalho, e a diferença que ele faz. Eu posso lhe dizer o que ele faz por mim, e o que sou incapaz de fazer sem ele.

Esta é a herança de todo cristão, e o equipamento necessário de todo ministro do evangelho. Deus não nos deu um espírito de fraqueza, mas um espírito de poder – poder para perceber, crer, declarar, suportar e poder para confrontar e destruir o cinismo e a incredulidade.


Notas do tradutor:
[1] Coloquei em maiúsculo a palavra “Neo-Pentecostal” porque ela é usada num sentido que se refere a um tipo ou grupo de pessoas comumente associados com a crença na continuação dos dons sobrenaturais do Espírito. Ele é mais que um termo muito amplo, referindo-se a qualquer um que creia na continuação dos dons sem outras suposições atribuídas a tal pessoa. Embora eu reconheça as diferenças entre Pentecostais e Neo-Pentecostais, visto que este artigo não aborda essas diferenças, usarei os dois termos como se fossem intercambiáveis, focando-me apenas em sua similaridade em afirmar a continuidade dos dons sobrenaturais do Espírito.

[2] Veja Don Codling, Sola Scriptura and the Revelatory Gifts. 


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2009/03/22/cessationism-and-speaking-in-tongues/


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto

Nº 07



CESSACIONISMO E REBELIÃO 
por Vincent Cheung

"Não apaguem o Espírito. Não tratem com desprezo as profecias"  1 Tessalonicenses 5:19,20.

Os versículos de 19 a 22 discutem a política apostólica com relação as profecias. Paulo escreve: “Não tratem com desprezo as profecias”, mas orienta os cristãos a “examinar tudo”.

O cessacionismo é a doutrina falsa que ensina que as manifestações dos dons miraculosos, conforme estão enumerados em 1 Coríntios 12, cessaram desde os dias dos apóstolos e da conclusão da Bíblia. Embora não haja nenhuma evidência bíblica para essa posição, um motivo principal para essa invenção é o de garantir a suficiência das Escrituras e a finalidade (conclusão) das Escrituras. No entanto, já foi demonstrado que a continuação das manifestações miraculosas de fato não contradiz essas duas doutrinas nem as coloca em risco. Portanto, o cessacionismo é tanto antibíblico como desnecessário.

Mais do que isso: o cessacionismo é também maligno e perigoso, pois se o cessacionismo é falso, então os que defendem essa doutrina estão pregando rebelião contra o Senhor.

A Bíblia ordena aos cristãos: “Siga o caminho do amor e busquem com dedicação os dons espirituais, principalmente o dom de profecia” (1 Coríntios 14:1). Se o cessacionismo é correto, mas não sabemos disso, então podemos ainda tranquilamente obedecer a essa instrução, embora não iremos receber o que desejamos. Isto é, se a profecia cessou mas eu penso que ela continua, então eu posso ainda desejar o dom de profecia de acordo com esse mandamento, porém não receberei o dom de profecia. Nenhum prejuízo é feito.

Por outro lado, já que os cessacionistas ensinam que o dom de profecia cessou, então embora a Bíblia nos diga “busquem os dons espirituais” eles não desejarão os dons espirituais, pois os dons espirituais não estão mais em operação, e qualquer dom que as pessoas pensam ter são necessariamente falsos. Isso também se aplica a profecia em particular. Portanto, embora Paulo ensine “Não tratem com desprezo as profecias”, os cessacionistas devem tratar todas as profecias com desprezo, pelo fato de que acreditam que o dom de profecia cessou. Portanto, para eles todas as profecias de hoje são falsas. A postura deles sobre profecia é “rejeitar tudo” ao invés de “examinar tudo”. Mas, novamente, se o cessacionismo é falso, então essa pessoa estaria pregando rebelião contra os mandamentos bíblicos sobre desejar e examinar as manifestações espirituais.

Uma vez que os mandamentos “busquem os dons espirituais”, “não tratem com desprezo as profecias" e “examinem tudo” são revelados por uma autoridade divina e infalível, os cessacionistas são obrigados a apresentar um argumento infalível para tornar esses mandamentos inaplicáveis aos dias de hoje. Se não conseguirem apresentar tal argumento, mas ainda defenderem o cessacionismo em face desses mandamentos bíblicos explícitos, então, não é óbvio que eles estão se condenando diante de Deus, ainda que tenham certeza de que os dons cessaram? Nenhum cristão deveria aventurar-se a seguir os cessacionistas ou acreditar em suas doutrinas. Se alguém prega o cessacionismo, mas não consegue prová-lo — se ele não consegue apresentar um argumento infalível em defesa do cessacionismo (pelo fato de que o mandamento de desejar manifestações espirituais é claro e infalível), então isso significa que ele está conscientemente pregando rebelião contra alguns dos mandamentos diretos de Deus. Por que, então, ele não deveria ser removido do ministério ou até mesmo excomungado da igreja?

Considerando que os argumentos em defesa do cessacionismo são forçados e débeis, e pelo fato de que essa doutrina apresenta um perigo muito grande, é melhor crer na Bíblia conforme foi escrita, e obedecer a seus mandamentos conforme estão declarados — isto é, “busquem os dons espirituais” e “examinem tudo”. Essa posição é fiel às declarações diretas das Escrituras, mas requer resistência corajosa à argumentos falaciosos, bullying acadêmico e tradições eclesiásticas.

Inerente a essa abordagem bíblica é a proteção contra fanáticos carismáticos e falsos milagres. A Bíblia nos instrui “examinem tudo”, e já que a Bíblia é suficiente, pode expor os milagres fraudulentos e as falsas profecias. A resposta não é afirmar que os dons cessaram, mas seguir as instruções que a Bíblia já fornece sobre o assunto. Essa posição, de que precisamos seguir o que a Bíblia diz, nos oferece a proteção perfeita mesmo que o cessacionismo fosse correto. Se o dom de profecia cessou, então qualquer profecia hoje é falsa. Desde de que a Bíblia é uma revelação suficiente, as informações nela contidas nos capacitará para “examinar tudo”, de modo que toda profecia alegada hoje será examinada e, descobrindo-se que é falsa, será condenada, ou se o conteúdo é tal que é inexaminável, será ignorada.

O cessacionismo nos ensina a abandonar alguns mandamentos divinos sem a autorização de Deus, e assim prega rebelião, mas a posição de que temos de “buscar os dons espirituais” e “examinar tudo” prega obediência ao Senhor, e é ao mesmo tempo capaz de nos proteger contra todas as enganações. Não há nenhum perigo em se desejar dons espirituais enquanto também examinamos tudo - se todas as manifestações são falsas, então exporemos todas como falsas quando as examinarmos, e por isso vamos considerar todas elas como falsas. Uma pessoa que faz isso está a salvo do julgamento.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2009/03/09/cessationism-and-rebellion/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

Nº 06


SOBRE OS DONS ESPIRITUAIS 
por Vincent Cheung

“A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum. Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de curar, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas. Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer” – 1 Coríntios 12:7-11.

Paulo desejava que os coríntios tivessem um entendimento correto dos dons espirituais. Um teste fundamental é o testemunho que se oferece sobre Jesus Cristo. As operações de Deus são diversas. Com Pedro diz: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir os outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas.” (1 Pedro 4.10). A base para a unidade deles é que todos procedem da mesma fonte. E porque procedem da mesma fonte, eles não podem trabalhar contra o outro, ou em competição com o outro.

Dons espirituais são a “manifestação” do Espírito Santo. O Espírito não é visto ou ouvido, mas ele se mostra por suas operações e efeitos. Todo o povo de Deus têm sabedoria e conhecimento, mas o Espírito capacita alguns a trazer mensagens cheias de insights poderosos para a edificação da igreja. Todos os cristãos têm fé, e a própria fé salvífica é um dom de Deus, mas há um dom de fé que sobrecarrega uma pessoa de confiança, de forma que ela pode, sem hipérbole, ordenar que uma montanha se atire no mar. A forma como esses poderes se demonstram poderia abranger um ampla gama de itens. Há muitos exemplos que poderíamos escolher: Elias sozinho multiplicou matéria, chamou fogo do céu e ressuscitou os mortos.

A lista não tem o intuito de ser completa, visto que outros dons são especificados em outros lugares, e não há razão para acreditar que todas as listas juntas formem um inventário exaustivo. A graça de Deus é multiforme, e as listas dão-nos meramente uma ideia dos tipos de coisas que o Espírito capacita as pessoas a fazer. Não há ninguém como o nosso Deus, e não há povo como o seu povo, revestido com o poder do céu. Toda manifestação do Espírito é dada para o bem comum. Os dons não são destinados a assegurar glória ou benefício pessoal. Eles são distribuídos de acordo com a vontade do Espírito, e Paulo sugere que uma pessoa pode orar por uma habilidade que lhe falte (14.13), a fim de edificar a igreja.


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Fonte: CHEUNG, Vincent. Sermonettes, Volume 3, p.40

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto

Nº 05



LÍNGUAS E IDIOMAS HUMANOS
por Vincent Cheung

Quanto à possibilidade de as línguas de 1 Coríntios 12-14 se referirem a idiomas humanos como acontece em Atos 2, muitos cessacionistas afirmam que se elas forem diferentes, e se 1 Coríntios não se tratar de idiomas, então elas seriam incompreensíveis. Eles parecem acreditar que isso ajuda a sua posição, ou pelo menos a sua tentativa de menosprezo.

No entanto, Paulo diz que as línguas poderiam ser interpretadas, o que significa que as línguas, mesmo antes da interpretação, poderiam transmitir um significado, caso contrário, a interpretação não seria realmente uma interpretação, mas sim uma mensagem totalmente original e independente que não tem qualquer base prévia. Em seguida, Paulo cita Isaías, onde o profeta se refere a “línguas estranhas” e “lábios de estrangeiros”. Os “lábios de estrangeiros” se referem a idiomas reais usadas por estrangeiros, como nos estrangeiros que invadiram Israel e, portanto, falavam em idiomas humanos.

Na verdade, ao longo da discussão sobre as línguas, Paulo não dá nenhuma indicação de que ele estaria falando sobre algo diferente de idiomas: “Sem dúvida, há diversos idiomas no mundo; todavia, nenhum deles é sem sentido” (14:10). A questão nunca foi se alguém estaria exercendo o dom de línguas sem falar em um idioma, mas se ele falava em um idioma no qual sua audiência imediata poderia entender: “Portanto, se eu não entender o significado do que alguém está falando, serei estrangeiro para quem fala, e ele, estrangeiro para mim” (14:11). Às vezes, um professor de seminário pode falar um minuto ou dois em grego ou em latim, ou em alemão, sem traduzir o que ele diz para os seus alunos. Eu poderia fazer o mesmo e gritar para ele em chinês. Mesmo que isso não envolvesse algo incompreensível, Paulo estaria descontente com uma atuação deste tipo.

Em 1 Coríntios 13, Paulo pressupõe vários cenários hipotéticos, a fim de fazer a sua observação sobre o amor e, no decorrer disso, ele não assume as funções dos dons que ele menciona, ele apenas amplifica seus poderes habituais para um nível superior, sem alterar o que os dons realmente fazem.

Ele menciona a profecia. Evidentemente, ele impulsiona esse dom para o mais alto nível possível: “todos os mistérios e todo conhecimento”. O poder da profecia geralmente não se manifesta com este grau extremo, mas é claro que o dom capacita a pessoa a entender, pelo menos, alguns mistérios e algum tipo de conhecimento, mesmo que não seja todos os mistérios e todo conhecimento.

Em seguida, ele se refere a uma fé que pode mover montanhas. A fé não costuma manifestar-se nesse grau, mas isso não é irreal, porque Jesus de fato disse que a fé poderia lançar uma montanha no mar. Na minha exposição sobre Marcos 11 eu demonstrei que esta declaração não pode ser uma hipérbole. Mais uma vez, assim como Paulo usa um cenário hipotético em que a fé se manifesta em um grau forte, ele também não muda o que ela realmente faz.

Então ele fala sobre dar tudo o que ele possui aos pobres, e até mesmo oferecer o seu corpo para ser queimado. Isso é inteiramente realista, mesmo que uma pessoa possa oferecer apenas algumas das coisas daquilo que ela possui, de fato, é possível para ela dar tudo aos pobres. E embora oferecer o próprio corpo para ser queimado é algo incomum e, presumivelmente, a maioria das pessoas poderia fazer isso apenas uma vez, ainda sim, é possível alguém fazer isso. Num caso comum, o sacrifício geralmente ocorre em um nível menos drástico, mas o exemplo extremo não altera o significado da doação ou do sacrifício.

Voltando ao início de 1 Coríntios 13, Paulo faz uma referência ao falar nas línguas dos homens e dos anjos, ou como a NLT diz: “Se eu pudesse falar todas as línguas da terra e dos anjos”. Considerando o que ele já tem feito com os outros dons nesta passagem, a única interpretação correta aqui é a que ele fala sobre uma manifestação forte e extraordinária do falar em línguas, mas não altera o que o dom realmente faz. Uma vez que este cenário hipotético dispõe de um falar em “todas as línguas da terra e dos anjos” então sabemos que as línguas poderiam efetivamente chegar a falar em todos os idiomas humanos, para não dizer que poderiam em todos os idiomas dos anjos. Embora, geralmente, o dom não se manifeste nesse grau. Talvez o dom nunca possibilitará nenhuma língua dos anjos, assim como as profecias que, embora a princípio, possam revelar todos os mistérios e conhecimento, mas que talvez isso nunca aconteça.

O que, então, seria um dom comum de línguas? Seria um idioma humano que, embora normalmente ele não faça, talvez nunca possibilite que uma pessoa fale em todos os idiomas humanos ou até mesmo dos anjos. Aqui estamos interessados na definição do dom, isto é, uma definição aplicável independentemente do ponto de vista da extensão do dom. Por meio desta definição, mesmo numa manifestação comum daquilo que o dom geralmente possibilita, uma pessoa ainda poderia falar em um, alguns, ou nos mais diversos idiomas humanos por meio do poder sobrenatural.

Paulo nunca menosprezou qualquer um dos dons do Espírito. Pelo contrário, aqueles que menosprezam os dons por causa de sua própria incredulidade e tradição é que devem ser menosprezados. Faça com que eles tomem cuidado com o que falam sobre os dons, para que eles não sejam como os fariseus que tinham uma pequena fé, mas bocas grandes, eles persistem em perseguir os crentes num ataque de fúria e, nessa tentativa, podem até mesmo cometer o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2011/04/18/tongues-and-human-languages/


Traduzido por: Dione Cândido Jr.

Nº 04




UMA AVALANCHE CASCATEANDO ESTRUME DE CAVALO 
por Vincent Cheung

“Foi dito que devemos crer que os dons do Espírito continuam a não ser que a Bíblia declare que eles cessaram. Um cessacionista respondeu: ‘Então, onde na Escritura se faz cessar o dom de apostolado? Onde na Escritura se faz cessar o dom de escrever a Escritura? Onde na Escritura se faz cessar o método de decidir a vontade do Senhor no lançamento de sortes? A não ser que desejem fazer essas coisas literalmente, os carismáticos devem parar de pensar que eles são como a igreja do primeiro século. Os carismáticos acreditam que certas coisas cessaram também, e é hipocrisia deles fingir que estão apenas lendo as Escrituras”

“Dom” de Apostolado

Um argumento comum para o cessacionismo reivindica que o “dom” de apostolado cessou e que a cessação de outros dons resulta disso. Isso tem sido chamado de argumento “em cascata”, ou como eu lhe chamo, Loser’s Slippery Slope of Unbelief (LOSSOU) [1].

Uma das principais razões para que os pobres apóstolos sejam arrastados para essa discussão o tempo todo é por causa da suposição de que eles eram únicos, possuíam autoridade suprema, infalibilidade constante, e que seus escritos estavam inseparavelmente ligados com a escrita da Bíblia. Portanto, se os cessacionistas assumem que a Escritura está completa eles devem finalizar os apóstolos.

No entanto, eles não entenderam os apóstolos, e fizeram com eles pequenos deuses. Estes nunca possuíram autoridade suprema, de modo que até mesmo os crentes e os anciãos poderiam responsabilizá-los e obrigá-los a oferecer uma defesa por seus atos, como quando pregavam aos gentios. Eles não eram constantemente infalíveis - Pedro comprometeu o evangelho de tal modo que mesmo alguns novos convertidos se recusariam fazer hoje, e Paulo teve de repreendê-lo na frente de todos (Gálatas 2:11-14).

Isso não é problema para a inspiração da Escritura a menos que assumamos que os apóstolos - não Deus - foram os autores da Escritura, ou que tiveram um papel tão decisivo que o próprio Deus não poderia ter produzido uma Escritura infalível através deles a menos que esses homens fossem também infalíveis. A idolatria cessacionista realmente dói à inspiração da Escritura. A principal tarefa dos apóstolos não era escrever a Escritura, e a maioria deles não escreveu Escritura. Ademais, assim como grande parte do Antigo Testamento não foi escrito por profetas, grande parte do Novo Testamento não foi escrito por apóstolos.

Apesar de, geralmente, fazermos generalizações inofensivas de que os apóstolos e profetas escreveram a Bíblia, porções significativas não foram escritas por eles, ou não foram reconhecidas como escrita deles. Para resolver isso, algumas pessoas inventam o princípio de que esses documentos foram, no entanto, escritos por aqueles que estavam intimamente associados com os apóstolos e profetas. No entanto, eles arbitrariamente determinam esse princípio, sem justificativa, e eles também decidem arbitrariamente como esses outros autores precisam ser estreitamente associados com os apóstolos e profetas. Além disso, as relações desses autores com apóstolos, escribas, e profetas, são muitas vezes incertas e oferecem uma base frágil para dar peso a algo como sendo inspiração divina. Toda a dificuldade é auto infligida devido à falsa suposição de que cada palavra na Bíblia deve ser escrita ou aprovada por apóstolos e profetas.

Uma vez que ressaltamos ser Deus o autor, exatamente o único autor real, então torna-se evidente que a questão de autoria humana é incapaz de prejudicar a inspiração da Escritura, porque não tem nenhuma relevância decisiva em primeiro lugar. Deus pode escrever em tábuas de pedras, falar por meio de uma voz do céu, fazer um burro falar, fazer pedras clamar, ou mover um homem a escrever suas palavras. Deus é aquele que fala e escreve. Embora muitas vezes ele usou os apóstolos e profetas, ele poderia causar alguma coisa para acontecer através de qualquer pessoa que ele escolhesse. Pelo seu Espírito, ele tomou conta de vários homens e os levou a escrever as suas palavras. Então, por sua providência, ele protegeu esses documentos e os compilou em um volume final.

A teoria tradicional de inspiração evangélica é falha, e tem como base uma visão idólatra de apóstolos. Quando nós descartarmos tudo isso e colocamos a Bíblia com Deus, e somente Deus, todos os problemas desaparecem. Assim a inspiração se aplica a toda Bíblia não porque tudo isso foi escrito ou aprovado por apóstolos e profetas, mas porque tudo isso foi escrito por Deus.

Toda a Escritura foi escrita por Deus, até soprada diretamente por ele (2 Timóteo 3:16). Não faz diferença se ele usou apóstolos ou esquilos para escrevê-la. Portanto, cessar o apostolado não encerra a possibilidade de inscrição à Escritura. Se os cessacionistas desejam realizar o que eles precisam, em sua linha de raciocínio, não seria suficiente matar os apóstolos, mas eles deveriam matar Deus também, porque ele é o autor real, exatamente o único autor, e ele pode fazer apóstolos e esquilos além de qualquer coisa, e a qualquer momento na história.

Se é suficiente dizer que Deus completou a Bíblia de acordo com a sua providência, então não faz diferença dizer que ainda há apóstolos hoje. Mas se não for suficiente dizer que Deus completou a Bíblia, então também não será suficiente dizer que não há mais apóstolos. Eles devem destruir o próprio Deus para garantir a conclusão da Bíblia, e eu não ficaria surpreso se muitos deles estivessem disposto a fazê-lo.

Da mesma forma, todos os milagres na Bíblia procediam de Deus, não dos apóstolos, e todos os dons do Espírito vieram de Deus, não dos apóstolos. Para os milagres morrerem Deus deve morrer. Assim, o LOSSOU deve começar com Deus, e não com os apóstolos. Enquanto Deus está vivo, apóstolo ou nenhum apóstolo, dom ou nenhum dom, “tudo é possível ao que crê” (Marcos 9:23).

Mesmo se o apostolado cessou, mesmo se todos os dons do Espírito cessaram, e de fato, mesmo que ninguém na história jamais houvesse operado um milagre pelo poder de Deus, ainda sim, seria possível para mim experimentar todas as coisas representadas pelos dons do Espírito - mesmo que eu deva ser o primeiro e único - porque a minha fé em Deus não cessou. A doutrina da cessação de milagres não é nada mais do que uma desculpa para a cessação da fé. O debate sobre os “dons” do Espírito é um red herring [2] e uma farsa.

"Dom” da escrita da Escritura

Ao exigir uma resposta para “o dom de escrever a Escritura”, a ideia seria que, se escrever a Escritura é um dom espiritual, e se está de acordo que a Escritura tenha sido concluída, então tal dom cessou, e isso seria uma base para o LOSSOU.

Mas quem disse que isso é um dom? Será que ele pensa que somos estúpidos, de tal modo que ele possa tornar esse fato num dom e, então, nos enganar afirmando que esse dom cessou? Ou ele é um idiota, de modo que classifica algo como dom quando não existe base para isso? Seu desafio é funesto. Não temos que cair nele. 

Se mesmo escrever as Escrituras é um dom, seria mais correto dizer que se trata no âmbito de profecia, ou que é uma das muitas manifestações da profecia. Há certa base para dizer isso (2 Pedro 1:20-21), mas, mesmo assim, não podemos saber como isso cobre toda a escrita da Bíblia.

Se escrever a Escritura vem como profecia, seria um argumento circular dizer que um dom espiritual cessou na base de que a escrita da Bíblia cessou, uma vez que a continuação da profecia é uma das coisas discutidas. Não funcionaria dizer: “A profecia cessou, porque a profecia cessou”. Então, mesmo escrevendo que a Escritura vem sob profecia, e mesmo se escrever a Escritura cessou, não se segue que a profecia cessou, porque mesmo enquanto essa estava em operação a escrita da Bíblia teria sido apenas uma rara manifestação desse dom, que não abrange tudo o que o dom implica. Em qualquer caso, é incerto dizer que escrever a Escritura é um dom espiritual, ou que venha no âmbito de qualquer dom espiritual.

Novamente, se o fim da escrita da Escritura deve significar o fim dos dons, ou pelo menos deste dom, então ele não vai longe o suficiente, porque não era o dom que escrevia a Escritura, ou até mesmo os homens que exerceram o dom, mas foi Deus quem escreveu a Escritura. A conclusão da Escritura não será obtida matando os dons. Dado o pressuposto cessacionista, o fim da escrita da Escritura deve significar o fim de Deus - ele deve morrer - mas isto significa que não há salvação para o cessacionista.

Lançamento de sortes

Quantas vezes os lançamentos de sortes aparecem na Bíblia em relação à orientação da Escritura, sábios conselhos, visões, sonhos, circunstâncias, percepções espirituais, e vários outros meios? Mesmo que a prática continue, ainda assim, não se poderia fazer dela uma parte regular de nossas vidas.

Quando os apóstolos lançaram sortes para escolher um substituto para Judas, eles começaram com a Escritura (Atos 1:15-20), em seguida, apontaram um princípio (1:21-22), então se estreitaram os candidatos baixando para duas pessoas (1:23) e em seguida eles oraram (1:24-25). Só depois de tudo isso, lançaram sortes para escolher entre os dois homens, que eram ambos qualificados de qualquer maneira (1:26). Eles não dependiam inteiramente do sorteio.

Ainda assim, alguns teólogos se perguntam se eles fizeram a coisa certa, e se Deus tinha escolhido Paulo para esse lugar. Se a escolha de Deus foi Paulo, então eles não deveriam ter lançado sortes para escolher um substituto, e nós nos perguntamos se em muitos outros casos os lançamentos de sortes foram errados. Quanto mais vezes os lançamentos de sortes forem errados menos somos culpados se nós não adotarmos essa prática, e menos relevância possuirá este desafio cessacionista nesse debate. 

No entanto, ainda estaríamos habilitados a responder de cabeça erguida mesmo se todas instâncias de sorteios na Bíblia foram adequadas.

O lançamento de sortes, mesmo não sendo a melhor maneira de receber orientação, era uma forma de observar a providência, porque a Bíblia diz que Deus é o único que determina o resultado de sortes: “Nós podemos jogar os dados, mas o Senhor determina como eles caem” (Provérbios 16:33, NVI). Os cessacionistas continuam a observar a providência como uma forma de orientação. Na verdade, eles aceitam muito mais facilmente as circunstâncias como sendo a “vontade de Deus”, em seguida, depois os carismáticos.

Algumas pessoas, tanto cessacionistas quanto carismáticas, têm mencionado casos em que abriram a Bíblia ao acaso e acharam uma definitiva orientação em tempos de necessidade. Mais uma vez, se é aconselhável esperar orientação desta forma é uma coisa, mas é verdade que alguns têm testemunhado obter ajuda dessa maneira.

Então, eu me pergunto se este cessacionista sabe o que significa lançamento de sortes. É como jogar uma moeda, e isso ainda é feito quando as opções são igualmente aceitáveis. Por exemplo, podemos jogar uma moeda para decidir quem faz o primeiro movimento em uma competição de atletismo, e podemos escolher os nomes de dentro duma cartola para decidir quais se tornarão parceiros em um projeto de classe. Deus é o único que decide o resultado nesses casos.

Em qualquer caso, não sabemos se os cristãos usaram este método depois de Atos 2, ou seja, depois de Deus cumpriu sua promessa de conceder visões a seu povo, sonhos e profecias (2:17-18). No passado, o Espírito foi dado a certas pessoas para serviço, como reis e profetas, mas Moisés disse: “Eu gostaria que todo o povo do SENHOR fosse profeta e que o SENHOR pusesse o seu espírito sobre eles” (Números 11:29). Isso aconteceu no dia de Pentecostes, e Pedro disse: “E vocês receberão o dom do Espírito Santo. A promessa é para vós, para vossos filhos, e para todos os que estão longe - para todos aqueles que o Senhor nosso Deus chamar” (Atos 2:38-39). A partir de então, lemos: “Estêvão, cheio do Espírito Santo, olhou para o céu e viu a glória de Deus” (Atos 7:55), “o Espírito disse a Filipe” (8:29), “o Senhor chamou a ele em uma visão, ‘Ananias! ’’ (9:10), “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (15,28), “ele tinha quatro filhas solteiras que profetizavam” (21:9), e inúmeros casos como estes.

Portanto, este desafio do cessacionista, na verdade, serve para reforçar a nossa posição.

Ponto de concordância

Ele reclama que não devemos pensar que somos como a igreja do primeiro século. De fato, é verdade que os cessacionistas não são nada como os crentes do primeiro século. Há quase nenhuma semelhança. Às vezes é difícil dizer se eles são mesmo cristãos. Eles dão a impressão de terem uma religião diferente, um evangelho diferente, um Deus diferente. Isso é, aparentemente, o que eles pretendem atingir, e eles são bastante felizes nisso. Por outro lado, os carismáticos não estão convencidos de que isso se trata de uma melhora.


Notas do tradutor:
[1] Pista Escorregadia dos Perdedores da Incredulidade
[2] Na argumentação, uma manobra que serve para desviar a atenção do assunto verdadeiro.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2015/03/05/a-cascading-avalanche-of-horse-manure/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.