sábado, 14 de maio de 2016

Nº 27




TORCENDO A ESCRITURA SOBRE O BATISMO NO ESPÍRITO 
por Vincent Cheung

“Você disse que o batismo no Espírito Santo não é arrependimento, conversão ou justificação, mas que é poder para pregação, cura, visões, sonhos, profecias e milagres. Então, como você interpretaria esses versículos? 1 Coríntios 12: 12-13, 2 Coríntios 1: 21-22, Efésios 1: 13-14, Efésios 4: 4-5 e Gálatas 5:22”

As pessoas têm torcido essas passagens a fim de atacar a doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo. No entanto, essas passagens não contradizem a doutrina, e não são nem mesmo relevantes para o ponto específico da disputa sobre o batismo no Espírito.

1 Coríntios 12:12,13:
“Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito”

Já foi competentemente argumentado que esse versículo se refere à ação do Espírito que nos batiza em um só corpo, e não à ação de Jesus que nos batiza com o seu poder. Se tal é verdadeiro, então isso é, na realidade, uma evidência de que a doutrina do batismo no Espírito não é o mesmo que a conversão. O batismo no Espírito sempre foi creditado à Jesus, e esse texto se refere a uma operação diferente. Tornar este numa refutação à doutrina não é apenas uma má utilização do mesmo, mas é uma blasfêmia contra Jesus Cristo, rejeitando seu papel como o batizador no Espírito Santo.

No entanto, por uma questão de argumentação, vamos jogar fora esse primeiro ponto. Vamos fingir que Paulo está falando do batismo no Espírito, e vamos fingir que ele está dizendo que todos nós fomos batizados no Espírito, e vamos fingir que isso significa que a conversão e o batismo no Espírito são a mesma coisa (embora mesmo fingindo que os dois primeiros são verdadeiros, não se seguirá o terceiro ponto logicamente). Dito isso, Paulo, algumas vezes, fala como se considerasse que todos os crentes foram batizados com água. Isso significa que nós também deveríamos usar esta interpretação sobre esses versículos, onde ele menciona a fé e o batismo simultaneamente, ou onde ele se refere a eles como intercambiáveis. Isso deve significar que quando uma pessoa crê em Cristo, uma água desce do céu e molha ela, ou que essa pessoa é milagrosamente jogada na água assim que crê. Bravo.


2 Coríntios 1:21,22:
“Ora, é Deus que faz que nós e vocês permaneçamos firmes em Cristo. Ele nos ungiu, nos selou como sua propriedade e pôs o seu Espírito em nossos corações como garantia do que está por vir”

Ele revela ignorância e ele implora na questão quando usa esse texto contra a doutrina bíblica de que no batismo no Espírito Santo é distinto da conversão. Ele revela ignorância porque aqueles que ensinam que o batismo no Espírito é distinto da conversão também insistem que uma pessoa recebe o Espírito Santo em certo sentido na conversão (Romanos 8:16), só que o batismo no Espírito é uma operação subsequente do Espírito Santo e concede poder para o ministério. Ele implora na questão porque, para o versículo 22 ser aplicado, já deve ser assumido que a conversão e o batismo são a mesma coisa, porque senão isso só poderia estar falando sobre uma operação do Espírito na conversão como distinta a uma operação subsequente.

Então, novamente, mesmo se Paulo estivesse falando do batismo no Espírito Santo isso seria irrelevante, já que ele também assume que os crentes receberam o batismo com água. A questão é saber se há qualquer base bíblica para que conversão e batismo no Espírito sejam de fato duas coisas, e há base clara para isso, assim como há base clara para que fé e batismo com água sejam duas coisas.

Além disso, mesmo se todos esses textos estivessem se referindo ao batismo no Espírito Santo, mesmo se todos esses textos ensinassem que todos os crentes receberam esse batismo no Espírito Santo, e mesmo se todos esses textos ensinassem que a conversão e o batismo no Espírito Santo são a mesma coisa, permanece o fato de que a Bíblia ensina que o batismo no Espírito Santo confere poderes milagrosos ao cristão (Lucas 24:49; Atos 1:4-8, 2:17-18).

Portanto, aquele que afirma ser um crente e alega que a conversão e o batismo no Espírito Santo sejam a mesma coisa deve manifestar e experimentar esse poder. Caso contrário, ele é defeituoso, descrente ou, conforme requerido de sua própria doutrina, reprovado, e se dirige para o tormento eterno no fogo do inferno.

Suponhamos que Paulo e Henrique estejam sempre juntos, e suponhamos que Paulo e Henrique sejam, de fato, a mesma pessoa, e, em seguida, suponhamos ser certo que Henrique sempre tem um cão consigo. Agora, se não há nenhum cão, você não tem nem Paulo nem Henrique! Se não houver nenhum cão, a única maneira de você poder ter Paulo é se Paulo e Henrique forem duas pessoas diferentes, e se Paulo e Henrique não estiverem sempre juntos.

Assim, aqueles que usam esse texto sofrem um tiro quadrúplice pela culatra: 1. Ele mostra a ignorância quanto a posição contrária; 2. Ele implora na questão; 3. Também deve tornar a fé e o batismo com água como idênticos, e 4. Isso implica que essas pessoas são espiritualmente defeituosas, descrentes, ou mesmo não salvas e reprovadas. O primeiro ponto mostra que essas pessoas são preguiçosas e injustas. O segundo mostra que elas são estúpidos e irracionais. O terceiro mostra que elas são incompetentes e sacrílegas. O quarto mostra que elas são impotentes, sem fé, ou reprovadas.


Efésios 1:13,14:
“Nele, quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória”

O texto mostra que há uma operação do Espírito na conversão, mas não mostra que há apenas uma operação do Espírito, que seja idêntica à operação chamada de batismo, ou que se pretenda conferir poder. Apenas mostrar que há uma operação do Espírito na conversão, ou que todos os crentes receberam o Espírito em certo sentido, não significa nada para o debate.

Na verdade, os pentecostais que eu conheço tendem a ensinar sobre uma operação do Espírito Santo na conversão com bem mais força e bem mais frequência do que outras pessoas. Então, depois disso, eles ensinam sobre uma operação adicional do Espírito que confere poder. Esse texto não faz nada para contradizer isso.

Se o texto estivesse, de fato, se referindo ao batismo no Espírito, e se ele estivesse realmente assumindo que todos os crentes o possuem, então, novamente teríamos a mesma situação daqueles textos que assumem que todos os crentes foram batizados com água, ou que se referem à fé e o batismo com água como se eles fossem intercambiáveis. Isso não quer dizer que a fé e o batismo com água sejam a mesma coisa.

Além disso, deve haver também alguma evidência do tipo de poder que a Bíblia diz que deve acompanhar o batismo no Espírito Santo. Se não houver tal poder, e se esse poder segue o batismo no Espírito, e se o batismo no Espírito é o mesmo que a conversão, isso deve significar que a pessoa não é convertida, e dirige-se para o inferno.

O tiro quadrúplice pela culatra se aplica novamente. Preguiçoso e injusto. Estúpido e irracional. Incompetente e sacrílego. Impotente e sem fé, ou reprovado.


Efésios 4:4-6:
“Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos”

Mesma coisa. O tiro pela culatra quadruple aplica-se novamente. Preguiçoso e injusto. Estúpido e irracional. Incompetente e sacrílego. Impotente e sem fé, ou reprovado.

Então, e daí se há apenas um Espírito? Eu nunca ouvi ninguém ensinar que recebemos um Espírito na conversão, e um Espírito diferente ao sermos batizados no Espírito. A doutrina afirma que estas são duas operações do mesmo Espírito. Assim, e daí se há um só Senhor? Assim, e daí se há um só batismo? Poderia haver três trilhões de operações do Espírito, e ainda seria um Espírito.

O que eu estou fazendo nesse mundo aqui? Por que eu tenho que explicar algo assim? Onde estou? Isso é a vida real? Estou numa pegadinha? Onde estão as câmeras?


Gálatas 5:22,23:
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei”

Mais uma vez, todos aqueles que eu já ouvi ensinarem sobre o batismo no Espírito Santo ser uma coisa diferente de conversão, também insistem que qualquer um que creia em Jesus possui o Espírito Santo em um sentido.

Eles usam diferentes expressões para distinguir. Por exemplo, pode-se dizer que o Espírito vem em uma pessoa na conversão, mas vem sobre uma pessoa no batismo no Espírito Santo. A mesma pessoa pode dizer que os resultados da conversão são os frutos, e que o batismo no Espírito resulta em poder. Outro poderia usar expressões um pouco diferentes para ensinar a mesma doutrina, mas ele também diria que se tem o Espírito em certo sentido na conversão, mas que isso não é o que a Bíblia chama de batismo com o Espírito Santo.

Usar esse texto contra a doutrina de que o batismo no Espírito é distinto da conversão significa que ao assumir essa doutrina nega-se qualquer operação do Espírito na conversão. Isso é tolice, ignorância e pecado de calúnia. A doutrina não faz essa recusa. Ela afirma uma operação intensa do Espírito na conversão. O Espírito muda a natureza da pessoa, até mesmo habita nela, e dá testemunho de que ela é um filho de Deus. Em vez disso, a alegação é que, com base em outras passagens bíblicas, o batismo no Espírito continua sendo uma operação distinta e subsequente.

Se alguém concorda ou não com ela, isso é o que a doutrina ensina. Um texto que descreve uma operação do Espírito que se aplica a todos os crentes é irrelevante. Muitas operações do Espírito aplicam-se a todos os crentes, mas estas não abordam o que a doutrina afirma sobre o batismo no Espírito. Tanto os adolescentes carismáticos como não-carismáticos na minha escola entendiam isso, mas os estudiosos profissionais não. A maioria desses alunos nunca tinham sido ensinados sobre essa doutrina diretamente, mas eles inferiram os principais pontos ao ouvirem o que alguns dos outros diziam. Em algumas igrejas, até mesmo as crianças do berçário sabem a diferença, mas os teólogos de seminário não, e eles escrevem volumes inteiros para refutarem a doutrina, e alguns até mesmo tornar-se famosos por isso. Huh.

O tiro quadrúplice pela culatra se aplica novamente. Preguiçoso e injusto. Estúpido e irracional. Incompetente e sacrílego. Impotente e sem fé, ou reprovado.

Portanto, o uso dessas passagens contra a doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo revela ignorância quanto a posição contrária, desonestidade em estudo e engajamento, incompetência na compreensão básica de leitura, incapacidade de fazer inferências elementares e argumentos lineares sem desvirtuar a questão, e a possibilidade de que estou numa pegadinha de televisão. O abuso muitas vezes resulta em calúnia e blasfêmia. Os argumentos não são apenas inválidos ou irrelevantes, mas eles também saem pela culatra, expondo incredulidade, preconceito e falta de inteligência e integridade.

As pessoas fingem serem especialistas na Bíblia, mas lhes falta a honestidade para lidarem com seus adversários e lidarem com as coisas de Deus. Elas devem ser enxotadas das discussões sobre o assunto. Se elas não vão se tornar honestas quanto a isso, não temos qualquer obrigação de deixar seu estudo de lixo desperdiçar nosso tempo.

Se você não pode contribuir com algo inteligente... se é pedir demais... se você não pode contribuir com alguma coisa, pelo menos relevante para o tema, então cale a boca. Saia. Se aposente. Seu estudo de lixo acaba se voltando contra mim e desperdiçando meu tempo. Pare de agarrar versículos aqui e ali e jogá-los em todas as direções para ver se você pode bater em alguém ou ganhar por acidente quando eles nem mesmo são relevantes para uma discordância sobre a distinção na doutrina.

Se você discorda de alguma coisa, então bata na face  mas, em primeiro lugar, você precisa encontrar a face  em vez de ficar balançando seus braços em volta dela, sem rumo, como um idiota. Deixe de ser um mero pirralho teológico. Leve a sério. Cresça.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2015/09/07/twisting-scripture-on-spirit-baptism/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Nº 26



EU SOU ANANIAS 
por Vincent Cheung

Então Ananias foi, entrou na casa, impôs as mãos sobre Saulo e disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que lhe apareceu no caminho por onde você vinha, enviou-me para que você volte a ver e seja cheio do Espírito Santo  – Atos 9:17.

Saulo, ou Paulo, se dirigia a Damasco para prender os cristãos. Mas antes dele chegar, Jesus apareceu para ele numa luz cegante do céu. Ele se identificou e confrontou Paulo a respeito do que ele estava fazendo. Então ele falou para Paulo esperar na cidade. Durante três dias ele ficou cego, e ele jejuou e orou, finalmente percebendo que os cristãos estavam certos sobre Jesus.

Homens não espirituais pensam em termos de tempos e títulos, que Deus faria certas coisas naquele tempo, mas não agora, que ele faria certas coisas através dos apóstolos, mas não de outros. Por essa razão, eles lutam arduamente para ganhar reconhecimento humano. Eles medem a si próprios segundo os títulos que eles receberam de instituições humanas, e eles se comparam a si mesmos com os outros. E é assim que eles pensam de você. Você poderia ser o próprio Jesus Cristo, mas eles diriam, em que seminário você foi? Que denominação te ordenou? Por qual autoridade você faz essas coisas?. Você poderia estar cheio de uma legião de demônios, mas se tivesse as credenciais humanas que eles respeitam, eles iriam te homenagear e te chamar de reverendo e doutor. É uma cultura mundana e patética.

Quem poderia estar qualificado para estender suas mãos sobre esse fariseu, um hebreu dos hebreus, esse que logo seria apóstolo, missionário, defensor da fé, e escritor da Escritura? Se nós pensarmos como um homem carnal, quem poderia fazer isso, exceto Pedro,  Tiago ou João? Talvez, mesmo Mateus não fosse bom o bastante. Mas Jesus enviou um discípulo normal  um homem que não tinha nenhum título especial [1]. Ele não era chamado de apóstolo, profeta, mestre, presbítero, ou mesmo diácono. Nós não somos informados sobre a sua linhagem e educação.

O que Simão tentou comprar de Pedro  a habilidade de conceder a plenitude do Espírito pelo estender das mãos , Ananias poderia fazer como um cristão normal. Ele era um “discípulo! Ele era um estudante de Jesus Cristo. Não há necessidade de um título maior. Você não pode ganhar essa habilidade. Você não pode comprá-la. Você não pode se graduar nisso. Você deve ter um verdadeiro relacionamento com Deus e uma comissão de Cristo para operar nesse tipo de ministério. Isso torna algumas pessoas muito nervosas, nervosas o bastante para matar, caso Jesus ouse contornar a sua estrutura eclesiástica. Toda sua instrução e rede são fúteis, se você nega que Jesus pode usar qualquer discípulo para realizar as suas maiores obras, porque você rejeitou a visão dele para seu povo.

Paulo estava familiarizado à mensagem cristã antes disso. Ele ouviu o poderoso testemunho de Estêvão e a sua visão de Cristo. Estêvão não era um apóstolo, mas ele era cheio do Espírito e operava poderosos sinais e maravilhas no meio do povo. Sob interrogação, ele expôs as obras de Deus e mostrou que elas levaram à vinda de Jesus Cristo, e ele declarou que os judeus sempre foram rebeldes, culminando no falso testemunho e assassinato de seu próprio Messias. Os judeus ficaram furiosos, mas ele olhou para cima e viu Jesus Cristo à direita de Deus. Paulo era uma testemunha de tudo isso, e ele aprovou quando os judeus apedrejaram Estêvão até à morte (Atos 7).

Assim, Paulo conhecia a mensagem cristã, e deve tê-la ouvido e examinado muitas vezes desde então, porém ele não acreditava. Mas agora, ele havia visto esse Jesus numa luz cegante, e ele finalmente percebeu que Estêvão estava certo o tempo todo. A fé cristã era verdadeira e todo esse tempo ele esteve lutando contra ela. E durante três dias, ele jejuou e orou com isso em mente.

Ainda assim, há teólogos que irão te dizer que Paulo ainda não foi convertido. Por quê? Porque Ananias viria para que Paulo pudesse ser cheio do Espírito, e a despeito de toda a evidência bíblica do contrário, esses teólogos insistem que conversão em Cristo é o mesmo evento que o enchimento do Espírito. Eles insistem que os dois são a mesma coisa, de modo que não tenham que admitir que eles são deficientes na sua busca espiritual. Logo, eles prontamente reconhecem que o criminoso que foi crucificado com Cristo foi salvo pela sua confissão do Reino de Cristo, mas de alguma forma, Paulo permaneceu não salvo durante três dias, após extensiva exposição à mensagem cristã e vendo o Cristo ressurreto numa luz cegante, seguido de jejum e oração.

Isso é o quão baixo alguns pregadores e estudiosos irão afundar a fim de proteger o seu orgulho e a sua tradição. Esses religiosos hipócritas pressionarão com força suas agendas teológicas, a despeito do que a Bíblia, na realidade, diz. Quando a Bíblia os contradiz, isso é, de alguma forma, uma “exceção à sua doutrina. Oh, doces exceções! Que Deus faça chover exceções sobre nós, nesses dias de hipocrisia teológica. Que Deus faça, como ele fez todo tempo em Atos, uma exceção, sem exceção, em todo tempo, de maneira que qualquer um que não creia ou tenha fome dele seja excluído da sua graça e poder. E que ele nos torne exceções das serpentes e escorpiões que ensinam o nosso povo, de forma que nós manusearemos da sua Palavra com fé e integridade.

Os cristãos reverenciam a herança da reforma. Porém, quando pessoas não se apegam a Jesus Cristo com uma fé simples, então elas somente irão girar do catolicismo ao farisaísmo. Qual é o sentido de tudo isso? De nos voltarmos da idolatria apenas para nos tornarmos assassinos? Qual é, então? Os hipócritas religiosos, que consideram a aprovação humana e a autoridade humana, ao invés do Senhor Jesus, dirão a mim, quem é você? De onde você veio? Que homem autorizou você a fazer essas coisas? Que instituição aprovou a sua doutrina?. Eu responderei, eu sou Ananias. Eu sou Vincent Cheung, um discípulo de Jesus Cristo. Agora, você e qual legião de demônios me impedirá de seguir a visão celestial?.

Lute pela sua identidade, liberdade, e habilidade em Jesus Cristo. Não fuja da escravidão para a iniquidade de ficar sob a escravidão da incredulidade e da tradição. Sirva somente a Cristo, com confiança, e desafie todos aqueles que tentarem te enganar para fora do seu lugar nele. Que Deus nos encha do seu Espírito, um Espírito de coragem e de poder, de forma que, um por um, vamos nos levantar contra o estabelecimento religioso impotente, sem fé, e hipócrita  nossos pregadores e teólogos, nossas igrejas e seminários, nossas denominações e outras autoridades eclesiásticas que conspiram contra o poder de Deus e o seu Espírito , e diremos, eu sou Ananias. Mas quem é você? Me diga! QUEM É VOCÊ?!.


Notas:
[1] Quando Paulo fez a sua defesa diante dos judeus, ele se referiu a Ananias como um homem respeitado em meio aos judeus em Damasco (Atos 22:12). Mas isso não nos diz nada sobre a sua posição na comunidade cristã, e não sugere que ele tenha sido um apóstolo, ou um profeta, ou nada mais do que um cristão normal.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2012/06/07/i-am-ananias/
Veja também: CHEUNG, Vincent. Sermonettes. Vol.7, p.50-52.

Traduzido por: Marcelo Flávio Radunz

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Nº 25



A PROMESSA DO ESPÍRITO 
por Vincent Cheung

Pedro respondeu: ‘Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar  – Atos 2:38,39.

A Bíblia frequentemente fala sobre fé e batismo juntos, e algumas vezes refere-se a eles intercambiavelmente; no entanto, sua doutrina é que a fé é necessária para salvação, mas o batismo não é. Nós sabemos disso porque o homem que foi crucificado ao lado de Cristo foi aceito por uma simples confissão de fé sem batismo. Depois, Cornélio e aqueles com ele estavam, receberam o Espírito Santo antes do batismo com água. Pedro percebeu que eles receberam o Espírito porque eles falavam em línguas, e visto que o Espírito era dado somente àqueles que eram regenerados, ele deduziu que esses gentios receberam fé e salvação enquanto ele ainda estava falando. Foi depois disso que eles foram batizados com água.

Assim, nesse sentido, o batismo com água não é necessário para salvação, mas eles são frequentemente mencionados juntos ou mesmo mencionados intercambiavelmente, porque frequentemente não há razão para separar os dois nitidamente. Os apóstolos não cogitavam longas demoras entre a fé e o batismo. Se uma pessoa entendeu e confessou sua fé no evangelho, então, ela deveria ser batizada com água o quanto antes, até dentro da mesma hora ou do mesmo dia. Apesar de não haver razão para insistir que uma pessoa poderia ser espiritualmente danificada caso houvesse uma demora, os primeiros discípulos não viam nenhum ponto para tal demora, e por isso, a confissão de fé e o batismo com água eram frequentemente mencionados juntos, porque cronologicamente falando, eles eram aproximadamente posicionados.

Pedro instruiu o povo a crer em Jesus Cristo, se arrepender e ser batizado para o perdão dos pecados. A salvação foi associada com a fé e o batismo, depois disso, eles receberiam o dom do Espírito Santo, cujo o derramamento foi a razão ou a plataforma para esse sermão a eles. O contexto define o que Pedro quis dizer por dom do Espírito, e o que ele pensou foi nas manifestações desse dom. Conforme ele citou no profeta Joel: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão (Atos 2:17-18)[1].

No pensamento de Pedro, quando as pessoas recebessem o Espírito Santo, elas profetizariam, elas teriam sonhos, e elas teriam visões. A tese de Lucas é que o derramamento do Espírito Santo torna a igreja não somente um reino de sacerdotes, mas também uma companhia de profetas. É impossível forçar esse dom em algo que seja sinônimo de salvação. A fé é para o perdão dos pecados. O Espírito é para a doação de poder. Assim como a fé e o batismo são duas coisas diferentes que são frequentemente mencionadas juntas, o dom do Espírito é diferente do dom de Cristo para perdão, mas eles são frequentemente mencionados juntos porque não há uma razão para separá-los nitidamente. Alguém que recebeu Cristo pela fé deve também receber o batismo nas águas e, então, receber o Espírito Santo.

Nesse questão, uma controvérsia cerca 1 Coríntios 12:13, que diz: Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito”. Um dos lados desse debate argumenta que esse versículo se  refere ao mesmo batismo no Espírito Santo que é mencionado nos evangelhos e em Atos dos Apóstolos, e uma vez que afirma que todos os crentes foram batizados no Espírito Santo, sua conclusão é que o batismo no Espírito Santo não pode ser um evento diferente e subsequente à conversão ou regeneração. O outro lado mantém que o batismo no Espírito Santo, como Lucas consistentemente retrata, é um evento diferente e subsequente à conversão ou regeneração, e que esse versículo não contradiz tal posição.

Há argumentos teológicos detalhados e gramaticais para ambos os lados do debate. Todavia, a controvérsia é uma completa perda de tempo. Quando se trata a questão desse ponto específico, todos os argumentos são fúteis e desnecessários, porque a questão não é articulada nesse versículo, e não pode ser estabelecida por ele. Isso acontece porque, para a nossa questão, é totalmente irrelevante se Paulo menciona a regeneração em Cristo e o batismo no Espírito juntos, ou intercambiavelmente, ou se declara ou se assume que todos os crentes receberam ambos.

Como foi afirmado antes, a Bíblia frequentemente menciona a regeneração em Cristo e o batismo nas águas juntos, ou intercambiavelmente, ou declara ou assume que todos os crentes têm ambos. Por exemplo, Paulo escreve em um lugar: “Fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova” (Romanos 6:4). E em outro lugar, ele diz: Nele também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar do corpo da carne. Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2:11-12; também, Gálatas 3:26-27).

Os apóstolos tomaram como certo que os crentes foram batizados com água, embora nós saibamos que eles não consideravam batismo como necessário para salvação, ou que eles eram a mesma coisa, ou que alguém que foi convertido a Cristo era automaticamente e simultaneamente encharcado com água ou lançado nas águas. Talvez ele foi convertido apenas alguns poucos minutos antes da carta ser lida à congregação. Portanto, só porque uma carta soa como se todos os crentes fossem batizados com água não quer dizer necessariamente que todos os crentes são realmente batizados com água. É uma suposição em operação.

Muitos versículos nas cartas apostólicas assumem que todos na audiência eram crentes  porque eles estavam abordando crentes! , mas é concebível que houvesse pelo menos uma pessoa que não era convertida e que ouvia um desses versículos conforme eles eram lidos. Para o propósito dessas cartas, a suposição em operação era inteiramente apropriada. Eu suponho que mesmo um incrédulo não pensaria que ele se tornou um cristão somente porque ele foi exposto a uma carta que assume estar falando à um grupo de crentes. Não obstante, idiotas treinados em seminários são capazes de cometerem essa façanha extraordinária quando eles são motivados o suficiente para transformarem o seu preconceito em ortodoxia.

Assim, não significa nada se há um versículo bíblico que menciona a regeneração em Cristo e o batismo no Espírito juntos, ou se refere-se a eles intercambiavelmente. Antes, assim como outras partes da Escritura retratam o batismo com água como não necessário para a salvação, e retratam a conversão e o batismo com água como eventos distinguíveis, nós devemos derivar nossa doutrina do batismo do Espírito da forma como ela é retratada em outras partes da Escritura.

De fato, se outras partes da Escritura retratam o batismo do Espírito como algo distinto da conversação, mas se 1 Coríntios 12:13 assume que todos os crentes o receberam, então o versículo se torna num comentário condenatório acerca daqueles que estão sem o batismo e se opõem a ele. Significaria que existe algo deficiente na sua fé e caráter. Significaria que essas pessoas não têm o que todos os crentes deveriam ter, e que elas até lutam contra isso e tentam impedir outros de receberem. Esse é o espírito assassino e hipócrita dos fariseus. Eles matariam o próprio Jesus ao invés de admitirem que estão errados, ou que há algo faltando neles.

Após isso, há a objeção de que é impossível àqueles que são verdadeiramente convertidos estarem sem o Espírito Santo. Em resposta a isso, o batismo do Espírito e a plenitude do Espírito são termos usados para apenas designar uma promessa ou evento específico, e não para excluir a presença do Espírito de outros cenários ou de outros aspectos na aplicação na redenção. Embora a conversão e o batismo sejam eventos distintos, nós não dizemos que alguém que se converteu nunca tocou nas águas e nunca tomou uma ducha ou um banho até depois de ter sido batizado nas águas. Assim, é claro que todos os cristãos têm o Espírito em algum sentido, e é claro que o Espírito chama e converte qualquer um que vai pela fé até Cristo, mas isso não tem nada a ver com a questão de o batismo do Espírito Santo ser um evento distinto e subsequente.

Depois, há a objeção de que a doutrina de Lucas  de que o batismo do Espírito é um evento distinto e subsequente à conversão  resulta num sistema de duas classes na comunidade cristã; ela torna aqueles que estão sem o batismo do Espírito em membros de uma segunda classe da igreja. Primeiro, para alguns isso soa mais como uma admissão do que uma objeção. Segundo, mesmo se não uma admissão, isso poderia ser uma descrição, ao invés de uma objeção. Se é feita a objeção além de que a igreja não é dividida em duas classes, a resposta é que essa doutrina poderia ser a evidência de que a igreja está, de fato, realmente dividida. Terceiro, a linguagem é pesada, e o assunto não precisa ser apresentado dessa maneira. Quarto, alguém poderia fazer uma objeção similar sobre batismo com água, mas nós sabemos que o novo nascimento e o batismo com água são eventos distintos. Alguém que foi convertido pode não ser batizado com água por um período de tempo. Ele estaria numa segunda classe de crentes? E ele precisa permanecer desse jeito? Quinto, mesmo os mais zelosos proponentes da doutrina de que o batismo do Espírito é um evento distinto iriam fortemente insistir que ele está disponível a todos aqueles que creem em Cristo. Então, se essa doutrina divide a igreja num sistema de duas classes, de quem é a culpa, senão daqueles que se recusam a crer e receber? Porém, hipócritas religiosos tentam culpar outros pela sua própria incredulidade e deficiência.

Pedro foi explícito quando definiu quem poderia receber a promessa  a promessa que resultaria nas manifestações mencionadas por Joel. Ele disse que a promessa era para aquela geração e para as gerações subsequentes, e que era para o tipo de pessoas ali presentes como também para aquelas distantes. Então, ele adicionou que era para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar  não para todos aqueles que Deus chamasse para se tornarem apóstolos, pois visto que a promessa do Espírito está associada aqui com a promessa do perdão dos pecados, ele quis dizer que a promessa do Espírito era para todos aqueles a quem Deus chamasse ao arrependimento e salvação. É para todos os cristãos. Assim, Pedro destruiu qualquer possibilidade dessa promessa do Espírito e suas manifestações serem restringidas à tempos e títulos.

Igualmente significante é o fato de que Pedro declarou essa promessa do Espírito Santo como parte do evangelho, e não como algo adicionado ao topo desse. Essa promessa  e a Bíblia não conhece nenhuma outra promessa do Espírito diferente daquela descrita por Joel  é básica e integral à mensagem de Cristo, e para aquilo que significa ser um cristão. Portanto, negar ou alterar ela, ou explicar ela mandando-a para longe, não é somente atacar uma doutrina secundária, se é que existe tal coisa, mas é um ataque direto contra parte central do evangelho. Assim, o ofensor está sob o risco de vir a ficar sob a maldição de Gálatas 1: Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado! (Gálatas 1:9).


A fim de corroer a sã doutrina e excluir a si mesmos, os homens, com frequência, tentam redefinir a natureza, a extensão e as possibilidades da fé cristã, não de acordo com as promessas de Deus, mas de acordo com as suas próprias intenções más e deficientes. Eles reduzem a fé cristã a algo que eles podem viver, a algo que eles podem alcançar, e então, eles impõem isso sobre você, de forma que você não possa ultrapassa-los e fazer com que pareçam hipócritas e perdedores espirituais. Homens com verdadeira fé e amor instigarão você a atingir alturas maiores de acordo com as promessas de Deus, mesmo que isso signifique que você possa ultrapassá-los. Não seja defraudado da herança que Jesus Cristo ganhou para você com seu próprio sangue. Persista em tudo o que ele tem para você, e considere desprezível todas as doutrinas contrárias.

Deus se lembra da sua promessa, e ele destruiria nações inteiras para cumprir a sua palavra. Não é nada para ele derrubar umas poucas mil denominações e uns poucos milhões de pregadores e teólogos para poder entregá-la. Mas nós esquecemos da sua promessa? Nós chafurdamos na incredulidade? Nós nos rendemos as tradições humanas e opiniões populares? Nós excomungamos Deus de nossas igrejas e seminários, de modo que ele não nos perturbe quanto ao modo como nós o servimos, como hipócritas? Apesar de outros poderem seguir esse caminho, nós somos livres do poder deles, pois a promessa de Deus está além da regulamentação política humana e é imune à supressão da instituição humana. É para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar. Se Deus chamou você para si, então você não precisa da aprovação de nenhum homem, pois você está livre para receber dele com fé e ação de graças.


Notas:
[1] Quer os sinais dos versículos 19 e 20 sejam tomados no sentido literal ou simbólico, nós igualmente as aceitaríamos como relevantes. Se forem tomados no sentido literal, poderiam se referir à sinais visíveis no céu, terremotos, tsunamis, e outros eventos. Se forem tomados no sentido simbólico, poderiam se referir à guerras, levantes políticos, e assim por diante. Claro, os versículos poderiam estar falando dos dois tipos de sinais.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2012/06/07/the-promise-of-the-spirit/
Veja também: CHEUNG, Vincent. Sermonettes. Vol.7, p.38-41.

Traduzido por: Marcelo Flávio Radunz

terça-feira, 3 de maio de 2016

Nº 24



ORDENAÇÃO E TRADIÇÃO HUMANA 
por Vincent Cheung

Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos  – 2 Timóteo 1:6.

Timóteo recebeu “o dom de Deus” quando Paulo impôs suas mãos sobre ele. Isso refere-se ao mesmo incidente mencionado em 1 Timóteo 4:14, onde é dito que um corpo de presbíteros impôs as mãos sobre Timóteo (em cujo caso Paulo teria sido um dos presbíteros), ou a um evento separado no qual apenas Paulo impôs as mãos sobre ele. Não existe nenhuma evidência bíblica para sugerir que a imposição de mãos, mesmo quando dons espirituais são conferidos, está reservada para a ordenação formal praticada hoje. Todavia, certo teólogo iguala o que Paulo descreve aqui com a ordenação formal de nossas denominações. Então, ele observa que a ordenação não é um reconhecimento de dons já presentes, mas uma concessão de dons não possuídos anteriormente. E, adiciona, esse dom é a autoridade para pregar.

Todos os três pontos são errados ou enganosos.

Primeiro, há evidência bíblica insuficiente para estabelecer a teoria de ordenação afirmada pelas denominações hoje. De fato, há evidência bíblica insuficiente para estabelecer as próprias denominações formais. Havia ordem na igreja, crentes trabalhando juntos em acordo, e conferências de presbíteros para discutir questões doutrinárias, mas tudo isso não se traduz numa instituição elaborada governada por concílios regionais e nacionais. Se um grupo de crentes decide se unir dessa maneira para fornecer apoio e prestação de contas mútuas como uma questão de vantagem e conveniência prática, não me oponho a isso. Contudo, seria errado eles desprezarem, criticarem ou de alguma forma pensar menos de cristãos que agem de acordo com os princípios bíblicos, mas diferem deles em detalhes não definidos ou restringidos por princípios bíblicos. Os princípios bíblicos para o governo da igreja são ricos, claros e inflexíveis, mas permitem muita liberdade nos detalhes, e simplesmente não requerem uma estrutura denominacional, ou muitas das teorias e práticas assumidas hoje. Se você impõe seus próprios princípios de governo eclesiástico sobre outros quando a Escritura não ensina ou os requer, então você está seguindo o exemplo dos fariseus, no fato de você alegar proteger a ordem prescrita da igreja, quando está na verdade protegendo tradições inventadas por homens.

Segundo, é enganoso dizer que a ordenação não é um reconhecimento de dons já presentes, mas uma concessão de dons não possuídos anteriormente. Essa é uma inferência muito ampla a partir de um versículo limitado e específico. De acordo com a Bíblia, Deus concede dons espirituais de diferentes formas. Algumas vezes eles são dados diretamente, sem nenhuma agência humana. Outras vezes são dados em resposta à oração. Por exemplo, Paulo diz que a pessoa que fala em línguas deve orar para que possa interpretá-las. Então, algumas vezes eles são dados por meio de agentes humanos, como quando os presbíteros e Paulo impuseram suas mãos sobre Timóteo. O que chamamos ordenação é um reconhecimento público do chamado. O chamado já existe, quer a igreja o reconheça ou não. Os dons espirituais sempre seguem o chamado. Eles apoiam o chamado da pessoa, e o capacitam a cumpri-lo. Mas os dons nem sempre são concedidos através da ordenação, nem o reconhecimento do chamado pela igreja é sempre necessário. E se Deus chama alguém para repreender a igreja ou se opor a uma denominação? Quem o ordenou então? Ou isso nunca acontece? Qual é a evidência bíblica que torna nossas denominações e seu reconhecimento formal algo necessário? Não existe nenhum princípio rígido de ordenação na Bíblia. Isso é uma questão de ordem eclesiástica. Algumas vezes Deus a usa, outras não. Deus ainda é Deus. Quer a política da nossa igreja permita Deus ser Deus ou não, ele ainda pode fazer o que quiser.

Teólogos frequentemente afirmam doutrinas que restringem as práticas corretas àquelas já afirmadas por suas denominações. Eles começam a partir da Bíblia, então adicionam suas tradições a ela, e o resultado são as políticas denominacionais, que eles afirmam ser a pura doutrina escriturística e criticam aqueles que discordam. Mas o ensino da Bíblia deixa espaço para a soberania de Deus, muita variedade, e a liberdade para adaptar. Os cristãos poderiam aceitar a ordem eclesiástica prescrita por suas tradições como uma questão de conveniência prática, mas uma vez que se torna mais que isso – uma vez que se torna uma doutrina formal que define o certo e o errado ― eles deveriam se rebelar contra ela. Que ninguém te roube da liberdade que Cristo comprou para você. Ai da denominação cuja rebelião contra o evangelho está na ordem e política da igreja.

Terceiro, quanto à autoridade para pregar, isso pelo menos precisa ser esclarecido. A Bíblia ensina que todos os cristãos são sacerdotes em Cristo (Apocalipse 1:6). E visto que todos somos sacerdotes, a implicação irresistível é que todos os cristãos podem pregar e administrar a ceia e o batismo. A coisa curiosa é que nem todas as igrejas e denominações que admitem o primeiro (que todos os crentes são sacerdotes) irão ao mesmo tempo reconhecer o último (que todos podem pregar e administrar as ordenanças sagradas). Isso acontece porque as pessoas nessas igrejas e denominações são hipócritas. Eles dizem o que dizem para distingui-los dos católicos, mas então praticam a mesma coisa em suas congregações. O Novo Testamento de fato ensina que deve haver líderes dentro das congregações, e como uma questão de ordem eclesiástica, eles são geralmente aqueles que pregam e administram a ceia e o batismo. Isso é para manter a excelência na atividade da igreja e para impedir o caos e a confusão. Contudo, outros cristãos não estão impedidos dessas coisas como uma questão de doutrina e princípio.

Deus é maior que nossas tradições e nossas denominações. Muitíssimas pessoas dizem que creem nisso, mas negam em suas doutrinas e práticas. Se Deus quer ordenar a alguém, ele na verdade não precisa de nenhuma aprovação ou reconhecimento humano. Ele frequentemente arranja o reconhecimento humano para manter a boa ordem, mas nada na Escritura indica que isso deva acontecer ou que deva acontecer de determinada forma. Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. Não devemos permitir algo em nossa política eclesiástica que pareça negar isso.

Se Deus quer entregar suas palavras ou suas bênçãos por meio de homens, isso é direito seu. Mas se Deus deseja entregar essas diretamente, não cabe à igreja proibi-lo. A igreja é uma comunidade de pessoas individualmente redimidas e chamadas por Deus. Ele arranja pessoas para crerem no evangelho pelo ministério de agentes humanos, tal como a pregação de um pastor ou membro de uma igreja particular. Ele faz isso por inúmeras razões, tais como a ordem estabelecida, a comunidade e os relacionamentos entre os homens, e para exercitar e recompensar aqueles que pregam. Mas Deus não precisa de agentes humanos mesmo quando diz respeito à pregação do evangelho, e não devemos ressentir ou rejeitar alguém se ele recebe algo da parte de Deus sem nossa mediação.

Se você teme que isso levaria ao caos, então isso mostra que você adotou grandemente a mentalidade dos fariseus e católicos. Essa é a mentalidade que pensa que precisamos usar tradições humanas para reforçar os preceitos divinos, e isso removendo-se a liberdade que a revelação divina permite, incluindo a liberdade que Deus reserva para si. Se alguém se converte à fé cristã ou possui um ministério à parte do nosso controle, sua fé e ministério ainda estão sujeitos à palavra de Deus, e podem ser testadas pela palavra de Deus. E essa é a única base legítima para testar sua conversão ou chamado ao ministério. Ele não tem nenhuma obrigação de responder ou se submeter a tradições humanas que não prometeu cumprir. E se essas tradições violam a palavra de Deus, ele tem obrigação de romper com elas.

Pode ser verdade que a igreja está em tempos difíceis. Muitas pessoas estão se afastando das congregações locais, e as falsas doutrinas abundam. Contudo, a resposta não é uma teologia de controle por meio de tradições feitas por homens, mas uma teologia de liberdade em Cristo. Que Cristo atraia o povo que ele escolheu e chamou! Quanto aos cristãos, eles são responsáveis perante Cristo, não as tradições humanas. Portanto, desafie-as quando apropriado e necessário. É frequentemente aceitável se submeter a costumes humanos em prol do amor e da ordem, mas não porque seja requerido de você como uma questão de princípio.

Marcos 9 nos diz que um homem estava expulsando demônios em nome de Jesus, mas os discípulos disseram-lhe para parar de fazê-lo por não ser um deles. Jesus respondeu: “Não o impeçam. Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor”. Quem ordenou a essa pessoa? Por mãos de quem Deus conferiu dons espirituais a esse homem? Nem mesmo Jesus na Terra fez isso. Mas Deus no céu o fez, e aparentemente sem qualquer agência ou aprovação humana. Como observa um estudioso do Novo Testamento, o próprio Jesus não teve sanção humana oficial para o seu ministério. As tradições humanas são frequentemente tão perigosas quanto as ameaças à ordem que elas procuram eliminar. E eles frequentemente se afastam da ortodoxia que alegam proteger, ao ponto que até mesmo ordenariam o assassinato do próprio Filho de Deus. Todos os cristãos devem ser livres para servir a Deus, sob as diretrizes estritas, mas algumas vezes amplas, da Palavra de Deus, e não das restrições de tradições humanas.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2009/11/06/ordination-and-human-tradition/

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto

Nº 23



O MILAGRE MAJORITÁRIO 
por Vincent Cheung

A Bíblia diz que Jesus foi “cheio do Espírito Santo” (Lucas 4:1) e que depois haver vencido as tentações voltou “no poder do Espírito” (4:14), anunciando que havia sido ungido para pregar e curar (4:18-21). Mais tarde, lemos que “todos procuravam tocar nele, porque dele saía poder que curava a todos” (6:19; também Mc. 5:30). Conforme Pedro disse: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder” e ele andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo Diabo, porque Deus estava com ele” (Atos 10:38). Deus realizou “milagres, maravilhas e sinais” através dele (2:22).

Os evangelhos testificam que Jesus iria batizar o seu povo com o Espírito Santo (Mateus 3:11, Marcos 1:8, Lucas 3:16, João 1:33). O que significa isso? Em Atos 1, Jesus chama esse batismo com o Espírito Santo de “a promessa do Pai” (v. 4). Ele disse: “Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo” (v. 5), e “receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês” (v. 8). Em outro lugar, ele também se referiu a “promessa de meu Pai” e, novamente, disse que quando ela chegasse os discípulos seriam “revestidos do poder do alto” (Lucas 24:49).

O Espírito Santo desceu sobre Jesus, e ele teve “poder” para pregar, curar e operar milagres. Agora, ele iria derramar o Espírito Santo sobre os crentes, e eles receberiam o mesmo “poder” para pregar, curar e operar milagres. Não há outro significado para a plenitude ou batismo do Espírito Santo, e não há outro significado para esse “poder” que dele resulta. O batismo do Espírito Santo não é para arrependimento, conversão ou justificação, mas para poder — poder para pregar, curar e operar milagres.

Essa é a maneira com que a Bíblia, geralmente, fala sobre o poder para operar milagres. Muitas vezes os cessacionistas afirmam que os dons de sinais” cessaram, mas a Bíblia não distingue alguns dons como dons de sinais”. A distinção foi inventada a fim de separar algumas manifestações espirituais da própria categoria que estão direcionadas.

Na verdade, a Bíblia raramente usa a linguagem de “dons” para se referir ao poder miraculoso de Deus agindo através de homens. Paulo o utiliza em Romanos 12, 1Coríntios 12-14 e Efésios 4. Em quase todas as outras instâncias  centenas delas  a Bíblia usa termos como “fé”, “graça”, “poder”, “o Espírito do Senhor”, “a mão do Senhor”; ou ela descreve o que aconteceu, como: “Então Deus disse a Abraão”, “a palavra do Senhor veio a mim”, “o Senhor ouviu o clamor de Elias, e a vida do menino voltou a ele”, “a tua fé te curou”, “o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe”, e assim por diante.

Comparativamente falando, a Bíblia quase nunca usa a linguagem “dons” quando quer se referir ao poder miraculoso de Deus operado através de homens. Tentar impor a terminologia “dons” sobre todo o debate, contrariando o padrão e a proporção bíblica, facilita no emprego de uma estratégia de “dividir e conquistar” contra o poder de Deus. Dividi-se o que Deus jamais dividiu, de modo que o que é indesejável possa ser descartado sem parecer que se rejeita a coisa toda. No entanto, a maneira como a Bíblia fala sobre o poder de Deus impede esse abuso. Quando isso é levado em conta, a questão não é se este ou aquele dom cessou, mas se Deus cessou, se o Espírito Santo cessou, se o poder cessou, se a graça cessou, se a oração cessou, e se a fé cessou.

Jesus prometeu que o Espírito Santo viria sobre os discípulos, e eles receberiam poder miraculoso (Atos 1:4-8). Quando isso aconteceu no dia de Pentecostes (2:1-4), Pedro explicou que era um cumprimento da profecia de Joel: “Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão” (Atos 2:17-18). Assim, o Espírito Santo infunde poder nos crentes não só para pregar e curar, mas também para receber visões, sonhos e profetizar.

Assim, esse se tornou, também, o cumprimento do desejo de Moisés, de que todo o povo de Deus se tornasse profeta: “Você está com ciúmes por mim? Quem dera todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor pusesse o seu Espírito sobre eles!” (Números 11:29). Isso não poderia ser satisfeito se todo povo de Deus fosse salvo  eles sempre foram salvos pela fé na vinda de Cristo  Moisés desejou que se tornassem “profetas” para que tivessem os poderes de profecia, curas e milagres, como ele teve.

Os cessacionistas estão com ciúmes por causa dos apóstolos? É por isso que eles tentam fazer com que o poder de Deus esteja restrito a eles? Ao contrário, eles estão trabalhando contra os apóstolos. Pedro disse: “A promessa é para vós e vossos filhos e para todos os que estão longe  para todos a quem o nosso Senhor Deus chamar” (Atos 2:39). Ele se referia ao “o dom do Espírito Santo” (v. 38), que, como nós demonstramos, implica no poder para pregar, curar, receber visões, sonhos, profecias, e operar milagres.

A Bíblia diz que esse batismo do Espírito Santo vem diretamente de Jesus  não dos apóstolos, nem através dos apóstolos. Jesus é o único batizador. Havia cerca de cento e vinte pessoas orando juntas no cenáculo (Atos 1:15) e elas receberam o Espírito Santo ao mesmo tempo, e diretamente de Jesus. Cada pessoa o recebeu independentemente dos demais, e independentemente dos apóstolos. Em primeiro lugar, os apóstolos não receberam o Espírito Santo para depois transmitirem a bênção para as outras pessoas. Eles receberam o Espírito Santo ao mesmo tempo e da mesma maneira que os demais.

Além disso, os apóstolos eram apenas dez por cento de todo grupo. Os noventa por cento não precisaram de ajuda ou permissão dos apóstolos para receber a promessa do Pai. Uma vez que Jesus é aquele que diretamente batiza com o Espírito Santo, e uma vez que o Espírito Santo concede poder para operar milagres àqueles que o recebem, isso significa que, em comparação com o número de apóstolos, havia nove vezes mais crentes que poderiam exercer o poder de operar milagres a partir do primeiro dia em que Jesus derramou o Espírito Santo. Se os apóstolos nunca tivessem aparecido eles ainda teriam recebido poder, porque eles estavam recebendo de Jesus, não dos apóstolos.

A Bíblia nos liberta para olharmos para Cristo, e não para os homens. Entretanto, para muitas pessoas essa implicação é assustadora, senão condenável. A doutrina cessacionista, que exalta os apóstolos ao nível de super-crentes exclusivos, a fim de silenciar o poder de Deus na primeira geração, na verdade os torna em ídolos. Faz deles mediadores que estejam entre Jesus e o seu povo, de modo que sem eles ninguém poderá alcançar o outro, ou pelo menos os crentes não poderão receber de Jesus em toda sua plenitude. É uma triste realidade que alguns dos que mais fortemente castigam a idolatria católica são também aqueles que mais zelosamente a aplicam. Oh, a ironia da hipocrisia religiosa! “De fato, embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus” (Hebreus 5:12).

Assim, o que está em jogo não é apenas o lugar da cura e da profecia, ou coisas semelhantes, mas sim o lugar de Jesus Cristo. Homens batizam com água, mas Jesus batiza com o Espírito Santo. Os apóstolos estão mortos, mas, em primeiro lugar, os homens nunca precisaram deles para receber o Espírito Santo. Por outro lado, Jesus não está morto. Se os cessacionistas sugerem que Jesus foi deposto do seu cargo de batizador com o Espírito Santo, então eles não podem ser cristãos, visto que seriam anticristos. No entanto, se Jesus ainda é quem ele sempre foi, então ele ainda batiza com o Espírito Santo, e o único batismo com o Espírito Santo que a Bíblia conhece é aquele que resulta em poder para operar milagres.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2015/03/06/the-miracle-majority/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.