quinta-feira, 25 de maio de 2017

Nº 69



A RAZÃO PARA CRER QUE OS DONS REVELACIONAIS CONTINUAM
por Don Codling

Reconhecemos desde o princípio que não existe nenhuma declaração explícita de que tais dons revelacionais continuam. Nem deveríamos esperar por alguma. Exigir uma declaração assim significaria deslocar o ônus da prova ilegitimamente. Ninguém nega que nos dias dos apóstolos tais dons foram amplamente concedidos. Isso se iniciou assim, e a menos que uma clara declaração negativa nos seja dada por Deus, nós estamos prestes a presumir que tais dons continuam. Não basta insistir no fato de que a Bíblia é uma história da redenção e que embora essas coisas se sucederam na Bíblia elas não continuarão se sucedendo no decurso da vida da igreja. É necessário demonstrar que tais dons não são como a Ceia do Senhor ou a moralidade bíblica, e que eles estavam tão ligados a história da redenção ao ponto de se encerrarem com ela. Os argumentos que nós consideramos até agora tentam fazer isto, mas falham. O argumento mais forte para a continuação destes dons revelacionais é a ausência de uma clara declaração negativa, de uma clara declaração dada por Deus de que tais dons se cessaram.

Ademais, não deveríamos ter a expectativa de que tais dons fossem distribuídos de maneira uniforme em todas as épocas. É óbvio que nenhum deles é uma dotação de todos os cristãos (1Co. 12:29-30). Não houve profetas reconhecidos em três séculos antes de Cristo. Houve períodos na história bíblica em que um vasto número de milagres foram vistos, enquanto em outros tais manifestações foram dificilmente reconhecidas. Deus concedeu os seus dons de acordo com a necessidade que ele julgou ser melhor. Se alguns deles desapareceram por um momento, isto ainda não implica na conclusão de que eles nunca mais seriam concedidos novamente.

Contudo, há um certo número de indicações positivas para que nós possamos esperar pela continuidade de tais dons. A profecia de Joel, que foi cumprida no Pentecostes, é uma delas:


E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito. E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar (Joel 2:28-32).

Joel não predisse sobre uma repentina e derradeira onda de profecias seguida por um silêncio profético. Ele predisse sobre um tempo em que Deus derramaria do seu Espírito e concederia dons de profecia, sobre um tempo de provações e dificuldades “antes que venha o grande e terrível dia do Senhor”, sobre um tempo em que aqueles que invocarem o nome de Cristo seriam salvos. E uma vez que isso esteja explicitamente conectado ao retorno de Cristo, seria necessário fornecer fortes razões para limitar isso a um curto período após a sua primeira vinda.

Jesus toma esse mesmo impulso em João 14:12: “Na verdade, na verdade vos digo, que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”. Ele não disse que apenas os apóstolos e alguns outros daquela geração iriam fazer maravilhas, ele disse que aquele que cresse nele iria fazer maravilhas.

As implicações disto podem ser vistas na pergunta que Paulo fez aos discípulos efésios do batismo de João“Vocês receberam o Espírito Santo quando creram?” (Atos 19:2). Evidentemente, Paulo esperava ver alguma manifestação da presença do Espírito naqueles que seguem a Cristo. Ele não recebeu nenhuma revelação de que aqueles discípulos estavam deficientes, mas, ao investigar, ele viu que havia algo de errado. Quando ele procurou saber se eles conheciam algo do Espírito Santo, ele os dirigiu até Cristo! O resultado foi que eles receberam Cristo, foram batizados em Cristo, e falaram em línguas e profetizaram. Paulo esperava que todo cristão ou pelo menos todo grupo de cristãos pudesse demonstrar alguma manifestação visível da presença do Espírito, algum dom visível do Espírito Santo.

Além disto, como nós temos visto até aqui, a leitura natural de 1 Coríntios 13:8-12 indica que a profecia se encerrará quando Cristo retornar. Alguém poderia entender que a profecia se encerraria em algum tempo antes do retorno de Cristo, mas não há nenhuma razão para assumir isso. Assumindo que o propósito desse texto é estabelecer que o “agora conheço em parte[1] deverá ser substituído pela clara visão de Deus no fim, a simples leitura disto implica que tais dons continuarão até que venha o fim, pelo menos a princípio.

Então, temos as duas testemunhas de Apocalipse 11. Alguns acreditam que elas sejam dois líderes que deverão aparecer antes do retorno imediato de Cristo. Essa visão é comumente mantida pela maioria dos cessacionistas, que veem nisso um símbolo da voz da Igreja na presente era como julgamento  a era que vai desde o Pentecostes até o retorno de Cristo[2]. Mas estas testemunhas profetizam! Elas não são descritas como pregadores, mas como profetas. Novamente, por qualquer que seja a interpretação aqui, a simples indicação é que a profecia deve continuar até o tempo em que Cristo retornar.

Em consideração a essa questão, nós precisamos estar conscientes que as distinções que fazemos entre dons ordinários e extraordinários, ou dons revelacionais e não revelacionais, é artificial. A Bíblia não faz tais distinções. Ela coloca os mestres entre os profetas e os operadores de milagres, e o dom de governar entre os dons de curar e de falar em línguas (1 Coríntios 12:28). Qualquer um concorda que tais dons como ensino e socorro continuam. O que implica que todos os dons devem continuar, a menos que haja uma clara base bíblica que negue isso, como os requisitos em Atos 1 sobre um apóstolo oficial ser uma testemunha da ressurreição de Cristo. Aquela qualificação limitou o ofício apostólico à geração que viu Jesus em carne. Desse modo, o pressuposto é que os dons de profecia e cura continuam assim como os dons de ensino e governo continuam.

Os dons do Espírito são biblicamente associados com o ofício de Cristo como Rei. Em Efésios 4:8 nós lemos que, “quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens”. Paulo nos informa explicitamente quais tipos de dons ele tem em mente após três versículos: são os dons que devem equipar as pessoas como apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Efésios 4:11-12). A doação destes dons está explicitamente ligada à sua posse de seu trono no Céu. A mesma ligação foi feita quando ele comissionou os doze, e depois os setenta, em suas primeiras viagens missionárias. Mateus 10:7-8 diz, “por onde forem, preguem esta mensagem: ‘O Reino dos céus está próximo’. Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça; deem também de graça”. Em Lucas 10:9, os setenta são semelhantemente ordenados: “Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: ‘O Reino de Deus está próximo de vocês’”. O Reino de Deus é associado com curas e outros milagres. Eles são dons de Cristo como nosso Rei, o que implica que eles devem continuar. Ele não cessou de ser Rei, e nem mesmo existe alguma sugestão na Bíblia de que estes dons estariam reservados à celebração da sua coroação” real. De fato, todos concordam que os dons ordinários” continuarão enquanto o nosso Rei reinar. O nosso Rei pode fazer o que bem entender, mas os seus súditos não podem presumir que ele deixou de dar alguns dos seus dons sem nos dizer.

A ordenança procurai com zelo os dons espirituais” (1 Coríntios 14:1) carrega o pressuposto de que esses dons continuam. Isso é ecoado em 1 Coríntios 12:31, “procurai com zelo os melhores dons”, e em 1 Coríntios 14:39, “procurai, com zelo, profetizar”. Um princípio fundamental da interpretação bíblica é que o que foi escrito foi escrito para o nosso aprendizado (Rm.15:4; 1Co.10:11). Tais ordenanças não são apenas uma parte interessante da história, mas estão vinculadas à todo o povo de Deus, a menos que haja alguma razão clara para limitá-las. Os verbos estão todos no imperativo presente, implicando que nós devemos continuar a desejar esses dons espirituais. Esta implicação temporal no grego reforça a pressuposição de que estes dons continuam e devem ser desejados pelo povo de Deus.

Nós somos ordenados a provar os espíritos, para ver se ele vem da parte de Deus. Vamos nos concentrar nos meios que nos foram dados para fazer depois. Mas o que a ordenança em si sugere é que haverá algumas manifestações que são da parte de Deus, assim como outras não serão.

Pode haver algum problema se tais dons forem ignorados? Sim. Houve problemas e haverá problemas. Por isso, Deus nos instruiu a provar os espíritos, e não proibi-los. Isso está explícito em 1 Coríntios 14:39: “Não proibais o falar línguas[3]. Quando alguém alega estar falando em línguas ou profetizando, a resposta bíblica não é lhe dizer, você não pode fazer isso!” Os cessacionistas têm me dito: “Nós não estamos proibindo as pessoas de falar em línguas; nós estamos proibindo elas de falarem o que não seriam as línguas bíblicas, porque as línguas cessaram”. Tais declarações trivializam o ensino da Bíblia. A ordenança sobre provar os espíritos implica num exercício contínuo de tais dons, como a profecia. A advertência de Cristo de que, se possível, os falsos profetas e os falsos milagres enganariam até mesmo os escolhidos, implica na continuação da verdadeira profecia e dos verdadeiros milagres. Essas questões não devem ser tomadas levianamente.



Notas:
[1] Richard B. Gafin, Jr., “A cessacionist view”, Are miraculous gifts today? (Grands Rapids: Zondervan, 1996), p.55.
[2] Como entende William Hendriksen, em Mais Do Que Vencedores. São Paulo: Cultura Cristã, 1987
[3] Reformed Prebyterian Church, Evangelical Synod. Minutes of the 149th General Synod (Maio, de 1971), p.96. “...Observemos cuidadosamente que Paulo nos diz para não proibirmos falar em línguas. Certamente, isso quer dizer tanto publicamente como particular.=mente. Nós não temos autoridade espiritual (v.36-40) para proibir as línguas, mas apenas para limitar a publicidade delas segundo os padrões estabelecidos por Paulo (v.27-28).


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Extraído de:
CODLING, Don. Sola Scriptura and the Revelatory Gifts. Washington: Sentinel Press, 2005, p.115-119.

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Nº 68



REVESTIDO COM PODER
por Vincent Cheung

“Mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto – Lucas 24:49

Jesus nunca sugeriu que o poder é uma ameaça à nossa piedade, humildade ou sanidade. Ele falou do poder espiritual e miraculoso como algo benéfico e necessário. Ele nunca nos advertiu sobre ter poder, mas nos instruiu sobre como ter mais do que isto. Ele nunca nos advertiu contra a fé, mas nos advertiu contra a falta de fé. Ele não repreendeu ninguém por acreditar demais ou esperar demais, mas ele repreendeu as pessoas quando elas acreditaram muito pouco e esperaram muito pouco. Ele convida o seu povo para ter uma fé mais profunda, uma fé mais elevada, uma fé mais ampla, para que este acredite em mais coisas e coisas maiores, até mesmo coisas miraculosas. Paulo instruiu aos Coríntios para que desejassem os dons miraculosos do Espírito, enquanto os repreendia por abusarem do seu poder.

Muitos cristãos têm uma perspectiva muito diferente ou até mesmo oposta em relação ao poder espiritual bíblico. Eles têm uma concepção do cristianismo, de como ele é e de como ele opera, que é fundamentalmente antagônica à filosofia de Jesus quanto a vida e trabalho cristãos, e também quanto a visão de Jesus a respeito das qualificações para o ministério. Nós seguiremos Jesus Cristo, ou nós concordaremos com aqueles que se desviaram dele e se estabeleceram em suas próprias teologias e instituições para conspirarem contra o Espírito Santo? Por um lado, temos fé, poder, vida e sucesso. Por outro lado, temos derrota, escravidão, morte e punição.

A negligência do poder espiritual bíblico tem contribuído para muitos dos problemas duradouros em nossas doutrinas, em nossas igrejas e em nossas sociedades. Seria ingenuidade pensar que podemos nos opor ao Senhor em qualquer coisa e ficarmos impunes. O poder de Deus exige nossa aceitação e ênfase mais do que nunca. Jesus nos comissionou para que pregássemos o arrependimento e o perdão dos pecados à todas as nações, mas ele disse para fazermos isso quando estivermos revestidos com o poder do Céu. Portanto, seja zelosos pelo poder de Deus. Fale sobre isto. Exercite isto. Incentive outros a acreditarem nisto. Nós sempre desejaremos o poder  mais e mais poder  e correremos daqueles que tentarem nos impedir com a sua incredulidade e astúcia.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2012/06/07/clothed-with-power/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

Nº 67



SOFRIMENTO: UM FETICHE EXISTENCIAL
por Vincent Cheung

Os cristãos muitas vezes consideram os puritanos como especialistas em depressão espiritual, ou melancolia. Eu acho que eles eram especialistas em permanecer nela, não triunfar sobre ela. Só porque eles escreveram muito sobre isso não significa que eles continuaram lutando com isso. Suas intermináveis ​​listas em cada tópico promovem tédio, depressão, angústia e raiva, ao invés de resolver os problemas abordados. As pessoas que estudam os puritanos a fim de receberem ajuda neste assunto podem se sentir como eles, encontrando afinidade entre os seus espíritos e os espíritos destes teólogos divinos, mas há apenas ressonância, não avanço. Quando um demônio vem oprimi-las, elas o convidam para se assentar e tomar um chá. Elas iriam estudar e viver com isso durante anos.

Essas pessoas pensam que a solução é buscar a Deus, buscar Deus, buscar a Deus, e arrepender-se por quem sabe o quê, e buscar Deus, buscar a Deus e arrepender-se ainda mais. Elas estão sempre procurando” Deus e cavando sobre mais coisas de si mesmas para que possam se arrepender mais. Elas muitas vezes parecem mais obcecadas consigo mesmas do que com o próprio Jesus Cristo. É inútil procurar a Deus se você se recusa a fazer o que ele lhe diz! Tudo isso é fútil se você chafurdar em seus sentimentos e em suas dúvidas, e continuar passando por movimentos religiosos. Deus está aqui, mas você está esse tempo todo procurando por ele, quando na verdade você está apenas falando com uma parede e tentando ser piedoso, mas sendo falso e estúpido. Você não está realmente buscando a Deus se você se recusar a ouvi-lo, e se você se recusar a acreditar nele. Você quer pensar em si mesmo como humilde e zeloso, mas você continua endurecendo o seu coração contra o sangue de Cristo. Não admira que você esteja deprimido. Não admira que as dúvidas e as lutas persistam. Você as quer, porque elas fazem você se sentir especial. Mas quando você realmente procurar, você irá encontra, e estará encerrado. Você não precisará escrever 600 páginas mostrando às pessoas sobre o quanto você as tem contemplado.

Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27). Eu tenho paz. Meu coração não está perturbado. Eu não tenho medo. Eu não era assim, antes de me tornar um cristão. Eu fui tão medroso e deprimido que, às vezes, eu não podia nem mesmo sair do meu quarto. Quando Deus me chamou à fé, eu renasci em Cristo. Comecei imediatamente a estudar minha redenção, minha carta de emancipação. Eu aprendi. Eu renovei a minha mente. Estudei sobre a fé em Jesus Cristo e suas promessas felizes. Eu não gastei meu tempo examinando meus problemas até a morte, então os ressuscitei dos mortos, pedi desculpas a eles, cuidei deles de volta à força, então clamei a Deus sobre como eles haviam voltado, e depois os torturei com um monte de listas chatas até que eles se mataram apenas para fugir de mim. Concentrei-me nos méritos do sofrimento e da expiação de Cristo em vez dos méritos de minha própria depressão e arrependimento. Eu não me orgulhei da minha vergonha, mas procurei Cristo imediatamente. Então eu tomei esta paz que Jesus me deixou. Então eu me recusei a deixar que o meu coração ficasse perturbado. Então parei de ter medo. E fiquei feliz  mais feliz e mais consistente do que qualquer um que eu conheço.

Paulo escreveu: Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus” (Filipenses 4:6-7). Eu estava tão ansioso que eu estava imobilizado na vida. Mas voltei minha mente para Cristo, e deixei de estar ansioso. Disse a Deus tudo o que eu queria, por oração e súplica, com ação de graças. E o que Paulo disse se tornou verdade. A paz de Deus invadiu meu coração e fortificou minha mente até hoje. Pedro disse que, mesmo se você não vê Cristo agora, mas tem fé nele, você se alegra com alegria inefável e cheia de glória (1 Pedro 1:8). Se você diz que acredita nele, por que você não tem essa alegria? Você não deveria pelo menos admitir que você deveria tê-la? Não é preciso uma análise em cinco volumes para admitir isso.

Os cristãos continuam dizendo que devemos negar a nós mesmos, crucificar a nós mesmos. Fira-se várias vezes, e você será salvo. Eles não têm ideia do que a Bíblia realmente ensina sobre isto. Quando você falar como um papagaio, “pegue a sua cruz!, certifique-se de que você sabe o que isto realmente significa, ou então não diga mais isto. Continue pressionando, e Deus eventualmente responderá: Vós sois a cruz, e eu os lançarei fora! (cf. Jeremias 23:33). A maioria daqueles que continuam tagarelando sobre a negação de si mesmos e o carregamento de cruzes são bastante egoístas e irritantes. Agora, se a Bíblia diz para nos negarmos a nós mesmos, você já fez o que ela te disse? E se você tiver feito o que ela disse, então você também não deveria experimentar o que ela te disse? Então, por que você não tem a paz que excede todo entendimento? Ops, eu não deviria ter dito isso. Agora você está de volta num canto se atordoando e se analisando novamente.

Pregador, por que não joga essa enciclopédia da melancolia pela janela e declara ao seu povo a alegria inefável e cheia de glória? Este é um evangelho alegre e confiante maior do que a sua maldição? Você replica: “Mas Jesus era um homem de dores!. Você leu isso em um calendário, não é mesmo? Aqueles de nós que lemos a Bíblia vemos que há mais do que isto: Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53:3-5). Isto é Isaías 53, homem. Como você pode errar? É claro que ele era um homem de dores  ele estava carregando as nossas tristezas! Claro, que ele foi ferido e afligido  ele foi punido para que pudéssemos ter paz. Não se diz que por suas feridas fomos feridos, mas sim que por suas feridas fomos sarados. Recebemos o oposto do que ele recebeu. Dizer que Jesus era um homem de dores, de modo que também devemos viver em dores, é atacar a expiação e o sangue de Jesus Cristo.

Essa maneira anti-evangélica de pensar é muito comum. O sofrimento de Cristo é retratado como algo que nós precisamos imitar ingenuamente. Ele sofreu em nosso lugar, e suportou muitas coisas para que não precisássemos suportá-las. Nosso sofrimento, quando acontece e quando é legítimo, é diferente do dele. Os cristãos que são demasiado ineptos para fazer distinções simples nesta matéria  e a maioria são totalmente ineptos  não devem ensinar sobre isso. Eles tendem a sobrecarregar as pessoas com sofrimentos desnecessários, e de uma forma que sugere que sejam espirituais e meritórios. Este tipo de ensinamento permite que os cristãos possam se chafurdar na sua própria incredulidade e tristeza, e ao mesmo tempo sentirem que seus sofrimentos são significativos. A incredulidade é chocantemente estúpida, mas, ao mesmo tempo, torna as pessoas tão arrogantes que medem umas as outras por meio dela.

Para muitos cristãos, o sofrimento é um fetiche existencial. Talvez você goste desse sistema de dor e luta religiosa porque isso faz você se sentir piedoso. Você está se transformando, e você está doente. Não tem nada a ver com viver para Cristo. Você é falso. Se você estivesse negando-se a si mesmo, então Cristo viveria em você, e você exibiria as qualidades e os poderes de Cristo. Se você estivesse negando-se a si mesmo, então você teria fé, alegria, paz, cura, e o poder do Espírito, e todas as coisas que Jesus Cristo sofreu a fim de obter para você. Deus mesmo o ressuscitou dos mortos e lhe ordenou que supervisionasse a aplicação da redenção, para ter certeza de que você receberia o que lhe pertence em Cristo, e que ninguém pode tirar isso de você. Mas o que você faz? Você cospe no seu rosto, você pisa no seu sangue, e então você prega sobre isso como sendo o evangelho.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2016/10/25/suffering-an-existential-fetish/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

sábado, 20 de maio de 2017

Nº 66



CESSACIONISMO: A FORTALEZA DEMONÍACA
por Vincent Cheung

Mas graças a Deus, que sempre nos conduz em procissão triunfal em Cristo e através de nós espalha em todos os lugares a fragrância do conhecimento dele  2 Coríntios 2:14.

As pessoas ficam tão felizes quando deixam o cessacionismo para trás. Às vezes ainda permanece algum ressentimento quando elas batem a porta na cara da heresia, pois desperdiçaram tanto tempo com ela, e sofreram muito por causa disso. Algumas dessas pessoas só conseguem ver como elas perderam os seus amigos doentes para o cessacionismo, visto que nunca souberam como poderiam receber a cura de Deus pela fé. Qualquer vislumbre de esperança que elas visavam na Bíblia era dizimado pelas divagações intimidadoras de seus pastores fabricados em seminários. Seus amigos morreram, e elas nunca tentaram entender o que estava diante delas, na Palavra de Deus. Estava ao alcance delas. Estava bem na frente delas! Os cessacionistas mataram isso.

Às vezes as pessoas me dizem que tinham uma sensação de que alguma coisa estava errada nas doutrinas que recebiam. As coisas que aprendiam com seus líderes cristãos não combinavam com aquilo que a Bíblia lhes dizia. Mas, por outro lado, os chamados carismáticos pareciam incapazes de explicar isso, e pareciam até mesmo repugnantes, especialmente quando representados pelas constantes críticas dos cessacionistas. Existiam estudiosos carismáticos competentes, mas essas pessoas não os conheciam. Não havia nenhum lugar para o qual elas pudessem se voltar. Seus corações estavam inquietos porque sentiam que a verdade era diferente daquilo que os cessacionistas lhes diziam, mas, ao mesmo tempo, aquilo que eles lhes diziam as dominava por completo. Elas se sentiam presas. Elas se tornaram prisioneiras em suas próprias mentes. Elas eram incapazes de compreender ou aceitar a Palavra de Deus. A Bíblia chama isso de fortaleza demoníaca.

A palavra de Deus não está presa. Ela penetra na alma e no espírito, nas juntas e na medulas. Ela invade as masmorras internas dos homens e as incendeia com fogo. Quando eu declarei a verdade da Bíblia  a mesma Bíblia que eles tinham esse tempo todo  e condenei duramente o cessacionismo, foi como se as portas da prisão fossem escancaradas. Algumas dessas pessoas expressaram uma tremenda gratidão. Que alegria e libertação! Feliz é aquele que foi libertado para ter fé em Deus. Elas precisavam que alguém lhes desse a permissão para abandonar a falsa tradição e seguir a Cristo. Com doutrinas e argumentos bíblicos, e com sincera retórica, ofereci uma escolha que antes lhes havia sido negada. Então a questão ficou entre elas e Deus. Quando Deus trabalhou em seus corações, elas jogaram fora as suas correntes e abraçaram a verdade.

É claro que, quando são confrontados com a verdade, algumas pessoas endurecem os seus corações ainda mais. Quando a palavra de Deus vem até você, você nunca mais permanece o mesmo. Você vai aceitá-la e ficar melhor, ou você vai rejeitá-la e ficar pior. Jesus disse: “Porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado” (Mateus 13:12). As pessoas pensam que sabem o bastante, mas quando elas rejeitam a palavra de Deus que vem de nós, mesmo que elas a tenham tornado ineficaz para as suas vidas, elas perderão a sua luz, e o seu conhecimento se voltará contra elas mesmas.

A incredulidade carrega a sua própria punição. Deus pode organizar uma festa na frente dos incrédulos, e eles podem não reconhecer o que está diante deles. É uma existência degradante. Eu apresento esse assunto de uma maneira que aqueles que têm olhos que veem e ouvidos que ouvem (Mt.13:16) abraçam a verdade, e aqueles que não fazem isso se comprometem ainda mais com a mentira. É exatamente isso que acontece. Como disse Isaías: “Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure” (Mateus 13:14-15). Os cessacionistas apontam seus dedos contra mim, mas eles estão ofendidos mesmo é com Palavra de Deus, e Satanás rouba isso de seus corações. Cada vez que Satanás faz isso a algum deles, ele também rasga um pedaço da sua alma. O homem começa a morrer por dentro, e ele finalmente se torna um cadáver ambulante, um zumbi religioso.

Você pode mostrar a Bíblia para eles, e ler para eles como se fossem crianças, mas eles não recordam, e continuam apresentando as mesmas desculpas como protesto. Quando você fala com eles, estão como aqueles que recebem uma lavagem cerebral no culto. Algo sequestrou as suas mentes. Eles não podem raciocinar com você de forma inteligente. A troca não faz sentido. Eles nunca ganham, mas mesmo assim insistem. Muitas vezes eles se recusam a interagir com os seus pontos, mas eles ainda pensam que estão desculpados. A próxima vez que você os vê, eles começam tudo de novo, como se a conversa anterior nunca tivesse existido. É bizarro. O que é isso? Os seus corações endureceram. As suas mentes foram fortificadas por uma fortaleza demoníaca que filtra a verdade. Deus pode libertá-los, mas até lá, eles estão presos à um monturo de cessacionismo rançoso.

Este tópico realmente exige uma linguagem forte. Trata-se do coração do evangelho. Trata-se do lugar de Cristo como Mediador, da sua posição à destra de Deus. O cessacionismo é tão sério e sinistro como qualquer heresia. Não deve ser discutido com desinteresse acadêmico, mas com o sangue feroz. É grave em princípio, mas também grave em consequência. Este é um Deus de providência secreta, ou também um Deus de manifestação evidente? Ele é um Deus que se esconde, ou um Deus que se revela? A resposta faz toda diferença, para a igreja e para toda a humanidade. Mesmo assim, eu não compeli ninguém. Eu não tenho poder para compelir o coração de outras pessoas. Eu não posso prejudicá-las ou puni-las. Elas podem acreditar no que querem, e Deus as responsabilizará. Para aqueles que têm fé, o tema em si não é duro. Não há conflito ou pesar. É o evangelho.


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Extraído de: 
CHEUNG, Vincent. Fulcrum. 2017, p.46-47.

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

Nº 65



CESSACIONISMO: AS CISTERNAS ROTAS
por Vincent Cheung

Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas”  Jeremias 2:13.

Minha afirmação quanto ao expansionismo visa abordar apenas o debate entre cessacionismo e continuísmo. Ambos estão errados, embora o cessacionismo seja bem pior. O cessacionismo é uma rejeição pura e simples do evangelho. O continuísmo, ao permitir que este grupo anti-evangélico defina os termos para a doutrina, não se torna um compromisso evangélico. Jesus ordenou a expansão, não a continuação.

A doutrina do evangelho é de que mais e mais pessoas devem exercer o poder miraculoso da fé, pelo Espírito, em nome de Jesus Cristo, e que este poder deve aumentar de geração em geração. O cessacionismo é contra isso. O continuísmo é inadequado para representar isso. O continuísmo é muito coxo em comparação aquilo que o evangelho realmente ensina.

Quanto à sua pergunta, se você quiser relacionar isso à Teonomia e Reconstrucionismo, então, meu primeiro comentário seria de que todo teonomista e reconstrucionista que é cessacionista também é um mentiroso e um hipócrita. Se você quiser aplicar a lei de Deus à humanidade e reconstruir a sociedade de acordo com a Palavra de Deus, então você deve fazer isso com o evangelho, e o evangelho é como eu disse acima  expandindo a participação e a magnitude da mensagem salvadora, e do poder miraculoso, pelo nome de Cristo.

O teonomista e reconstrucionista cessacionista  como qualquer outro cessacionista  não está realmente interessado em estender o reino de Cristo, mas em implementar a sua própria filosofia pessoal no que se refere a um bom funcionamento da sociedade. Ele quer moldar a sociedade a sua própria imagem – talvez uma filosofia política conservadora rotulada de cristã  mas não a imagem de Cristo.

Um programa que procura mudar a sociedade por meio de Jesus Cristo deveria pregar o evangelho, curar os doentes, expulsar os demônios e profetizar, antes mesmo de pensar em controlar a política, a educação, etc. Se houver alguma legitimidade para a Teonomia e o Reconstrucionismo, então ela deve conter um aspecto do expansionismo – estendendo o reino de Deus com poder espiritual e miraculoso.

A maioria dos teonomistas e reconstrucionistas são cessacionistas. Por isso, eu não acho que eles devam sequer falar sobre esse tema, ou sobre como eles podem transformar a sociedade. Eles abandonaram Jesus Cristo, o manancial de águas vivas, e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rotas, que não podem conter água. Este deve ser o epitáfio de cada cessacionista.


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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Fulcrum. 2017, p.66.

Traduzido por: Dione Cândido Jr.