quinta-feira, 30 de março de 2017

Nº 64



TRIUNFALISMO E DERROTISMO
por Vincent Cheung

Mas graças a Deus, que sempre nos conduz em procissão triunfal em Cristo e através de nós espalha em todos os lugares a fragrância do conhecimento dele  2 Coríntios 2:14.

A pregação cristã deve sempre ter um tom de triunfo. A mensagem do evangelho é uma declaração da vitória de Deus através de Jesus Cristo sobre todos os seus inimigos  demônios, incrédulos, pecados, decadência e morte.

Alguns estão preocupados com uma teologia do triunfalismo. Há vários usos para a palavra, por isso precisamos especificar o significado pretendido. Aqui nos referimos à visão de que, por meio da fé na obra de Cristo, o crente deve esperar viver a sua vida livre de todas as dificuldades e oposições, ou se as encontrar, deve esperar conquistá-las completamente em todas as ocasiões.

Essa visão é bastante rara  só posso assumir que ela existe, mas nunca me deparei com isso em si. Embora tenha sido atribuída a certas seitas carismáticas, pelo menos na minha própria exposição à controvérsia, tem sido uma caricatura em todos os casos, ainda que a caricatura tenha alguma base. Os professores que sofreram mais ataques dos círculos tradicionais e evangélicos nunca ensinaram o triunfalismo no sentido acima exposto (embora, por serem tipicamente imprecisos, descuidados e inconsistentes, às vezes parecem ensiná-lo e devem assumir parte da culpa por haverem sido deturpados). Eles não ensinam que o cristão não encontrará mais problemas nesta vida. Em vez disso, eles ensinam que um cristão, com base na obra de Cristo, deve, em princípio, esperar vencer todos os problemas que enfrentar. Alguns deles pensam que os problemas persistentes sinalizam uma falta de fé, ou uma falta de amor ou santidade, embora alguns também atribuam isso à soberania divina. Aqueles que discordam podem se opor a eles nesse ponto, mas não podem atacá-los com um espantalho.

De acordo com seus críticos, o problema com o triunfalismo é que ele oferece aos crentes falsas esperanças, e que o fracasso em alcançar os resultados prometidos conduz a falsa culpa. Esse perigo é real quando uma teologia não observa a assim chamada distinção entre o  e o ainda não nas promessas de Deus. Para ilustrar, Deus me prometeu um corpo ressurreto com características e habilidades aprimoradas, e que é imune a danos e à morte. A promessa já é minha agora, mas o cumprimento virá somente mais tarde e, independentemente da força da minha fé, não há nada que eu possa fazer para alcançá-lo imediatamente. Um ensinamento que insiste que eu deveria alcançar algo que não é destinado para esta era colocaria um fardo irracional sobre mim.

Dito isto, esse perigo é muitas vezes exagerado por causa da incredulidade dos críticos, e porque eles falam a partir de uma posição que está no outro extremo  uma posição de derrotismo. Uma doutrina da vitória, por conseguinte, é interpretada como uma negação da realidade, quando o ensinamento pode simplesmente ser de que o poder de Cristo nos permitirá vencer o sofrimento, ou que, se devemos suportá-lo, devemos fazer isso sorrindo ou mesmo gritando de alegria. Muitos pensadores cristãos estão perplexos com isso. Eles afirmam que esta vida é um tempo de provações, e a promessa de vitória através da fé constitui falsa esperança. Então, o fracasso parece refletir uma falta de fé e, assim, produz falsa culpa. Mas Jesus repetidamente disse aos seus seguidores: Onde está a vossa fé? A verdade é que, mesmo que o sofrimento contínuo não indique uma falta de fé, certamente indica um espírito deprimido e derrotado. Tal pessoa deve sentir uma medida de culpa, e ele deve se arrepender e melhorar.

A vitória que nós pregamos é primeiro a vitória de Deus, não nosso sucesso pessoal. Deus cumpriu suas promessas e predições, e superou suas oposições por meio de Jesus Cristo. É impossível não declarar isso com muito triunfo em nossa voz ou muito prazer em nossa atitude. Não existe tal perigo. Então, se estamos unidos a Cristo, sua vitória deve ter aplicação em nossas vidas. Nós nos beneficiamos da sua vitória. Nós gostamos dos efeitos reais dela. Caso contrário, não estamos verdadeiramente unidos a ele, e a nossa fé é uma farsa. Muito mais difundida e arraigada do que o triunfalismo  e sendo praticamente universal  a teologia do derrotismo presta um serviço de lábios à vitória do evangelho, mas em toda a sua pretensão de humildade e compaixão tenta desesperadamente esconder um coração maléfico de incredulidade.

O triunfalismo, mesmo com todas as suas falhas, é muitas vezes uma reação a esse espírito de incredulidade, pois o derrotismo pinta um quadro muito diferente do que percebemos na Escritura. Mas não há necessidade de adotar qualquer extremo. Os cristãos de fato continuam enfrentando problemas e oposições neste mundo, e às vezes devemos continuar a resistir. E é realmente necessário distinguir entre o  e o ainda não das promessas do evangelho. No entanto, Deus já nos selou como sua propriedade e pôs o seu Espírito em nossos corações como garantia do que está por vir” (2 Coríntios 1:22). O Espírito em si não é fraco, e o dom não é meramente um gesto simbólico. O evangelho nos dá uma amostra da bondade da palavra de Deus e dos poderes da era que há de vir” (Hebreus 6:5), mesmo no aqui e agora.

O fundo para o tom triunfante de Paulo não é de facilidade e conforto, mas de angústia muito além da sua própria capacidade em suportar (2 Coríntio 1:8-11). Ele não nega a realidade presente, mas ainda declara a vitória que Deus alcançou por meio de Jesus Cristo, da qual os crentes agora desfrutam. Em contraste disso, muitos querem tocar a nota da derrota mesmo sem muito sofrimento. Eles deveriam ter vergonha. Eles deveriam estar sobrecarregados de culpa. Eles têm pouca esperança para poder criticar outros por terem muito. Não é forçoso pensar que o Senhor lhes diria o que disse à sua geração: Até quando eu estarei com você? Por quanto tempo eu terei que suportar você? Homem, onde está a sua fé? O triunfalismo nos faz sonhadores delirantes. O derrotismo nos torna perdedores patéticos. A fé verdadeira na vitória de Jesus Cristo nos torna vencedores esperançosos e realistas nesta vida e na vida futura.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2011/01/29/triumphalism-and-defeatism/

Traduzido por: Iury Anderson

segunda-feira, 13 de março de 2017

Nº 63



QUAL É MAIS FÁCIL?
por Vincent Cheung

Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, respondeu, e disse-lhes: Que arrazoais em vossos corações? Qual é mais fácil? dizer: Os teus pecados te são perdoados; ou dizer: Levanta-te, e anda?  Lucas 5:22,23

A teologia bíblica  não apenas a teologia bíblica, mas aquela abordagem de interpretação que é chamada teologia bíblica  interpreta o texto da Escritura no contexto do plano de redenção de Deus por meio de Jesus Cristo. Isto é apropriado, mas nas mãos da incredulidade torna-se uma desculpa para neutralizar o que as passagens individuais realmente afirmam, porque sempre se pode  de maneira ilegítima, naturalmente  apelar ao propósito abrangente da redenção para destruir o significado mais estreito de um texto.

Um livro recente sobre teologia bíblica descreve um incidente em que o autor estava falando com algumas crianças na igreja. Ele ensinou sobre um relato bíblico de cura milagrosa e praticamente intimidou uma criança a confessar que o milagre não era o ponto do texto, mas que o ponto era realmente sobre alguma preocupação mais ampla com relação a Cristo e sua obra de redenção. No entanto, para aquele homem doente do texto a cura era muito do ponto, e Jesus não lhe disse que a cura não era o ponto, mas ele lhe concedeu a cura de modo que pensou ser um ponto suficiente para fazer aquilo ao homem. E para um doente que lê a Bíblia hoje, a cura também é muito importante, mesmo que não seja o único ponto ou o ponto mais importante.

Quando há um ponto maior a ser compreendido a partir de um texto, o que é declarado pelo texto não se torna repentinamente insignificante. Quando Jesus falou sobre pardais, seu principal ponto não era sobre pardais, mas o que ele disse sobre os pardais ainda permanece verdade para esse dia, tanto que poderíamos fazer um ponto com eles mesmos. Poderíamos apontar que Deus regula a vida dos pardais sem mencionar o que isso implica em seu relacionamento conosco, porque esse ponto sobre os pardais é verdadeiro por si só, e pode permanecer por si só (Mateus 10:29). Se um relato bíblico da cura milagrosa promove um ponto maior sobre Jesus Cristo, a passagem ainda é inteligível em si mesma. É ainda sobre a cura milagrosa, e cura milagrosa ainda é um tema legítimo que pode ser discutido com base no texto.

Embora possa levar vários anos para igrejas e seminários exorcizarem a compreensão básica de leitura de uma pessoa, essas instituições são persistentes e bem-sucedidas em fazer as pessoas desaprender habilidades intelectuais para que possam aceitar o absurdo total. Na verdade, é estranho que quando a Bíblia se refere a cura do corpo e a salvação da alma como se estivessem agrupadas e como se cumprissem as mesmas profecias (Mateus 8:17; 1 Pedro 2:24; Tiago 5:15-16), os pregadores e teólogos desejam separá-las e até mesmo espiritualizar a cura do corpo pela salvação da alma, e então forçar a cura até que seja absorvido pela salvação. E quando a Bíblia se refere a conversão à Cristo e a recepção do Espírito como bênçãos e eventos distintos, os pregadores e teólogos desejam combiná-las, e forçar a recepção do Espírito para que seja absorvida pela conversão.

Eles mantêm separado o que a Bíblia agrupa, de modo que isso possa disfarçar sua oposição ao poder da cura de Deus, e eles agrupam o que a Bíblia mantém separado, para que eles possam disfarçar sua oposição à plenitude do Espírito. Então, com as ferramentas de sua erudição, eles intimidam e envergonham as pessoas para seguirem o seu programa teológico e eclesiástico. Mesmo as crianças pequenas não são poupadas. Elas não teriam permissão de correrem para Cristo por todas as suas bênçãos. Sua fé para receber o Cristo dos Evangelhos e receber o Espírito de Atos não será tolerada. Seja o que for preciso, sua fé será educada a partir deles.

Contra tudo isso, se você se apegar somente a Cristo, encontrará nele a liberdade das doutrinas dos homens e da pressão de se conformar à descrença e tradição. Quanto ao modo como devemos respondê-los, o que é mais fácil dizer: Volte da sua incredulidade, ou dizer Que sua incredulidade arda com você? Mas para que todos saibam para onde a descrença leva, digamos: Afasta-se da sua incredulidade, para não se queimar com ela.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2012/06/07/which-is-easier/

Traduzido por: Iury Anderson