domingo, 12 de junho de 2016

Nº 32



BOAS DÁDIVAS DO PAI 
por Vincent Cheung

Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?”  – Mateus 7:9-11.

Sombras de um deus pagão

A oração é um negócio traiçoeiro em algumas fábulas pagãs. Vamos criar uma versão moderna para ilustrar. Um homem ora ao seu deus por dinheiro, a fim de pagar os débitos de sua mãe. O deus satisfaz o pedido matando a mãe num terrível acidente, e então o homem recebe uma compensação mais que suficiente da companhia de seguros para pagar os honorários médicos, preparativos para o funeral e, claro, as dívidas.

A deidade concede o pedido ao homem, mas ao mesmo tempo tornou a transação inútil, porque ao ganhar o dinheiro para ajudar a mãe, ele também perdeu a sua mãe. O homem pediu por algo bom, algo inocente, e a deidade usou a ocasião para zombar de sua vida e piedade.

Ah, mas o nosso homem é um teólogo, um expert, então ele sabe com o quê está lidando. Ele ora para que esse deus dê a ele dinheiro para pagar os débitos de sua mãe, porém, assegurando o dinheiro, o deus não deve machucar sua mãe, ou ele, ou qualquer outra pessoa. Logo ele recebe dinheiro ganho na loteria e paga seus débitos. Ninguém se machucou. Sua mãe está trabalhando em vários empregos agora para recuperar o dinheiro, mas então ela pára de trabalhar e começa a beber. Numa noite ela dirige para casa embriagada, bate o carro e morre.

Essa é a razão pela qual os pagãos tem medo “da vontade de Deus”. Você está lidando com uma deidade caprichosa e egoísta. Você nunca sabe o que ele vai fazer. Não faz diferença nem mesmo se ele fez promessas, porque é difícil saber se você está interpretando-as corretamente, e ele provavelmente fará seja lá o que ele quiser. Mas se você ignorá-lo, ele pode ficar irado.

Eu deveria orar? Se eu não orar, que tragédia ele colocará no meu caminho? Se eu pedir aquilo que quero, como ele distorcerá o meu pedido? Será que ele vai deixar a minha vida pior? Oração é um jogo perigoso. Seria melhor se ele não soubesse que você existe. E se você realmente quiser alguma coisa, você deveria buscá-la por conta própria.

Os pagãos se afogam numa sensação de terror opressivo, embora os devotos prefiram chamar isso de reverência. Sua relação com os deuses é uma relação de suspeita. Não há como ganhar. Você pode apenas tentar apaziguá-los, provavelmente com votos e ofertas, sofrimentos e sacrifícios. Você nunca sabe quando eles o abençoarão além da medida e você nunca sabe quando eles levarão tudo embora.

Claro, os deuses pagãos são falsos. Ou eles existem apenas na mente das pessoas ou eles são demônios. Isso torna o nosso ponto ainda mais importante, isto é, a noção pagã de deidade é desconfortavelmente similar à ideia de Deus que os cristãos têm afirmado e defendido, por vezes violentamente, pelos séculos. Se eu trocar “pagão” por “cristão”, e se eu ajustar o tom para dar uma repaginada positiva, isso se tornaria a doutrina ortodoxa cristã. Enquanto eu a pregasse, murmúrios de “amém” ecoariam e os membros da igreja aplaudiriam minha perspicácia e humildade.

Esse deus pagão assombra a teologia cristã. Ele aparece em todo lugar – em nossos sermões, orações e conversas. Contudo, esse não é o Deus da Bíblia, nem o Deus dos Evangelhos que Jesus declarou ao seu povo. De fato, cristãos costumeiramente ensinam o oposto do que Jesus falou acerca de Deus. Agora Deus é aquele que está jogando cobras à seus filhos, talvez para ensinar-lhes alguma coisa, e Satanás é o que lhes dá pão e toda sorte de coisas maravilhosas. Agora Deus é aquele que deixa as pessoas doentes e pobres, e Satanás é o que os cura e os faz prosperar.

Aqui está uma versão menos entediante da ortodoxia tradicional, e mais honesta: Nós deveríamos pedir por cobras. Se você pedir por pão e peixe, você é materialista, e provavelmente acredita no Evangelho da Prosperidade. Então nós pedimos por cobras, e, mesmo assim, talvez não as consigamos, porque Deus ainda vai fazer seja lá o que ele quiser. Não obstante aquilo que ele prometeu e independentemente do que uma pessoa peça em oração, Deus vai decidir caso-a-caso. Se ele quiser dar-lhe um canguru radioativo, adivinha? O homem receberá um canguru radioativo. Então, enquanto ele se derrete por causa da radiação, ele canta, “Todas as coisas cooperam para o bem”.

Isso não é teologia cristã autêntica. É paganismo masoquista. Algumas religiões tribais obrigam seu povo a fazerem coisas estranhas para deformar seus corpos. Isso é parte de sua adoração e cultura. Cristãos fazem a mesma coisa, mas o fazem em seus corações. Sua teologia é grotesca e são tão deformados em seus espíritos quanto os pagãos em seus corpos. Eles se chamam de cristãos, mas são pagãos no coração, porque a deidade pagã é o único tipo de Deus que eles conhecem.

Então quando Deus manda alguém pregar sobre eles poderem ter pão, eles pedem pedra! Quando ele envia alguém para dizer que eles podem ter peixe, eles pedem cobra! E então eles sofrerão “para a glória de Deus”. Não é que eles vivam por fé nas promessas de Deus, e então suportem e superem sofrimentos por causa de perseguição. Esse é o tipo de sofrimento que a Bíblia endossa. Não, eles se gloriam no tipo de sofrimento que não tem nada a ver com viver para o evangelho, mas sim no mesmo tipo de sofrimento que o evangelho nos liberta. Isso é considerado santo. É considerado teocêntrico. Essa é uma religião muito estranha. Certamente não é a fé cristã.

O evangelho de Jesus Cristo

Jesus Cristo nos liberta da escravidão da falsa tradição, dos ensinamentos religiosos inventados por homens. O deus deles é um soberano mentiroso e um controlador de escravos. As pessoas já têm um vida difícil. Ao invés de ensiná-las que Deus quer ajuda-las, eles dizem que Deus talvez as faça sofrer até mais, mesmo quando não tem nada a ver com perseguição por causa do evangelho, e isso é será algo bom para eles. Religiosos masoquistas ficam mais e mais animados, mas pessoas sãs desconfiam.

Jesus se coloca contra esse tipo de pessoa e sua religião. Ele diz, “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30). Isso é o que o evangelho deve alcançar, mas muitos ministros cristãos voltaram à escola dos fariseus. Ainda assim, Jesus não mudou. O seu fardo ainda é leve. Ele ainda vai te dar descanso.

Jesus nos liberta para crer nas boas novas de Deus. Ele nos diz que Deus é nosso Pai. Ele é um Pai que nos dá boas coisas quando pedimos, e as “coisas boas” são aquelas que pedimos, e não coisas que supostamente são “melhores” para nós, mas que são na verdade bem piores. Deus leva nossa oração a sério. Ele não faz brincadeiras bobas conosco e depois zomba da nossa vida. Quando você ora com fé por dinheiro para pagar a mensalidade da faculdade do seu filho, ele não vai responder derrubando um guindaste nos seus pais, para que você pegue a herança.

A Bíblia diz, “A bênção do SENHOR enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto” (Provérbios 10:22). Não há motivos para duvidar de Deus ou ludibria-lo. Quando ele responde, ele não prega peças. Ele não piora as coisas para você e depois joga Romanos 8:28 na sua cara para fazê-lo calar a boca.

O texto é seguro contra os truques que cristãos usam para explicar ensinamentos que nos prometem coisas boas na vida. O significado de “boas” dádivas deve ser consistente com o contexto imediato, que é o Sermão do Monte. Portanto, deve incluir comida e roupas e até mesmo “todas estas coisas” que os pagãos correm atrás (Mateus 6:25-34). Deve também ser consistente com o que Jesus dá ao povo nos Evangelhos. Jesus é a revelação de Deus, a perfeita representação do Pai. Tanto é que ele diz que ele e o Pai são um, que o Pai executa as obras por meio dele e que ver a Cristo é ver o Pai. Não há base alguma para achar que o Pai se comportaria diferentemente do modo como Jesus o faz nos Evangelhos.

Os Evangelhos apresentam Jesus como um salvador completo. Ele salva o homem por completo, não apenas seu aspecto espiritual. Ele perdoa, ensina, cura e até mesmo alimenta as pessoas. Quando alguém pede por conhecimento, ele dá conhecimento. Quando alguém pede por cura, ele dá cura. O significado de “bom” é o que as pessoas ordinariamente considerariam bom – perdão, cura, alimento, roupa e coisas do tipo. Nós podemos pedir por essas coisas boas e esperar receber essas coisas boas.

Jesus dá aquilo que a pessoa pede. Quando alguém pede por cura, Jesus não dá câncer e depois afirma que isso é melhor. Ele dá cura ao homem. Portanto, Deus Pai se comporta da mesma maneira. Muitos cristãos tem a ideia de que tudo o que você pedir em oração, Deus vai lhe dar o que ele quer de qualquer forma, e você deve chamar isso de “bom”, não importa o que seja. Isso não se encaixa no texto quando é lido no contexto de como Jesus se comportou nos Evangelhos e no contexto das promessas que nos foram dadas na Bíblia. O ensino visa encorajar a fé em pedir boas coisas, não para nos constranger a chamar tudo de “bom” não importando o quanto realmente a coisa seja catastrófica.

O ensinamento tradicional acerca da oração se apresenta como algo que promove a soberania de Deus e a santificação do homem. Mas, na realidade, é um ataque velado sobre a paternidade de Deus. Ele torna Deus pior que os pais humanos, que são pecadores. É uma doutrina religiosa pretensiosa, antibíblica, e que coloca um fardo pesado no povo de Deus que clama a ele, em parte porque eles precisam se aliviar precisamente desse tipo de fardo religioso em primeiro lugar.

Essa é a doutrina equivale a descrever as promessas de Deus como significando o oposto daquilo que ele disse, que um homem nunca receberá aquilo que ele pede ou que receberá algo bem pior do que aquilo que foi pedido, com a diferença de que ele deve chamar isso de bom de qualquer forma. Cristãos que creem nisso tem uma relação disfuncional com o Pai, para dizer o mínimo.

A doutrina de Jesus é acessível e clara. Não enxergamos no seu ensino uma impostora linguagem piedosa como desculpa para Deus e para nós mesmos a partir dela. Ele diz que pais humanos sabem dar boas dádivas aos seus filhos, coisas como pão e peixe. Então ele acrescenta, “quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem”. O dar está conectado com o pedir. Cristãos estão acostumados a chamar tudo de bom com a falsa justificativa de que isso fomenta o caráter. Esse versículo não permite isso, porque o que Deus nos dá corresponde ao que nós pedimos.

Se você pedir por cura, Deus não vai te deixar mais doente para “ensiná-lo” alguma coisa. Ele o ensina pela sua palavra. Se ele o disciplina com experiência, é apenas para fazê-lo retornar à sua palavra. E a sua palavra promete cura. Alguém diz, “ah, mas eu não quero desperdiçar o meu câncer”. Esse idiota já está desperdiçando o tempo de todo mundo com o seu besteirol religioso estúpido. Se ele não deseja desperdiçar seu câncer, então por que ele não recebe uma cura milagrosa, a fim de que todos que ouçam falar sobre isso e se maravilhem com a bondade de Deus? Se o câncer o leva a Deus, então por que ele não acredita naquilo que Deus fala? Por que ele não aprende sobre curas milagrosas e começa a ensiná-las?  Por que ele não realiza reuniões de cura, para orar pelos doentes? Esta seria a reação mais correta ao que a Bíblia ensina. Qual “Deus” faz o câncer sair dele? Ele distorce a palavra de Deus para justificar sua abordagem sobre a situação. Ele desperdiçou o seu câncer. Não desperdice sua vida. Se a palavra de Deus te ensina uma coisa, então simplesmente creia e faça. Você não precisa de um câncer para fazê-lo agir.

Se você pedir por proteção, Deus não vai te colocar num acidente de carro, porque de alguma forma é “melhor” para você. Cristãos que acreditam em algo assim querem soar inteligente e teologicamente astutos, mas isso é extrema tolice. Num caso como esse, o cenário no qual a pessoa não vivenciou o acidente nunca aconteceu. Portanto, é especulação dizer que o que realmente aconteceu foi melhor do que o que nunca aconteceu. Só porque alguma coisa “boa” aconteceu depois do acidente, não significa nada. Para comparar, o homem teria que viver sua vida novamente sem o acidente de carro. Talvez depois do acidente de carro, o homem se tornar mais cuidadoso com o evangelismo, e levar dez pessoas a Cristo. Mas sem o acidente de carro, talvez o homem tivesse se tornado ainda mais zeloso com o evangelismo devido a alguma outra razão, e teria levado dez milhões de pessoas a Cristo.

Portanto, não podemos formular uma conclusão nem mesmo observando o que de fato ocorreu. É impossível comparar um cenário que aconteceu com um número infinito de alternativas que nunca aconteceram. Nós devemos consultar a palavra de Deus para determinar o que é melhor. Se Deus exige santidade, então santidade é melhor. Se Deus nos ensina que devemos ter fé para cura, então cura é melhor. Se Deus promete proteção, então ter proteção é melhor. Não diga que o pecado é melhor só porque você o cometeu. Não diga que doença é melhor só porque você é confrontado com ela. Isso não seria fé ou santidade. É doença espiritual. É desordem psicológica.

Jesus não condenou as pessoas por quererem corpos saudáveis e estômagos cheios. Ele assegurou os seus desejos: “vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mateus 6:32). Contudo, ele admoestou as pessoas a não colocarem essas coisas em primeiro lugar, nem permitir que essas coisas se tornem tão grandes em suas mentes ao ponto de não deixarem espaço para questões mais importantes. Ele não ensinou a negação, mas ele queria que as pessoas tivessem fé e soubessem priorizar. Ele não disse, “busque apenas o reino de Deus e se esqueça de comida e vestimenta”. Ele disse, “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.

Numa entrevista na TV, um pregador foi questionado sobre se ele acreditava que alguns tipos de descrentes iriam para o inferno. Ele estava acostumado a focar no positivo, mesmo quando a Bíblia exige julgamento, mas então ele respondeu: “Isso cabe a Deus”. Isso é inaceitável, porque embora Deus seja quem decida isso, ele já decidiu e revelou o seu julgamento na sua palavra. Ele realmente enviará descrentes para o inferno. O pregador respondeu como se Deus nunca houvesse dito alguma coisa sobre esse assunto. Os cristãos ficaram justamente ultrajados com isso, e consideraram o homem um traidor. Eles não o felicitaram por defender a soberania de Deus ou algo do tipo. Eles o puniram por comprometer o evangelho em rede nacional.

Contudo, esses cristãos fazem a mesma coisa em quase todas as outras áreas de doutrina e vida. Deus vai curar essa pessoa? “Cabe a Deus”, falam eles encolhendo os ombros. Deus proverá cura para essa pessoa ou dará o que ela pede? “Cabe a Deus”. Deus fez promessas relacionadas à cura física, a provisões materiais e muitas outras coisas. Eles falam como se não houvesse uma aliança, como se não houvessem promessas. Eles oram como se fossem órfãos espirituais.


Eles condenaram tal pregador, contudo agem da mesma forma. A diferença foi que o pregador é conhecido por encorajar as pessoas a crerem nas coisas boas que a Bíblia promete àqueles que possuem fé. Claro, ele de fato se comprometeu quando falhou em aplicar aquilo que essa mesma Bíblia fala acerca dos julgamentos sobre os incrédulos. Por outro lado, esses cristãos que o condenaram estão prontos para afirmar o julgamento sobre os incrédulos, mas se recusam a crer nas coisas boas que essa mesma Bíblia promete. Eles também são falsos mestres, apenas com preferências diferentes.

O dom do Espírito Santo

A passagem paralela no Evangelho de Lucas aplica o ensinamento ao pedir pelo Espírito Santo. Jesus disse: “Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir] um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (Lucas 11:11-13).

É concebível que Jesus tenha usado a mesma figura numerosas vezes no seu ministério itinerante, e que tenha feito várias aplicações. Diferenças entre essa passagem e a de Mateus sugerem que Jesus possa ter dito o que foi acima citado em outra ocasião. Por exemplo, o contraste do ovo e do escorpião usado aqui está ausente em Mateus. Na nossa própria reflexão teológica, é adequado empregar a mesma linha de raciocínio a qualquer coisa que a Bíblia nos diz que podemos pedir ao Pai. Se o seu filho pede por conhecimento, você lhe dará engano? Se o seu filho pede por cura, você lhe dará doença? Como você pode pensar menos do seu Pai no céu?

Jesus aplica isso ao pedido pelo Espírito Santo. Pedir pelo Espírito Santo é pedir pelo Espírito Santo. Ele não está falando sobre pedir por conversão ou santidade. Cristãos que rejeitam aspectos essenciais do evangelho podem forçar o texto para signifique essas coisas. Contudo, se eu alego tornar-me um fiel sem mencionar Cristo, mas apenas pedindo pelo Espírito Santo, as mesmas pessoas provavelmente me corrigiriam (Romanos 10:9). E se eu fosse evangelizar dizendo às pessoas para pedirem pelo Espírito Santo, ao invés de confessar Cristo, elas poderiam dizer que isso não é evangelismo cristão de forma alguma. Jesus está falando sobre pedir pelo Espírito Santo, não alguma outra coisa.

Lucas consistentemente associa o Espírito Santo com poder espiritual – poder para pregar, para curar doentes, para expulsar os demônios, para declarar profecias, para falar em línguas, para ter visões e sonhos e para todos os tidos de milagres, sinais e maravilhas (veja Lucas 4:18, 24:49; Atos 1:8, 2:4,17,18, 10:38, entre vários outros). O Espírito Santo é uma pessoa. Ele é Deus. Quando ele vem, há uma infusão de poder e manifestação de milagres.

Pedir pelo Espírito Santo não é o mesmo que pedir por pregação inspirada. Não é o mesmo que pedir por perspicácia teológica. Não é o mesmo que pedir pela coragem do super-homem. Não é o mesmo que pedir por cura. Não é o mesmo que pedir por profecia ou línguas ou visões ou sonhos. Não é o mesmo que pedir por milagres ou sinais ou maravilhas. Pedir pelo Espírito Santo é pedir por todas essas coisas – é tomar tudo isso num gole só. Isso é o que pedir pelo Espírito Santo significa na Bíblia, e especialmente nos escritos de Lucas.

Cristãos que rejeitam esses aspectos do evangelho alertam sobre o engano espiritual. Tenha cuidado com falsos sinais e maravilhas! Há uma expressão chinesa: “corte fora os seus pés para evitar os vermes da areia”. É mais ou menos como cortar fora a cabeça para curar os soluços. É a solução do perdedor. É incrivelmente estúpido. A solução bíblica contra os milagres falsos não é apenas expô-los com a verdade, mas também derrotá-los com uma força avassaladora.

Moisés pregava a palavra de Deus às pessoas no Egito, mas ele também derrotava os principais mágicos da nação com confrontações miraculosas diretas. Elias pregou a palavra de Deus a Israel, mas ele também pediu por fogo do céu e envergonhou os falsos profetas. Paulo declarava o evangelho de Cristo ao procônsul, mas ele também proferiu julgamentos contra o feiticeiro e o feriu com cegueira. O quê? Isso não está no currículo de apologética do seu seminário? Na Bíblia, isso é discipulado básico.

Eu aprendi a deter bruxos por meio de força espiritual pura no nome de Jesus muito antes de aprender que eu poderia primeiro tortura-los com argumentos irritantes. Eles não funcionam na minha presença. Se há engano espiritual e se há sinais e maravilhas falsas, por que os caçadores de heresia não param os poderes malignos no nome de Jesus? Um vidente tinha um espírito maligno e seguiu Paulo por um tempo. Ele disse ao espírito, “Em nome de Jesus Cristo, eu te ordeno: retira-te dela!” (Atos 16:18), e esse foi o fim dele. Por que os observadores de culto não fazem isso? É porque eles são como os filhos de Ceva – muito falatório, nenhum poder (Atos 19:13-16). O ministério deles é um eco de fé. Eles nada sabem sobre atividades espirituais.

A paternidade de Deus é a proteção espiritual máxima. Se o seu filho pede por peixe, você lhe dará uma pedra? Se ele pedir por ovo, você lhe dará um escorpião? Por que você pensaria menos do seu Pai no céu? Jesus nos ensina três coisas. Primeiro, é bom pedir pelo Espírito Santo. Na Bíblia, especialmente em Lucas, isso representa todo o espectro de poderes espirituais. Você tem tudo. Deus quer que você peça. Acontece, quando você pede. Segundo, o Pai quer lhe dar o Espírito Santo. Ele está muito mais disposto a dar-lhe o Espírito Santo do que você está disposto a dar ao seu filho coisas boas. Terceiro, quando você pede pelo Espírito Santo, você recebe o Espírito Santo. Se você pedir pelo Espírito Santo, você não vai receber um espírito maligno ou algo do tipo. Você pode estar certo disso, porque Deus é um bom Pai.


O meio de se proteger do engano espiritual e de falsos milagres é perseguindo agressivamente o Espírito Santo, junto com todos os poderes espirituais que ele traz, e todas as suas operações e manifestações. Claro, a palavra de Deus nos protege do engano e, nesse caso, a palavra de Deus nos manda pedir pelo Espírito Santo. Como a verdade nos protegerá, se nos recusarmos a fazer aquilo que ela diz? Cessacionistas e outros céticos acham que evitam falsas doutrinas e milagres, mas porque eles se recusam a aceitar o que Deus lhes manda fazer acerca dessas coisas, eles são os mais vulneráveis. Na verdade, eles tem sido peões do inferno, posicionados na vanguarda do exército de Lúcifer, espalhando sua própria marca do engano.

Ortodoxia num Cavalo de Troia

Os teólogos vêm a nós com credenciais impressionantes que eles conferiram a si mesmos. Eles tentam passar às escondidas por nossas defesas com uma linguagem profunda e piedosa. Eles citam seus pedigrees ortodoxos, e até mesmo séculos de desenvolvimento teológico e eclesiástico. Mas dentro desse sistema altamente refinado de religião, há um veneno mortal tirado diretamente da serpente do Éden. Foi esse enganador que primeiro sussurrou: “Deus realmente falou?”.

A teologia deles carrega suposições que comprometem a confiança em Deus, além de interpretações que destroem a intimidade com o Pai. Destroça a fé das pessoas até que esta se torne algo grotesco, deformado e repugnante. Deixa as pessoas com medo da “vontade de Deus”, porque elas nunca sabem que coisa assustadora ele as enviará, e eles são ordenados a chamar isso de “bom”, não importa o que seja.

Se elas pedirem por coisas boas, coisas que até crianças podem esperar de seus pais, então elas ou são pessoas terríveis ou elas receberão algo terrível. E novamente, elas necessitam chamar seja lá o que isso for, de algo melhor do que aquilo que eles pediram anteriormente. Se eles pedirem por cura, provavelmente eles não receberão ou virá algo pior do que receber o milagre da cura.

Esse tipo de teologia é difundido no mundo cristão, mas Jesus disse que se pensarmos assim, então nós pensamos que Deus é menos pai do que os pais pecadores e humanos. As pessoas podem chamar esse tipo de teologia do que quiserem, associá-la com a mais respeitada herança teológica, e ainda assim será paganismo.

Às vezes as pessoas reclamam de declarações falsas. “Espantalho!” elas gritam. Escute, se eu quisesse passar um espantalho sorrateiramente à elas provavelmente nem perceberiam. Se eu fosse usar um espantalho, eu seria fantástico nisso. A verdade é que eu entendo suas próprias doutrinas melhor do que elas mesmas, e eu chamo atenção delas para as implicações necessárias que elas têm vergonha de verem sendo descobertas.

Elas estão chateadas comigo, porque eu mostro que as coisas que elas defendem são ridículas e heréticas. Elas reclamam sobre o espantalho, porque eu estou correto sobre elas e elas não podem aceitar o quanto têm sido abomináveis todo esse tempo e o quanto são facilmente expostas e refutadas. É um mecanismo de defesa. É um esforço derradeiro para se convencerem, mesmo que já não possam mais enganar os outros.

Um calvinista disse que eu deturpava o compatibilismo quando o refutava, até que eu apontei que me referia ao seu próprio professor de seminário ao definir a doutrina. Era inconcebível para ele que tudo isso poderia ser destruído em alguns parágrafos. A verdade é que eu posso quase sempre refutar alguma coisa que eu considere falsa em algumas palavras ou frases, mas minhas explicações são frequentemente acolchoadas – eu as torno maiores – para reduzir o choque e para mostrar um pouco de esforço.

Ainda assim, sou acusado de deturpar meus oponentes. É o meio deles de contornar as críticas e de retardar indefinidamente a correção. Se eu responder que eles me deturparam ao reclamarem que eu os deturpei, então eu jamais precisarei me corrigir, mesmo que eu os tenha deturpado. Mas aí, então, eu não seria um servo de Cristo. Eu estaria apenas jogando jogos religiosos com eles.

Algumas vezes as pessoas veem que eu estou correto, e a questão é tão simples e óbvia que elas não podem acreditar que sua teologia ensina algo diferente, e então elas concluem que devem ter sido mal compreendidas, embora a doutrina que afirmam adotar está exatamente da forma como descrevi. Na verdade, elas querem ajustar seu testemunho, mas retendo a designação ou o nome da sua posição. Imagine um cessacionista que percebeu que eu estou correto e que está compelido a concordar comigo em pelo menos algumas questões essenciais, mas deseja continuar se intitulando cessacionista. É absurdo, mas tenho passado por isso diversas vezes. Isso é o que um espírito religioso faz às pessoas. Elas se preocupam mais a respeito de sua religião como cultura e filosofia pessoal do que com a sua adoração e seu conhecimento de Deus.

Eu forneci um relatório preciso do que Jesus disse e uma crítica acurada sobre aqueles que acreditam em algo diferente. Por outro lado, o que eles ensinam acerca de Deus é a maior deturpação de todas. Que piada cruel os cristãos colocam sobre eles mesmos. Mas eles gostam mais disso do que do evangelho que Jesus pregou. Pessoas odeiam a Deus em parte porque “cristãos” como estes tornaram isso possível. E então eles tentam corrigir com apologética e política. Entenda o evangelho corretamente primeiro! E então veja quem ainda o odeia. Agora faça a sua apologética. E por que você fala tanto sobre política, quando você não tem curado o doente e expulsado demônios? Você quer um Jesus diferente? Você ainda está esperando um Messias político (Mateus 11:2-6).

Meu interesse não é que você acredite em algo mau em relação às pessoas, mas que creia em algo bom acerca de Deus. Esqueça as pessoas. Olhe para Jesus e veja o Pai. Claro que não devemos buscar o nosso próprio bem mais do que a glória de Deus e o progresso do evangelho. Contudo, essa não é a questão aqui, e trazê-la nesse contexto sugere que alguém perdeu de vista o ponto do debate. O problema é que uma doutrina falsa pressiona as pessoas a honrarem o sofrimento como algo espiritual e identificarem a dor com a piedade, mesmo quando não tem nada a ver com perseguição por crer e pregar o evangelho.


Jesus Cristo nos liberta desse fardo pesado. Ele nos ensina que, se crermos nele, então poderemos conhecer a Deus como nosso Pai. Ele nos ensina que ir até Deus e falar com ele sobre o que queremos é um exercício santo por meio da fé. Não tenha medo dele te punir por pedir algo, ou dele te dar algo terrível e então força-lo a chamar isso de bom. Ele é o seu Pai. Ele é o libertador, o médico, o fornecedor, o seu tudo. Jesus disse, “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mateus 7:7). Tenha fé em Deus.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2016/06/05/good-gifts-from-the-father/

Traduzido por: Sara Mendonça

2 comentários:

  1. Excelente.

    Tenho uma pergunta

    Ao pedirmos uma cura a Deus, chorando de joelhos...pq Deus não nos concede essa cura?

    Eu tenho uma amiga e ela sofre de depressão. Já estive com ela em seus momentos de crise e é algo de assustar as coisas que ele sente e as coisas que ela pensa na hora. Já orei inúmeras vezes por ela, tanto por telefone(com ela na linha), como que em particular, mas essa cura nunca aconteceu. O que há de errado?

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