quarta-feira, 24 de maio de 2017

Nº 67



SOFRIMENTO: UM FETICHE EXISTENCIAL
por Vincent Cheung

Os cristãos muitas vezes consideram os puritanos como especialistas em depressão espiritual, ou melancolia. Eu acho que eles eram especialistas em permanecer nela, não triunfar sobre ela. Só porque eles escreveram muito sobre isso não significa que eles continuaram lutando com isso. Suas intermináveis ​​listas em cada tópico promovem tédio, depressão, angústia e raiva, ao invés de resolver os problemas abordados. As pessoas que estudam os puritanos a fim de receberem ajuda neste assunto podem se sentir como eles, encontrando afinidade entre os seus espíritos e os espíritos destes teólogos divinos, mas há apenas ressonância, não avanço. Quando um demônio vem oprimi-las, elas o convidam para se assentar e tomar um chá. Elas iriam estudar e viver com isso durante anos.

Essas pessoas pensam que a solução é buscar a Deus, buscar Deus, buscar a Deus, e arrepender-se por quem sabe o quê, e buscar Deus, buscar a Deus e arrepender-se ainda mais. Elas estão sempre procurando” Deus e cavando sobre mais coisas de si mesmas para que possam se arrepender mais. Elas muitas vezes parecem mais obcecadas consigo mesmas do que com o próprio Jesus Cristo. É inútil procurar a Deus se você se recusa a fazer o que ele lhe diz! Tudo isso é fútil se você chafurdar em seus sentimentos e em suas dúvidas, e continuar passando por movimentos religiosos. Deus está aqui, mas você está esse tempo todo procurando por ele, quando na verdade você está apenas falando com uma parede e tentando ser piedoso, mas sendo falso e estúpido. Você não está realmente buscando a Deus se você se recusar a ouvi-lo, e se você se recusar a acreditar nele. Você quer pensar em si mesmo como humilde e zeloso, mas você continua endurecendo o seu coração contra o sangue de Cristo. Não admira que você esteja deprimido. Não admira que as dúvidas e as lutas persistam. Você as quer, porque elas fazem você se sentir especial. Mas quando você realmente procurar, você irá encontra, e estará encerrado. Você não precisará escrever 600 páginas mostrando às pessoas sobre o quanto você as tem contemplado.

Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27). Eu tenho paz. Meu coração não está perturbado. Eu não tenho medo. Eu não era assim, antes de me tornar um cristão. Eu fui tão medroso e deprimido que, às vezes, eu não podia nem mesmo sair do meu quarto. Quando Deus me chamou à fé, eu renasci em Cristo. Comecei imediatamente a estudar minha redenção, minha carta de emancipação. Eu aprendi. Eu renovei a minha mente. Estudei sobre a fé em Jesus Cristo e suas promessas felizes. Eu não gastei meu tempo examinando meus problemas até a morte, então os ressuscitei dos mortos, pedi desculpas a eles, cuidei deles de volta à força, então clamei a Deus sobre como eles haviam voltado, e depois os torturei com um monte de listas chatas até que eles se mataram apenas para fugir de mim. Concentrei-me nos méritos do sofrimento e da expiação de Cristo em vez dos méritos de minha própria depressão e arrependimento. Eu não me orgulhei da minha vergonha, mas procurei Cristo imediatamente. Então eu tomei esta paz que Jesus me deixou. Então eu me recusei a deixar que o meu coração ficasse perturbado. Então parei de ter medo. E fiquei feliz  mais feliz e mais consistente do que qualquer um que eu conheço.

Paulo escreveu: Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus” (Filipenses 4:6-7). Eu estava tão ansioso que eu estava imobilizado na vida. Mas voltei minha mente para Cristo, e deixei de estar ansioso. Disse a Deus tudo o que eu queria, por oração e súplica, com ação de graças. E o que Paulo disse se tornou verdade. A paz de Deus invadiu meu coração e fortificou minha mente até hoje. Pedro disse que, mesmo se você não vê Cristo agora, mas tem fé nele, você se alegra com alegria inefável e cheia de glória (1 Pedro 1:8). Se você diz que acredita nele, por que você não tem essa alegria? Você não deveria pelo menos admitir que você deveria tê-la? Não é preciso uma análise em cinco volumes para admitir isso.

Os cristãos continuam dizendo que devemos negar a nós mesmos, crucificar a nós mesmos. Fira-se várias vezes, e você será salvo. Eles não têm ideia do que a Bíblia realmente ensina sobre isto. Quando você falar como um papagaio, “pegue a sua cruz!, certifique-se de que você sabe o que isto realmente significa, ou então não diga mais isto. Continue pressionando, e Deus eventualmente responderá: Vós sois a cruz, e eu os lançarei fora! (cf. Jeremias 23:33). A maioria daqueles que continuam tagarelando sobre a negação de si mesmos e o carregamento de cruzes são bastante egoístas e irritantes. Agora, se a Bíblia diz para nos negarmos a nós mesmos, você já fez o que ela te disse? E se você tiver feito o que ela disse, então você também não deveria experimentar o que ela te disse? Então, por que você não tem a paz que excede todo entendimento? Ops, eu não deviria ter dito isso. Agora você está de volta num canto se atordoando e se analisando novamente.

Pregador, por que não joga essa enciclopédia da melancolia pela janela e declara ao seu povo a alegria inefável e cheia de glória? Este é um evangelho alegre e confiante maior do que a sua maldição? Você replica: “Mas Jesus era um homem de dores!. Você leu isso em um calendário, não é mesmo? Aqueles de nós que lemos a Bíblia vemos que há mais do que isto: Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53:3-5). Isto é Isaías 53, homem. Como você pode errar? É claro que ele era um homem de dores  ele estava carregando as nossas tristezas! Claro, que ele foi ferido e afligido  ele foi punido para que pudéssemos ter paz. Não se diz que por suas feridas fomos feridos, mas sim que por suas feridas fomos sarados. Recebemos o oposto do que ele recebeu. Dizer que Jesus era um homem de dores, de modo que também devemos viver em dores, é atacar a expiação e o sangue de Jesus Cristo.

Essa maneira anti-evangélica de pensar é muito comum. O sofrimento de Cristo é retratado como algo que nós precisamos imitar ingenuamente. Ele sofreu em nosso lugar, e suportou muitas coisas para que não precisássemos suportá-las. Nosso sofrimento, quando acontece e quando é legítimo, é diferente do dele. Os cristãos que são demasiado ineptos para fazer distinções simples nesta matéria  e a maioria são totalmente ineptos  não devem ensinar sobre isso. Eles tendem a sobrecarregar as pessoas com sofrimentos desnecessários, e de uma forma que sugere que sejam espirituais e meritórios. Este tipo de ensinamento permite que os cristãos possam se chafurdar na sua própria incredulidade e tristeza, e ao mesmo tempo sentirem que seus sofrimentos são significativos. A incredulidade é chocantemente estúpida, mas, ao mesmo tempo, torna as pessoas tão arrogantes que medem umas as outras por meio dela.

Para muitos cristãos, o sofrimento é um fetiche existencial. Talvez você goste desse sistema de dor e luta religiosa porque isso faz você se sentir piedoso. Você está se transformando, e você está doente. Não tem nada a ver com viver para Cristo. Você é falso. Se você estivesse negando-se a si mesmo, então Cristo viveria em você, e você exibiria as qualidades e os poderes de Cristo. Se você estivesse negando-se a si mesmo, então você teria fé, alegria, paz, cura, e o poder do Espírito, e todas as coisas que Jesus Cristo sofreu a fim de obter para você. Deus mesmo o ressuscitou dos mortos e lhe ordenou que supervisionasse a aplicação da redenção, para ter certeza de que você receberia o que lhe pertence em Cristo, e que ninguém pode tirar isso de você. Mas o que você faz? Você cospe no seu rosto, você pisa no seu sangue, e então você prega sobre isso como sendo o evangelho.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2016/10/25/suffering-an-existential-fetish/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

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