quarta-feira, 14 de junho de 2017

Nº 74



CESSACIONISMO: A RELIGIÃO ESTRANGEIRA
por Vincent Cheung

Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” — Efésios 2:19-20.

Você me perguntou sobre como eu responderia a alguém que usasse Efésios 2:20 para apoiar o cessacionismo. É possível responder isso em meia frase, mas, às vezes, eu refuto um oponente tão rápido que ele nem mesmo percebe. O debate já acabou, mas ele ainda está de pé, batendo no peito e sorrindo como um idiota, esperando alguma resposta. A fé em Jesus Cristo é clara e perfeita. Sempre vencerá aquele que se apegar ao brilho simples do evangelho. Os homens maus complicam as coisas por causa de sua incredulidade e do seu orgulho. Mas vamos então fazer uma análise desta loucura, mais do que é necessário.

Por motivos de conveniência, iremos nos referir somente a apóstolos de agora em diante, ao invés da plena expressão contida em Efésios 2:20. Deixando o cessacionismo de lado por um momento, o texto é frequentemente usado para dizer que o fundamento dos apóstolos deve ser a única fonte e padrão para as nossas doutrinas. Nossas doutrinas devem decorrer deste fundamento e concordar com ele. Isso está correto, e eu faço aplicações assim livremente nas minhas exposições. Isso resulta do relato bíblico acerca do trabalho destes homens. Os apóstolos receberam revelações que estabeleceram as doutrinas oficiais de Jesus Cristo. Próximo ao contexto da nossa passagem, Paulo escreve que o mistério de Cristo... agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas (Efésios 3:4-5).

No entanto, embora isto seja uma inferência legítima do texto, não é o que o texto diretamente nos diz, e pode-se tomar tal direção tão longe quanto possível. Quando usada a fim exigir um acordo doutrinário com os apóstolos, isso é aceitável, pois esta aplicação está dentro do alcance do significado do texto, de modo que não há necessidade de se impor a intenção exata do texto todas as vezes. Contudo, quando o texto é interpretado de uma forma que se possa favorecer o cessacionismo, trata-se de uma inferência e aplicação falaciosa, e o texto termina voltando-se contra si mesmo. Quando isto acontece, devemos retornar ao que o texto realmente nos diz.

Paulo se refere a Cristo como pessoa. A pedra angular não são os ensinamentos de Cristo, mas sim o próprio Cristo. E Paulo se refere aos apóstolos como pessoas. O fundamento não são os ensinamentos dos apóstolos, mas sim os próprios apóstolos. Não existe um foco especial sobre os seus sermões, seus escritos ou suas revelações. Não existe uma menção à Escritura. O tema não é sobre a teologia de Deus, mas sim sobre o povo de Deus, ou sobre a casa de Deus (v.19). Sobre este fundamento de indivíduos  não doutrinas ou revelações, mas sim pessoas  são incluídos outros indivíduos. Essas pessoas se combinam a fim de formar um edifício, ou o templo de Deus: No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito” (v.21-22). A referência aos apóstolos como fundamento surge como parte desta metáfora. Assim, o fundamento não se refere ao fundamento revelacional de um sistema intelectual, mas sim ao fundamento pessoal de uma comunidade espiritual.

Pedro usa uma metáfora semelhante quando escreve: E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pedro 2:4-5). Ele também concebe os crentes individuais  as pessoas, não as ideias, as doutrinas ou as revelações  como blocos de construção da casa espiritual de Deus. Ele também chama a Cristo de a pedra angular (1 Pedro 2:6). E ele usa esta metáfora para o mesmo propósito que Paulo usou, isto é, para descrever como os gentios são incluídos em Cristo e unidos em uma única casa espiritual (1 Pedro 2:9-10; Efésios 3:6). Isso seria suficiente para neutralizar o argumento cessacionista, visto que Paulo nem mesmo está falando sobre este assunto em Efésios 2:20. Desde que Paulo não esteja falando sobre as revelações que possuímos, ele também não estaria falando sobre as revelações que os apóstolos possuíram. Ele estaria falando sobre os crentes como pessoas unidas em um edifício, e os apóstolos enquanto pessoas se unindo em um fundamento.

A metáfora retrata um edifício que está sendo adicionado à um fundamento. Não diz que a construção está concluída apenas com a pedra angular. Não diz que a construção está concluída apenas com o fundamento. Em vez disso, o ponto da passagem é que Deus pretende adicionar materiais ao fundamento já existente para então completar um edifício inteiro que se eleva para se tornar um templo. O fundamento de um edifício não é a única parte do edifício, mas o lugar de onde todo restante do edifício é erguido.

O argumento cessacionista seria de que a revelação apostólica é o fundamento, que não poderíamos adicionar nada ao fundamento, e assim não deveria haver mais operações proféticas. Embora nós não modifiquemos ou aumentemos o próprio fundamento, nós realmente adicionamos e construímos sobre ele, e o material para o edifício não é fundamentalmente diferente do material da fundação. Você não adiciona cupcakes à um fundamento de cimento. Você adiciona cimento ao cimento, ou alguns outros materiais para construção. Assim, se dissermos que o fundamento consiste em revelações, ou mesmo aquelas revelações que se tornaram parte das Escrituras, a metáfora poderia significar que os crentes de hoje poderiam adicionar algo à Escritura e que a única restrição nisso seria a de que estas adições deveriam concordar com as revelações que já foram registradas. Esta é a conclusão exata que os cessacionistas afirmam e que desejam evitar.

Se a alegação é de que a construção sobre as revelações apostólicas se refere àquela pregação que concorda com a pregação deles, isto é uma alegação forçada, visto que o texto não nos diz isso. Ainda assim, se o texto significasse que a pregação apostólica é o fundamento para a minha pregação, eu também poderia dizer que o ministério apostólico de milagres e profecias é o fundamento para o meu ministério de milagres e profecias. Enquanto um ministério de milagres e profecias estivesse sendo moldado conforme o ministério apostólico, isto seria tão legítimo quanto dizer que um ministério de pregação está sendo moldado conforme o ministério apostólico. Experimente outras combinações de como interpretamos o fundamento e o edifício. Nenhuma delas pode se encaixar numa visão cessacionista.

Jesus Cristo foi a pedra angular que estabeleceu a possibilidade e a legitimidade do ministério apostólico de pregação, de cura e de profecia. Na verdade, a pedra angular garantiu o fundamento. Ele expandiu o seu ministério para além de si mesmo, através destes outros homens. Então, os apóstolos formaram o alicerce que ampliou e estabeleceu a possibilidade e a legitimidade do ministério cristão de pregação, de cura e de profecia. Eles expandiram os seus ministérios para além deles mesmos, sobre todos os outros crentes e para todas as gerações futuras. Se o texto é aplicado neste tópico, ele apoia a minha doutrina do expansionismo. Poderíamos dizer que os apóstolos estabeleceram um fundamento que garantiu um ministério ainda mais amplo e mais forte de milagres e profecias. Eles estabeleceram apenas um fundamento, mas os crentes irão construir sobre isso e alcançar ainda mais!

Portanto, se aceitarmos a interpretação cessacionista sobre o fundamento, a única conclusão que chegaremos será aquela da multiplicação exponencial de todas as coisas miraculosas, incluindo as operações de cura, de profecia, de visões, de sonhos, e de sinais e maravilhas. A metáfora denotaria um aumento dramático de milagres e profecias, e não uma cessação de tudo aquilo que os apóstolos fizeram. Na verdade, isso garantiria que nós podemos realizar ainda mais milagres e poderosas profecias em maior quantidade (João 14:12). Com tantos crentes no mundo hoje, a igreja deveria estar produzindo milhões e milhões de milagres e profecias a mais do que a igreja primitiva, até mesmo cem milhões de vezes mais. A única restrição seria de que estas operações deveriam concordar com as doutrinas e os padrões estabelecidos pelos apóstolos.

Os apóstolos formaram o fundamento. Os cessacionistas desejam que isto se refira às revelações. Bem. O que o fundamento nos diz? Nos ensina a ter fé a fim de realizar milagres. Nos ordena a desejar e produzir profecias. Espera que recebamos visões e sonhos, e vários sinais e maravilhas. Sobre este fundamento é adicionado o povo de Deus. Agora, se existem pessoas que se recusam a fazer aquilo que o fundamento nos ensina, nos ordena e espera de nós, a única conclusão disponível é de que estas pessoas não pertencem à este fundamento. Se elas se unirem como um edifício, isso só poderá significar que elas estão se colocando num fundamento diferente daquele estabelecido pelos apóstolos.

Portanto, se o fundamento cristão é aquilo que os cessacionistas dizem que é, então os cessacionistas não podem ser salvos. Eles não podem ser concidadãos da casa de Deus com os apóstolos, mas devem ser estrangeiros e forasteiros, construídos sobre um fundamento diferente. Eles se baseiam em uma religião estrangeira. Eles permanecem fora da nossa estrutura. Eles não são cristãos. É estranho que, embora os cessacionistas reivindiquem para si uma erudição superior, eles constantemente se pintam num canto onde não haverá salvação para eles. Eles nos obrigam a vê-los cortarem as suas próprias gargantas. Esse tipo de religião é grotesca e degradante. É a depravação da incredulidade e da tradição. É como se estivessem determinados a seguir o caminho da auto-danação. É como se eles desejassem queimar no inferno.


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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2017/06/14/cessationism-the-alien-religion/

Traduzido por: Dione Cândido Jr.

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